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Acidentes Químicos Ampliados: Desafios para a Saúde Pública em Países Periféricos, Notas de estudo de Biomedicina

Este documento discute os desafios posados pelos acidentes químicos ampliados, especialmente em países periféricos, em relação à saúde pública. O texto apresenta estatísticas sobre a evolução histórica dos acidentes químicos graves, seus tipos e riscos, e os desafios de avaliar suas consequências e formular estratégias de controle e prevenção. O documento enfatiza a importância de abordar este tema no âmbito da saúde pública.

Tipologia: Notas de estudo

2012

Compartilhado em 19/10/2012

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Acidentes químicos ampliados:
um
desafio para
a
saúde
pública
The
increase
in
chemical
accidents:
a
challenge
for
public
health
Carlos
M. de
Freitas,
Marcelo
F. de S.
Porte
e
Carlos
M.
Gomez
Centro
de
Estudo
da
Saúde
do
Trabalhador
e
Ecologia Humana. Escola Nacional
de
Saúde
Pública (FIOCRUZ)
- Rio de
Janeiro,
RJ -
Brasil
Os
acidentes envolvendo substâncias perigosas
nas
atividades
de
transporte, armazenamento
e
produção
industrial
de
produtos químicos constituem
um
sério risco
à
saúde
e ao
meio ambiente. Objetiva-se discutir,
no
âmbito
da
saúde pública, alguns
dos
desafios
que
esses tipos
de
acidentes colocam, principalmente para
os
países
de
economia periférica. Através
da
combinação
de
informações quantitativas
e
qualitativas,
foram
definidos
e
caracterizados esses tipos
de
acidentes
e
seus diversos riscos. Esses acidentes
têm se
apresentado
com a
maior
gravidade
nos
países
de
economia periférica, embora
a
maioria deles venha ocorrendo
sem o
adequado
registro
de
informações básicas para
a
avaliação
e
vigilância, como
é
demonstrado
no
caso
do Rio de
Janeiro
(Brasil).
Além
da
tarefa
de se
avaliar
as
conseqüências
de
eventos,
por
vezes extremamente complexos, coloca-se também,
a de
formular
estratégias
de
controle
e
prevenção
em
realidades sociais
que
configuram
um
terreno
fértil
para
a
ocorrência
e
agravamento
dos
mesmos.
Acidentes
químicos.
Acidentes
industriais.
Saúde
do
trabalhador.
Saúde
ambiental.
Separatas/Reprints:
Carlos
M. de
Freitas
-
Centro
de
Estudos
da
Saúde
do
Trabalhador
e
Ecologia Humana. Escola Nacional
de
Saúde
Pública
(FIOCRUZ).
Rua
Leopoldo Bulhões, 1480
-
Manquinhos
-
21041-210
- Rio de
Janeiro,
RJ -
Brasil. Fax: (021) 270-
3219
Recebido
em
14.2.1995. Aprovado
em
29.8.1995.
Introdução
No ano de
1994
foram realizados
no
Brasil
alguns
eventos
que
trouxeram para
a
saúde públi-
ca
mais
um
desafio
a ser
enfrentado, entre tantos
outros.
A
Organização Internacional
do
Trabalho
e
o
Ministério
do
Trabalho organizaram
o
Seminário Nacional
de
Prevenção
de
Acidentes
Maiores,
nos de
maio
na
Bahia,
e o
Seminário
Latino-Americano
Tripartite
Sobre
Acidentes
Industriais Maiores,
nos de
agosto
emo
Paulo.
O
Programa Internacional
de
Segurança
Química
da
Organização Mundial
de
Saúde reali-
zou
emo
Paulo,
nos de
junho,
o
Simpósio
IPCS
Sobre
o
Gerenciamento
dos
Aspectos
Ambientais
e de
Saúde
de
Acidentes
com
Substâncias
Químicas.
O
Centro
de
Estudos
da
Saúde
do
Trabalhador
e
Ecologia Humana
da
Escola Nacional
de
Saúde Pública
da
Fundação
Oswaldo Cruz promoveu
em
dezembro
o
semi-
nário
10
Anos
de
Bophal
- O
Acidente Químico
Maior
em
Questão.
Essas programações colocam
a
problemática
dos
acidentes
químicos
ampliados, capazes
de
pro-
duzirem múltiplos danos
num
único evento,
pos-
suindo também
o
potencial
de
provocarem
efeitos
que se
estendem para além
dos
locais
e
momentos
de sua
ocorrência.
Por um
lado, está
a
dificuldade
de se
avaliar
as
conseqüências
de
acidentes,
por
vezes extremamente complexos.
Por
outro lado,
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desafio
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formular estratégias
de
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de
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Acidentes químicos ampliados: um desafio para a

saúde pública

The increase in chemical accidents: a challenge for public health

Carlos M. de Freitas, Marcelo F. de S. Porte e Carlos M. Gomez

Centro de Estudo da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana. Escola Nacional de Saúde

Pública (FIOCRUZ) - Rio de Janeiro, RJ - Brasil

Os acidentes envolvendo substâncias perigosas nas atividades de transporte, armazenamento e produção industrial de produtos químicos constituem um sério risco à saúde e ao meio ambiente. Objetiva-se discutir, no âmbito da saúde pública, alguns dos desafios que esses tipos de acidentes colocam, principalmente para os países de economia periférica. Através da combinação de informações quantitativas e qualitativas, foram definidos e caracterizados esses tipos de acidentes e seus diversos riscos. Esses acidentes têm se apresentado com a maior gravidade nos países de economia periférica, embora a maioria deles venha ocorrendo sem o adequado registro de informações básicas para a avaliação e vigilância, como é demonstrado no caso do Rio de Janeiro (Brasil). Além da tarefa de se avaliar as conseqüências de eventos, por vezes extremamente complexos, coloca-se também, a de formular estratégias de controle e prevenção em realidades sociais que configuram um terreno fértil para a ocorrência e agravamento dos mesmos.

Acidentes químicos. Acidentes industriais. Saúde do trabalhador. Saúde ambiental.

Separatas/Reprints: Carlos M. de Freitas - Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana. Escola Nacional de Saúde Pública (FIOCRUZ). Rua Leopoldo Bulhões, 1480 - Manquinhos - 21041-210 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil. Fax: (021) 270- 3219 Recebido em 14.2.1995. Aprovado em 29.8.1995.

Introdução

No ano de 1994 foram realizados no Brasil alguns eventos que trouxeram para a saúde públi- ca mais um desafio a ser enfrentado, entre tantos outros. A Organização Internacional do Trabalho e o Ministério do Trabalho organizaram o Seminário Nacional de Prevenção de Acidentes Maiores, no mês de maio na Bahia, e o Seminário Latino-Americano Tripartite Sobre Acidentes Industriais Maiores, no mês de agosto em São Paulo. O Programa Internacional de Segurança Química da Organização Mundial de Saúde reali- zou em São Paulo, no mês de junho, o Simpósio IPCS Sobre o Gerenciamento dos Aspectos Ambientais e de Saúde de Acidentes com

Substâncias Químicas. O Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz promoveu em dezembro o semi- nário 10 Anos de Bophal - O Acidente Químico Maior em Questão. Essas programações colocam a problemática dos acidentes químicos ampliados, capazes de pro- duzirem múltiplos danos num único evento, pos- suindo também o potencial de provocarem efeitos que se estendem para além dos locais e momentos de sua ocorrência. Por um lado, está a dificuldade de se avaliar as conseqüências de acidentes, por vezes extremamente complexos. Por outro lado, encontra-se o desafio de formular estratégias de controle e prevenção de acidentes com caracterís-

ticas bastante diversificadas. A discussão desse tipo de acidente no âmbito da saúde pública - obje- tivo central do presente artigo - é, uma exigência da qual não cabem omissões. Breve Histórico A importância dos acidentes químicos está diretamente relacionada em evolução histórica da produção e consumo de substâncias químicas em nível internacional e nacional. A partir da II Guerra Mundial, o aumento da demanda por novos materiais e produtos químicos, acompanhado pela mudança da base de carvão para o petróleo, con- duziu ao desenvolvimento e expansão do com- plexo químico industrial^33. A natureza altamente competitiva desse setor industrial, aliada ao cresci- mento da economia em escala mundial e ao rápido avanço da tecnologia, possibilitaram o aumento das dimensões das plantas industriais e da com- plexidade dos processos produtivos64,66. Nos anos 60, uma planta industrial para cra- quear nafta e produzir 50.000 toneladas/ano de etileno era considerada de grande porte. A partir dos anos 80, plantas para a produção de etileno e propileno ultrapassaram a escala de l milhão de toneladas64,70. O transporte e o armazenamento seguiram o mesmo ritmo. A capacidade dos petroleiros no pós-guerra cresceu de 40. toneladas para 500.000 toneladas e a de armazena- mento de gás de 10.000 m^3 para 120.000/150. m^364. Nesse período verifica-se que a comercia- lização mundial de químicos orgânicos passou de 7 milhões de toneladas em 1950 para 63 milhões, em 1970, 250 milhões, em 1985, e 300 milhões, em

O crescimento das atividades de produção, armazenamento e transporte de substâncias quími- cas em nível global provocou um aumento no número de seres humanos expostos aos seus riscos

  • trabalhadores e comunidades^66. Paralelamente,

observa-se aumento na freqüência e gravidade dos acidentes químicos nessas atividades. Os acidentes com 5 óbitos ou mais, os quais são considerados muito severos*, passaram de 20 (média de 70 óbitos por acidente) entre 1945 e 1951, para 66 (média de 142 óbitos por acidente) entre 1980 e

Os Acidentes Químicos Ampliados A própria nomenclatura desses tipos de aci- dentes ainda não se encontra consolidada e varia de país para país. São freqüentemente denominados de acidentes maiores, uma tradução literal da expressão major accidents em inglês ou accidents majeurs em francês. Em Portugal, no entanto, são definidos como acidentes industriais graves e na Alemanha como Störfall, cuja tradução literal seria algo como acidente de perturbação. Em nossa con- cepção, o termo maior induz a pressupor, de forma técnica e eticamente equivocada, como de menor importância os outros tipos de acidentes. No pre- sente artigo propõe-se denominar esses acidentes como acidentes ampliados, ou, mais especifica- mente, acidentes químicos ampliados, uma vez que se restringirá somente aos envolvendo substâncias e produtos químicos. Esta terminologia parece ser mais apropriada ao sentido dado no presente artigo, expressando a possibilidade de ampliação no espaço e no tempo das conseqüências dos mesmos sobre as populações e o meio ambiente expostos. Segundo a Diretiva de Seveso, de 1982, do Conselho das Comunidades Européias^23 , esses tipos de acidentes provêm de "uma ocorrência, tal como uma emissão, incêndio ou explosão envol- vendo uma ou mais substâncias químicas perigosas, resultando de um desenvolvimento incontrolável no curso da atividade industrial, con- duzindo a sérios perigos para o homem e o meio ambiente, imediatos ou a longo prazo, interna- mente e externamente ao estabelecimento". Na base de dados internacional "Major Hazard Incident Data Service (MHIDAS)", são conside- rados incidentes/acidentes** ampliados não só os situados no processo de produção industrial, mas também os de transporte e armazenagem de quími- cos que resultem em potencial de perigo para a comunidade. No campo da saúde, esses acidentes têm sido definidos de forma similar, com ênfase na *De acordo com Drogaris^22 , são atualmente propostos seis índices de gravidade (negligenciável, digno de nota, impor- tante, severo, muito severo e catastrófico) em basicamente três grupos de parâmetros (potencial de perigo em função do tipo e quantidade da substância envolvida, conseqüências - saúde, meio ambiente e materiais - e extensão das medidas externas de intervenção e segurança) para os acidentes químicos ampli- ados ocorridos nas Comunidades Européias. Um dos índices empregados no grupo de parâmetros das conseqüências é o número de óbitos, sendo classificados como ''importante" (entre l e 4), "severos" (entre 5 e 19), "muito severos" (entre 20 e 49) e "catastróficos" (mais de 50). ** Incidentes são compreendidos neste artigo como eventos inesperados sem sérias conseqüências, embora possam oca- sioná-las. Já os acidentes correspondem a eventos também inesperados, porém que causam danos materiais, lesões e óbitos.

em contato com estas durante o combate^63 , como para as populações que obtêm sua água para con- sumo dos rios atingidos^1. No combate ao incêndio da Sandoz, estimou-se que entre 10 e 30 toneladas de contaminantes foram lançadas no rio Reno através das águas residuais, resultando na morte de grande número de peixes numa extensão de 250km^52 e colocando sob risco uma população estimada em 12 milhões de habitantes distribuídos por cidades e vilas ao longo desse rio na França, Alemanha e Holanda^1. Esses eventos, apesar de não serem respon- sáveis por grande número de óbitos imediatos (Tabela. 1), podem causar muitos danos à saúde dos seres vivos expostos e ao meio ambiente, a curto e longo prazos. As incertezas quanto aos próprios efeitos sobre a saúde e o meio ambiente também podem provocar sentimentos de medo, insegurança e mesmo pânico e instabilidade social nas regiões afetadas^45 , conduzindo em alguns casos ao estresse nas populações expostas^8. As ca- racterísticas físico-químicas das emissões aciden- tais são determinantes de sua toxicidade, vias de exposição e extensão das áreas atingidas. A forma sólida tem menor capacidade de se estender além dos limites da zona afetada, sendo mais freqüente em casos de armazenamento ou disposição inade- quada de resíduos. As emissões líquidas acidentais, que freqüen- temente ocorrem diretamente por vazamento ou derramamento, têm sua extensão determinada, entre outros fatores, pela existência de cursos d'água e barreiras naturais ou artificiais^54. Na contaminação de corpos d'água para consumo, tal como incêndio da Sandoz, milhares de pes-. soas podem ser colocadas sob risco1,20,38,71. As emissões de gases e vapores tóxicos na atmosfera apresentam maiores possibilidades de dispersão, podendo atingir grandes extensões e um número maior de pessoas, constituindo a forma predominante de exposições ambientais e ocupa- cionais^46. A gravidade e extensão dessas emissões dependem das propriedades físico-químicas, toxi- cológicas e ecotoxicológicas das substâncias envolvidas, bem como das condições atmosféricas, geológicas e geográficas. Essas emissões, assim como os incêndios, podem provocar efeitos tanto agudos quanto crônicos, como carcinogenicidade, teratogenici- dade, mutagenicidade e danos a órgãos-alvos específicos6,8,57. Um único evento deste tipo pode se constituir em verdadeira catástrofe, tal como ocorrido no maior acidente químico da história em Bophal, na índia, em 1984 (Tabela 1).

Seveso: O Protótipo do Acidente Químico Ampliado

Conforme observam Bertazzi e col.^10 , embora o acidente de Seveso possua características que lhe são específicas, pode representar um protótipo exemplar dos perigos à saúde e ao meio ambiente associados à produção industrial de substâncias químicas. O acidente ocorreu no dia 10 de julho de 1976 na indústria química Icmesa. Uma reação ines- perada em um reator provocou o rompimento do disco de segurança, resultando na emissão atmos- férica de uma nuvem tóxica contendo triclorofenol, triclorofenato de sódio, etileno glicol, hidróxido de sódio e substanciais quantidades de dioxina. A nuvem contendo dioxina liberada no acidente se estendeu por uma grande área (1.786 hectares), atingindo 37.234 seres humanos, não tendo sido detectada imediatamente a gravidade do mesmo. Poucos dias após a emissão, foram observados sinais de uma séria contaminação ambiental, incluindo danos à vegetação, aos pássaros e aos animais domésticos. Especialmente entre as cri- anças ocasionou queimaduras, lesões causticas e inflamações nas partes não cobertas do corpo, surgindo logo após a cloracne em 193 pessoas, sendo 170 em menores de 15 anos9,10. A demora no fornecimento de informações, por parte da indús- tria, contribuiu para que as ações de emergência fossem iniciadas somente quando se evidenciaram os danos ao meio ambiente e à saúde. Alguns dos ingredientes que compuseram esse acidente se encontram presentes em grande parte dos acidentes químicos ampliados. O primeiro é a localização muito próxima a uma área habitada de uma indústria química que emprega substâncias extremamente tóxicas. O segundo é um evento acidental causado por um descontrole das condições operacionais normais durante o processo de síntese industrial, resultan- do na emissão dessas substâncias. O terceiro é a natureza apenas parcialmente conhecida dos efeitos previstos, incluindo, além dos efeitos agu- dos severos, prováveis efeitos crônicos, que se evidenciam até décadas após o acidente^10. Por exemplo, a dioxina, suspeita de causar câncer em seres humanos, é objeto de dúvidas e controvér- sias até hoje4,11,17, de modo que a população atingida ainda é alvo de vigilância epidemiológi- ca e de estudos para melhor identificar os efeitos crônicos. O quarto ingrediente é a demora em se obter informações precisas sobre as substâncias químicas envolvidas, seus efeitos e as medidas de emergência a serem tomadas^58.

divisão internacional do trabalho e dos riscos, ca-

racterizada por dois processos inter-relacionados. O primeiro é o de exportação dos perigos através de transferência de tecnologias, indústrias, produ- tos e rejeitos perigosos dos países de economia central para os de economia periférica. O segundo é o duplo padrão, onde indústrias multinacionais adotam padrões inferiores de segurança industrial e proteção ao meio ambiente, à saúde dos traba- lhadores e às comunidades expostas nos países de economia periférica15,16,39,44,69. Estes padrões inferi- ores de segurança industrial, proteção ao meio ambiente e à saúde são também muitas vezes encontrados nas indústrias nacionais em compara- ção com similares nos países de economia central. Esses processos, inerentes ao modelo de desen- volvimento econômico vigente, são sustentados pela ausência e fragilidade de restrições legais e controle social sobre os riscos químicos nos países de economia periférica, cuja dinâmica da divisão do trabalho e dos riscos é, de certo modo, também reproduzida em nível interno desses países^65. O resultado da inter-relação entre divisão do trabalho e modelos de desenvolvimento nacionais e inter- nacionais implicou a transferência de riscos quími- cos para as áreas mais pobres e periféricas aos grandes centros urbanos, definindo assim as áreas salubres e seguras das áreas insalubres e inse- guras35,35,65. Os acidentes de Bophal, San Juan de Ixhuatepec e Vila Socó ocorreram exatamente nas áreas onde havia a combinação de largo contin- gente populacional pobre e marginalizado de aces- so a bens e serviços, com fontes de riscos de aci- dentes químicos ampliados, resultando numa grande vulnerabilidade social das mesmas e, con- seqüentemente, na morte de centenas ou mesmo milhares de pessoas num único evento. As condições sociais e políticas que contribuíram em 1984 para tornar esses acidentes, os mais graves já registrados nos últimos anos, continuam presentes, cabendo às populações mais pobres dos países de economia periférica arcar com o ônus de suas vidas e saúde para sustentar um modelo econômi- co iníquo na sua natureza e dinâmica.

Acidentes Químicos Ampliados no Contexto Brasileiro: O Caso do Rio de Janeiro

O Brasil, em termos de óbitos imediatos, já foi

cenário de alguns acidentes químicos ampliados, além do de Vila Socó em 1984. No ano de 1983, em Pojuca, na Bahia, o descarrilamento de um comboio ferroviário transportando combustíveis resultou em explosão e incêndio, provocando o óbito de 43 pessoas, além de grande número de lesionados e desabrigados29,60. O Estado do Rio de Janeiro, o qual já foi cenário de alguns acidentes químicos ampliados com grande número de óbitos imediatos, pode se constituir num exemplo do contexto brasileiro. Em 1951, um acidente com transporte de inflamáveis causou 54 óbitos. Uma explosão, em 1972, na Refinaria Duque de Caxias (Petrobrás), na Baixada Fluminense, resultou no óbito de 38 trabalhadores. No ano de 1984, um incêndio na plataforma de produção de petróleo de Enchova (Petrobrás), na Bacia de Campos, teve como con- seqüência 40 óbitos29,60. Nesse mesmo ano, segun- do o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Petroquímica do Município de Duque de Caxias, uma explosão na indústria Petroflex resultou em 17 óbitos entre trabalhadores de empreiteiras. Atualmente, o Estado do Rio de Janeiro possui em seu território cerca de 20% das grandes indús- trias químicas em termos de faturamento econômi- co '. Sua localização geográfica o faz situar entre os pólos industriais químicos de São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia, fazendo com que diaria- mente haja uma grande circulação de transportes de cargas perigosas em sua rede viária. Estas ca- racterísticas, aliadas ao signficativo volume de extração e refino de petróleo, e ao fato de a cidade do Rio de Janeiro possuir um porto de grande porte, contribuem para que haja um grande fluxo de transporte de substâncias químicas no Estado. Além do transporte - principalmente pelas vias rodoviária e marítima e dutos -, há uma consi- derável produção industrial e armazenamento. Esses fatores têm contribuído para que venha ocorrendo no Estado número significativo de inci- dentes/acidentes químicos registrados pelo Serviço de Controle de Poluição Acidental da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente - SCPA-FEEMA - nas atividades de produção, transporte e armazenamento, conforme pode ser verificado na Tabela 2. Nas atividades de produção e transporte, que correspondem a 95% do total de incidentes/acidentes no período, cerca de 80% têm resultado em emissões diretas ou perda de produtos, tendo alguns envolvido subs- tâncias extremamente perigosas, tais como cloro, amônia, sulfeto de hidrogênio, chumbo tetraetila e fosgênio. Emissões acidentais a partir de explosões e incêndios são também registradas pelo SPCA-FEEMA, situando em torno de 10% cada um destes tipos de eventos^28.

Quanto à distribuição geográfica dos inci-

dentes/acidentes verifica-se na Tabela 2, que

grande parte (52%) atingiu principalmente a

Região Metropolitana, a de maior densidade

demográfica, tendo alguns ocorridos em áreas

pobres e de grande contingente populacional. A

Região do Médio Paraíba foi a segunda mais

atingida (29%), sendo o rio Paraíba do Sul e seus

afluentes, de onde vem a água fornecida para cerca

de 80% da população do Estado, alvo freqüente de

emissões acidentais.

A ausência de algumas informações básicas

que permitam uma avaliação preliminar dos

impactos desses eventos, tais como estimativas de

danos ambientais, número de expostos e evacua-

dos, assim como o registro de vítimas, constitui-se

num dos limites dos dados do SPCA-FEEMA.

levantou 587 eventos com emissões químicas

perigosas em três bases de dados dos EUA, em

1986, que resultaram em, no mínimo, 115 óbitos,

2.254 lesionados e 111 evacuações.

Assim, embora os dados do SPCA-FEEMA

constituam a principal referência para a investi-

gação sobre acidentes químicos ampliados no Rio

de Janeiro, eles se mostram bastante limitados

com relação às informações básicas para uma

avaliação preliminar dos impactos à saúde que

podem estar sendo causados pelos mesmos, tanto

para vítimas fatais, como para lesionados e

expostos. Considerando que os trabalhadores

e as comunidades49,72^ dos países de economias

periféricas tendem a apresentar uma maior

suscetibilidade às emissões de substâncias quími-

cas, por conta de fatores tais como má nutrição,

Mesmo eventos com substâncias químicas onde as

vítimas imediatas foram evidentes, tais como o

incêndio na plataforma de Enchova e a explosão

na Petroflex, anteriormente comentados, não

foram registrados pelo SPCA-FEEMA, não cons-

tando também nas estatísticas mundiais utilizadas

para o presente artigo19,29,41,64,73.

A existência de estudos realizados em bases de

dados sobre esses tipos de acidentes nos EUA,

onde eram registrados expostos e vítimas, mostra

ser o não-registro de vítimas nos acidentes ocorri-

dos no Rio de Janeiro uma conseqüência da ausên-

cia de uma política, particularmente no campo da

saúde pública, para esses tipos de eventos. Num

estudo sobre acidentes químicos ampliados nas

atividades de transporte, entre janeiro de 1982 e

setembro de 1983, na Califórnia, EUA, Shaw e

col encontraram uma média de aproximadamente

3 pessoas por acidente para 62 eventos onde havia

informações sobre pessoas expostas. Binder

ausência de saneamento básico e prevalência de

doenças infecto-contagiosas, o quadro é bastante

preocupante.

Os resultados e limites apresentados sobre os

dados do SPCA-FEEMA, no Estado do Rio de

Janeiro, revelam duas questões importantes. A

primeira refere-se aos riscos que os trabalhadores

envolvidos nas atividades de produção, transporte

e armazenamento de substâncias químicas, bem

como as comunidades expostas a esses tipos de

eventos, vem sendo submetidos sem, contudo,

haver uma legislação e infra-estrutura específicas

nos serviços de saúde e órgãos de meio ambiente

para o controle e prevenção dos mesmos. A

segunda refere-se à necessidade da saúde pública

atuar em conjunto com os órgãos ambientais na

formulação de propostas para que algumas das

deficiências, tais como a falta de registros adequa-

dos, monitoramento e avaliação das conseqüên-

cias, que por vezes chegam a acarretar em vítimas

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