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Este documento discute o papel das gestos das mãos na comunicação humana, examinando a interconexão entre gestos e imagens e a reflexão de diversos teóricos. O texto aborda a importância da análise de gestos e imagens nas áreas da semiótica da cultura, teoria da mídia, teoria da imagem, teoria da comunicação, sociologia, antropologia, etologia, filosofia, neuropsiquiatria e psicologia, mitologia e história da arte.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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O gesto como imagem e a imagem como gesto: a gestualidade das mãos na comunicação
O gesto como imagem e a imagem como gesto: a gestualidade das mãos na comunicação
À memória de meus pais,
Agradeço
ABSTRACTABSTRACT ABSTRACTABSTRACTABSTRACT
Gesture as image and image as gesture: Hand gestures in communication
The goal of this work is to investigate hand gestures in both communication and culture. It also aims to understand the gesture as image, analyzing some hand gestures in Image History. There are genetic and social-cultural codes interlaced in hand movements. Consequently, there is no way not to take them into account, for hands incorporate everything they reach for and everything that reaches for them too. This study embraces some aspects of gesture phylogeny due to the fact that mankind has its roots lost in time. Supported by recent etiologists’ researches, it confirms that no abyss separates man from other primates, and there are only common distinctions among species. Free hands encompass a true body revolution as well as a revolution in man’s communication. In partnership with the brain, man faces material challenges with his technical gestures as well as with his psychological survival gestures present in culture. Gesture and image are mediators and both have their point of origin in the body. Therefore, this work privileges the primary media, but it also scopes secondary media. It shows the abundant hand gesture testimony present in cult images, art images and media images (Belting). The analysis of this corpus through Culture Semiotics Theory allows us to delineate an approach into hand gesture through some of its images: in communication and culture, ontogeny and phylogeny. Therefore the research supports itself on methodological resources developed by Ivan Bystrina, Harry Pross, Edgar Morin, Hans Belting, Régis Debray. It also articulates a dialogue with ideas and thoughts that come from the work of Ashley Montagu, Boris Cyrulnik, Eibl-Eibesfeldt, among other specialists in Communication Theory, Image Theory, Media Theory and Culture Theory.
Key words: gestural phylogeny, gesture communication, image, hand, tactility.
A mão, evidentemente, mani -festa o pensamento. Samsonow
Nas considerações finais da dissertação de mestrado I, dissemos que três linhas de pesquisa percorriam aquelas páginas: a desenhada pelo pensamento do corpo, a da comuni- cação e a da cultura. Começamos ali um caminho a que este trabalho se propõe dar continui- dade, trançando e tecendo reflexões sobre a gestualidade das mãos.
Tradicionalmente, as pesquisas em comunicação dedicam-se às mídias secundária e terciária. Poucos são os pesquisadores que se debruçam sobre o estudo da mídia primáriaII, do corpo e sua gestualidade, dos sentidos e suas direções, das relações humanas e seus vín- culos, assentados no tempo e no espaço do presente.
Nosso interesse é percorrer os ainda pouco explorados caminhos da comunicação tátil, abordando as mãos e alguns de seus gestos como meio de comunicação e seu papel na cultura, pois, sendo um órgão humano por excelência, a mão intenta reproduzir em seus movimentos a caprichosa dinâmica da vida (Restrepo, 1997: 82).
Na vida contemporânea, as estratégias adotadas pela comunicação e pela cultura apontam um enorme distanciamento da comunicação tátil. Dá-se prioridade ao par visão/ audição, o que corresponde a uma mudança de paradigma – o homem moderno toca primor- dialmente numa escala tátil, aquela que pode estar a serviço dos olhos (Berendt, 1997).
Segundo o comunicólogo espanhol Vicente Romano, entre os muitos nomes da sociedade atual, contam-se os de “sociedade da informação, sociedade dos meios e socieda- de da comunicação” (Romano, 1998: 270). E, a seguir, ele diz que os aparatos eletrônicos facilitam o transporte das informações e do entretenimento, mas, apesar de vivermos num mun- do com hiper abundância de informações, há escassez de comunicação (Romano, 2004: 100).
O primeiro, “Por uma filogênese da gestualidade”, aborda alguns aspectos da filogênese III^ da gestualidade das mãos, apresentando suas raízes longínquas. Para tanto, recorremos a auto- res que compartilham a ideia de que os antropoides e o homem têm um mesmo fundo co- mum e as mesmas possibilidades gestuais. Um deles é Edgar Morin, que nos apresenta outra ideia de macaco e de homem, pondo por terra a dualidade homem/animal, cultura/natureza, pois “é evidente que cada homem é uma totalidade biopsicossociológica” (Morin, 1979: 22).
Até os anos 1950, tanto a biologia quanto a antropologia estavam encerradas numa concepção insular do homem (Cf. Morin, 1979: 23), mas, décadas depois, a “ecologia modi- fica a ideia de natureza e a etologiaIV^ modifica a ideia de animal” (Morin, 1979: 31).
Para alguns pesquisadores, a sociedade dos chimpanzés, dos bonobos e de outros primatas superiores são reflexo da humana e, de alguma forma, ao se considerar essa afirma- ção, pode compreender melhor nossa conduta, nossas ações, nossa gestualidade e nossa comunicação primária, todas sujeitas às leis da natureza e não distantes dela, de acordo com Morin (1979: 54).
Na década de 1970, Morin organizou a publicação de artigos de diversos especia- listas que discutiram no “I. Le primate et L’homme”V^ uma unidade biológica entre os primatas. Quando, em 1979, ele escreve O enigma do homem , chama os macacos de “nossos irmãos inferiores” e reconhece que, embora eles não tenham desenvolvido um sistema de tal com- plexidade como a cultura humana, há raízes compartilhadas.
O tema se amplia com as pesquisas do etólogo contemporâneo holandês Frans De Waal, segundo o qual, “biologicamente falando, não estamos sozinhos, e chegou o momento de argumentar o mesmo com respeito à cultura” (De Waal, 2002: 39).
De Waal não discorda de que, graças ao uso de símbolos, os homens tenham conse- guido levar a cultura a um patamar sem precedentes entre os animais e a define como uma forma de vida compartilhada pelos membros de um grupo, mas não necessariamente pelos membros de outros grupos da mesma espécie (Cf. De Waal, 2002: 38).
O segundo capítulo dedica-se à gestualidade humana e aprofunda a reflexão sobre o sentido do tato na comunicação humana: “a mão é, de longe, o mais informativo de todos os nossos órgãos, com a possível exceção apenas, e ocasionalmente, do cérebro” (Montagu, 1988: 131).
A experiência tátil pode abarcar desde o agarramento e a apreensão até a carícia: “a carícia é uma mão revestida de paciência que toca sem ferir e solta para permitir a mobilida- de do ser com quem estamos em contato (Restrepo, 1997: 83).
Ainda no mesmo capítulo, discutimos o gesto técnico e o gesto poético que, embora estudados separadamente, juntos caracterizam a gestualidade humana: “os homens se fazem pelos instrumentos que eles próprios inventam” (Samsonow, 2007).
O homem inventa a técnica e o símbolo para os desafios que enfrenta. Günther Gebauer propõe uma antropologia para o estudo dos gestos, pois “só uma antropologia his- tórica dos gestos da dança e do esporte pode desvendar os significados simbólicos enterra- dos e apontar suas procedências” (Gebauer, 2006: 26).
Os gestos estão sempre em movimento e desenham formas no ar que permanecem na memória de cada cultura, portanto, a partir do momento em que nascem, já pertencem ao passado. Assim, o homem sentiu a necessidade de imobilizar o gesto em imagem, sem a qual o símbolo não lhe sobreviveria.
Há outros ramos do conhecimento que estudam os movimentos dos corpos vivos e
oferecem explicações científicas, mas esta pesquisa insere-se na área das Ciências da Comu-
nicação e adota como ferramenta teórica a Semiótica da CulturaVI^.
A metodologia da análise funda-se na articulação entre gestos e imagens das mãos e a reflexão de diversos teóricos. A Teoria da Cultura postula um diálogo interdisciplinar, sem o qual não poderíamos fundamentar este trabalho. Assim, os autores que procuramos colocar em diálogo são das áreas da Semiótica da Cultura (Ivan Bystrina) da Teoria da Mídia (Harry Pross e Vicente Romano), da Teoria da Imagem (Hans Belting, Régis Debray e Aby Warburg), da Teoria da Comunicação (Norval Baitello Junior), da Sociologia (Edgar Morin e Dietmar Kamper), da Antropologia (Montagu, Todorov e Canevacci), da Etologia (Eibl- Eibesfeldt e Frans De Waal), da Filosofia (Gaston Bachelard e Vilém Flusser), da Neuropsiquiatria e da Psicologia (Boris Cyrulnik e James Hillman), da Mitologia (Campbell) e da História da Arte (Focillon), dentre outras.
A pesquisa não contemplou os gestos das mãos em culturas específicas, crenças em particular, saudações, costumes ou atividades como a dança, e tampouco se ateve aos gestos das mãos em situações de apaziguamento ou em relações sexuais, de que tanto os bonobos quanto os homens se utilizam.
A investigação antes propõe uma reflexão sobre alguns gestos das mãos e, como pesquisa acadêmica, alia-se ao pensamento das Teorias da Mídia, da Comunicação e da Cultura.
Os homens têm datas de nascimento, mas o homem não a tem. Geertz
imaginação ou assumi-las, especialmente as existentes entre espécies relacionadas (De Waal, 2002: 46).
Neste trabalho, adotamos a segunda linha de raciocínio, aceitando que descende- mos de um tronco comum, como há algumas décadas já afirmava o antropólogo e médico Ashley Montagu (1905-1999) 2 , que nos relaciona com os antropoides e diz que se reflete um passado evolutivo compartilhado.
Se colocado em seu devido lugar, o homem compartilha uma unidade biológica com os outros primatas 3 e, desde que Lineu, em 1758, teve a coragem de classificá-lo junto a eles, “nunca estivemos sós” (De Waal, 2002: 39). Em tempos imemoriais, todos habitavam as florestas, eram quadrúpedes e caminhavam com o auxílio dos membros anteriores, usan- do-os para se locomover, subir em árvores, pular de galho em galho e tantas outras funções.
As espécies dos primatas são anatomicamente muito próximas, e todos os atributos humanos já se encontram nos macacos superiores. Ao considerar apenas os dados da biolo- gia, o professor de hemotipia Jaques Ruffié observa que o “mutante humano” difere pouco dos grandes primatas mais evoluídos.
O grupo que mais nos interessa é o dos Hominoidea , que se assemelha aos macacos grandes antropomorfos (o gibão, o orangotango, o gorila e o chimpanzé) e é formado de espécies anatomicamente muito próximas umas das outras: “as diferenças que os separam são mais quantitativas que qualitativas. Todos os atributos humanos já se encontram nos macacos superiores” (Ruffié, 1974: 109-111) 4.
O autor acrescenta que nem mesmo há diferenças biológicas entre o homem e o chimpanzé, o gorila ou o gibão. Os hominídeos têm raízes bem longínquas na filogênese e, biologicamente, nenhum abismo separa o homem dos outros primatas, mas apenas as distin- ções comuns entre espécies.
Quanto ao gestual, há certos fatores invariáveis no grupo dos macacos grandes e no dos menores (o babuíno e o rhesus ) e, no homem, a esse respeito é preciso “observar os invariáveis que podem apresentar estes dois grupos de animais conduzirá por semelhança a sugerir as tendências hereditárias suscetíveis de encontrarem-se no homem” 5 (Chance, 1974: 85).
O antropoide mais semelhante ao homem é o chimpanzé. Segundo Montagu, os chimpanzés são peritos escaladores de árvores, mas passam a maior parte do tempo no chão. O volume de seu cérebro é de 400 cm^3 e são “criaturas muito inteligentes, como toda a gente sabe, capazes de aprender muitos truques que requerem grande controle de inteligência” (Montagu, 1977: 37).