Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Percepções e Desafios do Ensino da História da África na Escola Brasileira, Manuais, Projetos, Pesquisas de História

Uma análise de uma pesquisa realizada com alunos de uma escola municipal sobre a introdução do ensino da história da áfrica na sala de aula brasileira. O texto destaca as dificuldades e necessidades enfrentadas na implantação deste ensino, além de destacar autores que abordaram a educação, democracia, liberdade, integração social, preconceito, movimentos sociais e cultura relacionados à história do negro no brasil. O documento também discute a importância de obras de autores como freyre, fernandes e silva, entre outros, para a compreensão da história do negro no brasil e sua inserção na sociedade.

O que você vai aprender

  • Qual é a importância da história da África para a formação da cultura brasileira?
  • Quais são as dificuldades e as necessidades da introdução do ensino da história da África em salas de aula no Brasil?
  • Qual é a importância de eliminar os preconceitos étnicos no seio da sociedade brasileira?

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2015

Compartilhado em 18/06/2015

cesar-luiz-ferreira-7
cesar-luiz-ferreira-7 🇧🇷

1 documento

1 / 14

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
7
AFRODESCENTE: A GESTAÇÃO E AS DORES DO PARTO DA SUA
EDUCAÇÃO.
Alencar Rodrigues de Carvalho
1
César Luiz Ferreira
2
Resumo: Esse artigo pretende analisar historicamente a introdução do negro na educação, suas
dificuldades, a falta de politica adequada no pós-abolição. Analisar a pesquisa e entrevista
realizada com alunos da Escola Municipal Parque Santa Cecilia, onde podemos perceber as
dificuldades e as necessidades da introdução do ensino da história da África em salas de aula
para que seja quebrado o “tabu” que circunda a história dos afrodescendentes no Brasil. A
metodologia adotada consta da analise bibliográfica de autores que associam educação,
democracia, Liberdade, integração social, preconceito, movimentos sociais e cultura
destacando Fernandes (2008), Freyre (2006), Skidmore (1989), Guimarães (2002), Bastos
(2006) e Silva (1995) entre outros.
Palavras-chave: Preconceito. Educação. África. Movimento social. Democracia.
INTRODUÇÃO.
A introdução do negro na sociedade brasileira tem sido objeto de estudos e
compreensões difusas desde sua chegada como escravo até os dias de hoje. O racismo, o
preconceito tem permeado sua história e sua inserção social o que tem dificultado bastante à
quebra desse tabu e do rompimento dos laços históricos escravistas que delinearam sua
educação e socialização.
Silva em sua obra Racismo à Brasileira - Raízes Históricas os relaciona vários
momentos e de homens que se furtaram ou que influíram nesse processo de aceitação e
rejeição do negro no meio social.
Freyre foi um dos primeiros escritores a enveredar no cerne da questão. Seu
pensamento e suas compreensões foram e ainda são objetos estudos. As criticas positivas e
1
Graduado em História pela Universidade Católica de Goiás. Professor da rede municipal de ensino. Graduando
no Curso de Docência no Ensino Superior, pela Faculdade Alfredo Nasser;
2
Graduado em História pela Faculdade Alfredo Nasser. Graduando no Curso de Docência no Ensino Superior,
pela Faculdade Alfredo Nasser.
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Percepções e Desafios do Ensino da História da África na Escola Brasileira e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para História, somente na Docsity!

AFRODESCENTE: A GESTAÇÃO E AS DORES DO PARTO DA SUA

EDUCAÇÃO.

Alencar Rodrigues de Carvalho^1 César Luiz Ferreira^2

Resumo: Esse artigo pretende analisar historicamente a introdução do negro na educação, suas dificuldades, a falta de politica adequada no pós-abolição. Analisar a pesquisa e entrevista realizada com alunos da Escola Municipal Parque Santa Cecilia, onde podemos perceber as dificuldades e as necessidades da introdução do ensino da história da África em salas de aula para que seja quebrado o “tabu” que circunda a história dos afrodescendentes no Brasil. A metodologia adotada consta da analise bibliográfica de autores que associam educação, democracia, Liberdade, integração social, preconceito, movimentos sociais e cultura destacando Fernandes (2008), Freyre (2006), Skidmore (1989), Guimarães (2002), Bastos (2006) e Silva (1995) entre outros.

Palavras-chave: Preconceito. Educação. África. Movimento social. Democracia.

INTRODUÇÃO.

A introdução do negro na sociedade brasileira tem sido objeto de estudos e compreensões difusas desde sua chegada como escravo até os dias de hoje. O racismo, o preconceito tem permeado sua história e sua inserção social o que tem dificultado bastante à quebra desse tabu e do rompimento dos laços históricos escravistas que delinearam sua educação e socialização. Silva em sua obra Racismo à Brasileira - Raízes Históricas os relaciona vários momentos e de homens que se furtaram ou que influíram nesse processo de aceitação e rejeição do negro no meio social.

Freyre foi um dos primeiros escritores a enveredar no cerne da questão. Seu pensamento e suas compreensões foram e ainda são objetos estudos. As criticas positivas e

(^1) Graduado em História pela Universidade Católica de Goiás. Professor da rede municipal de ensino. Graduando no Curso de Docência no Ensino Superior, pela Faculdade Alfredo Nasser; 2 Graduado em História pela Faculdade Alfredo Nasser. Graduando no Curso de Docência no Ensino Superior, pela Faculdade Alfredo Nasser.

negativas recebidas ao longo dos anos foram pontos de analises e compreensões diversas e isso proporcionou uma gama de trabalhos que fizeram com que a história do negro tivesse um olhar diferenciado e levantasse bandeiras para que politicas e leis fossem elaboradas para eliminar de vez os ranços preconceituosos que foram gestados por anos a fio. Fernandes com sua analise e estudos de casos dá um novo foco na formação social brasileira para que sejam revistos os valores e a forma como o homem negro foi inserido na sociedade de classe e as mazelas que a delinearam. O racismo, o preconceito e a falta de leis adequadas ao longo do tempo fizeram com que a inserção do negro na sociedade brasileira fosse parte de um processo moroso cerceando e excluindo o Ser negro de direitos humanos aos qual todo homem livre deve ter. Mais recentemente as leis de cotas para negros nas Universidades Públicas para alunos com descendência negra e a inserção obrigatória o ensino da história da África e sua cultura, foram conquistas relevantes para o negro e para a sociedade brasileira que não pode negar sua história e sua composição étnica. O Brasil é um povo miscigenado e os pensamentos de branqueamento que muitos homens acreditaram ser questão de tempo ficaram na história e no tempo. Os ideais de um apuramento de raças não passaram de hipóteses e analises preconceituosa e que muito minaram a inserção do negro na sociedade brasileira. Varias atitudes políticas tem sido tomada no sentido de dá força ao movimento negro, não só no Brasil como no mundo inteiro, uma delas e que certamente tem peso relevante foi o da UNESCO:

Em 18 de dezembro de 2009, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou o ano, começando em 1º de janeiro de 2011 como o Ano Internacional dos Afrodescendentes (A/RES/64/169). Esta atitude visava o fortalecimento de ações nacionais e regionais, além da cooperação internacional para o benefício das pessoas descendentes de africanos em relação ao total usufruto de seus direitos econômico, cultural, social, civil e político; à sua participação e integração em todos os aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais da sociedade, e da promoção de mais conhecimento e respeito por seus patrimônios e culturas diversos. Mais um passo na integração dos afrodescendentes a sociedade. Os meses de março e abril de 2011 foram significativos para a população afrodescendente no Brasil. No ano internacional voltado a esses povos, a representação da UNESCO no país realizou uma série de encontros e debates regionais para lançar a primeira edição em Português da Coleção da UNESCO História Geral de África (HGA),que em paralelo foi entregue a 8 mil bibliotecas universitárias e públicas do país e antes, em dezembro de 2010, disponibilizada gratuitamente online ao público em dezembro de 2010 com apoio e financiamento do Ministério da Educação (MEC) e coordenação técnica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Além de debates e mesas-redondas, programação cultural, atividades relacionadas à tradição afro-brasileira e integração com movimentos sociais também fizeram parte dos eventos.

Freyre também influenciou muitos historiadores e sociólogos em sua época, um deles Roger Bastide^3 , que,

Empreende em 1944 a sua primeira viagem ao Nordeste brasileiro. As impressões recolhidas nessa viagem, muito influenciadas pele leitura de Freyre, ajudaram a formar a sua primeira percepção das relações sociais no Brasil. Essas impressões serão modificadas apenas em 1950, a partir do momento em que Bastide se engaja com Florestan Fernandes numa pesquisa de campo sobre “brancos e negros em São Paulo”, patrocinado pela UNESCO e Revista Anhenbi. (GUIMARÃES, 2002).

Do encontro, Bastide elabora e ministra palestras públicas e leva a cabo a publicações de artigos enfocando as relações sociais brasileiras explorando a ideia de democracia representativa, segundo Guimarães (2002, p. 143), “Bastide reflete sobre a ordem social própria à democracia brasileira, ordem que seria baseada na ausência de distinções rígidas entre brancos e negros. É nesse contexto que aparece, pela primeira vez, a expressão “democracia racial”. Portanto a expressão “democracia racial”, imputada a Freyre, foi usada por Bastide, promovendo uma perspectiva analítica sobre as relações sociais existentes no Brasil. A obra de Freyre permite que se faça uma analise cientifica e promove debates entre autores que se enveredam pela saga do negro e sua ascensão social segundo Grin (2008, p.59), “Freyre produz uma obra balsâmica, pois transforma a miscigenação em fundamento antológico”. Para Grin, a intenção de Freyre era atenuar ou aparar as arestas criadas nas relações entre negros e brancos no Brasil e compreendessem a si mesmo e o contexto social que unia as duas raças^4. As obras de Freyre contribuíram e ainda continuam contribuindo para que se entenda a introdução, a vida e a acessão social do negro e suas relações sociais, politicas, educacionais e culturais no Brasil. Apesar de Freyre provocar cientificamente essas analises desde suas primeiras publicações sobre o tema, elas não foram suficientes para mudar a concepção do Ser negro e de como sua inclusão social. Os resquícios estigmatizados de inferioridade de raça, o racismo que permeiam o seio da sociedade brasileira vem se arrastando com poucas conquistas por parte dos negros.

(^3) Sociólogo e professor Francês que integrou a fundação da Universidade de São Paulo – USP, assumindo a cátedra da Faculdade de Filosofia, interessou-se pela religião afro-brasileira, escreveu vários livros e por quase 20 anos lecionou no Brasil. Formou juntamente com Florestan Fernandes, estudou sobre as relações sociais do negro na cidade de São Paulo em 1950. 4 A Questão Racial no Brasil – 1888 a 1950, página 24.

O certo que Freyre foi capaz de introduzir o pensamento e enaltecê-lo como elemento importante na formação do Brasil. Segundo Sodré (1998, p.67, g rifo nosso ) “Na mistura que se processou o tempo todo, a oferta do escravo (o negro) foi profunda, e se integrou na alma brasileira”. 5 Freyre foi de suma importância para compreensão da história do negro, porém a alcunha a que sofreram seus trabalhos imputando a ele o mito da “democracia racial”, uma igualdade de raças, que atenuaram a submissão social, psicológica e social. Segundo Silva (1995, p.159), “[...] Gilberto Freyre deu o assunto um aspecto de ordem cultural, não admitindo a inferioridade racial, desde logo não transparecendo ter tratado o negro como um ser inferior [...]”. O olhar de Freyre apesar das criticas e dos conflitos, estimulou novos estudos e novas pesquisas e que puderam nortear estudos e compreensões que permitiram mudar leis, criar outras que fizessem o resgate cultural, social e politico do negro. Temos a consciência de muito ainda tem por se fazer e que atitudes politicas, educacionais e sociais merecem atenção especial por parte da classe politica e da sociedade como um todo.

2. FLORESTAN FERNANDES.

Os estudos de Fernandes muito contribuíram para entendermos como ocorreu a inserção do negro na sociedade de classes. As mazelas e os enfrentamos por que passaram os negros, são frutos de forma como ele “entrou” no Brasil. O negro escravizado e tido como objeto, podendo ser comprado e vendido com “peça”, sua abolição envolta de interesses políticos escusos deixaram o negro a mercê de sua própria sorte. Em sua acadêmica e de seus estudos Florestan Fernandes “[...] combinou uma produção fortemente marcada pelos princípios da academia com grande erudição, mas centrada no campo das Ciências Sociais” (MICELI, p.141, 1995). Segundo Ferreira (2010, p. 07) “Mesmo sofrendo com o impacto social e com os preconceitos que determinam as regras da sociedade e os negros sabem diferenciar e entender que existe uma oportunidade e ela está calcada na educação, como enfatizou um dos entrevistados por Fernandes (2008, p. 321): “[...] O problema é antes de tudo de educação. O preto é aceito mesmo sem ser o tal. Os patrões têm medo de aceitar empregados pretos porque

(^5) A Questão Racial no Brasil – 1888 a 1950, página 24.

também que à medida que se capacitava em outras formas de trabalho melhorava sua qualificação, abrindo outros campos de trabalho, que por certo lhes proporcionariam melhor condição de vida financeira. A ambição de subir de vida esta contido nos anseios do negro.

  • Depoimento de Ademar de Barros: “No esporte somos todos Iguais” Fernandes (2008, p.204). O grau de conscientização permite ao negro vantagens sobre o processo de socialização. Como foi conquistado o conhecimento não é relevante, mas, sobretudo lhe interessa o resultado. Sua formação, sua ascensão social, sua projeção, mesmo que ínfima, mas é uma alavanca para seu reconhecimento como ser social, como agente produtor dentro da sociedade de classe. Para Fernandes (2008, p. 208) “O essencial está nas habilidades e aptidões adquiridas. Isso contara na competição com o branco”. No processo de ascensão social percebe-se o grau de conscientização do negro, no depoimento coligidos anotamos alguns que provocam a mente e dão conta que era nítido o desejo de integrar-se socialmente e profissionalmente: a cozinheira que se prepara para ser datilografa; a datilografa que se prepara para ser contadora; a contadora que se prepara para ser modista; ou a domestica que passa a aceitar trabalhos por dia, para ganhar mais, e poder assim instruir os filhos e ter vida descente. Fernandes (2008, p. 212). O negro tem convicção de que tudo que o branco pode fazer o negro também pode. Isso é relevante, pois demonstra que apesar de todas as dificuldades encontradas ele acredita na sua capacidade, acredita que na educação como promoção social e na competição com o branco. A condição social, os valores a ela agregados e a garantia da educação nem sempre são reais, existe uma grande diferença entre querer educar-se e poder ir à escola. O negro tem consciência disso, ela sabe das dificuldades e da falta de politicas adequadas. Para ele o dinheiro, a sobrevivência, sustentar a família é mais importante. Os estudos realizados por Fernandes dão conta dos anos 50 e 60 do século passado e podemos observar que isso ainda permeia a sociedade brasileira e aos mais pobres. A garantia de escola apesar de estar na lei, seu cumprimento ainda é falha. Esses pontos levantados, tanto em Freyre como em Fernandes vão permitir nossa analise sobre os depoimentos coligidos entre os alunos do período noturno da Escola Municipal Parque Santa Cecilia, em Aparecida de Goiânia, e da entrevista com a professora Me Kamilly Barros^6 que permitira a percepção da necessidade latente do ensino da história da

(^6) Professora de História da África da Faculdade Alfredo Nasser em Aparecida de Goiânia.

África nas escolas do Brasil, só assim vamos poder compreender melhor nossa sociedade, nosso povo miscigenado, a rompimento de vez com os preconceitos em relação ao negro, sua cultura e seu passado, e a integração do ser humano, seja ele, branco, negro ou de outra classe, cor, etnia ou religião.

3. ENTREVISTAS.

Essas entrevistas possibilitam a compreensão de como anda o ensino sobre a história da África, sobre o negro e sobre os preconceitos que permeiam nossa sociedade. Elas norteiam como fazer a diferença em salas de aulas, demonstra claramente, como bem disse a professora Me. Kamilly Barros, “existe uma divida do estado brasileiro. Uma divida moral”. Fica evidente a necessidade de se preparar bem professores e docentes para que haja ocorra um abrandamento nas relações sociais e educacionais entre brancos e negros, visto que conforme cita a professora Kamilly “[...] o preconceito é alguma coisa inerente à condição humana [...]”. Assim os trabalhos desenvolvidos por Freyre e Fernandes são de suma importância, assim como outros, para a discussão de como integrar, promover a educação e a inserção do negro na sociedade e de como buscar eliminar, ou que seja abrandar o preconceito étnico, de cor no seio da sociedade brasileira. Segue as entrevistas com alguns alunos da Escola Municipal Parque Santa Cecilia de Aparecida de Goiânia:

Entrevistado 01: Você sabe algo sobre história da África?

  • Já vi reportagem na TV.

Entrevistado 02: Você já presenciou algum ato de discriminação racial?

  • não, não que me lembre. Você acha importante estudar história da África na escola?
  • Acho. É importante para conscientizar as pessoas sobre sua cultura, religiões e outras coisas. Você tem noção do que foi a escravidão?
  • mais ou menos, tenho.

interessados em saber todos os assuntos e principalmente esse. E a “atualidade” hoje esta ministrando isso, né! Ao vivo, nas revistas, nos jornais. Então eu acho interessante.

Entrevistado 06: Você já presenciou algum tipo de preconceito?

  • eu pude ver mesmo. Algum tipo de preconceito. O Que você acha disso?
  • Eu acho errado, porque os direitos humanos são iguais. Eu acho que independente de cor, não tem nada haver, porque os direitos humanos são iguais.

Entrevistado 07: O que você acha de estudar história da África nas escolas? Qual a importância de estudar a história da África nas escolas?

  • o que eu acho? Eu acho importante para conhecer um pouco mais a história da África, porque até hoje existe muito preconceito entre brancos e negros. Porque muitos acham que são melhores que outros, por serem mais brancos, por serem negros. Não existem preconceitos só de brancos, dos negros também, “o cara é branco e ele fala, aquele lá e branquelo demais, é feio”. Não, não é por isso. Porque existe preconceitos de ambas as partes. O importante é estudar sobre a África, para a gente conhecer mais um pouco sobre a nossa cultura. Então a África teve influência sobre nossa cultura, na identidade de nós brasileiros? Você acha que a África teve essa influência?
  • Acho que teve, porque eles deixaram de usar “os escravos brasileiros” para trazer os escravos africanos para o Brasil, para trabalhar como mão de obra nas usinas, trabalhar nos canaviais, trabalhar nos minérios. Por isso que acho que é importância deles no Brasil foi mais importante, um pouco do que nós. Porque eles tiveram que ir lá trazer os africanos para trabalhar como os “brasileiros”.

Entrevistado 08: O que você acha do preconceito racial?

  • O preconceito racial existe não só com os pretos, ele existe de várias maneiras. Existe preconceito de serviço, a pessoa tem um grau de estudo mais do que o outro, (isso) (^10) tudo é preconceito.

Você já presenciou algum tipo de preconceito?

  • Vários. O que você acha de pessoas serem tratadas como objetos, como mercadorias?
  • Uma coisa muito ruim, porque as pessoas tem que ser tratadas iguais.

Podemos perceber que nos depoimentos coligidos através dessas entrevistas como os alunos da Escola Municipal Parque Santa Cecilia que existe consciência da importância dos estudos da história da África em sala de aulas (mesmo que em alguns depoimentos sejam vagas as respostas, outras foram de um profundidade que ínsita a busca por emprenho politico e educacional) de seu valor para a formação da cultura brasileira, de mais um meio, um mecanismo para que se elimine de vez o preconceito entre brancos e negros, apesar que como um dos alunos comenta existe preconceito de diversas formas e não só em relação a cor (etnia).

Entrevista com a Professora Me Kamilly Barros:

Qual a importância de se estudar a história da África no ensino fundamental?

  • Bem, no ensino fundamental a maior importância e justamente desenvolver um senso de identidade. Porque identidade, que se formula a partir do estudo da história da África, diz respeito, necessariamente, da exclusivamente aos negros no Brasil. Mas a toda população brasileira. Porque estudar história da África e entender um pouco nossas origens, do Brasil colônia, consequentemente algumas instituições criadas ali, principalmente à instituição da escravidão que marcou toda história brasileira e que deixou marcas profundas, herança profunda para a sociedade como um todo. Não apenas para os negros, mas para todos que compõem a sociedade brasileira. Estudar história da África é estudar um pouco a origem das instituições, da escravidão, das relações entre as diferenças de mundo, da relação entre as culturas, que posteriormente vieram para o Brasil e constituíram aqui uma sociabilidade.

(^10) Grifo nosso.

falta de preparo que eu vejo em muitas escolas, pessoas com muitos preconceitos e que não conseguem ministrar essas aulas de maneira satisfatória e que vão usar essas aulas para reproduzir ainda mais preconceitos, isso vai ser um desserviço. A coisa precisa ser feita com seriedade e precisa haver uma formação adequada para esses professores. Formação não só de conteúdo de história da África propriamente dito ou de aspectos da cultura afro-brasileira, mas uma preparação no sentido antropológico do termo mesmo entendeu? As pessoas precisam se despir de seus preconceitos, de ideias preconcebidas, de valores deturpados, para poder realmente ensinar história da África e história da cultura afro-brasileira, de uma maneira realmente descente e que vá promover essa tolerância, essa igualdade, e não acirrar ainda mais as contradições.

Da entrevista da professora Kamilly podemos compreender, de algumas frases que sintetizam as necessidades e os valores intrínsecos na história dos negros e na sua formação educacional. São mais de trezentos anos de desmandos e tentativas para integrar o negro na sociedade brasileira e dá a eles a mesma importância tanto no trato cultural como social.

  • “[...] Maior importância é justamente desenvolver um senso de identidade [...];
  • “[...] Preconceitos barreiras entre pessoas [...]” e
  • “[...] Existe uma dívida do Estado brasileiro [...]”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

A história é clara, objetiva, sem falsas verdades. Mas as verdades não são e tão pouco podem ser absolutas. Portanto a história do Brasil, da África, do negro, da mistura de raças, etnias, classes sociais, da cultura e da educação com toda certeza são verdades absolutas. Não podemos furtar na busca, ou seja, no resgate de nossa cultura, da formação de um povo, miscigenado, mas que além de tudo devem honrar-se e referenciar-se aos erros e acertos políticos, sociais e democráticos que desde a “descoberta” de suas terras, suas lutas e superação de sua colonização, escravização, que mais que uma vergonha social, pode ser reparada com atitudes anti-raciais, antidemocráticas, antipolíticas e acima de tudo uma democracia étnica e social.

Elegendo como bandeira a educação de crianças, jovens e adultos e a intelectualidades dos homens e mulheres que formam esta nação, uma nação não de cor, mas de valores éticos e humanos forjados no respeito e nas culturas formativas dessa nação, extirpando o preconceito, seja ele de cor, de raças ou classes do seio da mãe pátria. Só assim poderemos alcançar o tão almejado ideário democrático que formam as grandes nações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BASTOS, Elide Rugai. As Criaturas de Prometeu. São Paulo: Global, 2006.

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. 5. Ed. São Paulo: Globo, 2008. Vol. I e II.

FERREIRA, César Luiz. A questão racial no Brasil, 1888 a 1950. 44 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Curso de História, Faculdade Alfredo Nasser, Aparecida de Goiânia, 2010.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 51 ed. São Paulo: Globo, 2006.

GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Classes, Raças e Democracia. São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, Editora 34, 2002.

MICELI, Sérgio (org.). História das ciências sociais no Brasil. São Paulo: Editora Sumaré: FAPESP, 1995. Vol. II.

NINA RODRIGUES, Raymundo. Os Africanos no Brasil. São Paulo, Madras, 2008.

SILVA, Martiniano José da. Racismo a brasileira: raízes históricas: um novo nível de reflexão sobre a história social do Brasil. 3 ed. São Paulo: Editora Anita, 1995.

SKIDMORE, Thomas. Preto no branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1989.

PRESIDÊNCIA DA REPUBLICA, Casa Civil, Subchefia para assuntos Jurídicos. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L0601-1850.htm> Acesso em 12 out. 2010.

UNESCO: Disponível em <http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/prizes- and-celebrations/international-year-for-people-of-african-descent/>Acesso em 21 fev. 2013.

A ÁFRICA EM DESTAQUE. Produção de César Luiz Ferreira. Aparecida de Goiânia: ISI – Instituto Superior de Educação, 2009. DVD.