Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Antonio Damasio - O Mistério da Consciencia, Notas de estudo de Filosofia

Livro em pdf.

Tipologia: Notas de estudo

2018

Compartilhado em 13/04/2018

silvio-pereira
silvio-pereira 🇧🇷

4.7

(19)

8 documentos

1 / 690

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
http://br.groups.yahoo.com/group/digital_source/
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a
pf4b
pf4c
pf4d
pf4e
pf4f
pf50
pf51
pf52
pf53
pf54
pf55
pf56
pf57
pf58
pf59
pf5a
pf5b
pf5c
pf5d
pf5e
pf5f
pf60
pf61
pf62
pf63
pf64

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Antonio Damasio - O Mistério da Consciencia e outras Notas de estudo em PDF para Filosofia, somente na Docsity!

http://br.groups.yahoo.com/group/digital_source/

ANTÔNIO DAMÁSIO

O mistério da consciência

Do corpo e das emoções ao conhecimento de si

Tradução Laura Teixeira Motta

Revisão técnica Luiz Henrique Martins Castro

2ª reimpressão

Para Hanna

Ou a cachoeira, ou música ouvida com tanta atenção, que você não ouve, mas é a música, enquanto dura. Sinais e pressentimentos, só isso, aqui, sinais e depois pressentimentos; e o resto é reza, observância, disciplina, pensamento e ação. O sinal vagamente pressentido, a dádiva vagamente entendida, é a Encarnação. T. S. Eliot, “Dry salvages”, de Four quartets

A questão de quem eu era me consumia. Convenci-me de que não encontraria a imagem da pessoa que eu era: segundos se passaram. O que em mim aflorava à superfície mergulhava e sumia de vista de novo. E no entanto eu sentia que o momento de minha primeira investidura foi o momento em que comecei a representar a mim mesma — o momento em que comecei a vivergradualmentesegundo a segundoincessantementeAh veja o que está fazendo! — quer ficar coberta ou quer ser vista? — E o trajecomo lhe cai hem!estrelado com os olhos de outros, chorando. Jorie Graham, “Notes on the reality of the self ”, de Materialism

PARTE 1

INTRODUÇÃO

1. Sair à luz

Sair à luz ...................................................................................

Sempre me fascina o momento exato em que, da platéia, vemos abrir-se a porta que dá par a o palco e um artista sair à luz; ou, de outra perspectiva, o momento em que um artista que aguarda na penumbra vê a mesma porta abrir-se, revelando as luzes, o palco e a platéia. Percebi há alguns anos que o poder que esse momento tem de nos emocionar, de qualquer ponto de vista que o examinemos, nasce do fato de ele personificar um instante de nascimento, uma passagem de um limiar que separa um abrigo seguro mas limitador das possibilidades e dos riscos de um mundo mais amplo à frente. Porém, enquanto me preparo para redigir a introdução deste livro, refletindo sobre o que escrevi, tenho a intuição de que sair à luz é também uma eloqüente metáfora para a consciência, para o nascimento da mente conhecedora, para a simples mas decisiva chegada do sentido do

desejo de compreender e ao apetite por admirar-se com sua própria natureza, que segundo Aristóteles é o que distingue os seres humanos. O que poderia ser mais difícil de conhecer do que conhecer o modo como conhecemos? O que poderia ser mais deslumbrante do que perceber que é o fato de termos consciência que torna possíveis e mesmo inevitáveis nossas questões sobre a consciência? Embora eu não veja a consciência como o ápice da evolução biológica, penso que é um momento decisivo na longa história da vida. Mesmo quando recorremos à simples e clássica definição de consciência encontrada nos dicionários — que a apresenta como a percepção que um organismo tem de si mesmo e do que o cerca —, é fácil imaginar como a consciência provavelmente abriu caminho, na evolução humana, para um novo gênero de criações, impossível sem ela: consciência moral,*^ religião, organização social e política, artes, ciências e

  • Em português emprega-se consciência para traduzir tanto consciousness como conscience. Visando à clareza, conscience está sendo traduzido neste livro como "consciência moral", significando a faculdade de distinguir entre bem e mal, da qual resulta o sentimento do dever e a aprovação ou o remorso pela prática de atos aconselhados ou desaconselhados pelo juízo moral. (N. T.)

tecnologia. De um modo ainda mais imperioso, talvez a consciência seja a função biológica crítica que nos permite saber que estamos sentindo tristeza ou alegria, sofrimento ou prazer, vergonha ou orgulho, pesar por um amor que se foi ou por uma vida que se perdeu. O páthos, individualmente vivenciado ou observado, é um subproduto da consciência, tanto quanto o desejo. Jamais teríamos conhecimento de nenhum desses estados pessoais sem a consciência. Não culpe Eva por conhecer; culpe a consciência, e agradeça a ela. Escrevo estas palavras no centro comercial de Estocolmo, enquanto observo pela janela um velhinho frágil andando em direção à balsa que está para partir. O tempo urge, mas ele anda devagar; a dor artrítica nos tornozelos faz seus passos vacilantes; ele tem cabelos brancos e usa um casaco puído. Chove sem parar, ele se verga ao vento como uma árvore solitária em campo aberto. Por fim ele alcança a balsa. Sobe com dificuldade o degrau alto da plataforma de embarque e começa a caminhar pelo convés, com receio de desequilibrar-se no declive; move a cabeça de um lado para o outro, rapidamente, examinando o local, procurando tranqüilizar-se. Seu corpo inteiro parece

permite-nos reconhecer um impulso irresistível para permanecer vivos e cultivar o interesse pelo self. Em seu nível mais complexo e elaborado, a consciência ajuda-nos a cultivar um interesse por outras pessoas e a aperfeiçoar a arte de viver.

Ausente sem ter partido ............................................................

Há 32 anos, um homem estava sentado diante de mim em uma sala estranha, totalmente circular, pintada de cinza. O sol da tarde entrava pela clarabóia e nos iluminava enquanto conversávamos. De repente, o homem parou no meio de uma sentença e seu rosto empalideceu; a boca paralisou-se ainda aberta, os olhos fixaram-se no vazio, em algum ponto da parede atrás de mim. Por alguns segundos, ele permaneceu imóvel. Chamei-o pelo nome, mas ele não respondeu. Depois começou a fazer alguns movimentos breves: estalou os lábios, o olhar dirigiu-se para a mesa que havia entre nós, ele pareceu enxergar uma xícara de café e um vasi-nho de metal com flores; decerto enxergou, pois pegou a xícara e bebeu. Falei novamente com ele, e mais uma vez não houve resposta. Ele tocou no vaso. Perguntei-lhe o que estava acontecendo, ele não respondeu, seu

rosto era inexpressivo. Não olhava para mim. Então ele se levantou. Fiquei apreensivo, não sabia o que poderia acontecer. Chamei-o pelo nome, ele não respondeu. Quando aquilo acabaria? Ele se virou e andou devagar em direção à porta. Levantei-me e tornei a chamá-lo. Ele parou, olhou para mim, seu rosto readquiriu certa expressividade — parecia perplexo. Chamei-o novamente, e ele disse: “Sim?” Por um breve período, que me pareceu uma eternidade, aquele homem sofreu um comprometimento da consciência. Neurologi-camente falando, ele teve uma crise de ausência seguida por automa-tismos associados à crise de ausência, duas dentre as diversas manifestações da epilepsia, uma doença causada por disfunção cerebral. Aquela não foi a primeira vez que presenciei um caso de comprometimento da consciência, mas foi a mais intrigante até então. Eu sabia por experiência própria como era dissolver-se numa inconsciência involuntária e recobrar a consciência — quando criança, fiquei inconsciente uma vez, depois de um acidente, e na adolescência fui submetido a uma anestesia geral. Também vira pacientes em coma e observara, da perspectiva de terceira pessoa, como o