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A MULHER NO CONTO O PAPEL DE PAREDE AMARELO, Provas de Literatura

O conto O Papel de Parede Amarelo, da escritora norte-americana Charlotte. Perkins Gilman, foi publicado em 1892. É considerado pela critica feminista um ...

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Rafael86
Rafael86 🇧🇷

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
UNIDADE ACADÊMICA DE LETRAS
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS LÍNGUA INGLESA
MAYARA MARQUES DE SANTANA
A MULHER NO CONTO O PAPEL DE PAREDE AMARELO:
CERCEAMENTO E RELAÇÃO DE PODER
Cajazeiras- PB
2018
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

UNIDADE ACADÊMICA DE LETRAS

CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS – LÍNGUA INGLESA

MAYARA MARQUES DE SANTANA

A MULHER NO CONTO O PAPEL DE PAREDE AMARELO :

CERCEAMENTO E RELAÇÃO DE PODER

Cajazeiras- PB 2018

MAYARA MARQUES DE SANTANA

A MULHER NO CONTO O PAPEL DE PAREDE AMARELO :

CERCEAMENTO E RELAÇÃO DE PODER

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Licenciatura em Letras– Língua Inglesa, do Centro de Formação de Professores, da Universidade Federal de Campina Grande – Campus de Cajazeiras, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciada em Letras – Língua Inglesa. Orientadora: Profa. Dra. Lígia Regina Calado de Medeiros

Cajazeiras- PB 2018

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me proporcionar sabedoria e discernimento para concluir essa etapa em minha vida acadêmica.

À minha família e amigos, especialmente aos meus pais, Rita Maria de Santana e José Marques de Santana, pelo constante apoio durante o curso.

À minha orientadora, Dra. Lígia Regina Calado de Medeiros, pela paciência, disponibilidade e importantes orientações.

Aos professores Marcílio Garcia de Queiroga e Nelson Eliezer Ferreira Júnior pela disponibilidade e contribuições para esta pesquisa.

A todos os professores da graduação que contribuíram para minha formação acadêmica.

Aos meus colegas de curso, pelo companheirismo e amizade, Paloma Duarte, Mateus Carvalho, Érika Nayara Silva, Joyce Brasil e Tatiana Mendes.

A todos que contribuíram direta e indiretamente para realização deste trabalho.

ABSTRACT

The objective of this paper is to analyze the representation of women in the short story The Yellow Wallpaper (1892), by the American writer Charlotte Perkins Gilman, through the feminist theory and criticism. At a time when women were even more subject to patriarchal rules, Gilman used her short story as a tool of denunciation and social criticism against the conditions of female repression and oppression. The short story The Yellow Wallpaper is considered, by the feminist criticism, a work that deals with the devaluation of the literary production written by women and the feminine imprisonment before the medical authority, marriage, and maternity. This study provides an analysis of the power relations between the heroine protagonist and the other characters in view of the conditions and behaviors related to the role of women in the patriarchal society. It also intends to show the incursions of the protagonist as a female subversive figure before an oppressive reality. It is a bibliographical study and to guide such discussions, the theoretical support of Woolf (1990), Badinter (1985), Rohden (2001), among others, is used. The research, finally, recognizes in Gilman's protagonist a transgressive woman of the social standard of her time, but unable to do otherwise, finds in the madness, the "liberation" of the bonds of a system that conditions her.

KEYWORDS : Literary analysis; Literature; Feminism; Woman; Subversion; Patriarchy.

SUMÁRIO

  • INTRODUÇÃO ..............................................................................................................
    1. CHARLOTTE PERKINS GILMAN: ASPECTOS SOBRE A VIDA E OBRA.
    1. CONTEXTO HISTÓRICO: PANORAMA DAS LUTAS FEMINISTAS ..........
    1. A INSERÇÃO DE UMA ESCRITA FEMININA NO SÉCULO XIX .................
    1. A MATERNIDADE COMO FUNÇÃO SOCIAL ................................................
    1. A MEDICALIZAÇÃO DO CORPO DA MULHER .............................................
    1. A REPRESENTAÇÃO FEMININA EM O PAPEL DE PAREDE AMARELO
  • CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................
  • REFERÊNCIAS ...........................................................................................................

INTRODUÇÃO

O conto O Papel de Parede Amarelo, da escritora norte-americana Charlotte Perkins Gilman, foi publicado em 1892. É considerado pela critica feminista um dos trabalhos mais interessantes da autora sufragista, pois exprime a condição de aprisionamento da figura feminina diante da autoridade médica, do casamento e da maternidade. Nos últimos anos do século XIX, em um cenário de mudanças políticas, sociais e econômicas que ocorriam na sociedade dos Estados Unidos, oriundos do advento da Revolução Industrial, a obra ganha um sentido bastante relevante em representar a situação a que a mulher desse período estava exposta, pois se encontrava cercada de normas tradicionais que insistiam em limitar seu comportamento às funções de mãe e esposa, asseguradas constantemente pelas concepções patriarcais.

Nesse contexto, surgiram grupos de mulheres com visões revolucionárias que lutaram por transformações sociais, principalmente em relação aos seus direitos. E, sendo nome de destaque, Gilman atuou com vigor na luta ativista pela igualdade econômica entre homens e mulheres, de modo que suas palestras, publicações e seu conto clássico O Papel de Parede Amarelo , sustentaram sua fama de autora feminista. Uma participação singular, visto que, se contrapondo aos movimentos feministas, manifestos em ondas de atuação, alguns membros da comunidade científica, fundamentados de forma tendenciosa pela teoria da evolução, procuraram inferiorizar as mulheres ao definir suas qualidades físicas, morais e psicológicas, quando vistas comparadas com as habilidades dos homens.

Não bastasse isto, as mulheres que sofriam de doenças psicológicas como a histeria e a depressão, resultados das repressões sociais que condicionavam seu modo de vida, foram submetidas a tratamentos que não garantiam suas recuperações, mas só pioravam. É diante desse quadro que a protagonista do conto de Gilman, objeto desse estudo, é diagnosticada, com uma “temporária depressão nervosa — uma ligeira tendência histérica” (GILMAN, 2010, p. 187, tradução de LOPES), e passa por um tratamento em uma aparente casa do campo. Assim, propondo-se refletir sobre essas

Na transição do século XIX para o século XX, surge na Inglaterra e nos Estados Unidos o movimento sufragista que, enraizado nas lutas abolicionistas, defendia o exercício político das mulheres, a partir da conquista do direito ao voto. Nesse cenário, Gilman abraçou a causa e atuou como uma ativista e defensora do movimento, desempenhando um papel importante no movimento feminista. * (As traduções em português de todas as citações em língua inglesa do conto O Papel de Parede Amarelo mencionada no corpus do texto são de autoria de JOSÉ EMANUEL LOPES)

questões, esse trabalho procura responder ao seguinte problema de pesquisa: Como se dá a representação feminina no conto O Papel de Parede Amarelo?

Destaque-se que Charlotte Perkins Gilman quando escreveu seu conto passava por uma fase conflituosa de sua vida. Sua autobiografia The Living of Charlotte Perkins Gilman (1935) relata, entre outros, um caso de depressão pós-parto depois do nascimento de sua filha Katherine, tendo que realizar um tratamento prescrito pelo renomado médico, o Dr. S. Weir Mitchell. O tratamento nomeado “cura do descanso”, piorou drasticamente seu estado nervoso, pois submeteu a escritora a ficar estagnada em sua cama, repousando. Ela, distante de qualquer atividade, principalmente práticas intelectuais, foi aconselhada ainda a se manter sempre por perto da filha.

Na construção da narrativa do conto O Papel de Parede Amarelo , considerada obra de horror gótico, não serão ignoradas algumas interpretações já existentes sobre o texto, estabelecendo uma possível relação de semelhança com a narradora-protagonista e a biografia da autora. É um relato feito na primeira pessoa, escrito em forma de diário. A heroína apresenta problemas emocionais, aparentemente uma depressão pós-parto e passa pelo mesmo tratamento recomendado à Gilman pelo Dr. S. Weir Mitchell, “a cura do descanso”, abstendo-se de qualquer atividade social e intelectual, principalmente. Ela é proibida de escrever, a fim da recuperação de seu estado psicológico. Entretanto, escreve escondida como uma forma de refúgio, ficando aos cuidados do marido e do irmão, que são médicos, e de uma governanta, que é sua cunhada.

Com o desenvolvimento da história, a protagonista vai se aprofundando em seu estado de loucura, e começa a perceber mulheres aprisionadas no papel de parede do quarto em que está isolada. Nessa situação, ela começa a refletir sobre sua própria condição de prisioneira perante a prescrição de um “cuidado” igualmente opressor. Essa obra, segundo a crítica feminista, expõe a infantilização de mulheres, e a própria Gilman escreve o conto como denúncia do tratamento que recebeu (HENRIQUES, p. 41, 2017), citando claramente, pela voz da narradora, o nome do médico que a tratou. Diante disso, visto que o objeto de estudo oferece uma temática da opressão da figura feminina, esse estudo analisa a representação da mulher no conto O Papel de Parede Amarelo.

O interesse por essa pesquisa originou-se de uma discussão crítica, após a apresentação de um artigo, de minha autoria e de Paloma Duarte, na Semana de História da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Cajazeiras em 2017, sob

ferramenta de denúncia e como forma de luta por liberdade em meio às regras patriarcais; estas que reforçavam a desvalorização da habilidade artística das mulheres, submetendo- as restritivamente, aos espaços domésticos.

No capítulo IV-A maternidade como função social- será discutida a presença de uma pressão social sob a condição materna sustentada por discursos dominantes, que difundiam a ideia de que as mulheres eram criadas, somente, para ser mãe, esposa e destinadas naturalmente aos espaços domésticos. Além disso, evidencia-se que essa pressão, muitas vezes, colaborou para um desencadeamento de doenças psicológicas nas mulheres do século XIX.

O capítulo V- A medicalização do corpo da mulher- fará uma abordagem sobre a influência do campo da medicina para a condição de subalternização feminina. Sendo que a ciência atuou como um mecanismo de poder e de controle social, contribuindo na reafirmação das diferenças biológicas e sociais entre homem e mulher, através de teorias sexuais nas áreas da psicologia, sociologia, anatomia, entre outras.

Por fim, o capítulo VI- A representação feminina em O Papel de Parede Amarelo - foi destinado à análise do conto , em que será investigada a condição da protagonista diante de um sistema patriarcal. Nele, será mostrada a evolução da heroína do conto em busca de sua “liberdade” e subjetividade. Ainda será discutido o papel dos demais personagens, vistos como representações do padrão patriarcal em relação à situação de aprisionamento da protagonista.

1. CHARLOTTE PERKINS GILMAN: ASPECTOS SOBRE A VIDA E OBRA

Uma importante líder do movimento feminista entre 1890 e 1920, Charlotte Perkins Gilman foi uma socialista, palestrante e escritora americana. Ela escreveu contos, poesia e estudo crítico, com temas voltados para a desigualdade social das mulheres e o confinamento delas dentro do casamento e da sociedade. Nasceu em 1860, em Hartford, Connecticut, como Charlotte Anna Perkins, filha de Mary Ann (Fitch) Perkins e do bibliotecário Frederic Beecher Perkins.

Nesse período a família Beecher era uma das mais importantes dos Estados Unidos, e as tias de Gilman tiveram um papel influente em sua carreira intelectual, como Harriet Beecher Stowe, escritora do romance Uncle Tom’s Cabin (1852), traduzido para o português como A cabana do Pai Tomás; Isabella Beecher, uma notável sufragista; e Catherine Beecher, educadora e autora de Um tratado sobre economia doméstica (1841).

Os pais de Gilman tiveram três filhos, um faleceu na infância. Após o nascimento do terceiro filho, os médicos alertaram a Mary sobre o perigo de uma nova gravidez. Devido a essa situação, Gilman e seu irmão mais velho passaram a morar somente com a mãe, pois seu pai os abandonou, deixando-os à margem da caridade de seus parentes, sem um lar fixo, viveram por muito tempo se mudando em busca de abrigo (GILBERT & GUBAR, 1996).

Assim a herança paterna da escritora foi mais significativa na contribuição à devoção pelos livros e o amor pela literatura, do que na parte financeira, pois seu pai raramente mantinha contato com sua família. Além disso, a mãe de Gilman poupou o sentimento de afeição e qualquer sinal físico de ternura na relação com seus filhos, deixando uma lacuna de amor maternal na vida da escritora.

Em referência à educação de Gilman, ela, por um tempo limitado, frequentou a Escola de Design de Rhode Island, local que recebeu instrução para exercer a função de professora de arte e governanta. Em 1882, ela conhece seu primeiro marido, o artista Charles Walter Stertson. E mesmo sabendo durante o namoro sobre as dificuldades de combinar casamento, maternidade e trabalho, ela casa-se em 1884 (GILBERT & GUBAR, p. 1130, 1996), conforme relata em sua autobiografia:

Nós estivemos casados por mais de quatro anos. Esta condição miserável da mente, esta escuridão, esta fraqueza e tristeza, começaram

Ressalta-se também seu papel na luta sufragista e sua participação na fundação do Partido da Paz das Mulheres^ em 1915, e sua carreira declinando com o fim desse movimento em 1920. Depois do falecimento de seu marido em 1934, ela passou a viver com a filha. No ano seguinte, após descobrir que estava acometida de um câncer de mama, Gilman suicidou-se, inalando clorofórmio. No entanto, observa-se que esta sua decisão deu-se “não por causa da dor que ela sofreu, ela explicou, mas porque sua carreira de serviço acabou” (GILBERT & GUBAR, 1996, p. 1131, tradução nossa).

Constata-se, por fim, que por um longo período as obras de Gilman ficaram esquecidas, como O Papel de Parede Amarelo, que passou mais de 50 anos sem ser republicado, quando em 1970, foi fundada a editora The Feminist Press , em Nova York, uma das editoras gerenciadas por mulheres que decidiram resgatar obras de escritoras dos anos 20 e 30 (SADLIER, 1989, p. 18). A partir daí, a escrita de Gilman segue impactando a todos (as) e com bastante importância dentro dos estudos feministas.

 (^) Woman’s Peace Party: (WPP) O partido da Paz das Mulheres foi criado como forma de protesto após os Estados Unidos entrarem na Primeira Guerra Mundial.  “[..] not because of the pain she suffered, she explained, but because her career of service was over” (GILBERT & GUBAR, 1996, p. 1130).

2. CONTEXTO HISTÓRICO: PANORAMA DAS LUTAS FEMINISTAS

O conto O Papel de Parede Amarelo foi escrito em uma época em que os Estados Unidos passavam por uma transição de valores e transformações econômicas com o desenvolvimento da sociedade diante da Revolução Industrial. Destaca-se também, a condição secundária da mulher dentro do sistema patriarcal, em que ainda era propriedade do marido ou do pai, porém começava a sofrer alterações com a influência dos ideais liberais da Revolução Francesa, que repercutia pela Europa e ganhava adeptos na América.

A voz feminina ganhava espaço através das lutas de grupos organizados que reivindicavam por direitos de igualdade entre homens e mulheres. A partir do século XVIII, ocorreu a inserção de jovens mulheres no campo educacional, que trabalhavam como professoras, e no século seguinte elas constituem força no mercado de trabalho, aumentavam a produção das fábricas e também trabalhavam em lojas de família. Entretanto, ainda sofriam com as limitações impostas por valores morais que insistiam em restringir a mulher a uma posição inferior, pois a burguesia temia a desestrutura familiar. Assim:

Exige a presença da mulher no lar tanto mais vigorosamente quanto sua emancipação torna-se uma verdadeira ameaça; mesmo dentro da classe operária os homens tentaram frear essa libertação, porque as mulheres são encaradas como perigosas concorrentes, habituadas que estavam a trabalhar por salários mais baixos. (BEAUVOIR, 1980, p.18)

Essa tentativa de subordinação faz parte da trajetória histórica da mulher, que tem ocupado um papel marginalizado na maioria das sociedades, submissa à autoridade masculina. Numa menção retrospectiva cronológica das circunstâncias do papel feminino, lembre-se que na sociedade ateniense, a mulher não era considerada um ser livre, não participava das reuniões públicas na Ágora e era colocada no mesmo patamar que as crianças e os escravos. De tal modo ocupavam apenas atividades outras do mundo privado, exercendo as funções de mãe e procriadora: de gerar, amamentar, criar e produzir mantimentos para subsistência do homem. As atividades externas, consideradas nobres, como filosofia, política e artes, eram primordialmente de carácter masculino (ALVES & PITANGUY, 1981, p. 12), e, assim sendo, é notável que o conhecimento foi uma área negada à figura feminina durante séculos.

capacidade intelectual e moral das mulheres, devido aos estudos que mostravam uma menor proporção do esqueleto físico feminino em referência ao esqueleto masculino.

A partir do Renascimento, ocorre a decadência dos direitos civis das mulheres com a reintrodução da legislação romana, sendo elas então afastadas do preparo profissional e educacional (ALVES & PITANGUY, 1981, p. 26). Isto ocorre de modo oposto ao desenvolvimento da instrução masculina, em que houve um progresso na criação de escolas de qualidade dirigidas para este público, enquanto o ensino para meninas era meramente voltado para serventia doméstica.

A condição feminina se perpetua de forma semelhante dos séculos XV ao século XIX, com exceção das classes privilegiadas, em que ocorre uma certa evolução. Algumas se destacaram por sua soberania, como Joana de Nápoles, outras por suas aventuras nas lutas por liberdade, também por sua cultura e seus talentos, como Lucrécia Tornsbuoni, que compôs a letra de hinos e outros escritos relevantes. Entretanto, para a maioria das mulheres do século XVI ainda havia muita desigualdade, pois elas eram desfavorecidas de instrução em relação aos homens (BEAUVOIR, 1980, p.133).

É visto que no século XVII, na América iniciava-se uma série de mudanças sociais com o desenvolvimento do capitalismo, inovando a organização do trabalho com a inserção do comércio. Em um cenário em que as ideias religiosas do puritanismo estavam repercutindo, assim como também havia a valorização da razão, Ann Hutchinson^5 , inserida no meio religioso, desabrochou como umas das primeiras feministas americanas, defendendo a igualdade de direitos entre a mulher e o homem, em uma época que ainda era considerado algo intolerável (ALVES & PITANGUY, 1981, p. 30).

Posteriormente, Abigail Adams questionou o conteúdo da Declaração de Independência dos Estados Unidos em relação à inclusão feminina no discurso de igualdade de direitos, porém, ficou perceptível que a mulher americana, assim como os

(^5) Anne Hutchinson (1591-1643) foi uma emigrante inglesa que se mudou para Boston, na Colônia da Baía de Massachusetts junto com sua família. Destacou-se por ser uma religiosa com um discurso carismático, atraindo diversos ouvintes, assim como também despertou a revolta de líderes da Igreja Puritana de Massachusetts, por difundir “sua crença na salvação de cada indivíduo, com base na Graça em detrimentos de obras” (NUNES, 2009). Além disso, defendia que o homem e a mulher foram criados de modo semelhante por Deus, “contrariando os dogmas calvinistas da superioridade masculina” (ALVES & PITANGUY, 1981, p. 30). Em 1637, ela foi excomungada banida e da colônia, depois disso fundou em Rhode Island um local de liberdade de expressão (NUNES, 2009).

negros, os índios e o homem branco de situação financeira inferior, estavam à margem desse ideal de igualdade (ALVES & PITANGUY, 1981, p. 32).

Apesar de ainda estar sob o efeito de uma moral rigorosa, a mulher no século XVIII tem uma liberdade e independência maiores, sua educação, no entanto permanece supérflua, sendo submissa ao marido ou encontrada, não raro, em um convento contra sua vontade (BEAUVOIR, 1980, p. 133). E é diante da Revolução Francesa que as mulheres participam de forma intensa e se organizam politicamente para reivindicar seus direitos de cidadania.

Sendo que elas solicitam à Assembleia, através de uma petição, a revogação do domínio masculino sobre a mulher perante as instituições legais. Em virtude dessas manifestações, prolifera a publicação sobre a situação feminina, tendo como destaque, igualmente, a escritora revolucionária Olympe George. Seu discurso, enraizado nas ideias do liberalismo, defendia a inclusão das mulheres na área política e civil, de modo que compartilhassem dos mesmos direitos e deveres destinados aos homens. Esse pensamento, por sua vez, foi difundido pelas feministas durante o século XIX. (ALVES & PITANGUY, 1981, p. 34).

Ainda em 1795, uma Assembleia Nacional proíbe a participação das mulheres em qualquer atividade de manifestações. Para tanto, o discurso burguês, representado pelo pensamento de Rousseau, idealista da Revolução, favoreceu esse quadro no qual a mulher estava destinada à maternidade e ao marido, conforme assegura: "Toda a educação da mulher deve ser relativa ao homem. [...] A mulher é feita para ceder ao homem e suportar- lhe as injustiças” (ROUSSEAU apud BEAUVOIR, 1980, p. 139).

Observe-se que a estrutura familiar repercutia na organização social, em que o homem exercia o papel essencial na tomada de decisões, logo o poder estava em suas mãos, cabia, assim, aos filhos e às mulheres tão-somente dirigirem respeito e obediência. No extremo das consequências, os maridos gozavam do direito de “surrar” suas esposas, caso ocorresse alguma desobediência ou afrontamento da soberania de sua autoridade. Além disso, cabia ao marido o poder de decisão para que a esposa assumisse qualquer emprego comercial, assim como também exercia domínio sobre seus bens.

Nos primórdios do século XIX, contexto da obra literária analisada por esse estudo, essas circunstâncias de cerceamento em volta da mulher ainda eram reproduzidas. Em