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amor por anexins, Notas de estudo de Administração Empresarial

amor por anexins

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 15/02/2011

frank-sinatra-3
frank-sinatra-3 🇧🇷

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Amor por anexins, de Artur Azevedo
Fonte:
AZEVEDO, Artur. A capital federal , O badejo , A jóia , Amor por anexins. [estabelecimento de texto: Prof.
Antonio Martins de Araújo]. Rio de Janeiro: Ediouro. (Prestígio).
Texto proveniente de:
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo
Permitido o uso apenas para fins educacionais.
Texto-base digitalizado pela voluntária:
Selma Suely Teixeira – Curitiba/PR
Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima
sejam mantidas. Para maiores informações, escreva para <bibvirt@futuro.usp.br>.
Estamos em busca de patrocinadores e voluntários para nos ajudar a manter este projeto. Se você quer
ajudar de alguma forma, mande um e-mail para <bibvirt@futuro.usp.br> e saiba como isso é possível.
Amor por Anexins
Artur Azevedo
Entreato cômico
Esta farsa, entremez, entreato, ou que melhor nome tenha
em juízo, o meu primeiro trabalho teatral, foi escrito mais de
sete anos, no Maranhão, para as meninas Riosa, que a
representaram em quase todo o Brasil e até em Portugal. Pô-la em
música e em boa música, Leocádio Raiol; mas ultimamente
representaram-na sem ela Helena Cavalier e Silva Pereira:
desencaminhara-se a partitura. Tem agora nova música, e não
inferior, de Carlos Cavalier.
Personagens
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Amor por anexins , de Artur Azevedo

Fonte: AZEVEDO, Artur. A capital federal , O badejo , A jóia , Amor por anexins. [estabelecimento de texto: Prof. Antonio Martins de Araújo]. Rio de Janeiro: Ediouro. (Prestígio).

Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro http://www.bibvirt.futuro.usp.br A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo Permitido o uso apenas para fins educacionais.

Texto-base digitalizado pela voluntária: Selma Suely Teixeira – Curitiba/PR

Este material pode ser redistribuído livremente, desde que não seja alterado, e que as informações acima sejam mantidas. Para maiores informações, escreva para bibvirt@futuro.usp.br.

Estamos em busca de patrocinadores e voluntários para nos ajudar a manter este projeto. Se você quer ajudar de alguma forma, mande um e-mail para bibvirt@futuro.usp.br e saiba como isso é possível.

Amor por Anexins

Artur Azevedo

Entreato cômico

Esta farsa, entremez, entreato, ou que melhor nome tenha

em juízo, o meu primeiro trabalho teatral, foi escrito há mais de

sete anos, no Maranhão, para as meninas Riosa, que a

representaram em quase todo o Brasil e até em Portugal. Pô-la em

música e em boa música, Leocádio Raiol; mas ultimamente

representaram-na sem ela Helena Cavalier e Silva Pereira:

desencaminhara-se a partitura. Tem agora nova música, e não

inferior, de Carlos Cavalier.

Personagens

Isaías.................................................................................................. solteirão

Inês......................................................................................................... viúva

Um Carteiro.....................................................................................................

A cena passa-se no Rio de Janeiro.

Época, atualidade.

Ato Único

Sala simples, janela à esquerda, portas ao fundo e à direita. Mesa à esquerda com preparos de costura. Num dos cantos da sala uma talha d’água. Cadeiras.

  • Cena I - (Inês)

Inês ( Cose sentada à mesa, e olha para a rua, pela janela .) – Lá está parado à esquina o homem dos anexins! Não há meio de ver-me livre de semelhante cáustico. Ora eu, uma viúva, e, de mais a mais com promessa de casamento, havia de aceitar para marido aquele velho! Não vê! E ninguém o tira dali! Isto até dá que falar à vizinhança... ( Desce à boca de cena .)

Copla Eu, que gosto, perdido Tenho casamentos mil, Com mais de um belo marido, Garboso, rico e gentil, De um velho agora a proposta, Meu Deus! Devia aceitar? Demais um velho que gosta De assim tão jarreta andar! Nada! Nada! Não me agrada! Quero um marido melhor! É bem mau não ser casada, Mas mal casada é pior.

Ainda hoje escreveu-me uma cartinha, a terceira em que me fala de amor, e a Segunda em que me pede em casamento. ( Tira uma carta da algibeira .) Ela aqui está. ( .) “Minha bela senhora. Estimo que estas duas regras vão encontrá-la no

Isaías – Vim em pessoa saber da resposta de minha carta: quem quer vai e quem não quer manda; quem nunca arriscou nunca perdeu nem ganhou; cautela e caldo de galinha... Inês ( Interrompendo-o .) – Não tenho resposta alguma que dar! Saia, senhor! Isaías – Não há carta sem resposta... Inês ( Correndo à talha e trazendo um púcaro cheio d’água ) – Saia, quando não... Isaías ( Impassível .) – Se me molhar, mais tempo passarei a seu lado; não hei de sair molhado à rua. Eh! Eh! Foi buscar lã e saiu tosquiada... Inês – Eu grito! Isaías – Não faça tal! Não seja tola, que quem o é para sim pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue! Não exponha a sua boa reputação! Veja que sou um rapaz; a um rapaz nada fica mal... Inês – O senhor, um rapaz?! O senhor é um velho muito idiota e muito impertinente! Isaías – O diabo não é tão feio como se pinta... Inês – É feio, é!... Isaías – Quem o feio ama bonito lhe parece. Inês – Amá-lo eu?! Nunca... Isaías – Ninguém diga: desta água não beberei... Inês – É abominável! Irra! Isaías – Água mole em pedra dura, tanto dá... Inês – Repugnante! Isaías – Quem espera sempre alcança. Inês – Desengane-se! Isaías – O futuro a Deus pertence! Inês – Há alguém que me estima deveras... Isaías – Esse alguém ( Naturalmente .) sou eu. Inês – Isso era o que faltava! ( Suspirando .) Esse alguém... Isaías – Quem conta um conto, acrescenta um ponto... Inês – Esse alguém é um moço tão bonito... de tão boas qualidades... Isaías – Quem elogia a noiva... Inês – O senhor forma com ele um verdadeiro contraste. Isaías – Quem desdenha quer comprar... Inês – Comprar! Um homem tão feio!... Isaías – Feio no corpo, bonito na alma. Inês ( Sentando-se .) – Deus me livre de semelhante marido! Isaías – Presunção e água benta cada qual toma a que quer... ( Senta-se também .) Inês ( Erguendo-se .) – Ah, o senhor senta-se? Dispõe-se a ficar! Meu Deus, isto foi um mal que me entrou pela porta! Isaías ( Sempre impassível .) – Há males que vêm para bem. Inês – Temo-la travada. Isaías – Venha sentar-se a meu lado. ( Vendo que Inês senta-se longe dele .) Se não quiser, vou eu... ( Dispõe-se a aproximar a cadeira .) Inês – Pois sim! Não se incomode! ( Faz-lhe a vontade .) Não há remédio! Isaías ( Chegando mais a cadeira .) – O que não tem remédio remediado está. Inês ( Afastando a sua. ) – O que mais deseja? Isaías – Diga-me cá: o seu noivo? ... ( Faz-lhe uma cara .) Inês – Não entendo. Isaías – Para bom entendedor meia palavra basta...

Inês – Mas o senhor nem meia palavra disse! Isaías – Pergunto se... fala francês... Inês – Como? Isaías – Ora bolas! Quem é surdo não conversa! Inês – Mas a que vem essa pergunta? Isaías ( Naturalmente .) – Quem pergunta quer saber. Inês – Ora! Isaías ( Sentencioso .) – Dois sacos vazios não se podem Ter de pé. Inês – Essa teoria parece-se muito com o senhor. Isaías – Por quê? Inês – Porque já caducou também. Isaías ( Formalizado .) – Então eu já caduquei, menina? Isso é mentira. Inês – É verdade. Isaías – Não é. Inês – É. Isaías – Pois se é, nem todas as verdades se dizem. ( Ergue-se e passeia .) Inês – Ah! O senhor zanga-se? É porque quer; não me viesse dizer tolices! ( Ergue-se .) Isaías ( Interrompendo o seu passeio, solenemente. ) – Na casa em que não há pão, todos ralham, ninguém tem razão. Inês – Ora! Somos ainda muito moços! Isaías – Quem? Nós? Inês ( De mau humor .) – Não falo do senhor: falo dele... Isaías – Ah! Fala dele... Inês – Havemos de trabalhar um para o outro... Isaías – É bom, é: Deus ajuda a quem trabalha.

Canto

Inês – Sem desgosto viveremos, Seremos ricos, talvez; Muitos morgados teremos... Isaías – Mas um só de cada vez... ( Zangado .) A faceira Talvez convidar-me queira Para padrinho de algum! Inês – E não suponha que, apesar de pobre, não me faça bonitos presentes o meu noivo. Isaías – É! Quem cabras não tem e cabritos... Inês – Insulta-o? Isaías – Cão danado, todos a ele! Pois eu havia de insultá-lo, senhora? Inês – Se estivesse calado... Isaías – Sim, senhora: em boca fechada não entram mosquitos... mas é que o seu futurozinho me interessa... Inês – Muito obrigada. ( Senta-se .) Isaías – Não há de quê. Se bem que eu não seja nenhum Matusalém, estou no caso de lhe dar conselhos. Ouça-me; quem me avisa meu amigo é; quem à boa árvore se chega, boa sombra o cobre. Inês – Mesmo por já estar no caso de me dar conselhos, é que o não quero para marido.

Isaías – E eu tenho que fazer cá dentro. Um dia bom mete-se em casa. ( Pausa .) Olhe, senhora, olhe bem para mim acha-me feio; não acha? Inês – Ai, ai, ai!... Isaías – Eu também acho, e feliz é o doente que se conhece. Mas muitas vezes as aparências enganam e o hábito não faz o monge. Experimente e verá. ( Suplicante .) Case comigo. Inês – Gentes! Isaías – Ah! Se fôssemos casadinhos, outro galo cantaria! Por exemplo: em vez de sair agora à rua, com este sol de matar passarinho, mandava-me a mim, ao seu maridinho... Inês ( Arremedando-o .) – Ao seu maridinho... ( À parte .) Oh! Que idéia! Vou me ver livre dele. ( Alto .) Então, sem sermos casados, não pode prestar-me um pequeno serviço? Isaías – Conforme o serviço: ponha os pontos nos ii. Inês – Se me fosse comprar três metros de escumilha. Olhe... Aqui tem a amostra... No armarinho do Godinho.. Sabe onde é? Isaías – Sei; mas quando não soubesse? Quem tem boca vai a Roma. Inês – Está contrariado? Isaías – O que vai por gosto regala a vida. Inês – Tome o dinheiro. Isaías – Nada... não é preciso... ( Vai saindo e estaca .) Diabo! Não me lembra um ditado a propósito! ( Sai .)

  • Cena IV – (Inês)

Inês – Está bem aviado... Quando voltares, hás de achar a porta fechada. Safa! Que maçador! Agora, tratemos de sair: são mais que horas. ( Aparece à porta um carteiro .)

  • Cena V – Inês, o Carteiro

O Carteiro – Boa tarde, minha senhora. Inês – Boa tarde. O que deseja? O Carteiro – Aqui tem esta carta... é da caixa urbana... Inês – Uma carta? ( Recebendo a carta, consigo .) De quem será? ( Ao carteiro .) Obrigada. O Carteiro – Não há de quê, minha senhora. Passe muito bem! Inês - Adeus. ( O carteiro sai .)

  • Cena VI – (Inês)

Inês – Ah! A letra é de Filipe. Faz bem em escrever-me o ingrato! Há doze dias que nos não vemos... ( Abre a carta e lê. Jogo de fisionomia. ) “Inês. Peço-te perdão por Ter dado causa a que perdesses comigo o teu tempo. Ofereceram-me um casamento

vantajoso, e não soube recusar. Ainda uma vez perdão! Falta-me o ânimo para dizer- te mais alguma coisa. Dentro em uma semana estarei casado. Esquece-te de mim – Filipe.” ( Declamando .) Será possível! Oh! Meu Deus! ( Relendo .) Sim... cá está... é a sua letra... ( Depois de ter ficado pensativa um momento .) Ora, adeus. Eu também não gostava dele lá essas coisas... Digo mais, antes o Isaías; é mais velho, mais sensato, tem dinheiro a render, e Filipe acaba de me provar que o dinheiro é tudo nestes tempos. Espero aqui o Isaías com o meu “sim” perfeitamente engatilhado! Oh! O dinheiro...

Recitativo Louro dinheiro, soberano esplêndido, Força, Direito, Rei dos reis, Razão. Que ao trono teu auriluzente e fúlgido Meus pobres hinos proclamar-te vão.

Do teu poder universal, enérgico, Ninguém se atreve a duvidar! Ninguém! Rígida mola desta imensa máquina, Fácil conduto para o eterno bem!

Aos teus acenos, Deus antigo e déspota, Aos teus acenos, Deus modernos e bom, Caem virtudes e se exaltam vícios! Todos te almejam precioso Dom!

Inda hás de ser o derradeiro ídolo, Inda hás de ser a só religião, Louro dinheiro, soberano esplêndido, Força, Dinheiro, Rei dos reis, Razão!...

  • Cena VII – Inês, Isaías

Isaías ( Entrando .) – Quem canta seus males espanta. Inês – Já de volta! O senhor foi a correr! Isaías – Nada! Quem corre cansa. Encontrei outro armarinho mais perto... Inês ( Tomando a fazenda .) – Muito obrigada. Quanto custou? Isaías – Um pau por um olho. Mil e duzentos o metro... Inês – Pois olhe: o outro vende mais barato. Isaías – O barato sai caro, e mais vale um gosto do que quatro vinténs. Inês – Regateou?

Inês – Mas imponho também a minha condição... Isaías – Imponha: manda quem pode. Inês – Se conseguir levar meia hora sem... Isaías – Sem praguejar?... Inês – Não! Sem dizer um anexim! Se conseguir, é sua a minha mão. Isaías – Deveras? Inês ( Sentando-se .) – Deveras. Isaías – Mas eu posso estar calado? Inês – Como assim?! Era o que faltava! Há de falar pelos cotovelos! Isaías – Isso é um pouco difícil: o costume faz lei... Inês – Ai, que escapou-lhe um! Isaías – Pois o que quer? A continuação do cachimbo... Inês – Faz a boca torta, já duas vezes. Isaías – Nas três o diabo as fez. Inês – Ai, ai, ai! Vamos muito mal! Isaías – Ma não tínhamos ainda entrado em campo... Aqueles foram ditos de propósito. Agora sim! Agora é que são elas! Inês – Outro! Isaías – Protesto! “Agora é que são elas” nunca foi anexim. A César o que é de César! Inês – O senhor vai perder... Olhe: são duas horas. (Aponta para um relógio que deve estar sobre a mesa.) Aceita o desafio? ( Pausa .) Bem. Quem cala consente... Isaías – Ah! Agora é a senhora quem os diz! Virou-se o feitiço contra o feiticeiro... Inês – Ai, ai! Isaías – Foi engano. Inês – Dos enganos comem os escrivães. ( Pausa .) Então? Diga alguma coisa... Isaías – O que hei de dizer.. senão.... que gosto muito da senhora... e... Inês – Pois diga: vai tantas vezes o cântaro à fonte, que lá fica. Isaías – Não me provoque, senhora, não me provoque! Inês – Cada qual puxa a brasa para sua sardinha... Isaías ( Agitado .) – Brasa! Sardinha! Oh! Que suplício! Inês – O que tem o senhor? Isaías – Nada... não tenho nada... é que esta proibição me incomoda... Este maldito costume... parece que não estou em mim... Inês – Sabe o que mais? Isaías – Vou saber. Inês – Diga o que quiser! Abra a torneira dos anexins, ditados, rifões, sentenças, adágios e provérbios... Fale, fale para aí? Isaías – E a condição? Inês – Caducou. ( Dando-lhe a mão .) Aqui tem: sou sua. Isaías ( Contente .) – Minha! ( Em outro tom .) E os outros? Inês – Não existem, nunca existiram! Isaías – Pois estou acordado? Se estiver dormindo, deixa-me estar: não me acordes. Inês – Está bem acordado. Isaías – Estou?! ( Pulando de contente .) Então viva Deus! Viva o prazer! ... Trá lá lá rá lá! ( Quer abraçá-la .) Inês ( Gritando .) – Alto lá! Mais amor e menor confiança! Isaías – E que o rato nunca comeu mel, quando come.. ( Outro tom .) Pode-se dizer este ditadozinho?...

Inês – Quantos quiser! Isaías ( Concluindo .) – ... se lambuza! ( Tomando-lhe as mão s.) E tu? Amas-me, meu bem? Inês – Sossegue: o amor virá depois. Seja bom marido e deixe o barco andar! Isaías – Apoiado. Roma não se fez num dia! Inês – E tenha sempre muita fé nos seus anexins. Isaías – É verdade: O que tem de ser tem muita força. O homem põe... e a mulher dispõe!... Inês – Basta! Despeça-se destes senhores, e vá tratar dos papéis... Isaías – Quem tem boca não manda... cantar. Mas, enfim... ( Ao público .)

Copla final

Antes que daqui nos vamos, Inês vos dirá quais são Os votos que alimentamos No fundo do coração.

Inês - Os votos que neste instante Fazemos nestes confins ( Deita a mão sobre o coração .) É que nos ameis bastante Embora por anexins.

Ambos- Muitas palmas esperamos De vós: Metade para o autor, metade para nós.

( Cai o pano .)

• FIM -