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O TCC apresentado trata do problema de ocupação de encostas para habitações. Assim, o TCC analisa os riscos de escorregamentos, deslizamentos, erosões, queda de matacões, ruptura de taludes e a falta de infra-estrutura em uma área de encosta e apresenta algumas propostas de soluções
Typology: Essays (university)
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Claudia F. E. de Paiva – claudia.paiva@uol.com.br Anna P. A. Schumacher – paola_schumacher@hotmail.com Beatriz S. Miyagi – bia_say@ig.com.br José E. Victorino – mabru@uol.com.br Luís H. Piovezan – lhpiovezan@terra.com Universidade Bandeirante de São Paulo – Uniban Rua Maria Cândida, 1813 – Vila Guilherme 02071-013 – São Paulo – SP Resumo: Este trabalho relata a elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no curso de Engenharia Civil da Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban). Além de ser um trabalho técnico, este TCC permitiu a ação social estruturada do grupo envolvido que continua após a conclusão do curso. O TCC apresentado trata do problema de ocupação de encostas para habitações. Assim, o TCC analisa os riscos de escorregamentos, deslizamentos, erosões, queda de matacões, ruptura de taludes e a falta de infra-estrutura em uma área de encosta e apresenta algumas propostas de soluções. A área de encostas foi ocupada de forma desordenada por população de baixa renda e se localiza no Município de Mairiporã, Estado de São Paulo. Para a avaliação dos problemas geológicos, realizaram-se visitas técnicas ao local, cadastramento, coleta de amostras, análises laboratoriais e mapeamento para caracterização dos riscos iminentes. A partir do estudo dos problemas geológicos, percebeu-se que muitos dos problemas encontrados têm origem social. O grupo decidiu atuar nestes problemas com a aplicação e transmissão dos conhecimentos de Engenharia. A partir da análise deste TCC, indica-se um caminho para a inserção dos problemas sociais nos cursos de Engenharia. Palavras-chave: Estabilidade de encostas, Moradia em Áreas de Risco, Ensino de Engenharia, Trabalho de Conclusão de Curso.
1. INTRODUÇÃO O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é uma oportunidade para os estudantes do último ano do curso de Engenharia integrarem seus conhecimentos em uma pesquisa bibliográfica e na apresentação da solução de um problema de Engenharia. Acompanhando o tecnicismo presente nos currículos de Engenharia, os alunos tendem a adotar temas tecnológicos e, em geral, distantes da realidade social e econômica do país ou de sua região. Assim, tende-se a ter TCCs descritivos de sistemas – muitas vezes importados – que, em muitos casos, têm aplicação limitada. Alguns trabalhos rompem este tecnicismo – aparentemente mais fácil de ser conduzido – e apresentam trabalhos que têm preocupações econômicas e sociais além das simplesmente técnicas. Estes últimos se ligam mais com a realidade vivida e podem gerar melhores conseqüências para a sociedade e para o desenvolvimento do país, além de influenciar na melhor qualidade da educação dos envolvidos. Ou seja, “se o saber, o conhecimento, é importante e tarefa fundamental da educação escolar, ele só o é na medida em que promove,
no educando, a sua capacidade de estabelecer novas relações com a realidade vivida. Sem essa articulação com o real, o saber se dissolve em acúmulo de informações mais ou menos eruditas, descoladas do modo de existência dos educandos e dos educadores, gelatinosa frente à vida e à História” (RODRIGUES, 2000). O acumulo de conhecimentos é importante, mas ele não pode ocorrer sem o desenvolvimento de uma capacidade de crítica. Esta crítica deve ser direcionada tanto para a crítica das técnicas que vêm sendo utilizadas (face às constantes inovações tecnológicas que ocorrem atualmente) como para a crítica do papel econômico e social da tecnologia (face aos problemas sociais e econômicos atuais). Esta crítica, porém, não existe sem o embasamento do real, pois se torna puro diletantismo e cópia inacabada de idéias alheias. Sem crítica, não há educação, pois, segundo RODRIGUES (2000), “incapaz de ampliar e organizar a consciência crítica dos educandos, essa educação se converte em inutilidade formal, ainda que recheada de discursos sobre a importância e valor do conhecimento crítico e de atenções proclamadas de se fazer uma educação política”. Este trabalho mostra, a partir do caso de um TCC elaborado a partir de um problema técnico de encostas instáveis, a possibilidade de ser agregada a crítica social aos TCCs de Engenharia. Esta crítica é feita a partir do estudo técnico das encostas e da coleta de dados da população em situação de risco. Assim, a partir da descrição, no item 2, de como é elaborado o TCC no curso de Engenharia Civil da Universidade Bandeirante de São Paulo – Uniban, passa-se a descrever especificamente o trabalho de TCC no item 3. O trabalho original de TCC (SCHUMACHER,
2. O TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO NO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL NA UNIBAN O TCC para os cursos de Engenharia surge como uma exigência da legislação educacional brasileira. Para a Engenharia, a Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, na Resolução CNE/CES 11 (CNE, 2002) estabeleceu que “deverão existir os trabalhos de síntese e integração dos conhecimentos adquiridos ao longo do curso, sendo que, pelo menos, um deles deverá se constituir em atividade obrigatória como requisito para a graduação” (Art. 5º, § 1º). O simples cumprimento da legislação, porém, não leva a um trabalho de qualidade. Como é apenas obrigação, o estudante tende a se livrar dela rapidamente. Alguns podem chegar a copiar o trabalho de outros e, com alguma maquiagem, dizem ser um trabalho seu, como mostra, por exemplo, ECO (1977). Mas há outros ganhos que podem estimular os alunos e é este o sentido que se dá nos TCC do curso de Engenharia Civil da Uniban. Um deles é a síntese dos conhecimentos adquiridos na graduação. Qualquer curso de Engenharia (em quase todas as universidades e faculdades) ainda é segmentado como todos os cursos de graduação, pois os conteúdos são divididos em disciplinas que pouco se comunicam. Na vida prática, porém, o projeto e execução adequados de obras de Engenharia exigem conhecimentos integrados de muitas disciplinas. Daí os alunos adorarem a “prática”: é o instante de integração e de síntese dos conhecimentos. O TCC permite que o estudante aprenda a buscar esta síntese. O estudante pode se estimular a buscar, nas disciplinas segmentadas, os vários aspectos do problema e, ao confrontá-los, pode sintetizar seus conhecimentos. Para os alunos da Uniban, esta síntese, no TCC, se faz com método. É a oportunidade do estudante aprender a utilizar os métodos científicos e tecnológicos. Quando aplicados
Um dos grupos de TCC de 2003 aprofundou e ampliou sua visão dos problemas de Engenharia através da sua intervenção em um local com um problema social de moradia descrito neste item, que é um resumo do trabalho elaborado (SCHUMACHER et al., 2003). 3.1. O local estudado Como objeto de estudo para o TCC sobre estabilidade de encostas, o grupo de TCC escolheu o Jardim Carpi, localizado no município de Mairiporã – SP, na Grande São Paulo, como ilustra a Figura 2. O município tem área total de 321 km², dos quais 35% são área urbana. As dimensões são cerca de 28 km no sentido leste-oeste e 20 km no sentido norte-sul. O município está localizado nas coordenadas S 23º21’25” e W 46º52’40”, no extremo norte central da Região Metropolitana de São Paulo. A distância da Capital é de 31 km do Marco Zero (Praça da Sé). O município faz divisa com os municípios de Atibaia, Nazaré Paulista, Guarulhos, Bom Jesus dos Perdões, São Paulo, Franco da Rocha e Caieiras. A taxa de população urbana é de 79,93% e a densidade populacional é de 202 hab/km². Figura 2 Localização do Jardim Carpi em Mairiporã Mairiporã é um município montanhoso localizado na Serra da Cantareira, pois a altitude mínima é de 746 m e a máxima é de 1.310 m acima do nível do mar. O clima predominante é o tropical de altitude, com nebulosidade nos altos da Serra da Cantareira e na vertente esquerda do Rio Juqueri. A temperatura média anual oscila entre 20 e 21 °C no fundo dos vales e 18 e 19 °C na Serra da Cantareira e Morro do Juqueri. A precipitação pluviométrica é de 1300 a 1500 mm anuais com ventos dominantes de Sul e Sudeste. Quanto à hidrografia, o município faz parte das sub-bacias do Rio Juqueri, do Rio Jundiaizinho e do Ribeirão do Itaim: 18 km², além de margear a Represa Eng. Paulo de Paiva Castro, que faz parte do Sistema Cantareira. Neste sentido, 83% do município está em área de proteção de mananciais. Quanto ao saneamento, os domicílios abastecidos pela rede de água são 89%, os domicílios
com instalação sanitária ligados à rede de esgoto são 59% e os domicílios servidos por coleta de lixo são 61%. Os acessos principais são pela Rodovia Fernão Dias (BR-381), ao sul para São Paulo e Guarulhos e ao norte para Atibaia, Bragança Paulista e Sul de Minas, pela SP-23 para Franco da Rocha, pela Estrada do Rio Acima para Nazaré Paulista e pelas Estrada da Roseira, Estrada de Santa Inês e Estrada Velha São Paulo-Bragança (SP-8) para São Paulo. O Jardim Carpi tem 180.620 m^2 , sendo que 7.960 m^2 desta área são destinados à preservação ambiental. Ele consiste de 304 lotes num total de 91.414 m^2 , área de ruas e vielas de 39.317 m^2 e áreas de sistema de recreio de 15.320 m^2. Os principais problemas da região segundo a Prefeitura são:
3.4. Plano de trabalho A partir da apresentação do TCC, o grupo comprometeu-se a dedicar um dia de cada mês do ano de 2004, para fazer visitas técnicas no local escolhido. Serão elaborados relatórios com a descrição do local vistoriado, dados do morador, levantamento técnico, fotos, sugestões, propostas para correção do problema e pareceres técnicos baseados em pesquisas juntos a especialistas e professores da área de solos. Os relatórios mensais serão encaminhados para a Prefeitura de Mairiporã e o grupo realizará o acompanhamento do andamento das possíveis providências a serem tomadas. O grupo deverá identificar pontos críticos tais como:
mais complexa e amplificada de sua atuação como engenheiros, podem-se ver como agentes de mudança social mais do que simples repositórios de tecnologias de Engenharia. Este resultado para o grupo reflete-se diretamente em um resultado mais importante para uma população carente de tecnologia adequada para necessidades tão simples como a moradia, como os moradores do Jardim Carpi. Soluções adequadas e conscientização podem evitar que pequenos problemas – que podem ser resolvidos com baixo custo – se tornem grandes tragédias. Para isso, é preciso despertar a consciência e o papel social do engenheiro de forma a faze-lo atuar em ações sociais como a descrita neste artigo. Isto não significa reduzir sua carga tecnológica, mas em acrescentar a visão social – sempre voltada para a prática – em suas ações. Para que este acréscimo seja eficaz, é necessário o desenvolvimento de um método para a Engenharia aplicada aos problemas sociais. Este método deve levar em conta o aspecto complexo e não linear dos processos sociais e deve mudar o paradigma linear dos cursos de Engenharia para um paradigma complexo. Este paradigma complexo deve incluir o conceito de que toda solução de Engenharia tem influência positiva ou negativa no plano social e que a sua qualidade não deve ser avaliada apenas por critérios técnicos mas também por critérios sociais. A adoção deste paradigma complexo, por sua vez, deve também mudar a forma de avaliar os cursos de Engenharia. Um curso não pode, desta forma, ser avaliado apenas pelos seus processos ou pelo conhecimento acadêmico que seus alunos obtiveram. Ele também tem que ser avaliado pelas conseqüências que ele gera na sociedade. O TCC, para este grupo, deixou de ser, portanto, apenas mais uma atividade acadêmica a ser avaliada ao final do trabalho. Ele se tornou um projeto de vida social através da aplicação útil e com método de seus conhecimentos adquiridos na graduação. Agradecimentos Os autores agradecem a Universidade Bandeirante de São Paulo e aos seus funcionários pela viabilização dos ensaios laboratoriais de solos e à Prefeitura de Mairiporã pelo apoio fornecido. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CERRI, L.E.S. Riscos Geológicos Associados a Escorregamentos: Uma Proposta para a Prevenção de Acidentes. Rio Claro, ICGE-UNESP, 1993. 197p. Tese de Doutorado. CNE. Resolução CNE/CES 11. Conselho Nacional de Educação, Ministério da Educação,
DEMO, P. Complexidade e Aprendizagem: A Dinâmica Não Linear do Conhecimento. São Paulo, Atlas, 2002. ECO, U. Como se Faz uma Tese. São Paulo, Perspectiva, 1977. Série Estudos, 85. GUIDICINI, G. e NIEBLE, G.M. Estabilidade de Taludes Naturais e de Escavação. São Paulo, Edusp/Edgard Blücher, 1976. 170p. OLIVEIRA, A.M.S., IWASA, O.Y., KERTZMAN, F.F. e ALMEIDA, G.S. A Caracterização das Voçorocas Urbanas: Uma Proposta de Cadastro. In: Simpósio Latino- Americano sobre Risco Geológico Urbano. São Paulo, ABGE, 1998. p.126-139. PAIVA, C.F.E. Apostila Laboratório de Mecânica dos Solos. Uniban, 2001. Apostila de curso não publicada.
PIOVEZAN, L.H. Solução de Problemas de Economia e Finanças na Empresa: Aplicação do Método Científico. Uniban, 2004. Apostila de curso não publicada. POZO, J.I. Aprendizes e Mestres: A Nova Cultura da Aprendizagem. Porto Alegre, Artmed Editora, 2002. RODRIGUES, N. Da Mistificação da Escola à Escola Necessária. 9ª ed. São Paulo, Cortez,
Abstract: This paper reports the preparation of a Graduation Thesis in the course of Civil Engineering in the University Bandeirante of São Paulo (Uniban). This thesis is a technical work that allowed a structuralized social action by the working group. The group continues the social action after the conclusion of the course. The presented Graduation Thesis deals with the problem of hillsides occupation for habitations. Thus, the Graduation Thesis analyzes the risks of slippings, landslides, erosions, stone falling, slope rupture and the infrastructure lack in a hillside area and presents some proposals for problems solutions. The studied hillsides area was ocuppied in a disordered pattern by low income population and it is situeted in the City of Mairiporã, State of São Paulo. For the evaluation of the geologic problems, it were made technical visits, cadastre, soil sample collection, analyses and mapping for characterization of the imminent risks. From the study of the geologic problems, it was perceived that many of the problems have social origin. The group decided to act in these problems with the application and transmission of the Engineering knowledge. From the analysis of this Graduation Thesis, a path for the insertion of the social problems in the courses of Engineering is indicated. Key-word: Hillsides stability, Housing in Risk Areas, Engineering Education, Graduation Thesis.