Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

A Formação do Leitor Literário. Teresa Colomer, Trabalhos de Literatura latina

Os estudos teóricos sobre literatura infantil e juvenil desenvolveram-se durante muitos anos equilibrando-se entre as perspectivas histórico-bibliográficas e outra mais especifica – literária, psicológica, pedagógica ou sociocultural – que aparecem mescladas, de forma bastante confusa, nas diferentes contribuições.

Tipologia: Trabalhos

2021

Compartilhado em 14/04/2021

mariana-batista-da-silva
mariana-batista-da-silva 🇧🇷

5

(1)

2 documentos

1 / 13

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
A Formação do Leitor Literário.
Teresa Colomer
Uma parte muito importante da formação literária das crianças e adolescentes de nossa
sociedade produz-se atualmente através da leitura de textos de ficção.
A partir do século XVIII pode considerar-se que existem livros dirigidos a crianças e
adolescentes.
Nos livros infantis se reflete a maneira como uma sociedade deseja ser vista.
Algumas obras realizam descrições detalhadas e fidedignas sobre as características da
literatura dirigida à infância e adolescência.
Em primeiro lugar nos propusemos à caracterização atual deste tipo de ficção, e tentamos
constatar e avaliar uma serie de características dessas narrativas que revelam essa nova
configuração.
Em segundo lugar, tentamos explicitar alguns dos pressupostos sobre a evolução da
competência literária do leitor.
A existência de uma reflexão critica de certo valor corre paralela ao desenvolvimento editorial
produzido no período de entre guerras deste século e a aparição de instancias dedicadas ao
incentivo da leitura.
Foi nos meios bibliotecários que se iniciou o discurso moderno sobre a leitura como um ato
livre dos cidadãos, uma leitura “funcional” que incluía leitura de ficção por simples prazer.
A necessidade de definir critérios para selecionar os livros que se deviam oferecer às crianças,
provocou os primeiros estudos sobre literatura infantil.
Outro ponto a ser mencionado se deve ao desenvolvimento dos estudos históricos e a
delimitação do corpus.
Delimitar a historia da literatura infantil apresenta problemas diversos dos que aparecem
quando se estabelecem os parâmetros históricos em outras categorias literárias.
Um primeiro ponto se deve as possibilidades de leituras tanto dos livros históricos cômodos
contemporâneos. O segundo ponto diz respeito ao estabelecimento de um corpus que procede
da opção entre considerar livros para crianças e jovens, apenas aqueles que nasceram com a
intenção de dirigir-se a este público concreto, ou aceitar livros que não se destinavam
inicialmente a este público, mas que foram lidos por crianças e jovens com assiduidade.
Até 1945, os panoramas históricos se basearam em critérios intuitivos de avaliação.
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd

Pré-visualização parcial do texto

Baixe A Formação do Leitor Literário. Teresa Colomer e outras Trabalhos em PDF para Literatura latina, somente na Docsity!

A Formação do Leitor Literário.

Teresa Colomer

Uma parte muito importante da formação literária das crianças e adolescentes de nossa sociedade produz-se atualmente através da leitura de textos de ficção. A partir do século XVIII pode considerar-se que existem livros dirigidos a crianças e adolescentes. Nos livros infantis se reflete a maneira como uma sociedade deseja ser vista. Algumas obras realizam descrições detalhadas e fidedignas sobre as características da literatura dirigida à infância e adolescência. Em primeiro lugar nos propusemos à caracterização atual deste tipo de ficção, e tentamos constatar e avaliar uma serie de características dessas narrativas que revelam essa nova configuração. Em segundo lugar, tentamos explicitar alguns dos pressupostos sobre a evolução da competência literária do leitor. A existência de uma reflexão critica de certo valor corre paralela ao desenvolvimento editorial produzido no período de entre guerras deste século e a aparição de instancias dedicadas ao incentivo da leitura. Foi nos meios bibliotecários que se iniciou o discurso moderno sobre a leitura como um ato livre dos cidadãos, uma leitura “funcional” que incluía leitura de ficção por simples prazer. A necessidade de definir critérios para selecionar os livros que se deviam oferecer às crianças, provocou os primeiros estudos sobre literatura infantil. Outro ponto a ser mencionado se deve ao desenvolvimento dos estudos históricos e a delimitação do corpus. Delimitar a historia da literatura infantil apresenta problemas diversos dos que aparecem quando se estabelecem os parâmetros históricos em outras categorias literárias. Um primeiro ponto se deve as possibilidades de leituras tanto dos livros históricos cômodos contemporâneos. O segundo ponto diz respeito ao estabelecimento de um corpus que procede da opção entre considerar livros para crianças e jovens, apenas aqueles que nasceram com a intenção de dirigir-se a este público concreto, ou aceitar livros que não se destinavam inicialmente a este público, mas que foram lidos por crianças e jovens com assiduidade. Até 1945, os panoramas históricos se basearam em critérios intuitivos de avaliação.

Durante as décadas de sessenta e setenta publicaram-se os estudos que configuraram a historia da literatura para crianças e jovens tal como chegou aos nossos dias. Enquanto se estabelecia o mapa evolutivo da literatura para crianças e jovens, os estudos históricos e bibliográficos se constituíram, em um panorama global, onde se percorriam ordenadamente os precedentes, o folclore, as narrativas clássicas de adultos incorporadas ao campo juvenil e a produção contemporânea, até chegar ao leitor atual como se fosse o receptor de toda a linha evolutiva descrita. Recentemente surgiram nesse campo obras que, mais que descrever o progresso evolutivo, pretendem revisar a historia construída até momento. A definição do objeto de estudo foi à primeira questão abordada do ponto de vista teórico pelos estudos de literatura infantil e juvenil. Durante a década de sessenta, a teoria ofereceu uma nova formulação do conceito “literatura”. A literatura foi considerada um texto menor. Outro aspecto a ser ressaltado é que o acesso das crianças aos textos literários depende de suas possibilidades de compreensão lingüística e da adoção de temáticas próximas a sua experiência vital. Explicitar os critérios pelos quais se avaliam as obras infantis torna-se imprescindível para poder ir além, dos supostos pelos diferentes grupos, sobre o que é conveniente para a infância e a adolescência. A primeira teorização consistente do campo específica da literatura infantil e a primeira tentativa de utilizar os avanços de muitas disciplinas das ciências sociais e humanísticas, na clarificação do debate foi a noção de “comunicação ”. Um segundo tema onipresente na bibliografia sobre literatura infantil até a década de oitenta é o da relação entre a ficção realista e a ficção fantástica. Este tema implicou dois tipos de questão: a primeira se referia à relação existente entre os contos de fadas e a literatura infantil, e a segunda centrou-se na avaliação dos contos de fadas como matéria literária. Os estudos históricos também estabeleceram uma clara veiculação entre folclore literatura infantil. A razão para transmitir o folclore às crianças está na capacidade de resposta desta literatura às necessidades profundas de construção do mundo individual. O folclore não supõe só ordenação cultural do mundo, mas também resposta à necessidade psíquica de fazê-lo e, além disso, formas terapêuticas de resolução dos conflitos psicológicos dos indivíduos.

Outro aspecto refere-se a capacidade do leitor de conectar os acontecimentos narrativos , o que tem relação com sua habilidade de prever o que acontecerá. O leitor pode influir mais em sua compreensão do texto do que a própria organização da historia. Em torno dessa idéia estão se desenvolvendo linhas de estudo tais como a percepção estética da linguagem, a resposta emotiva ao enredo, a identificação com os personagens ou a variabilidade das interpretações entre os leitores. A ficção narrativa contribui no sentido de colocar o acontecimento em um horizonte mais amplo e mais ordenado de “mundos possíveis”, nos quais o receptor vê-se favorecido pelos recursos narrativos e as técnicas interpretativas acumuladas pela comunidade, tais como os mitos, as tipologias dos dramas humanos, etc. As historias podem ajudar a criar expectativas sólidas como é o mundo e como se fala sobre ele, sem necessidade de avaliar e contrastar sua realidade. A teoria literária também evoluiu desde os estudos estruturalistas, centrados na análise da obra, para a teoria da recepção e da pragmática literária que incluem a figura do leitor e o contexto social da produção e uso da literatura. A concepção da literatura como um fenômeno comunicativo conduziu também ao interesse por entender por que um texto é considerado literário e que chaves convencionais se requerem para interpretar em texto neste sentido. O texto e o leitor interagem a partir de uma construção do mundo e de algumas convenções compartilhadas. Outro ponto a ser discutido se refere à inserção da literatura na escola. As novas formulações da teoria literária deram uma primeira causa para a introdução dos livros infantis na escola. A pedagogia foi aumentando, nos estudos de literatura infantil e juvenil, na medida em que este tipo de texto ampliava sua presença na escola. O que penetrou naqueles anos na instituição escolar foi o discurso social a favor de um tipo de leitura livre e autônoma. É importante salientar que o ensino da literatura deve centrar-se na experiência individual do aluno. O estudo formal da literatura parece igualmente essencial para a educação literária, já que a possibilidade de aceder a este tipo de comunicação depende do domínio das convenções implícitas, que governam o pacto entre autor e o leitor. A literatura infantil e juvenil constituiu-se em uma área legitima de estudo nos últimos vinte anos.

As primeiras reflexões sobre literatura infantil estiveram marcadas por um forte empirismo a partir do qual se iniciou o propósito de equilibrar-se a avaliação moral e literária dos livros com sua experiência pratica de sua difusão. A partir da segunda guerra mundial, o acesso aos livros infantis ampliou-se a todas as camadas sociais e a novas faixas de idade, como a adolescência ou a primeira infância. Ao longo do tempo foram-se obtendo um acordo generalizado sobre os parâmetros do corpus, os períodos cronológicos e o desenvolvimento das literaturas dos diferentes idiomas. A década de setenta presenciou um salto qualitativo nas propostas teóricas dos estudos neste campo, presidido por dois tipos de debates: um referente à função literária das obras infantis e juvenis, e outro referente à sua função educativa. Em meados dos anos setenta, a teoria literária começou a incluir o circuito da comunicação literária em seu campo de estudo. A função educativa dos livros infantis e a transparência com que revelam a auto-imagem que a sociedade deseja transmitir fazem deste campo, objeto privilegiado. Os estudos da literatura infantil e a didática da literatura coincidiram aqui em um espaço comum, já que em ambos os campos interessam saber que livros “ensinam a ler” e que práticas de difusão dos livros ou da aprendizagem escolar permitem o progresso das crianças na interpretação das obras literárias. A noção de infância surgiu no século XVII, primeiro com o reconhecimento e a legitimação de algumas necessidades infantis diferenciadas, em relação aos adultos e, mais tarde, com a incorporação da idéia de que o adulto é o responsável pela aprendizagem das novas gerações. Com relação a um duplo destinatário, os autores também devem compromete-se com dois destinatários, que podem diferir em seus gostos e em suas normas de interpretação do texto. O fenômeno de uma dupla destinação é o principal motor de inovação na literatura infantil e juvenil, já que, ao não dirigirem-se, exclusivamente, ao leitor infantil, os autores adquirem liberdade para manipular modelos existentes e criar outros novos. O destinatário da literatura infantil e juvenil de qualidade pode definir-se, em primeiro lugar, como um leitor criança ou adolescente, que aprende socialmente e a quem se dirigem textos que pretendem favorecer sua edição social através de uma proposta de valores, de modelos de relação social e de interpretação ordenada do mundo. E, em segundo lugar, como um leitor infantil e adolescente, que aprende uma forma cultural codificada – a literatura -, e a quem se dirigem alguns textos, que ultrapassam algumas formas fixadas do imaginário, algumas formas narrativas com tradição de uso literário, uma avaliação estética do mundo e um uso especial da linguagem.

As obras literárias incluem muito frequentemente, linhas narrativas distintas. Isso supõe uma complicação na estrutura narrativa no interior de uma mesma história. Em muitas obras para a infância e a juventude, é habitual, que o narrador ostente sua distancia intelectual do personagem. A primeira constatação sobre os gêneros literários da narrativa infantil e juvenil surgida no final dos anos setenta é de que se trata de uma literatura eminentemente fantástica. A fantasia moderna é o gênero literário mais utilizado, o seu desenvolvimento supôs a criação de novos imaginários de ficção a partir de diversos caminhos, associados majoritariamente ao humor. A reformulação da fantasia realizou-se, a partir da modificação dos modelos literários próprios do folclore. Devemos destacar especialmente a pouca presença de narrativas sobre forcas sobrenaturais, de obras de aventura realista e de narrativas históricas. A literatura infantil e juvenil atual tem um discurso social enormemente protetor do ponto de vista psicológico. A escassa representação de obras de aventura mostra que o gênero pretende renovar-se se inscrevendo em três caminhos próprios, incorporando conflitos psicológicos dos personagens; usando cenários situados entre a realidade e a fantasia ou em uma vida harmônica com magia e a natureza, mesclando com desembaraço personagens e outros elementos procedentes dos diferentes subgêneros da aventura clássica. Uma característica importantíssima da narrativa infantil e juvenil é a incorporação de novas áreas temáticas. Durante os anos sessenta as sociedades ocidentais experimentaram importantes mudanças, tanto nas formas de vida, como nos valores ideológicos que sustentam a concepção social sobre a educação da infância. Os temas sociais escolhidos e a maneira de tratá-los respondem a uma constelação de valores formada pela liberdade, o respeito e a tolerância, assim como pela defesa de uma vida prazerosa para o individuo. No tema da reflexão psicológica produziu-se uma convergência entre as mudanças educativas e literárias, que impulsionou a ampliação desta temática. Os temas considerados inadequados para a infância se produzem pela descrição de situações de agressão e violência, especialmente através do conhecimento da repressão social, com ações de perseguição e tortura.

Com relação aos problemas familiares, a narrativa infantil e juvenil analisada aborda as mudanças sofridas pela organização familiar em uma proporção bastante menor que as demais novidades temáticas. Em linhas gerais, pode-se afirmar que os protagonistas da narrativa infantil e juvenil atual são personagens humanos. A relação entre os textos e os leitores é a origem e o centro de uma das linhas que parecem mais promissoras do progresso futuro deste campo: a de entender as características dos textos como uma proposta de formação e ajuda ao leitor em seu itinerário de acesso à literatura como discurso social, que configura e expressa a experiência humana. e Este trabalho pretendeu contribuir para esta expectativa, de maneira que o aumento do conhecimento sobre os textos, que se dirigem à infância e à juventude, traga consigo uma ajuda para todos aqueles que se interessa por sua educação literária.

Referência Bibliográfica:

COLOMER, Teresa. A formação do leitor literário: Narrativa infantil e juvenil

atual / Teresa Colomer; tradução Laura Sandroni. - São Paulo: Global, 2003.

Mariana Batista da Silva

Resumo: A Formação do Leitor Literário.

Três Lagoas/MS