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Este documento discorre sobre a temática da falta e a angústia apresentada no livro 'o ser circular' de shel silverstein. O autor lacan é citado para explicar a relação entre a angústia e a falta existente no sujeito. O texto aborda a biografia do autor, a reflexão sobre a busca pela parte faltante e a necessidade de completude, além da relação entre a angústia e o objeto a.
Tipologia: Resumos
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Não perca as partes importantes!
Renata Mercês de Oliveiraˡ, Cleonice de Faria Barbosa ²
ˡ Centro Universitário de Lavras – Lavras-MG, Brasil. Rua Padre José Poggel, 506 – Centenário – Lavras-MG, 37200-000 / 35-99952-3549/ Pós-graduação em Fundamentos da Psicanálise – UNILAVRAS.
² Centro Universitário de Lavras – Lavras-MG, Brasil. Rua Padre José Poggel, 506 – Centenário – Lavras -MG, 37200-000 / (35) 98446-0039 / Psicóloga, Mestre em Promoção de saúde, Docente do Curso de Psicologia – UNILAVRAS.
O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a procura constante pelo objeto de satisfação e completude que impulsiona os seres humanos a irem à busca de algo na tentativa de evitar entrar em contato com a falta. O percurso deste estudo é feito através da perspectiva da Psicanálise sustentado nas ideias de Freud, Lacan e seus comentadores. A discussão tem como fio condutor a obra “A parte que falta” de Shel Silverstein, literatura de relevante aceitação para trabalhar os conflitos e as expectativas de futuro entre jovens e adolescentes, observação esta que surgiu a partir de experiências da pesquisadora como educadora ao fazer uso da obra. Percebe-se a importância de se pensar a falta como lacuna que impulsiona os sujeitos a seguirem sempre no enfrentamento de suas angústias, sem nunca alcançarem a plenitude.
Palavras-chave: Falta, Angústia, Sujeito, Psicanálise.
This article aims to reflect on the constant search for the object of satisfaction and completeness that drives human beings to seek something in an attempt to avoid coming into contact with the lack. The course of this study is made through the perspective of psychoanalysis based on the ideas of Freud, Lacan and his commentators. The discussion is based on Shel Silverstein's "The Missing Piece", a literature of relevant acceptance to work on the conflicts and expectations of the future among adolescents and young people, an observation that emerged from the experiences of the researcher as an educator in doing use of the work. It is perceived the importance of thinking the lack as a gap that drives subjects to always follow in the face of their anguish, without ever reaching fullness.
Keywords: Absence, Anguish, Subject, Psychoanalysis.
atrelado a ideias de Lacan sobre a falta presente no sujeito não obstante, trata da angústia de forma a elucidar que seu aparecimento se dá quando a própria falta pode faltar causando no Ser dor e sofrimento.
Para Lacan (1962), a falta existente no Ser está diretamente ligada ao objeto a. Dessa forma, considera característica do objeto a condições de sempre ser reencontrado, havendo aí um limite muito próprio ao objeto. O limite define-se na própria impossibilidade da superação da perda do objeto de satisfação.
Já a afirmação da falta do objeto por Lacan não impede, por si só, que ela seja interpretada do ponto de vista da perda do objeto. Esta ideia de um objeto perdido associa o desejo à busca da reedição de uma experiência em que tal objeto foi tido, ficando a falta referida tão somente ao fracasso permanente de tal busca. A falta do objeto não deixa de estar associada a uma origem empírica do desejo. Lacan (1962) busca um alicerce para sustentar a ideia de que a falta remete não à empiricidade da “Coisa” perdida, mais sim, à condição de possibilidade do desejo.
Portanto, mesmo que o homem consiga em algum momento se ver completo porque encontrou o objeto faltante, certamente, em algum momento se sentirá faltoso e certamente precisará iniciar novas buscas pela parte objetal. Por essa razão, a pessoa está fadada a não conseguir lidar com as neuroses de encontrar a felicidade tão sonhada, almejada, na certeza de que se for realmente a parte perfeita não mais irá sofrer, como se a completude fosse um elixir que resolveria todos os seus problemas. Salvo engano, a felicidade está nos momentos, nas decisões acertadas, nas descobertas do amor, nos compartilhamentos entre amigos, mas ela não se eterniza, não é para sempre, não é plena. Fatalmente, em algum momento da vida, a infelicidade, a angústia, a falta, voltarão a gritar dentro do Ser fazendo-o entender que precisa novamente sair da zona de conforto para buscar a parte que falta. Afinal, a falta em questão traz ao Ser uma angústia que o leva a querer conquistar seu objeto de prazer. Assim, diante da complexidade da falta foi que surgiu o interesse em desenvolver este trabalho.
Freud (2006) disse na Conferência XXXII que o sintoma e a angústia se representam quando compreendido que o recalque falhou, e ainda quando é compreendido com uma impossibilidade de satisfação. Contudo, a angústia é anterior ao sintoma e a constituição deste vem como mecanismo de limitar. Outra forma de interpretar o sintoma é tentar preencher esta falta, mascarando a verdade da angústia, quando na verdade, essa surge para reclamar seu posto de constituição do sujeito de que ali existe a falta.
Antes de adentrar na reflexão da busca pela parte faltante, abro para uma breve biografia do autor, Sheldon Allain Silverstein, conhecido como "Shel" Silverstein, nascido em 1932, na cidade de Chicago, Shel foi um poeta, compositor, músico, cartunista e autor de livros de crianças americanas. De origem judaica, começou a desenhar e a escrever aos 12 anos.
Com suas histórias Shel ganhou notoriedade Internacional como cartunista. Em 1961, despertou a curiosidade de um editor de livros infantis. “A Parte que falta” é um best seller não pelo fato de ter sido lançado por um autor de renome como Shel e lido por milhares e milhares de pessoas, mas, por conversar com o sujeito de forma simples e clara. Em 1999 aos seus 66 anos, morre vítima de ataque cardíaco, deixando para seus leitores à história que traria a educadores e psicólogos condições práticas e interativas de trabalhar a angústia humana diante da incompletude. Com total interferência do livro “A parte que falta” do autor Shel Silverstein é que esse artigo propõe um diálogo com adolescentes, já que o autor escreve esse livro aos 12 anos de idade abrindo para uma reflexão sobre a angústia de um Ser sobre a falta que o faz desejar sentir-se completo. Diante do exposto, surge questionamento sobre o que levou um garoto de 12 anos escreve um livro evidenciando a falta no Ser ansioso em buscar a completude ilusória. Será que o autor almejava a falta ou estaria numa constante busca pelo seu preenchimento. Até aonde entra o seu imaginário do autor ainda garoto na história. Será que o jovem ator teria a sabedoria em relação que a falta constitui o sujeito?
Desta maneira, esse artigo “ A falta presente no sujeito a partir da obra – A Parte que falta”, apresentará uma oportunidade de deslizar para dentro do Ser e desfrutar de suas faltas angustiantes. O livro aborda a busca constante de um Ser Circular que sai pelo mundo a fim de encontrar sua parte faltante, onde enfrentam diversos momentos para conseguir superar o vazio que o faz tão infeliz e talvez por isso, esse livro consegue conversar com os adolescentes que se veem presos nesta falta inquietante. A falta promove um apoio ao sujeito, a possiblidade de tornar possível a construção de um saber de ir ao encontro do objeto desejado e quando esse apoio falta, surge à angústia.
As angústias em envolver o Ser ressaltando a necessidade de preencher as faltas que o impede de ser feliz, que essa maneira de encarar a vida pode ser dolorosa e angustiante, já que a felicidade não tem como ser vivenciada de maneira absoluta. No livro – A parte que falta, Shel, vem trazer através do Ser Circular a representação da falta, mas não deixa explicita a angústia que o Ser carrega para alcançar o objeto desejado e assim a completude, almejando a felicidade duradoura sem intervalo para a tristeza. Durante essa busca do Ser, o autor não
achado a parte perfeita, mas não a segurou forte o bastante. E a perdeu. Na vez seguinte, segurou com força demais. E a quebrou. Continuou a rolar e a rolar...” (SILVERSTEIN, 2018).
É perceptível que durante as escolhas o Ser sofrerá várias perdas, fará escolhas erradas que provavelmente lhe trará dores. Novamente, Freud, comenta sobre os caminhos que nos levam a felicidade, quando diz:
O programa tornar-se feliz, que o princípio do prazer nos impõe não pode ser realizado, contudo, não devemos – na verdade, não podemos – abandonar nossos esforços de aproximá-lo da consecução, de uma maneira ou de outra. Caminhos muito diferentes podem ser tomados nessa direção, e podemos conceder prioridades quer ao aspecto positivo do objetivo, obter prazer, quer ao negativo, evitar o desprazer. Nenhum dos caminhos nos leva a tudo o que desejamos. A felicidade, no reduzido sentido em que a reconhecemos como possível, constitui um problema da economia da libido do indivíduo. (FREUD, 2011, p.91)
Fazendo um contraponto, observa-se a felicidade como um traço estável do indivíduo, novamente em desacordo com o que observara Freud:
Os pesquisadores sobre felicidade da “ciência da hedônica” definem a felicidade (algumas vezes chamada de “bem-estar subjetivo”) como a combinação de três aspectos: o grau e a frequência de sentimentos positivos; o nível médio de satisfação que a pessoa reporta durante um período mais alongado de tempo; e o grau de ausência de sentimentos negativos, tais como depressão. Essa forma de definir a felicidade estabelece que ela deve ser um traço estável no indivíduo, e não uma momentânea flutuação. Logo, a felicidade não é meramente definida como a ausência de sentimentos negativos, mas também a presença de sentimentos positivos (FIB – Felicidade Interna Bruta, 2013).
O adolescente anuncia a angústia da ameaça de exclusão. Como se sabe, a desigualdade social é uma questão central na realidade brasileira não só da atualidade, mas de toda sua história. É uma dimensão da realidade que afeta a experiência de cada pessoa de diferentes modos, conforme sua condição socioeconômica e seu contexto, a configuração de sua organização familiar e de suas instituições de pertinência, bem como do sentido que ganha sua história de
vida singular, ao longo do tempo. Para o adolescente em particular (ou seja, sujeito que se depara com a adolescência como questão subjetiva), é um aspecto provocador, pois o expõe a conflitos e impasses dos quais até então estivera preservado, em maior ou menor medida, enquanto se manteve sob o véu protetor da família ou instituição correspondente. Isso porque, ao buscar maior autonomia frente às figuras parentais, o adolescente se depara diante de uma realidade social desigual e fragmentada, marcada pelo antagonismo de forças sociais incompatíveis, que se reproduzem e se atualizam incessantemente conforme o jogo econômico e político determinante. A desigualdade social é provocadora de ameaças e seduções, conforme as fantasias de cada um e da posição ocupada na hierarquia social. Porém, diferentemente do que se poderia supor, a ameaça não afeta somente aqueles que pertencem a segmentos socioeconômicos menos favorecidos, mas também os ditos privilegiados, ainda que de modos distintos causando aos adolescentes uma aceleração que faz com que seus desejos tenham que ser realizados rapidamente.
A depressão, ansiedade é notoriamente percebida nos adolescentes que não conseguem suprir suas faltas causando-lhes uma angústia ao ponto de não mais sentirem desejos em conquistar o objeto de satisfação. A negação da falta pela falta conforme Lacan é exemplificada pela angústia do Ser em se destacar socialmente.
O objeto a é constituído de pura falta, decorrente de uma insatisfação. Diante da concepção da perda do objeto de satisfação, Lacan em 1962 vem relacionar o objeto a ao conceito da angústia por algo, pela falta do objeto. Embora a angústia esteja referida pela falta do objeto, o psicanalista, ressalta que, se há angústia, deve haver algo que se teme.
Nesse sentido, a experiência subjetiva da angústia aponta para o surgimento do que não deveria surgir, o objeto de pura falta, que ali surge para indicar que este lugar lógico deve permanecer vazio. É, então, da constituição do sujeito que aqui se fala, tanto na angústia quanto em relação ao objeto a.
Lacan (1962) mostra que a angústia escancara a falta constitutiva do sujeito. Não é ela - como fenômeno - que surge desta falta, já que se apresenta logicamente como indicadora e portadora da verdade desta falta. Seu aparecimento se dá quando a própria falta pode faltar. É importante aqui a referência à linguagem e a consideração de que a falta de que se trata propicia a dubiedade de significações que o discurso promove.
que falta ao Outro”. É fazer de sua castração algo positivo, ou seja, a garantia da função do Outro (LACAN, 1962, p.56).
Lacan (1962) afirma que quando este apoio falha, obscurecendo os contornos do objeto e do sujeito, surge à angústia. É por causa de certa insuficiência que o sujeito se estrutura, na medida em que o outro também porta esta mesma estrutura falha. Assim, o surgimento da angústia está ligado a uma pretensa completude do outro.
O que provoca a angústia é tudo aquilo que nos anuncia que nos permite entrever que voltaremos ao colo. Não é, ao contrário do que se diz, o ritmo nem a alternância da presença-ausência da mãe. ... A possibilidade da ausência, eis a segurança da presença (LACAN, 1962, p.64).
A falta provoca o sujeito, pois é através do vazio que ele se sente motivado e sem perceber a falta lhe faz desejoso em conquistar sua totalidade, como se, mesmo completo pudesse acabar com suas neuroses, inquietações, frustrações, angústias e desejos.
Ah, o amor! Quantas vezes o amor nos machuca deixando marcas profundas e feridas mal cicatrizadas. Quantas vezes o Ser faltoso busca encontrar alguém que preencha o vazio e lhe faça feliz. Quantas vezes o Ser é rejeitado por não ser compreendido. Quantas são as incompatibilidades no decorrer da vida. Assim, como na parte do livro onde o Ser circular encontra a parte que considera perfeita e ela o nega, ele não desiste mesmo entristecido se move a busca de encontrar outra parte perfeita. Quantos “nãos” foram ditos causando dor e sofrimento àqueles que amam sem serem correspondidos. Baseando nas ideias de Prather (2010), a expectativa que temos quanto a um relacionamento amoroso é o que estabelece a decepção inicial e frequentemente conduz a dor.
... em nenhuma outra área buscamos a felicidade com mais esperança e nos frustramos com mais facilidade do que nos relacionamentos. Ainda assim, continuamos a vê-los como nossa libertação de uma infinidade de sofrimentos”. (PRATHER, 2010, p.102)
Como já vimos, a falta é inerente à vida humana, a falta não pode ser considerada uma sensação o tempo todo ruim. É nesse parâmetro que Shel traz em seu livro a reflexão de que
somos faltosos e que de alguma maneira a percepção da falta nos motiva a sair de nossa acomodação a todo o momento e, assim, atiça nosso desejo de conseguir suprir essa falta.
Em outro trecho do livro de Shel, o Ser Circular cai num buraco e sozinho precisa ter força para sair. Durante a leitura, o desenho formado quando o Ser cai no buraco. Lacan (1962), ao fazer referência ao falo, pondera que “não foi sem razão que Freud (2011) extraiu-lhe a referência de simulacro que ele era para os antigos”. Desta forma, frente a este lugar atribuído à referência fálica na antiguidade, podemos associar a supervalorização do falo e sua ligação com a sexualidade. Caso não haja a veneração ao objeto fálico, a virilidade fica ameaçada. Sua articulação com o desejo, com a sexualidade, está aí demarcada e Freud não desprezou o valor que ele tinha no mundo antigo.
Em outro trecho da história do autor Shel, onde o Ser Circular continua a rolar devagar na busca pela parte que o tornasse completo, se depara com a mais intrigante senão inesperada situação. Nesse trecho, o Ser sofre sua primeira negação ao encontrar de fato a parte perfeita e o diálogo é absolutamente fantástico. O personagem principal afoito e alegre por encontrar a parte tão desejada, canta, “ Achei a parte que falta em mim, asse o pudim, faça o quindim, achei a parte ”. Daí acontece a incrível resposta da parte, onde ela o repreende dizendo: “ Espere aí”, disse a parte. “Antes que você asse o pudim e faça o quindim... Não sou a parte que te falta. Não sou a parte de ninguém. Sou parte completa. E ainda que eu fosse a parte que falta em alguém, não acho que seria a sua !” (SILVERSTEIN, 2018).
Neste momento, surge uma ferramenta de trabalho para dialogar com os adolescentes e seus conflitos no processo de transformação principalmente quando o assunto é relacionado diretamente ao amor. Para tanto, A Parte que falta conversa com uma história da carência do Ser que precisa saciar sua solidão através das buscas por um amor que preencherá sua vida nos aspectos sociais, sentimentais e pessoais que faz com que o Ser construa sua vida familiar e deixe de ser sozinho.
A busca pela felicidade está atrelada a falta, isso já ficou muito bem explicado, mas o que na verdade existe aí é o desejo como a raiz de toda a necessidade presente no Ser, onde a satisfação desse desejo servirá para dar lugar a outro desejo. Freud (2011) vem falar dos desejos como inoportunos e a sua satisfação é insuficiente; dizendo ainda que toda felicidade assume uma natureza negativa ou em outra fala onde comenta que a felicidade é um problema
felicidade? Ela tem endereço certo? Ela bate realmente à nossa porta? Freud, no livro O Mal- estar na Civilização vem falar da felicidade como satisfação represada quando diz:
“... a felicidade no sentido mais estrito vem da satisfação repentina de necessidades altamente represadas, e por sua natureza é possível apenas como fenômeno episódico. Logo, nossas possibilidades de felicidades são restringidas por nossa constituição. É bem menos difícil experimentar a infelicidade”. (FREUD, 2011, p.20).
Pela Conferência Introdutória da Psicanálise (1917) - Conferência 25 traduz a angústia como ansiedade e em 1915 aparece como recalque. Angústia e afeto tratam de excesso de energia derivado de uma insatisfação na vida amorosa; afeto derivado do recalque e que fica à deriva e sensação indefinida que toma conta da pessoa.
No ápice em que o Ser se sente feliz por ter encontrado sua cara metade, a alegria pelo objetal alcançado, a felicidade pode sim torná-lo completo, mas o sabor da conquista e da realização de sentir a felicidade tão de perto ocorrerá temporariamente e provavelmente não será para sempre. Essa é uma questão difícil de aceitar já que o Ser está sempre em busca pelo objeto que garantirá essa completude e felicidade.
Diante do exposto, podemos fazer uma associação do livro de Shel com a realidade vivida por muitos jovens em relação à felicidade tão desejada. Talvez seja exatamente nesse momento que o sofrimento acontece. A felicidade não é algo fácil de ser conquistado quando o Ser já sofre por faltas que ainda não puderam ser preenchidas ou solucionadas.
Essa busca pode ser vista claramente diante de uma situação amorosa ou pelo desejo da beleza vendida pela mídia que não corresponde com a atualidade do sujeito de se reconhecer dentro do padrão da sociedade e exatamente nesse momento o faz sofrer. Assim, ele constata que é incapaz de realizar seu desejo, incapaz de suprir suas faltas e é neste instante, que o Ser é retirado do casulo do desejo, sendo obrigado a se transformar em “novo adulto” e fora do padrão social, se vendo num processo doloroso de marginalização e de desigualdades. A partir desse insight social é que o Ser se depara em meio há vários conflitos pessoais que o faz repensar no que de fato deseja e em algumas situações perde a esperança de um recomeço que vem forçá-lo a questionar sua vida e não conseguir superar suas faltas.
Outro exemplo que pode ser citado para elucidar bem a angústias no Ser, é a percepção em relação a felicidade escancarada nas redes sociais de uma maneira enganosa e subjetiva
mostra uma felicidade absoluta e acessível com fotos e passeios de pessoas que não apresentam problemas na vida pessoal e amorosa, mostrando que ser feliz é para alguns fácil demais. Muitos adolescentes na situação de desigualdade se angustiam por não conseguir o objeto desejoso como os demais dentro de sua faixa etária, essa situação colabora para o estado de ansiedade que o faz deixar de sentir vontade de buscar outros caminhos para conseguir o que deseja ou acreditar numa completude jamais alcançável.
De fato, não é bem assim, não existem somente alegrias e festas, tais postagens contribuem para o aumento da falta do Ser que busca exatamente essa maneira de viver. Essas publicações aguçam a falta dentro do sujeito onde ele faz a comparação de sua vida e se vê infeliz, assim, sai para o mundo como o Ser Circular em busca da parte que falta na certeza de que será lá em algum lugar longe de onde está que vai encontrar a felicidade.
Daí vem à pergunta: Por que eles conseguem e eu não? Por que para eles foi possível encontrar a felicidade e para mim é tão difícil? Freud traz algo próximo das ideias atribuídas à busca pela felicidade novamente no livro, O Mal-Estar na Civilização, onde diz que:
“... é difícil escapar à impressão de que em geral as pessoas usam medidas falsas, de que buscam poder, sucesso, e riqueza para si mesmas e admiram aqueles que os têm, subestimando os autênticos valores da vida...” (FREUD, 2006, p.09).
Ora, neste contexto, fica sempre aquela pergunta: Será que preciso ser como os outros? Copiar as maneiras de falar, de vestir e de agir para ser feliz como àquele que julgo ser feliz?
É nesse mundo de “por quês” e “para quês” que o Ser tenta decifrar a vida, por onde busca se encontrar diante de um mundo contraditório. Nessa maneira de interpretar a vida e assumir sua identidade na sociedade, que o Ser neutraliza seus sonhos mais desafiadores por sonhos enganadores que prometem ser possíveis de serem alcançados. Assim, o sujeito através da aceitação de não ser capaz de ser feliz por não ter a vida parecida como de seus ídolos carrega seu vazio e a infelicidade.
Nas últimas páginas do livro, o Ser circular encontra a parte perfeita e começa o diálogo entre eles: Oi”, disse “Oi”, disse a parte “Você é parte de alguém?” “Não que eu saiba” “Bem, talvez você queira ser parte de si mesma, certo?” “Posso ser de alguém e ao mesmo tempo ser de mim mesma” “Bem, talvez não queira ser minha” “Talvez eu queira” “Talvez não dê encaixe” “Bem...” “Hummmm?” “Humhummm!” Encaixou! Encaixou com perfeição! (SILVERSTEIN, 2018)
A angústia deve ser entendida como malhas finas que se cruzam dentro de uma rede desejante dos adolescentes em busca de encontrar o objeto de satisfação que os façam sentir preenchidos de seus vazios. Vimos que a busca dos adolescentes pelo preenchimento da falta, completude, jamais ocorrerá, o Ser é incompleto e inacabado. A conquista pelo objeto desejado traz uma completude falsa e ilusória descrita em alguns momentos durante a leitura do livro de Shel Silvertein. É notória a conversa do livro com os adolescentes sobre suas faltas contribuindo para uma análise reflexiva de seus desejos, já que o desejo está sempre relacionado com a falta. O adolescente é intenso, repletos de desejos e vontades motivadas pela falta mesmo que o vazio lhe traga angústias, frustrações e negações, ele permitirá seguir em frente. Sem a falta, o adolescente permanece no impasse que o fará sem expectativas, já com a falta, o adolescente se sentirá vivo, com desejo de movimentar. Nesse sentido, a experiência psicanalítica visa conduzir o sujeito o mais longe possível na construção de algo novo, apesar das determinações do inconsciente.
Deste modo, o livro vem compartilhar as angústias vividas pelos adolescentes durante a transformação para o novo adulto, representado na figura do Ser Circular didaticamente ilustrativa e de fácil entendimento.
As teorias lacanianas possibilitaram passar pela centralidade da falta do objeto na psicanálise e corroborou para uma compreensão da angústia existente no Ser, a que Lacan vem trazer a angústia como definição, a falta pela falta. Na medida em que o desejo está relacionado com a falta, pode-se em algum instante aparecer à angústia exprimida de significante e de recalques, onde o sujeito se vê em uma situação indizível ao que ele esteja sentindo.
Em vários momentos, foi pontuada a importância do Ser em perceber a falta e a angústia que o invade, permitindo que em meio as suas faltas, consiga seguir a diante e alcançar o objeto de satisfação. A discussão de Lacan acompanhada a leitura do sujeito faltoso, sustenta à perspectiva de como a psicanálise pode colaborar para um melhor entendimento do Ser em relação as suas faltas. O que se propôs refletir nesse trabalho foi exclusivamente a falta presente no sujeito a partir da obra literária, a parte que falta comparando as experiências registradas durante a apresentação do livro aos adolescentes lincadas as contribuições de Lacan sobre a angústia. Desta maneira, espera-se ter alcançado ótimos resultados a cerca da
falta, já que ela jamais deixará de existir enquanto houver vida. Em resumo, o Ser pode sim alcançar o objeto de satisfação, mas sempre continuará sendo faltoso.
Autor: Shel Silverstein
Faltava-lhe uma parte E ele não era feliz.
Então partiu em busca de encontrar a outra parte. Enquanto rolava Cantava esta canção:
“Oh, busco a parte que falta em mim, A parte que falta em mim, Ai-ai-iô, assim eu vou, Em busca da parte que falta em mim”.
E às vezes era congelado pela neve, Mas logo o sol aparecia e o aquecia novamente.
E como lhe faltava uma parte, Não conseguia rolar muito rápido.
Assim, podia parar Pra conversar com uma minhoca, Ou sentir o aroma de uma flor E às vezes ultrapassava um besouro E às vezes o besouro o ultrapassava, E este era o melhor momento de todos. E ele seguia adiante, Por oceanos:
“Oh, busco a parte que falta em mim, A parte que falta em mim, Ai-ai-iô, assim eu vou, Em busca da parte que falta em mim”. Passava por pântanos e matagais,