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09 -MARQUES, A. e BERUTTI, Flávio Costa-História Moderna através de textos, Notas de estudo de História

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Tipologia: Notas de estudo

2015
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104 MARQUES/BERUTTIFARIA 3. Quais as posições, respectivamente, de Martinho Lutero e do Concílio de Trento, sobre as indulgências? 4. Por que Michel Multet afirma que-“as reformas separadas do sé- culo XVI foram subdivisões de uma experiência comum”? 5. Como os teólogos conseguiam conciliar o espírito do cristianismo com as práticas de tortura? . O Manifesto dos Camponeses deixa transparecer as questões so- dade. Qual à reação dos príncipes e de Lutero face a essas ques- 6. MARQUES, à ciais e econômicas, sobretudo os problemas relativos à proprie- Uva: RERjnr tões? Pig BRU DN, Flévio Gostit a cultas Mistóna Moderaa Através de 59. AS CAUSAS DA REFORMA Jean Delumeau No texto abaixo, J. Delumeau possibilita ta ampla discussão sobre as abordagens historiográficas referentes ao movimento re- formista do século XVI, notadamente aquelas que analisam a Re- forma, a Contra-Reforma e as Guerras Camponesas na Alemanha do século XVI, segundo a perspectiva do materialismo histórico. Para Marx e Engels, citados por Delumeau, a Reforma seria “a filha do capitalismo”, reflexão esta contestada pelo autor. Sugere, ainda, que não se pode descartar “as relações de fé e a mentalidade das massas naqueles tempos”, sob pena de o fenômeno se tornar in- compreensível. A. A EXPLICAÇÃO MARXISTA Desde o nascimento do marxismo a fato da Reforma é explica- do do ponto de vista da economia. Para Karl Marx as religiões são “filhas de seu tempo”, e, mais concretamente, filhas da economia, mãe universal de todas as sociedades humanas. Sob essa perspecti- va, a Reforma se transformava em-“filha daquela nova forma eco- - nômica que surgiu no século XVI e se impôs rapidamente no mundo: o capitalismo”. No mesmo sentido, Engels escrevia em 1850: Inclusive as chamadas guerras de religião do século XVII aconte- ceram, antes de tudo, por interesses materiais de classe muito con- cretos. Estas guerras foram lutas de classes, da mesma forma que os conflitos internos que mais tarde se produziram na França e na Inglaterra. Que estas lutas tivessem certas características religio- sas, que os interesses, necessidades e reivindicações de cada uma das elásses tenham sido dissimulados com uma capa religiosa, não modifica a situação em nada e se explica pelas condições da época. Este esquema geral foi seguido por diversos historiadores que estudaram a Reforma de um ponto de vista estritamente materialista, | ! RX “4 - Fogtunato fartopo ASREFORMAS 41 Mober , tus Copias ôu, pelo menos, abstraído, no que se refere às motivações profundas dos acontecimentos, de toda causalidade não econômica. Assim, Ós- car A, Marti, no prefácio de Economic causes of the Reformation in England (1929), escreve: A rebelião eclesiástica do século XVI finca suas raízes profunda- mente no passado. No que concerne à Inglaterra, as ft. «es da re- belião se encontram muito mais além das aspirações dinásticas do monarca, ou de desacordos sobre a questão da supremacia. As rai zes da Reforma se encontram num subsolo constituído por ques- tões de dinheiro e pelas transformações econômicas fundamentais que estavam a ponto de produzir-se. Somente sob esta nova luz é que tais fatos podem ser compreendidos com claridade. O historiador italiano C. Barbagallo, tratando por sua vez do século XVI em conjunto, afirmou em 1936: Em geral, considera-se a Reforma como processo de conversão religiosa de uma certa parte da Europa... Não consigo compreen- der como se pode pensar que multidões de pessoas, de um e de ou- tro país, tivessem sido capazes de interessar-se pelas sutilezas teo- lógicas de Lutero, Zuinglio, Melanchton ou Ecolompádio, que com dificuldade os professores de teologia entendem. Eu considero pois, a Reforma não como um fenômeno substancialmente teológi co, mas como expressão, aspecto c disfarce religioso da crise que os países da Europa atravessaram na segunda metade do século XVI e como sintoma do mal-estar geral que se sentia. As posições destes dois historiadores são idênticas. Para Óscar A. Marti, a Igreja católica, ligada às estruturas rurais de uma época feudal, encontrava-se superada pela corrente ascendente da econo- mia urbana, burguesa e capitalista. Para Barbagallo, a Reforma re- presentava “o progresso econômico e social, e, inversamente, a “Contra-Reforma” foi um fenômeno reacionário no qual, inclusive, colaboraram protestantes conservadores (por exemplo, na Dinamar- ca, que censurou não apenas os escritos teológicos, mas também as obras de natureza política e histórica). A Contra-Reforma. é apre- sentada “não como uma obra de reconquista católica da sociedade, da maneira como aparece em certos pequenos círculos de eclesiásti- cos italianos, mas como um esforço de restauração da ordem antiga, quê consideravam em perigo, que os governos, à Igreja e os grupos sociais interessados haviam tentado. Sem embargo, a evolução não se detém. Esta, do ponto de vista do. ali: ico, acontece de maneira inevitável e conduz ao afastamento das forças econômi- cas e sociais já caducas. Como era natural, apesar da Contra-Reforma, o movimento revo- lucionário da sociedade européia recoloca-se em marcha assisti- mos a uma série de autênticas revoluções político-sociais, como é o w 106 MARQUES/BERUTTIVFARIA caso da rebelião dos Países Baixos, as guerras de religião na Fran- ca a insurreição da Boêmia no começo da Guerra dos Trinta Anos, c em seguida, em proporções cada vez maiores, as sublevações da Escócia e Inglaterra na época dos Stuarts. Desde Engels, Os historiadores marxistas especializados no estudo do século XVI foram atraídos pelo caso de Tomás Múnzer, o jovem caudilho — morreu aos 40 anos — da rebelião dos camponeses em 1525. Em 1520, na Alemanha, a oposição “moderada, rica e intel gente” dos príncipes e das classes dominantes, que desejava a sepa- ração de Roma, mas não a alteração da ordem social estabelecida, deirontou-se com a oposição proletária dos camponeses e da popula- ção pobre das cidades. Ambas — a oposição ao Papa e ao Imperador — puderam permanecer aliadas um certo tempo, devido ao fato de . que a mensagem de Lutero, enunciada com grande força de sedução, iludiu as massas, empurrando-as necessarianiente à rebelião. Mas Lutero, assustado, desligou-se rapidamente de uma aliança tão com- prometedora com as classes populares. Frente ao “reformador bur- guês” Lutero, levantou-se o “revolucionário plebeu"” Múnzer. Este, a princípio, era essencialmente um teólogo, influenciado pelos es- critos milenaristas da Idade Média. Mas evoluiu rapidamente e se transformou em um “agitador político”. Expusemos com uma certa amplitude a tese de Engels a propó- sito da Reforma em geral e de Minzer em particular, porque estas idéias, praticamente iguais, encontram-se nos estudos dos historiado- res marxistas contemporâneos. Assinalamos especialmente os traba- lhos de M. M. Smirin (historiador russo) autor de Die Volksrefor- mation des Thomas Muntzer und der grosse Bauernkrieg. Nesta extensa obra, como no resto dos livros marxistas dedicados a esta questão, o tema fundamental continua o indicado por Engels: o en- frentamento entre “'a Reforma dos príncipes” e a “Reforma dos tra- balhadores”; a guerra dos camponeses aparece assim como a “pri- meira revolução social” de importância que teve lugar na Europa. B. ESTUDOS ECONÔMICOS. SOBRE O NASCIMENTO DA REFORMA Foram formuladas muitas outras explicações econômicas da Reforma, muito mais matizadas que as dos historiadores marxistas. Em geral não pretendem ser explicações totais, mas estudos particu- lares e locais que procuram aclarar o nascimento e desenvolvimento do protestantismo em um país ou em um caso determinado. Pensa- mos aqui nos artigos de Henri Hauser sobre La “Rebeine"" de Lyon (R. H., 1896) e sobre La Reforma » las clases populares de Francia ] AS REFORMAS to7 “en el siglo XVI, que foi publicado primeiro em inglês. Hauser refu- tou a opinião sustentada pela maioria dos historiadores franceses de sua época, que consideravam o partido huguenote como um partido de nobres. Iniciou recordando alguns testemunhos do século XVI. O embaixador veneziano Giovanni Michiel escrevia em 1561; “Até o momento, por causa do rigor dos suplícios, somente se manifestaram abertamente (como reformadas) pessoas que, com exceção da vida, tinham pouco a perder”. Florimond de Raemond afirmava por seu lado: “(Os primeiros adeptos do novo dogma) fgram certas pessoas pobres, simples..., homens de ofício”, “isto é, gente que não havia feito outra coisa a não ser conduzir sua carreta e cavar sua terra”, As investigações levadas a cabo por Hauser o convenceram de que à Reforma, até 1560, estendera-se, na França, especialmente entre os artesãos das cidades, e, com ménos intensidade, entre os campone- ses. A sedição lionesa de 25 de abril, conhecida como a Grande Re- beine, havia sido organizada por uma sociedade secreta de trabalha- dores convertidos às idéias reformadas por artesãos provenientes da Suíça e da Alemanha. Estes haviam arrastado o resto da população, que sofria com a escassez e a carestia dos cereais, O pensamento de Hauser não é nada sistemático. Em síntese, via a Reforma como o produto de uma conjunção de fatores econô- micos, sociais e religiosos inseparavelmente unidos: A Reforma do século XVI teve um duplo caráter de revolução so- cial e. revolução religiosa. As classes populares não se sublevaram somente contra a corrupção do dogma e os abusos do clero: Tam- bém o fizeram contra a miséria e a injustiça. Na Bíblia não busca- ram unicamente a doutrina da salvação pela fé, mas também a pro- va da igualdade original de todos os homens. Prosseguindo suas investigações sobre a Reforma, Hauser quis explicar itão apenas a adesão dos pobres ao protestantismo, mas também a eleição dos príncipes que romperam com Roma. Em seu livro Nacimiento del protestantismo (1940), recolheu e expôs uma velha explicação econômica que os historiadores católicos usavam há muito tempo com intenções evidentemente polêmicas. (Os príncipes), cujos domínios estavam infestados de senhorios eclesiásticos, que cram terras de imunidade, teriam apenas que se- cularizar essas terras para apoderar-se delas. Lutero teve, portan- to, seus primeiros aliados entre os príncipes e principezinhos, ávi- dos de aumentar seus domínios e suas rendas. A França proporcionava a “contra-prova” do argumento: .A Concordata de 1516 transformava o rei cristianíssimo sobera- no temporal da igreja francesa, distribuidor universal dos benefi- cios, e a Reforma se tornava desnecessária como meio para trans- no MARQUES BERUTIVEARIA epifenômenos, “florituras”, como escreveu Barbagallo, é negar-se a compreender fatos tão importantes como o de que 15.000 calvinistas se deixaram morrer de fome em La Rochelle, durante o assédio de 1628. 2. Houve protestantes em todas as classes sociais O que se deve pensar agora da opinião emitida por Hauscr, no começo de sua carreira. segundo a qual o protestantismo foi, em seu início, na França — antes de 1560 — uma religião de"“gente humil- de”? Se se consulta a obra de Paul F, Geisendort, Liste des habi- tarts de Genêve, podemos ter, em princípio, a impressão de que cla confirma a tese de Hauser. Entre 1549 e 1560, 4876 “desenraizados da fé” receberam o estatuto de “habitantes” de Genebra. Destes, 2247 indicaram sua profissão: 1536 efetuaram trabalhos mecânicos (68%). 275 eram profissionais liberais (129%), 180 cram comerci tes (8%). 70 eram nobres (3%), 77 eram camponeses (3%) e 109 eram de classificação muito difícil (10%). A proporção de artesãos parece, portanto, muito significativa. Mas na sociedade do século XVI os humildes eram muito mais nu- merosos que os clérigos, burgueses e comerciantes. Das interessan- tes cifras citadas por Paul F. Geisendorf se deduz que, na França, durante a primeira metade do século XVI, a Reforma afetou a todas as categorias sociais. Esta é, precisamente, a opinião defendida por L. Romier em seu livro sobre Le royaune de Catherine de Médicis e que o próprio Hauser fez sua, em 1940, em sua obra sobre La nais- sance du protestantisme. Conclusões semelhantes foram feitas por historiadores que es- tudaram outros países. Em Bea e em Lausane, onde a passagem do catolicismo ao protestantismo se féz de maneira particulamente tran- qúiita, este recebeu a adesão unânime de todos os habitantes. Um re- cente estudo sobre as cidades hanseáticas de Stralsund, Rostock e Wismar na época em que abandonaram o catolicismo, demonstra que as-classes médias e baixas dessas cidades desempenharam um papel capital na introdução da Reforma luterana, Existiu uma aliança entre os pobres e as novas idéias, mas os ricos burgueses não estiveram ausentes das primeiras fileiras protestantes e tampouco os príncipes que, por outro lado. lutavam contra O proletariado e os burgueses momentâneamente unidos. M. Schildauer chega à conclusão de que a Reforma, apesar das circunstâncias econômicas e sociais que favo- receram seu desenvolvimento, foi movida principalmente por “uma vontade de renovação espiritual” e que este caráter explica seus re- lativos fracassos no plano político e social. (...) É inegável que numerosas e variadas circunstâncias — eco- nômicas, sociais, geográficas ou política — desempenharam um papel AS REFORMAS ma ção na passagem ao protestantismo de uma região ou de um grupo social. Também é certo que as heresias dos finais da Idade Média encontraram uma ampla audiência entre os pobres. Es- tes, na Inglaterra, na Itália e na Boêmia, ligaram, de maneira indis- solúvel, aspiraç josas e reivindicações igualitárias. Nesta época de hi . conviria estabelecer, para cada caso terri- torial ou sociológico, a relação das circunstâncias que, atuando co- mo catalisadoras, favoreceram a passagem à Reforma. No entanto, uma vez estabelecido este inventário, restaria por fazer o mais im- portante. As causas principais da ruptura com Roma, de um territó- io ou um grupo social, não ficariam ainda esclarecidas. Quer dizer isto que temos de recorrer novamente à explicação tradicional e ver nos abusos de numerosos clérigos a razão essencial do cisma pro- testante? D. A QUESTÃO DOS ABUSOS"! DISCIPLINARES 1. A Tese tradicional Durante muito tempo, acreditou-se que a Reforma havia ocor- rido por causa dos “abusos” que naquele momento se produziam no interior da Igreja. (...) A violência com que Lutero, sobretudo a par- tir de 1520, atacou o Papado, identificado por ele como o anticristo, fomecia um argumento suplementar à tesc de uma explicação moral da Reforma. Por outro lado, o êxito do Elogio da Loucura — obra que aparecia depois de toda uma série de amargas críticas contra a Igreja — provava que os cristãos estavam já preparados para ela. Para permanecer fiel a Jesus Cristo era necessário abandonar uma insti- tuição que estava irremediavelmente corrompida. Erasmo afirmou, falando dos monges: “Ninguém contribuiu mais para popularizar Lutero que os costumes dessa gente”. Até uma data relativamente recente, os historiadores protestantes aceitaram, portanto, a explica- ção da rebelião de Lutero — e, mais geralmente, do nascimento da Reforma — por uma sã e santa reação de desagrado. (...) 2. Para uma explicação teológica da reforma a Atualmente se considera insuficiente a explicação moral da Re- forma, que procura dar conta de um fenômeno essencialmente rel gioso. (...) A investigação histórica tem-se encaminhado para um estudo cada vez mais concreto das causas da Reforma, seguindo as indicações e os exemplos de Karl Holl e Lucien Febvre. K. Holl afirma, em resumo, que nem a filosofia, nem a sociologia, nem o na- cionalismo, nem a economia, podem explicar Lutero, mas apenas à E) u2 MARQUES/BERUTIIEARIA religião. Febvre escreveu: “É necessário buscar causas religiosas pa- ra uma revolução religiosa”. L. Febvre entendia “causas religiosas” em um sentido muito mais amplo que K. Holl e queria orientar a pesquisa para um estudo da mentalidade daquele tempo, na qual o fator religioso era o componente mais significativo. “O protestante Léonard concorda, no essencial, com 9 ponto de vista de seu amigo, o agnóstico L. Febvre. Para estes dois historia- dores, as causas da Reforma são, antes de tudo, religiosas e a expli- cação fundamental de Léonard é, em definitivo, a seg! “A Re- Torma, mais que uma rebelião contra a fé católica, foi o seu a clímax": É discutível a concepção de Léonard sobre a fé da Idade Mé- dia. Além disso, teríamos que desprezar os diversos fatores políticos e econômicos que se colocaram em jogo no século XVI, assim como os profundos rancores acumulados contra o Papado e os monges. Sem dúvida, convém também não subestimar a complexidade do problema das causas da Reforma. Mas a historiografia contemporã- nea não marxista, dá prioridade, unanimemente, na hierarquia dos fatores da crise, aos fenômenos religiosos. No capítulo de introdu- xp São do volume II (1958) da New Cambridge Modern History: The L Reformation Era, 1520-1559, G. R. Elton assim se expressa: Ninguém se atreveria hoje a enumerar as causas da Reforma. Um fenômeno tão complexo surgiu de fatores Jrão-numerosos que so- mente uma análise geral, que abarcaria centenas de anos de histó- ria, poderia aproximar-nos de uma resposta satisfatória. O ódio contra o clero, muito extenso, desempenhou seu papel. Quase sem- pe se conjugou com a hostilidade contra Roma e com um fervente nacionalismo. A cobiça, o endividamento e os cálculos políticos devem ser também levados em conta. Mas a mensagem dos refor- madores respondeu — isto é hoje indubitável — a uma intensa sede espiritual que a Igreja oficial... foi incapaz de satisfazer... Os pre- gadores da Reforma não necessitaram de nenhum apoio político para atrair seus partidários, ainda que esse apoio se fizesse neces- sário para consolidar os resultados alcançados pelo ataque inicial dos profetas. Não se pode esquecer que, em seus inícios, a Refor- ma foi um movimento espiritual com uma mensagem religiosa. “vemos, pois, como a investigação histórica atual se orienta de- “ eididamente, no que se refere à Reforma, para o estudo das doutri- | nas e de suas relações com a mentalidade dos homens do século XVI A-causa principal da Reforma foi, em resumo, esta: numa épo- ca agitada, na qual o individualismo realizava grandes progresso: fiéis sentiram a necessidade de uma teologia mais sólida e mai “viva que aquela que lhes ensinava — ou não lhes ensinava — um clero geralmente pouco instruído e rotineiro, composto por capelães fa- mintos e incapazes de substituir os curas titulares, que tampouco possuíam uma formação muito melhor. Delumeau, Jean. La Reforma. Barcelona, Editorial Labor, 1973, p. 181-197. (Tradução dos organizadores). 4 AS REFORMAS 13 60. A ALEMANHA DE 1517 E LUTERO Lucien Febvre O texto de Lucien Febvre possibilita ta ampla reflexão sobre o quadro geral da Alemanha, no início do século XVI, de:scando- se suas estruturas políticas (caracterizadas pela ausência de um Estado centralizado), econêmicas (cujo marco principal era a pu- Jjança e riqueza financeira, comercial e “industrial” de suas es- plêndidas cidades), e sociais-(definidas por uma próspera burguesia ascendente em meio a relações sociais de produção ainda predomi- nantemente feudais). A partir da discussão em torno destes proble- mas, o autor nos remete à questão da Reforma e da emergência de Lutero enquando líder religioso que conseguiu expressar o ideal nacionalista que rapidamente se transformava em “xenofobia”, di- rigindo-se, sobretudo, contra a Igreja Católica. Geralmente não temos o costume de o dizer: e, no entanto, pa- rece importante referenciá-lo. Se existia na Europa, quando termina- va o primeiro quartel do século XVI, um grande país, que apenas ofereceu a uma reforma — no verdadeiro sentido da palavra -, e a um reformador um terreno difícil e um solo ingrato — esse país era à Alemanha. A Alemanha de 1517: terras férteis, poderosos recursos mate- riais, cidades orgulhosas e opulentas; por outro lado, trabalho, ini- ciativa, riquezas; mas de maneira nenhuma a unidade, quer moral, quer política. Uma anarquia. Milhares de vontades, muitas vezes contraditórias; o amargo pesar de uma situação confusa, e, em mui tos aspectos, humilhante: além disso, impotência total para re- mediar o mal. Não repitamos — é inútit e superficial — o que afirmam tantos livros conhecidos. Não hesitamos, de maneira nenhuma, em recordar com uma palavra tudo o que pode ajudar a compreender melhor a história de que nos ocupamos. Num canto dessa Alemanha vivia, em 1517, um homem obscuro, desconhecido; monge que em uma biografia geral dos agostinhos não saberíamos se merecéria uma referência de apenas cinco linhas. Esse homem, em poucos meses, ia tornar-se um herói nacional. Vale a pena perguntar se um estudo atento da carta política e moral da Alemanha do témpo podia fazer prever uma tal aventura, as suas probabilidades de êxito e as suas possibilidades de duração.