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Guias e Dicas
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a ameaca dos disruptores endogenos, Notas de estudo de Cultura

O autor resgata aspectos centrais das pesquisas já realizadas para alertar a todos nós que estamos sendo vítimas de certas substâncias químicas que, por diferentes mecanismos, estão afetando especialmente os processos reprodutivos de aves e mamíferos. Tais substâncias, agindo no sistema endócrino, inclusive dos seres humanos, podem colocar em risco nossa sobrevivência como espécie.

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 29/09/2011

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Agroecol.e Desenv.Rur.Sustent.,Porto Alegre, v.2, n.3, jul./set.2001
Artigo
* Texto traduzido por Francisco Roberto Caporal,
Diretor Técnico da EMATER/RS, com autorização do
autor.
** José Santamarta é revisor e editor da edição em
espanhol do livro Nosso Futuro Roubado e diretor da
edição em castelhano da revista World Watch.
A ameaça dos disruptores endócrinos *
Santamarta, José **
Resumo: Este artigo, publicado original-
mente na edição em espanhol da revista World
Watch, é uma abordagem sobre o conteúdo do
livro Nosso Futuro Roubado. O autor resgata
aspectos centrais das pesquisas já realizadas
para alertar a todos nós que estamos sendo
vítimas de certas substâncias químicas que,
por diferentes mecanismos, estão afetando
especialmente os processos reprodutivos de
aves e mamíferos. Tais substâncias, agindo
no sistema endócrino, inclusive dos seres hu-
manos, podem colocar em risco nossa sobre-
vivência como espécie.
Os chamados disruptores endócrinos (ou
burladores, fraudadores) não são venenos clás-
sicos, eles interferem no sistema hormonal,
sabotando as comunicações e alterando os
mensageiros químicos que se movem, perma-
nentemente, dentro do nosso corpo. Como re-
sultado, estamos sujeitos a um conjunto de
efeitos maléficos à saúde, o que inclui anor-
malidades sexuais em crianças e adultos,
homens e mulheres. Nos homens, pesqui-
sas mostram a redução drástica do número
de espermatozoides no sêmen.
Não obstante, os riscos incontroláveis dos
disruptores endócrinos, a indústria química
continua colocando no mercado, anualmen-
te, cerca de mil novas substâncias, enquanto
a capacidade para exames e pesquisas con-
clusivas sobre potenciais externalidades e
riscos desses produtos não supera a 500 subs-
tâncias por ano. Deste modo, somente conhe-
cemos os reais efeitos maléficos de uma mi-
noria das 100 mil substâncias químicas sin-
téticas que podem, potencialmente, funcionar
como disruptores endócrinos.
Portanto, o alerta presente neste artigo
pretende ajudar na reflexão sobre nosso modo
de vida e de consumo, ademais de sugerir a
necessidade de medidas que alterem o rumo
da lógica perversa de nosso estilo de desen-
volvimento e de nosso conceito de progresso.
Palavras-chave: agrotóxicos, disruptores
endócrinos, compostos sintéticos, doenças
hormonais, reprodução humana
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Baixe a ameaca dos disruptores endogenos e outras Notas de estudo em PDF para Cultura, somente na Docsity!

* Texto traduzido por Francisco Roberto Caporal,

Diretor Técnico da EMATER/RS, com autorização do

autor.

** José Santamarta é revisor e editor da edição em

espanhol do livro Nosso Futuro Roubado e diretor da

edição em castelhano da revista World Watch.

A ameaça dos disruptores endócrinos *

Santamarta, José **

Resumo: Este artigo, publicado original- mente na edição em espanhol da revista World Watch, é uma abordagem sobre o conteúdo do livro Nosso Futuro Roubado. O autor resgata aspectos centrais das pesquisas já realizadas para alertar a todos nós que estamos sendo vítimas de certas substâncias químicas que, por diferentes mecanismos, estão afetando especialmente os processos reprodutivos de aves e mamíferos. Tais substâncias, agindo no sistema endócrino, inclusive dos seres hu- manos, podem colocar em risco nossa sobre- vivência como espécie. Os chamados disruptores endócrinos (ou burladores, fraudadores) não são venenos clás- sicos, eles interferem no sistema hormonal, sabotando as comunicações e alterando os mensageiros químicos que se movem, perma- nentemente, dentro do nosso corpo. Como re- sultado, estamos sujeitos a um conjunto de efeitos maléficos à saúde, o que inclui anor- malidades sexuais em crianças e adultos, homens e mulheres. Nos homens, pesqui- sas mostram a redução drástica do número de espermatozoides no sêmen. Não obstante, os riscos incontroláveis dos disruptores endócrinos, a indústria química continua colocando no mercado, anualmen- te, cerca de mil novas substâncias, enquanto a capacidade para exames e pesquisas con- clusivas sobre potenciais externalidades e

riscos desses produtos não supera a 500 subs- tâncias por ano. Deste modo, somente conhe- cemos os reais efeitos maléficos de uma mi- noria das 100 mil substâncias químicas sin- téticas que podem, potencialmente, funcionar como disruptores endócrinos. Portanto, o alerta presente neste artigo pretende ajudar na reflexão sobre nosso modo de vida e de consumo, ademais de sugerir a necessidade de medidas que alterem o rumo da lógica perversa de nosso estilo de desen- volvimento e de nosso conceito de progresso.

Palavras-chave: agrotóxicos, disruptores endócrinos, compostos sintéticos, doenças hormonais, reprodução humana

1 Introdução

Numerosas substâncias químicas, como as dioxinas, PCB's, agrotóxicos, ftalatos, alquil- fenóis e o bisfenol-A, ameaçam nossa fecundidade, inteligência e sobrevivência. Em 1962, o livro de Rachel Carson, Prima- vera Silenciosa , deu o primeiro aviso de que certos produtos químicos artificiais haviam se difundido por todo o planeta, contaminan- do praticamente a todos os seres vivos, até nas terras virgens e mais remotas. Aquele livro, que se constituiu num marco destes estudos apresentou provas do impacto que estas substâncias sintéticas causavam sobre as aves e fauna silvestre. Entretanto, até ago- ra, não tínhamos sido advertidos sobre as ple- nas conseqüências desta absurda invasão, que está transtornando o desenvolvimento sexual e a reprodução, não só de numerosas populações de animais, senão que, também, dos seres humanos. Nosso Futuro Roubado , escrito por Theo Colborn, Dianne Dumanoski e Pete Myers^1 , reuniu, pela primeira vez, as alarmantes evi- dências, obtidas em estudos de campo, expe- rimentos de laboratório e estatísticas huma- nas, para tratar em termos científicos, mas acessíveis para todos, o caso deste novo peri- go. Este livro começa onde terminou a Prima- vera Silenciosa , revelando as causas primei- ras dos sintomas que tanto alarmaram a Rachel Carson. Baseando-se em décadas de pesquisa, os autores apresentam um impres- sionante informe que segue a pista de defei- tos congênitos, anomalias sexuais e falhas na reprodução, evidenciados em populações sil- vestres, até encontrar sua origem: substân- cias químicas que substituem os hormônios naturais, transtornando os processo normais de reprodução e desenvolvimento. Os autores de Nosso Futuro Roubado estu- daram a pesquisa científica que relaciona estes problemas com os "disruptores endó- crinos" , agentes químicos que dificultam a re-

produção dos adultos e ameaçam com graves perigos seus descendentes em fase de desen- volvimento. Explicam como estes contami- nantes chegaram a converter-se em parte integrante da nossa economia industrial, di- fundindo-se com assombrosa facilidade por toda a biosfera, do Equador aos pólos. E estu- dam o que podemos e devemos fazer para com- bater este perigo onipresente. Nosso Futuro Roubado , como afirma Al Gore, ex-vice-pre- sidente dos Estados Unidos e autor do prólogo, é um livro de importância transcendental, que nos obriga a pensar em novas perguntas so- bre as substâncias químicas sintéticas que temos espalhado por toda a Terra.

2 Os disruptores endócrinos

Um grande número de substâncias quími- cas artificiais que foram colocados no meio ambiente, assim como algumas substâncias naturais, tem o potencial para perturbar o sis- tema endócrino dos animais, inclusive os dos seres humanos. Entre elas se encontram substâncias persistentes, bioacumulativas e organohalógenas, que incluem alguns agro- tóxicos (fungicidas, herbicidas e inseticidas) e as substâncias químicas industriais, outros produtos sintéticos e alguns metais pesados. Muitas populações de animais já foram afe- tadas por estas substâncias. Entre estas re- percussões, figuram a disfunção da tireóide em aves e peixes; a diminuição da fertilidade em aves, peixes e crustáceos e mamíferos; a diminuição do sucesso da incubação em aves, peixes e tartarugas; graves deformidades de nascimento em aves, peixes e tartarugas; anormalidades metabólicas em aves, peixes e mamíferos; anormalidades de comporta- mento em aves; desmasculinização e femi- nilização de peixes, aves e mamíferos ma- chos; desfeminilização e masculinização de peixes e aves fêmeas; e o perigo para os sis- temas imunológicos de aves e mamíferos. Os disruptores endócrinos interferem no

Muitos dos compostos artificiais

resistem aos processos normais de

decomposição e se acumulam no

organismo, submetendo humanos e

animais a uma contaminação de

baixo nível mas de longa duração

imitadores hormonais artificiais supõem um perigo muito maior que os compostos natu- rais, porque podem persistir no corpo durante anos, enquanto que os estrógenos vegetais podem ser eliminados em um dia. Ninguém sabe ainda que quantidades des- tas substâncias químicas disruptoras endó- crinas são necessárias para que representem perigo para o ser humano. Os dados indicam que poderiam ser quantidades muito peque- nas, se a contaminação ocorre antes do nas- cimento. No caso das dioxinas, estudos recen- tes têm demonstrado que a contaminação por ínfimas doses já é perigosa. A maioria de nós leva várias centenas de substâncias químicas persistentes em nosso organismo, entre elas muitas que foram iden- tificadas como disruptores endócrinos. Por outro lado, as levamos em concentrações que multiplicam por milhares os níveis naturais dos estrógenos livres, isto é, estrógenos que não estão enlaçados com proteínas sangüíneas e que são, portanto, biologicamen- te ativos. Se descobriu que quantidades insignifican- tes de estrógenos livres podem alterar o cur- so do desenvolvimento do útero, em quanti- dades tão insignificantes como um décimo de parte por milhão. As substâncias químicas disruptoras endócrinas podem atuar juntas e, pequenas quantidades, aparentemente insig- nificantes, de substâncias químicas individu- ais, podem ter um importante efeito acumu- lativo. A descoberta de que podem existir subs- tâncias químicas que alteram o sistema hormonal em lugares inesperados, inclusive em alguns produtos que se consideravam bi- ologicamente inertes, como os plásticos, co- loca em xeque as idéias tradicionais sobre a contaminação por estes químicos.

3 Os efeitos sobre os seres humanos

Os seres humanos também foram afeta- dos pelos disruptores endócrinos. O efeito do

DES (dietilestilbestrol), um agente estrogêni- co, foi apenas um claro aviso. O risco do cân- cer é insuficiente porque as substâncias quí- micas podem causar graves efeitos à saúde, distintos do câncer. Causa grande preocupa- ção a crescente freqüência de anormalidades genitais em crianças, como: testículos não descendidos (criptorquidia), pênis sumaria- mente pequenos, além de hipospadias, um efeito no qual a uretra que transporta a urina não se prolonga até o final do pênis. Nas zo- nas de cultivo intensivo na província de Gra- nada (Espanha), onde se usa o endosulfan e outros pesticidas, foram registrados 360 ca- sos de criptorquidias. Alguns estudos com animais indicam que a exposição a substân- cias químicas hormonalmente ativas, duran- te o período pré-natal ou na idade adulta, au- menta a vulnerabilidade a tipos de câncer sensíveis aos hormônios, como os tumores malignos na mama, próstata, ovários e útero. Entre os efeitos dos disruptores endócrinos está o aumento dos casos de câncer de testí- culo e de endometriosis, uma doença na qual o tecido que normalmente recobre o útero se move, misteriosamente, para o abdome, os ovários, a vagina ou para o intestino, provo- cando crescimentos que causam dor, abun- dantes hemorragias, infertilidade e outros problemas. O sinal mais espetacular e preocupante de que os disruptores endócrinos podem já ter cobrado um alto preço se encontra nos relató- rios que indicam que a quantidade e mobili- dade dos espermatozóides dos homens caiu

Dentro de 50 anos, os homens

poderiam ser incapazes de se

reproduzir de forma natural,

tendo que depender de técnicas

de inseminação artificial ou de

fecundação "in vitro"

em queda livre nos últimos cinqüenta anos. O estudo inicial, realizado por uma equipe da Dinamarca, liderada pelo doutor Niels Ska- kkebaek e publicado no Bristish Medical Journal, em setembro de 1992, descobriu que a quantidade média de espermatozóides mas- culinos havia caído 45%, de uma média de 113 milhões por mililitro de sêmen, em 1940, para apenas 66 milhões por ml, em 1990. Ao mesmo tempo, o volume de sêmen ejaculado havia caído 25%, razão pela qual a queda real na quantidade de espermatozóides havia sido de 50%. Durante este período, havia triplicado o número de homens que tinham quantida- des extremamente baixas de espermatozói- des, da ordem de 20 milhões/ml. Na Espanha, se passou de uma média de 336 milhões de espermatozoides por ejaculação, em 1977, para 258 milhões, em 1995. Esta queda ame- aça à capacidade fertilizadora masculina. Se continuar esta tendência de queda, dentro de 50 anos, os homens poderiam ser incapazes de se reproduzir de forma natural, tendo que depender de técnicas de inseminação artifi- cial ou de fecundação "in vitro".

A exposição pré-natal a substâncias quími- cas imitadoras de hormônios pode estar exa- cerbando também o problema médico mais comum que afeta o homens ao envelhecer: o crescimento doloroso da glândula prostática (próstata), que dificulta a excreção da urina e, freqüentemente, requer intervenção cirúr-

gica. Nos países ocidentais, 80% dos homens apresentam sinais desta enfermidade aos 70 anos e, 45% dos homens sofrem um grave crescimento da próstata. Nas últimas déca- das, ocorreu um espetacular aumento desta doença. A experiência com o DES (dietilestilbestrol) e os estudos com animais sugerem, também, uma vinculação entre as substâncias quími- cas disruptoras endócrinas e vários problemas de reprodução nas mulheres, especialmente abortos, gestações ectópicas e endometriose. A endometriose afeta, hoje em dia, cinco mi- lhões de mulheres americanas. No início do século XX, a endometriose era uma doença quase desconhecida. As mulheres que pade- cem de endometriose têm níveis mais eleva- dos de PCB's no sangue que as mulheres que não apresentam esta enfermidade. Diferen- tes estudos concordam em afirmar que entre 60% e 70% das gravidezes são perdidas na fase embrionária inicial e outros 10% terminam nas primeiras semanas por aborto espontâ- neo. Mas a tendência sanitária mais alarman- te, especialmente para as mulheres, é a cres- cente taxa de câncer da mama, que é o câncer feminino mais comum. Desde 1940, nos pri- mórdios da química, as mortes por câncer de seio aumentaram nos Estados Unidos em um por cento ao ano e se sabe de aumentos seme- lhantes em outros países industrializados.

4 A indústria química

Nosso Futuro Roubado abre um novo ho- rizonte que, muito provavelmente, conclua com novos tratados internacionais, assim como ocorreu com os CFC's, que afetam a ca- mada de ozônio, mesmo contra a posição das indústrias químicas. Atualmente, podemos encontrar no mercado umas 100 mil substân- cias químicas sintéticas. Cada ano são introduzidas mil novas substâncias, a maio- ria sem nenhuma verificação ou revisão ade-

Council, a Society of the Plastics Industry e a American Crop Protection Association (dos grandes fabricantes de agrotóxicos) recolhe- ram grande quantidade de dinheiro entre suas associadas para lançar uma campanha con- tra o livro Nosso Futuro Roubado. Quando em 1962 se publicou o livro de Rachel Carson, Primavera Silenciosa (Silent Spring), a re- vista da Chemical Manufacturers Association, respondeu usando o título Silence, Miss Carson. A indústria do cloro, agrupada no Chlorine Council, que reúne as empresas Du Pont, Dow, Oxychem e Vulcan, gasta, anual- mente, nos Estados Unidos, 150 milhões de dólares em campanhas de imagem e de into- xicação informativa. Na Espanha, a empresa encarregada pelos fabricantes de PVC, de in- toxicar a opinião pública com suas informa- ções é a Burson - Marsteller. Trinta e cinco anos depois, a mesma in- dústria que quase acabou com a camada de ozônio, que ocasionou o acidente de Bhopal e que fabrica milhares de substâncias tóxicas, enfrenta agora o desafio de Nosso Futuro Rou- bado. As empresas Burson-Marsteller, Edel- man e Hill & Knowlton, dedicadas à lavagem

da imagem da indústria do fumo, do PVC e de empresas contaminantes, muitas delas do setor químico, realizam campanhas de "into- xicação" contra os pesquisadores, jornalistas e ONGs, tratando de impedir, ou ao menos reduzir, os efeitos de livros como Nosso Futu- ro Roubado e dezenas de estudos científicos, relatórios e artigos, sobre os efeitos das subs- tâncias químicas que funcionam como disrup- tores endócrinos. Uma boa prova do quanto são corretas as conclusões do livro Nosso Futuro Roubado é que o governo dos Estados Unidos gasta de 20 a 30 milhões de dólares, em 400 projetos, para analisar os efeitos das substâncias químicas no sistema endócrino. O objetivo da Agência de Meio Ambiente (EPA) dos EUA é desenvol- ver toda uma estratégia para pesquisar e sub- meter à prova 600 agrotóxicos e 72.000 subs- tâncias químicas de uso comercial nos Esta- dos Unidos, com a finalidade de verificar seus efeitos como possíveis disruptores endócri- nos. A National Academy of Sciences dos Es- tados Unidos realizou um amplo estudo para aprofundar os conhecimentos sobre os peri- gos dos disruptores endócrinos. É difícil o mês

A r t i g o O Governo dos Estados Unidos

gasta de 20 a 30 milhões de

dólares, em 400 projetos, para

analisar os efeitos das substâncias

químicas no sistema endócrino

em que não se publica algum artigo, nas mais prestigiosas revistas científicas, confirman- do e aprofundando sobre os riscos das subs- tâncias químicas. O mercado mundial de agrotóxicos repre- sentou 2 milhões de toneladas em 1999 e in- cluía 1.600 substâncias químicas. O consu- mo mundial de agrotóxicos continua crescen- do. Os agrotóxicos são uma classe especial de substâncias químicas, na medida em que são biologicamente ativos por desenho e se dis- persam intencionalmente no ambiente. Hoje em dia se usam nos Estados Unidos 30 vezes mais agrotóxicos sintéticos do que em 1945. Neste mesmo período, o poder biocida por qui- lo destes venenos foi multiplicado por 10. Hoje, 35% dos alimentos consumidos têm resíduos detectáveis de agrotóxicos. Os métodos de análise, entretanto, só têm capacidade para detectar um terço dos mais de 600 agrotóxi- cos em uso. A contaminação dos alimentos por agrotóxicos é, freqüentemente, muito su- perior nos países em desenvolvimento.

5 Recuperar Nosso Futuro Roubado

Defender-nos de todos estes riscos, requer a ação de várias frentes, com a intenção de eliminar as novas fontes de disruptores en- dócrinos e minimizar a exposição a poluentes que interferem no sistema hormonal e que agora estão no meio ambiente. Para isto, será necessário mais pesquisa científica, redese- nho das substâncias químicas, dos processos de produção e dos produtos das empresas; no- vas políticas governamentais e esforços pes- soais para protegermos a nós mesmos e a nossas famílias. A agricultura ecológica, sem agrotóxicos e outras substâncias químicas, é uma alternativa sustentável e viável. (grifo do tradutor). Com 100 mil substâncias químicas sinté- ticas no mercado, em todo o mundo, e mais mil novas substâncias a cada ano, há pouca esperança de descobrir como afetarão os e-

cossistemas e quais serão seus efeitos para os seres humanos e outros seres vivos, até que os danos já tenham ocorrido. É necessá- rio reduzir o número de substâncias quími- cas que se usam em um determinado produ- to e fabricar e comercializar somente aque- las substâncias químicas que possam ser de- tectadas facilmente com a tecnologia atual e cuja degradação no meio ambiente seja co- nhecida. Estas substâncias não alteraram a estrutura genética básica da nossa humani- dade. Eliminem-se os disruptores presentes na mãe e no útero e as mensagens químicas que guiam o desenvolvimento poderão che- gar outra vez sem obstáculos. Não obstante, a proteção da próxima geração dos efeitos dos disruptores endócrinos requererá uma vigi- lância de anos e, inclusive, de décadas, por- que as doses que chegam ao feto dependem não somente do que ingere a mãe durante a gravidez, senão que também dos poluentes persistentes acumulados na gordura corporal até este momento da sua vida. As mulheres transferem esta reserva química acumulada durante décadas a seus filhos, durante a ges- tação e durante a amamentação. O sistema atual dá por suposto que as subs- tâncias químicas são inocentes, até que se demonstre o contrário. O ônus da prova deve atuar de modo contrário, porque o enfoque atual, a presunção de inocência, fez com que muitas vezes tivéssemos efeitos maléficos sobre a saúde das pessoas e danos aos ecos- sistemas. As provas que surgem sobre as substâncias químicas hormonalmente ativas devem ser utilizadas para identificar àquelas que apresentam maior potencial de risco a fim de eliminá-las do mercado. Cada novo pro- duto deve ser submetido a estes testes, antes

kepona, dieldaim, vinclozolina, dicofol e clordane, entre outros;

  • O agrotóxico Endosulfan, de amplo uso na agricultura, apesar de estar proibido em mui- tos países;
  • O HCB (hexaclorobenzeno), usado em sínte- ses orgânicas, como fungicida para tratamen- to de sementes e como preservador de ma- deira;
  • Os ftalatos, utilizados na fabricação de PVC. Cerca de 95% do DEHP (di-2etilexil-ftalato) se utiliza na fabricação de PVC;
  • Os alquilfenóis, antioxidantes presentes no poliestireno modificado e no PVC, assim como o produto da degradação dos detergentes. O pnonilfenol, pertencente à família de substân- cias químicas sintéticas alquilfenóis. Os fa- bricantes acrescentam nonilfenóis ao polies-

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tireno e ao cloreto de polivinila (PVC) como antioxidante para que estes plásticos sejam mais estáveis e menos frágeis. Um estudo descobriu que a indústria de processamento e embalagem de alimentos utilizava PVCs que continham alquilfenóis. Outro informava a descoberta de contaminação por nonilfenol em água que havia passado por canos de PVC. A decomposição de substâncias químicas pre- sentes nos detergentes industriais, agrotóxi- cos e produtos para o cuidado pessoal, pode dar origem, também, ao nonilfenol;

  • O bisfenol-A, de amplo uso na indústria ali- mentícia (normalmente recobrindo o interior de embalagens metálicas de estanho) e tam- bém por dentistas. Um dos pioneiros pesqui- sadores sobre os efeitos do bisfenol-A é o mé- dico espanhol Nicolás Olea. A A

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