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SNGoenka - Técnica de Meditação VIPASSANA
Tipologia: Notas de estudo
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Não perca as partes importantes!
! EDITA"ÃO #I PA$ $A NA
- Prefácio, - Introdução, - i. A busca, - ii. O ponto de partida, - iii. A causa imediata, - iv. A raiz do problema, - v. O treinamento da conduta moral, - vi. O treinamento da concentração,
As qualidades de Vipassana são exemplificadas pelo próprio Sr. Goenka. Ele é uma pessoa pragmática, em contato com a realidade corrente da vida e capaz de lidar com essa realidade de forma inci- siva mas, em todas as situações, mantém uma extraordinária calma mental. Paralela a essa calma, existe uma profunda compaixão pelos outros, uma habilidade de se relacionar com, virtualmente, qualquer ser humano. No entanto, ele nada tem de solene. É dotado de um cativante senso de humor, que aplica no seu ensinamento. Os participantes de um curso recordam durante muito tempo o seu sorriso, as suas gargalhadas e o seu repetido mote: “Sejam felizes!”. É evidente que Vipassana lhe trouxe felicidade e ele deseja vivamente compartilhar essa felicidade com os demais, mostrando- -lhes a técnica que funcionou tão bem para ele. Não obstante a sua presença magnética, o Sr. Goenka não aspira a se tornar um guru que transforma os seus discípulos em autômatos. Ao contrário, ele ensina autorresponsabilidade. O verdadeiro teste de Vipassana, diz ele, é aplicá-la na vida. Ele encoraja os meditadores não a se sentarem aos seus pés mas a saírem do seu redor e irem viver uma vida feliz no mundo. Evita todas as expressões de devoção à sua pessoa e, em lugar disso, orienta os seus estudantes a devotarem-se à técnica, à verdade que encontram dentro de si próprios. Em Myanmar, tradicionalmente, ensinar meditação tem sido prerrogativa dos monges budistas. Contudo, tal como o seu pro- fessor, o Sr. Goenka é um leigo e chefe de uma grande família. Apesar disso, a clareza do seu ensinamento e a eficácia da própria técnica ganharam a aprovação de monges veteranos em Myanmar, na Índia e no Sri Lanka, tanto que vários deles fizeram cursos sob a sua orientação. Para manter a pureza da técnica, o Sr. Goenka insiste que a meditação nunca deve tornar-se um negócio. Os cursos e centros que operam sob a sua direção são todos conduzidos numa base totalmente não lucrativa. Ele próprio não recebe remuneração direta ou indireta pelo seu trabalho e nem os professores-assistentes autorizados a ensinar em cursos como seus representantes. Ele
distribui a técnica de Vipassana puramente como um serviço à humanidade, para ajudar àqueles que necessitam de ajuda. S.N. Goenka é um dos poucos guias espirituais indianos res- peitados tanto na Índia como no Ocidente. Entretanto, ele nunca procurou fazer publicidade, preferindo confiar na divulgação boca a boca para expandir o interesse por Vipassana; sempre enfatizou ser mais importante a prática da meditação do que a mera literatura sobre a meditação. Por essas razões, é muito menos conhecido do que merece ser. Este livro é o primeiro estudo pormenorizado do seu ensinamento, preparado sob a sua orientação e com a sua aprovação. A principal fonte para este trabalho são as palestras dadas pelo Sr. Goenka durante um curso de dez dias de meditação Vi- passana e, em grau menor, os seus artigos escritos em inglês. Usei esses materiais livremente, tomando emprestado não só linhas de raciocínio e organização de pontos específicos, mas também exemplos dados nas palestras e, frequentemente, palavras exatas, mesmo frases inteiras. Para aqueles que participaram de cursos de meditação Vipassana tal como são ensinados por ele, grande parte deste livro será na certa familiar, e poderão, até mesmo, identificar uma palestra específica ou um artigo que foi usado em certo ponto do texto. Durante um curso, as explicações do professor são acompanha- das passo a passo pela experiência dos participantes na meditação. Aqui, o material foi reorganizado em benefício de um público diferente, pessoas que estão apenas lendo sobre meditação sem necessariamente a terem praticado. Para tais leitores foi feita uma tentativa de apresentar o ensinamento tal como ele é experimen- tado na prática: uma progressão lógica fluindo sem parar desde o primeiro passo até o objetivo final. Essa totalidade orgânica é mais evidente para o meditador, mas este trabalho tenta proporcionar aos não meditadores uma noção do ensinamento tal como ele se revela àquele que pratica meditação. Determinadas seções preservam deliberadamente o tom da linguagem oral, com o intuito de transmitir uma impressão mais
plurais das palavras em pāli foi acrescentado um “s”. Em geral, um número mínimo de palavras em pāli foi mantido no texto, para evitar confusão desnecessária. Contudo, muitas vezes oferecem um atalho conveniente para se alcançar certos conceitos com os quais o pensamento ocidental não está familiarizado e que dificilmente poderiam ser expressos com um termo único em outro idioma. Por esta razão, em certos pontos pareceu preferível usar uma frase em pāli em vez de outra língua. Todas as palavras escritas em pāli, em itálico, estão traduzidas no glossário no final deste livro. A técnica de Vipassana oferece benefícios iguais a todos aque- les que a praticarem, sem discriminação alguma com base na raça, classe ou sexo. De forma a manter-me fiel a esse caminho universal, tentei evitar no texto o uso de termos que especificam o gênero. Apesar disso, há passagens onde usei o pronome “ele” para me referir a um meditador sem gênero específico. Os leitores são aconselhados a considerar esse uso como sexualmente inde- terminado. Não existe a intenção de excluir as mulheres ou dar destaque indevido aos homens, pois tal parcialidade seria contrária ao fundamento do ensinamento e do espírito de Vipassana. Estou muito agradecido a todos os que ajudaram neste projeto. Em particular, desejo exprimir a minha mais profunda gratidão a S.N. Goenka pelo tempo cedido, apesar da sua agenda sobrecar- regada, para rever este trabalho à medida que se desenvolveu e, mais ainda, por ter-me guiado nos primeiros passos do caminho aqui descrito. Em um sentido mais profundo, o verdadeiro autor deste traba- lho é S.N. Goenka, visto meu propósito ser somente o de apresentar a sua transmissão do ensinamento de Buda. Os méritos deste tra- balho pertencem-lhe. Quaisquer defeitos existentes são da minha exclusiva responsabilidade.
William Hart
acontece no interior. A ideia talvez pareça o mesmo que optar por ficar horas a fio observando a escala de cores na tela da televisão. Achamos preferível explorar o outro lado da lua ou o fundo do mar a perscrutar as profundezas escondidas dentro de nós mesmos. Mas, na verdade, o universo só existe para cada um de nós quando o experimentamos com o corpo e a mente. Nunca está em nenhum outro lugar, está sempre aqui e agora. Ao explorarmos o aqui e agora de nós próprios, podemos explorar o mundo. Se não investigarmos o mundo interior nunca poderemos conhecer a realidade – iremos conhecer apenas as nossas crenças ou nossas concepções intelectuais a esse respeito. Porém, pela observação de nós mesmos, podemos vir a conhecer a realidade diretamente e aprender a lidar com ela de uma forma positiva, criativa. Um método para explorar o mundo interior é a meditação Vipassana conforme ensinada por S.N. Goenka. Essa é uma forma prática de examinar a realidade do seu próprio corpo e mente, descobrir e resolver quaisquer problemas escondidos lá existentes, desenvolver potenciais não usuais e canalizá-los para o seu próprio benefício, assim como para o bem dos outros. Vipassanā significa percepção que permite tomada de consci- ência ou insight, em pāli, língua antiga da Índia. É a essência do ensinamento do Buda, a experiência real das verdades das quais falou. O próprio Buda chegou a essa experiência pela prática da meditação e, por isso, foi a meditação que ele ensinou acima de tudo. Suas palavras são registros das suas experiências na meditação, bem como instruções pormenorizadas de como praticar para alcançar o objetivo por ele alcançado, a experiência da verdade. Isso é amplamente aceito, mas permanece o problema de como entender e seguir as instruções dadas pelo Buda. Embora suas palavras tenham sido preservadas em textos de reconhecida au- tenticidade, a interpretação das suas instruções sobre a meditação é difícil sem o contexto de uma prática efetiva. Mas se existe uma técnica mantida por incontáveis gerações, que oferece exatamente os resultados descritos por Buda e segue,
com precisão, suas instruções e elucida pontos há tempos obs- curos, então essa técnica é, sem dúvida, digna de ser investigada. Vipassana é esse método. É uma técnica extraordinária na sua simplicidade, na sua ausência total de dogmas e, acima de tudo, nos resultados que oferece. A meditação Vipassana é ensinada em cursos de dez dias, aber- tos a qualquer pessoa que deseje sinceramente aprender a técnica e que esteja apta a praticá-la, física e mentalmente. Durante os dez dias, os participantes permanecem circunscritos aos limites do curso, sem contato com o mundo exterior. Abstêm-se de ler e escrever e suspendem qualquer atividade religiosa ou outras práticas, trabalhando exatamente de acordo com as instruções dadas. Durante todo o período do curso, seguem um código básico de moralidade que inclui o celibato e a abstenção de quaisquer intoxicantes. Também mantêm silêncio durante os primeiros nove dias do curso, embora estejam livres para discutir problemas rela- cionados com a meditação com o professor e problemas materiais com o gerente do curso. Durante os primeiros três dias e meio os participantes praticam um exercício de concentração da mente. É a fase preparatória para a técnica de Vipassana propriamente dita, que é introduzida no quarto dia do curso. A cada dia, são introduzidos novos passos da prática, de forma que, ao fim do curso, um esboço da técnica inteira tenha sido apresentado. No décimo dia termina o silêncio e os meditadores fazem a transição de volta a um modo de vida mais extrovertido. O curso é concluído na manhã do décimo- primeiro dia. A experiência dos dez dias trará provavelmente uma série de surpresas para o meditador. A primeira será descobrir que meditar é um trabalho árduo! Logo se percebe ser um equívoco a ideia corrente de que meditar é uma espécie de inatividade ou relaxamento. É preciso aplicação contínua para conseguir dirigir o processo mental, conscientemente, de uma maneira determinada. As instruções pedem que se trabalhe com esforço total sem gerar
estar ao nosso alcance. Ao fim de dez dias, fica claro ter sido uma longa viagem desde o início do curso. O meditador submeteu-se a um processo análogo a uma operação cirúrgica, ao lancetar uma ferida cheia de pus. Cortar a lesão para abri-la e pressioná- -la a fim de remover o pus é doloroso mas, se isso não for feito, a ferida nunca poderá sarar. Uma vez removido o pus, a pessoa está livre dele e do sofrimento que causava e pode, assim, recuperar a saúde total. De forma semelhante, ao passar por um curso de dez dias, o meditador liberta a mente de algumas tensões e desfruta de melhor saúde mental. O processo de Vipassana gera profundas transformações interiores, mudanças que persistem depois do curso ter acabado. O meditador descobre que toda a força mental conquistada durante o curso, todas as lições aprendidas, podem ser aplicadas na sua vida diária em seu benefício e para o bem dos outros. A vida torna-se muito mais harmoniosa, produtiva e feliz. A técnica ensinada por S.N. Goenka é a mesma que ele apren- deu do seu falecido professor, Sayagyi U Ba Khin, de Myanmar; o qual aprendeu Vipassana com Saya U Thet, conhecido professor de meditação na antiga Birmânia na primeira metade do século passado. Saya U Thet, por sua vez, fora aluno de Ledi Sayadaw, famoso monge-erudito birmanês do final do século xix e princípio do século xx. Não há registro dos nomes dos professores dessa técnica para além desse período, mas aqueles que praticam a técnica acreditam que Ledi Sayadaw aprendeu meditação Vipassana com mestres tradicionais que a preservaram através de gerações, desde tempos remotos, quando o ensinamento de Buda foi introduzido em Myanmar. Certamente, a técnica está de acordo com as instruções de Buda sobre meditação, com o sentido mais simples, mais literal das suas palavras. E, mais importante, oferece resultados que são bons, pessoais, tangíveis e imediatos. Este livro não é um manual de auto-ajuda para a prática de meditação Vipassana, e as pessoas que o usarem dessa forma procedem inteiramente por sua conta e risco. A técnica só deve ser aprendida em um curso onde existam
as condições e ambiente adequados, bem como um guia treinado para apoiar o meditador. A meditação é um assunto muito sério, especialmente a técnica de Vipassana, que lida com as profunde- zas da mente. Nunca devemos nos aproximar dela de uma forma superficial ou casual. Se, ao ler este livro, se sentir inspirado a experimentar Vipassana, pode dirigir-se aos endereços registrados no fim do livro para, através deles, saber quando e onde serão oferecidos cursos. O propósito deste livro é apenas apresentar um resumo do método de Vipassana tal como ensinado por S.N. Goenka, na esperança de ampliar a compreensão dos ensinamentos de Buda e da técnica de meditação que é a sua essência.
- Nadologia
Era uma vez um jovem professor que estava fazendo uma viagem de navio. Embora fosse um homem com educação superior, com uma fila de letras depois do nome indicando seus títulos, tinha pouca experiência de vida. Entre a tripulação do navio em que viajava, havia um velho marinheiro analfabeto. Todas as noites, o mari- nheiro visitava a cabine do jovem professor para ouvi-lo dissertar sobre numerosos e diversos assuntos. Estava muito impressionado com o conhecimento do rapaz. Uma noite, quando o marinheiro estava a ponto de deixar a cabine, após várias horas de conversa, o professor perguntou-lhe: “Meu velho, você estudou geologia?” “O que é isso, senhor?” “A ciência que estuda a Terra.” “Não, senhor, nunca estive em nenhuma escola ou colégio. Nunca estudei nada.” “Meu velho, você desperdiçou um quarto da sua vida.” Com uma expressão de tristeza estampada no rosto o velho saiu. “Se uma pessoa tão cheia de conhecimentos diz isso, na certa é
Você pode estudar todas as “logias” do mundo mas, se não aprender a nadar, todos os seus estudos são inúteis. Você pode até ler e escrever livros sobre natação, pode realizar debates sobre seus aspectos teóricos sutis mas, como é que isso pode ajudar, se recusar-se a entrar na água por conta própria? Você precisa aprender a nadar.
I. A busca
todos buscamos paz e harmonia, por ser o que falta em nossas vidas. Todos nós desejamos ser felizes; consideramos isso como um direito nosso. No entanto, a felicidade é um objetivo mais almejado do que alcançado. Por vezes, todos nós experimentamos insatisfações na vida – agitação, irritação, desarmonia, sofrimento. Mesmo se neste momento estivermos livres dessas insatisfações, todos recordamos uma época em que dissabores nos afligiram e podemos prever uma hora em que podem voltar a surgir. Eventu- almente, teremos todos que enfrentar o sofrimento da morte. Além disso, nossas insatisfações pessoais nunca se mantêm limitadas a nós mesmos; ao contrário, estamos continuamente compartilhando o nosso sofrimento com os outros. A atmosfera à volta de cada pessoa infeliz torna-se carregada de agitação; con- sequentemente, todos os que entram naquele ambiente também se sentem agitados e infelizes. Desse modo, tensões individuais combinam-se para criar as tensões da sociedade. É este o problema básico da vida: a sua natureza insatisfatória. Acontecem coisas que não desejamos; coisas que desejamos não acon- tecem. E ignoramos como ou por que esse processo funciona, assim como ignoramos nosso próprio começo e nosso fim. Há vinte e cinco séculos, no norte da Índia, um homem decidiu investigar esse problema, o problema do sofrimento humano. Após anos de busca, e após experimentar vários métodos, descobriu um modo de ver com clareza a realidade da sua própria natureza e experimentar a verdadeira libertação do sofrimento. Após alcançar o nível mais elevado de liberação, de libertação do sofrimento e do