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resenha, texto resumido
Tipologia: Notas de estudo
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Não perca as partes importantes!
A religião romana, fora, em sua origem, uma série de cultos urbanos, demonstrações públicas, respeito e gratidão para com os deuses domésticos da cidade- estado (Johnson, 2001, p. 15). É desde o início da República Romana que notamos a prática da tolerância e de integração de cultos estrangeiros ao panteão romano por meio da evocatio - quando os deuses das cidades subjugadas eram convidados a trocar de cidade e se estabelecerem em Roma que lhe ofereceria honras iguais ou superiores – e da interpretatio – que implicaria na associação do deus nativo da cidade conquistada à divindade romana. 1 A religião na sociedade greco-romana estava extremamente associada à política, tornando-se “estatal, ambígua e integradora” (Mendes; Otero, 2005, p. 198). É encarada como um aspecto muito relevante da identidade cultural greco-romana. Por conseguinte, é relevante destacar que o significado do termo político , na sociedade greco-romana, designa muito mais que apenas estar engajado às questões políticas, significa exercer todas as obrigações de um cidadão: casar-se e ter filhos, ser piedoso e participar da vida pública (Souza, 2006, p. 2). Além disso, “os rituais religiosos estavam intimamente ligados com as demais atividades de guerra e paz” (Rosa, 2006, p. 145). O termo religio , na sociedade greco-romana, apresenta um sentido bastante diverso daquele encontrado no pensamento monoteísta. 2 Em nome do princípio de religio , “as pessoas cultuavam as divindades que preferissem desde que respeitassem os cultos públicos, a ordem pública e a liberdade dos outros” (Rosa, 2008, p. 86). Religio
1 Assim, pela evocatio houve a adoção de deuses gregos, como Hércules, no século V a.C., e Apolo, em 431 a.C., e pela interpretatio Zeus foi associado a Júpiter, Hera a Juno, e Atena a Minerva. E, dessa maneira, “todo o aparato da mitologia grega foi adotado e expressado na literatura e iconografia romanas” (Mendes; Otero, 2006, p. 202) 2 Religio não é, como proferem Mendes e Otero, a designação de “laços sentimentais diretos ou pessoais do indivíduo com a divindade, mas um conjunto de regras formais e objetivas oriundas da tradição para o relacionamento com os deuses” (2005, p. 198).
é ao mesmo tempo a permanência de laços entre deuses e homens e a importância em observar esta ligação. É o contrário da superstitio , “entendida como as formas exageradas de comportamento e crenças” (Mendes; Otero, 2005, p. 199). A religião greco-romana mostrava-se composta, sobretudo, por rituais que garantiam as relações entre os deuses e os homens. A garantia dos ritos representava a certeza de uma sociedade ordenada e segura, como desejavam seus cidadãos. 3 Nas palavras de Grimal (1984, p. 68) “os deuses não ordenam aos homens que se conduzam desta ou daquela maneira, apenas exigem o cumprimento dos ritos tradicionais”. Ademais, de acordo com Veyne (1992, p. 301), “o império pagão era uma sociedade dessacralizada; [...] o legislador não impunha a mínima obrigação religiosa a não ser a de respeitar os dias festivos”. Com o devido respeito aos deuses, a prática de curvarem-se perante seus espaços e a participação em seus rituais, o cidadão garantia a pax deorum, isto é, a paz entre deuses e homens. E uma vez transgredidas estas regras, podiam levar o caos e à desagregação a sociedade. Dessa forma, a concordia entre deuses e homens era a garantia da ordem romana (Rosa, 2006, p. 146). Por ser aberta às inovações, a religião greco-romana apresentava mecanismos regulares para facilitar e regular esta abertura, levando-se sempre em consideração a valorização das tradições e do mos maiorum. Assim, como Mendes e Otero (2005), tomamos parte, igualmente, da tese de Bayet (1984), que compreende a religião romana como essencialmente política e estatal, uma vez que “se igualava aos assuntos políticos, pois era mantida pela mesma elite socioeconômica e política que geria o governo da
3 De acordo com Rosa, “somente a escrupulosa retenção das práticas e rituais podiam agradar as divindades” (2006, p. 146).
De tal maneira, temos, de um lado, o culto cívico público, imposto ao indivíduo como cidadão, ou seja, pela sua condição social de pertença a uma cidade, a uma sociedade. O culto cívico tradicional não configurava-se como fruto de uma decisão pessoal de ordem espiritual, era produto da condição cívica do cidadão e compunha a sua identidade política. Como ressalta Mendes e Otero (2005, p. 200), “diferentemente de hoje, um romano não possuía uma identidade religiosa que pudesse distingui-lo da sua identidade como cidadão ou como membro de uma família”. Por outro lado, havia a religião privada que também contava com as promessas de preces e oferendas, centradas, basicamente, nos santuários domésticos – Lares, Penates e Genius – e nos deuses escolhidos de acordo com a necessidade pessoal de cada indivíduo. 5 Não contavam, contudo, com um controle restrito das autoridades públicas. Para além destas duas práticas religiosas tradicionais na sociedade greco-romana
5 “Os Penates protegiam a reserva das provisões alimentares, e mais tarde passaram a englobar o conjunto dos deuses venerado que residiam na casa. Os Lares são divindades protetoras da abundância, generosidade e de proteção dos componentes da família, seja no passado, no presente ou no futuro. Cada homem tem seu genius que o protege e a sua casa, sujo significado está ligado ao princípio da fecundidade genética”. Quanto aos deuses de devoção pessoal de cada indivíduo, podemos citar como exemplos: Vênus, para o amor; Mercúrio, para os negócios; Jano ou Diana, para o nascimento. (Mendes; Otero, 2005, p. 200-218) (^6) De acordo com Mendes e Otero (2005, p. 205) “o culto imperial teve origem nas cidades helenísticas quando as cidades gregas pela primeira vez tiveram que lidar com governantes que eram mais gregos do que estrangeiros, mas não faziam parte da cidade- estado. Roma substituiu os reis helenísticos nas cidades gregas e as cidades começaram a criar novos cultos. Algumas vezes era em relação ao Senado e aos lideres militares, porém era mais freqüente à deusa Roma: a personificação da cidade”.
mística imperial que envolvia o imperador era uma mescla de elementos romanos e orientais (Aymard; Auboyer, 1976, p. 41). Neste momento o imperador surge como o gerenciador da vida religiosa oficial. É ele o responsável pela intermediação entre os deuses e os homens, pela boa ordem das coisas, e o intermediário entre o Estado e os deuses. Enquanto vivia o imperador era um deus em magnitude. Na realidade qualquer pessoa podia ter uma idéia própria acerca da natureza divina do imperador (Momigliano, 1996, p. 303). No entanto, os imperadores jamais chegaram a uma divinização completa, limitaram-se a apenas se aproximar dela. Os imperadores do século II e.c., por exemplo, não desejaram uma deificação integral – excetuando-se, particularmente, o caso de Nero e Domiciano –, como aconteceu com os ptolomeus e alguns selêucidas (Aymard; Auboyer, 1976, p. 43-45). Aqui, verificamos mais uma vez o viés político da religião romana, uma vez que Otávio, como chefe maior do Principado, assumiu a posição de pontifex maximus e recebeu o título de Augusto – sanctus e divinus. 7 Assim, o imperador tornou-se o chefe maior da religião e o responsável pela pax deorum. De tal modo, “qualquer ofensa ao seu poder ou à sua pessoa, atenta também contra a necessária boa ordem das coisas religiosas” (Aymard; Auboyer ,1976, p. 42-46). O imperador é desta forma, o senhor do universo, mesmo para os povos que não estão ainda sujeitos à sua lei. É aquele que personifica todas as virtudes inatas: Fides, Pax, Honor, Pudor, Virtus, Copia. O culto imperial, em suma, era uma maneira de manifestar a fidelidade ao imperador – soberano do mundo – e, também, à cidade de Roma, centro deste mundo. 8
7 Segundo Silva, “ Augustus é um nome que deriva do mesmo radical de augur , anunciando algo que vem acrescentar, que vem possibilitar o crescimento de uma determinada empresa mediante o concurso divino” (2001, p. 41). (^8) mantém o controle político do novo regime do Império, rapidamente ele se tornou o ‘cabeça’ da religião Segundo Rosa (2006: 147) “uma vez que o detentor do poder religioso é o mesmo individuo que do Estado e suas ações cada vez mais refletem esta posição”.
A organização do culto possuía variações locais (Momigliano, 1996: 302). Os meios empregados eram os mais diversificados possíveis: rituais, poesia, iconografia, e, igualmente, os tipos de associação do imperador com as divindades existentes. Assim, “o nome do Imperador e as estátuas e imagens reais dele desempenhou um papel real na vida de uma comunidade pagã provincial” (Millar, 1972, p. 148), visto que era uma das formas de entender e conceber o mundo. Todavia, ainda que tais tentativas de divinização fossem bem aceitas na parte oriental do império, mais acostumada, podemos dizer, com este tipo de manifestação, os membros da elite greco-romana, sobretudo em Roma, tinham dificuldades maiores em aceitar que se tratasse um homem como deus. Para a maioria da população do Império, no entanto, “não parece ter havido maiores problemas para aceitar que o imperador pudesse ser tratado como um deus, e vemos somente alguns esforços espasmódicos dos imperadores no sentido de rejeitar tais ofertas rituais” (Rosa, 2006, p. 150), como os imperadores Cláudio e Tibério, que “compreenderam o absurdo das alegações divinas e, geralmente, resistiram a tais honras” (Jones, 1980, p. 1027). De tal modo, Momigliano (1996, p. 299-301) evidencia que
tambémdifíceis de definir; as crenças ou descrenças religiosas dos intelectuais; devemos tomar em consideração tendências populares a maior participação das mulheres na vida religiosa e intelectual emgeral, e, por último, os peculiares problemas plantados pelo embate do cristianismo. [...]. O culto imperial não agradava a todos nem eraaceito por todos
No caso do cristianismo, por exemplo, como veremos mais adiante, o conflito foi trágico, pois ao se recusar em sacrificar ao imperador, o cristão cometia um duplo delito: se autoexcluía da comunidade política e negava o poder extraordinário do monarca imperial (Bayet, 1984, p. 206).
A religião era um componente importante da vida cívica, pois o culto aos deuses sedimentava a solidariedade entre a comunidade. Uma forma de expressão da fidelidade a Roma era a observância das práticas religiosas, que faziam parte integrante da sociedade romana. A constituição de um culto, que tinha a tutela do Estado estreitou os laços entre Estado e comunidade, criando uma identidade comum aos indivíduos e consolidando os laços que, por sua vez, uniam os indivíduos a Roma. Era uma religião social, pois era praticada pelo homem enquanto membro de uma comunidade e não somente como individuo subjetivo (Bustamante, 1999, p.327). Aos poucos a religião romana foi se constituindo numa construção que mesclou a tradição romana com a capacidade de acolher a força divina dos “outros” quer dizer das comunidades conquistadas. Rosa (2006) nos diz que o Estado imperial pagão não era tolerante a princípio, pois toleravam somente aquilo que não lhes parecia ser perigoso. Aqueles cultos que, por exemplo, “desvalorizavam os deveres práticos em favor dos deveres espirituais eram, claramente, encarados como uma verdadeira ameaça ao Império” (Livet & Mousnier, 1999, p. 103). Foi o que aconteceu, por exemplo, com o culto a Baco em 180 a.C., tratado como uma ameaça ao paganismo greco-romano. Neste período o culto encontrava-se disseminado no Lácio, na Etrúria, na Itália central e sul e, inclusive, em Roma, principal palco da perseguição. A sua organização ameaçou os romanos, pois apresentou uma nova e perigosa forma de poder, visto que os líderes do grupo possuíam um controle maior sobre os iniciados, o que os sacerdotes romanos jamais conseguiram. Um grupo organizado, como este, possuía uma potencial força política, o que gerou focos de grande interesse e atenção do poder imperial. No entanto, os seguidores de Baco não eram hostis aos deuses e rituais greco-romanos, mas apresentaram uma ameaça