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Você já deve ter notado que as diferenças culturais sempre estão em pauta quanto se fala em mercado de trabalho. Como superar os conflitos, valorizar a aceitação das diferenças culturais dentro de um contexto de trabalho e ainda ser produtivo, apresentar as condições técnicas e competências exigidas em uma sociedade cada vez mais globalizada e acelerada? Talvez o primeiro passo seja compreender o que é cultura e quais os seus desdobramentos sob o olhar de uma disciplina que por excelência bu
Tipologia: Notas de estudo
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Antropologia e cultura
Capítulo 1
Você já deve ter notado que as diferenças culturais sempre estão em pauta quanto se fala em mercado de trabalho. Como superar os conflitos, valorizar a aceitação das diferenças culturais dentro de um contexto de trabalho e ainda ser produtivo, apresentar as condições técnicas e competências exigidas em uma sociedade cada vez mais globalizada e acelerada?
Talvez o primeiro passo seja compreender o que é cultura e quais os seus desdobramentos sob o olhar de uma disciplina que por excelência busca a compreensão desse fenômeno desde o seu início: a Antropologia.
Neste capítulo, iremos compreender melhor o conceito de cultura a partir de diferentes linhas teóricas da ciência antropológica. Você verá também o que é Antropologia e como essa ciência compreende a cultura e os seus diferentes fenômenos. Veremos o que é diversidade cultural – desde o determinismo geográfico, biológico ao desenvolvimento do conceito de cultura e de suas teorias modernas. Abordaremos também a dimensão simbólica do conceito de cultura, enfatizando a análise sobre o comportamento humano.
Veremos como ocorre a construção das diferenças, tais como as acepções de etnocentrismo, re- lativismo, etnicidade e alteridade, ressaltando-os nas relações do mercado de trabalho. Por fim, buscaremos compreender o caráter essencialmente humano dos processos de produção cultural, enaltecendo as formas de articulação entre cultura e trabalho.
Tenha um bom estudo!
A cultura é um fenômeno necessariamente social, partilhado pelas pessoas de determinado gru- po. Não é difícil supor que os grupos partilham valores, regras da vida, modos de agir, de falar, de se vestir etc. Portanto, tenha em mente que há diferenças e similaridades entre um grupo e outro.
A diversidade cultural refere-se aos diferentes modos de ser desses grupos de pessoas, que pre- cisam conviver e se relacionar nos mesmos espaços. O mercado de trabalho é um exemplo em que a diversidade cultural é bastante expressiva, em que precisa ser compreendida para transpor os conflitos.
A Antropologia é uma das ciências que busca compreender os fenômenos culturais e pode con- tribuir para a promoção da tolerância, mostrando, como afirma Da Matta (2001), que o dife- rente não tem a denotação de inferioridade, mas que indica alternativas e equivalências. Neste tópico, vamos compreender melhor as relações entre a Antropologia e os conceitos de cultura e diversidade cultural.
Diversidade cultural no
mercado de trabalho
Figura 1 – A cultura é um fenômeno necessariamente social. Fonte: Shutterstock, 2015.
A Antropologia não estava focada apenas na compreensão das culturas diferenciadas da so- ciedade europeia. Saiba que se buscou observar também os agrupamentos culturais da própria realidade metropolitana ocidental, como os trabalhadores industriais e os grupos marginalizados urbanos. Foi nesse ponto que o antropólogo voltou o olhar para a sua própria sociedade e a descobriu digna de ser analisada como objeto de estudo.
O campo antropológico possui uma produção cinematográfica efervescente. Confira o documentário experimental Baraka (1992), produzido por Ron Fricke, com imagens de 23 países que expressam a diversidade humana. Informações sobre o filme: <http:// www.imdb.com/title/tt0103767/>.
É importante notar que o objeto da Antropologia passou a contemplar o homem como um todo, e não apenas o que o pesquisador europeu considerava exótico. Na verdade, podemos dizer que a Antropologia, como disciplina, passou a ser o estudo das nuances do homem em sociedade. Dessa forma, o pesquisador na atualidade se questiona sobre seus próprios procedimentos me- todológicos, pois reconhece seu papel extremamente subjetivo.
A Antropologia passou a estudar como são compostas as sociedades em suas diversidades histó- ricas, geográficas e culturais (LAPLANTINE, 2003). Nesse sentido, o objeto da ciência antropoló- gica incorporou a noção de que a humanidade não é singular, mas plural.
O projeto antropológico consiste, portanto, no reconhecimento, conhecimento, juntamente com a compreensão de uma humanidade plural. Isso supõe ao mesmo tempo a ruptura com a figura da monotonia do duplo, do igual, do idêntico, e com a exclusão num irredutível “alhures”. As sociedades mais diferentes da nossa, que consideramos espontaneamente como indiferenciadas, são na realidade tão diferentes entre si quanto o são da nossa. E, mais ainda, elas são para cada uma delas muito raramente homogêneas (como seria de se esperar) mas, pelo contrário, extremamente diversificadas, participando ao mesmo tempo de uma comum humanidade. (LAPLANTINE, 2003, p. 13)
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Antropologia e cultura
Por que a Antropologia começou estudando sociedades consideradas primitivas e sel- vagens quando comparadas com as sociedade dos antropólogos europeus? Por que não partiu logo em analisar os possíveis objetos mais próximos da realidade concreta do antropólogo? O imperialismo europeu, como iniciativa expansionista, permitiu con- tatos com culturas muito diversas, o que levou a uma grande mobilização em se estudar aquilo que era “diferente”. O “estranhamento” (termo comum em Antropologia) é uma condição que provoca perplexidade no encontro de outras sociedades, mas que nos faz modificar o olhar sobre nós mesmos. Ou seja, o contato com grupos diferenciados faz com que nos tornemos extremamente próximos daquilo que é longínquo e nos permite compreender a forma de viver de outros povos. Além disso, podemos visualizar os ges- tos, os modos de falar e o comportamento como produtos da cultura.
A Antropologia possui muitas vertentes. Num primeiro momento, ela foi dividida entre Antropo- logia Cultural e Antropologia Biológica. Hoje, contudo, possui muitas correntes de pensamento, que não se anulam. Vale dizer também que as sociedades mais distantes da sociedade ocidental não deixaram de ser foco de interesse da ciência Antropológica, que pode tanto estudar um grupo de Papua Nova Guiné como questionar as complexidades culturais do ciberespaço na era da globalização.
Como dissemos antes, o objeto de estudo da Antropologia é a humanidade em toda a sua com- plexidade. Dessa forma, trata-se de uma ciência que assume como paradigma o estudo realizado no contato real com as sociedades a serem estudadas e abre-se para compreender que a relação “eu–outro” pode levar à tolerância e ao respeito entre as diversas dinâmicas culturais, sem que os homens partam para o confronto com o diferente, mas enriqueçam-se a partir das interações entre os grupos sociais.
O site Comunidade Virtual de Antropologia possui um acervo muito interessante de trabalhos no segmento antropológico. Há entrevistas, trabalhos acadêmicos, notícias, resenhas e muito mais. Vale a pena conferir! Disponível em: <http://www.antropologia. com.br/>.
Laplantine (2003) cita cinco áreas do fazer antropológico que mais se destacam:
- a Antropologia Biológica (conhecida antigamente sob o nome de antropologia física), que estuda as variações dos caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo. A sua problemática está situada nas relações entre o patrimônio genético e o meio (geográfico, ecológico, social), e ela analisa as particularidades morfológicas e psicológicas ligadas a um meio e à sua evolução; - a Antropologia Pré-histórica , que é o estudo do homem através dos vestígios materiais enterrados no solo (ossadas, mas também quaisquer marcas da atividade humana). Trabalha em conjunto com a arqueologia, reconstruindo as sociedades que já desapareceram, e com a História, de modo a analisar os artefatos encontrados;
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Antropologia e cultura
Figura 2 – A cultura não é inata nem depende exclusivamente dos limites geográficos. Fonte: Shutterstock, 2015.
Podemos dizer que as diferenças hereditárias não são essenciais para entendermos a diversidade de grupos e culturas. A história cultural de cada grupo é o que explica as diferenças; isso contra- diz o determinismo biológico , que, de acordo com Laraia (2001), são as velhas teorias que atri- buem a “raças” habilidades inatas, ou seja, que explicam as diferenças pela herança genética. Já o determinismo geográfico considera que as características do espaço físico condiciona a variação cultural (ou seja, os diversos padrões comportamentais) (LARAIA, 2001, p. 21). Graças à Antropologia, entretanto, compreendemos tais variações de modo mais abrangente.
Sobre o determinismo geográfico , hoje sabemos que os fatores geográficos influenciam, mas não são suficientes para moldar completamente a concepção de mundo de um indivíduo, para determinar os fatores culturais. Ou seja, em um mesmo ambiente físico pode haver uma diversi- dade cultural gritante. No ambiente profissional, por exemplo, é possível observar esta afirma- ção, pois, a despeito de muitos indivíduos partilharem o mesmo ambiente, diferenças comporta- mentais significantes surgem diariamente. Tais diferenças precisam ser compreendidas e aceitas para que haja um ambiente de trabalho saudável.
A diferença entre homens e mulheres não se encerra nas diferenças fisiológicas em uma socieda- de, mas nos papéis sociais e nos comportamentos de cada um. Em outras palavras, verificamos que a atribuição de um comportamento específico a um gênero decorre da educação direciona- da que cada um recebe em cada cultura.
Se falamos em comportamento, portanto, é preciso dizer que ele é o resultado de aprendizado, o processo de endoculturação, isto é, do processo segundo o qual um indivíduo absorve os valores e significados do grupo ao qual pertence: de uma cultura já estabelecida. Os variados comportamentos existentes, portanto, são o resultado de educação diferenciada. Veja que não há hierarquização, não há culturas melhores ou piores nem processos de aprendizagem superio- res ou inferiores. Há modos culturais diferentes apenas.
O livro Aprender Antropologia (Editora Brasiliense, 2003), de François Laplantine, faz parte da bibliografia básica de Antropologia e possui uma linguagem bem simples e direta sobre a história desta disciplina e os conceitos essenciais no entendimento do homem e da cultura.
Segundo Edward Tylor (1832-1917), o primeiro pesquisador a inserir o termo cultura na pauta antropológica, podemos romper todos os laços que unem a cultura à biologia (LARAIA, 2001). O termo vem do Kultur (alemão), surgido em 1871, que significa aspectos espirituais de uma comunidade. Já civilization (inglês) significa as realizações materiais de um povo. Culture (inglês) refere-se a conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábito adquirido pelo homem como membro de uma sociedade.
Conforme os conceitos que vimos, destacamos que o termo “cultura” refere-se aos
[...] padrões de comportamento socialmente transmitidos que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas e assim por diante (KEESING, 1974 apud LARAIA, 2001, p. 59).
Saiba que, no século XVIII e início do século XIX, havia a Antropologia evolucionista. Os antro- pólogos que seguiam essa vertente defendiam a existência de uma escala evolutiva na qual todos os grupos poderiam ser encaixados, dos mais primitivos aos mais desenvolvidos. A sociedade europeia era o exemplo de sociedade mais evoluída e civilizada.
Esmagados sob o peso dos materiais, os evolucionistas consideram os fenômenos recolhidos (o totemismo, a exogamia, a magia, o culto aos antepassados, a filiação matrilinear...) como costumes que servem para exemplificar cada estágio. E quando faltam documentos, alguns (Frazer) fazem por intuição a reconstituição dos elos ausentes, procedimento absolutamente oposto, como veremos mais adiante, ao da etnografia contemporânea, que procura, através da introdução de fatos minúsculos recolhidos em uma única sociedade, analisar a significação e a função das relações sociais. (LAPLANTINE, 2003, p. 52).
Figura 3 – As civilizações podem desaparecer, mas os traços culturais se mantêm. Fonte: Shutterstock, 2015.
produzido socialmente. Inclusive, o próprio Geertz exemplifica como o piscar dos olhos pode ser uma questão biológica e, ao mesmo tempo, um ato cultural da paquera em algumas sociedades.
Você já ouviu alguém dizer que “Fulano não tem cultura”? Esta expressão é muito comum quando uma pessoa busca depreciar outra por ter uma tendência cultural dife- rente da sua. Tenha certeza de que todas as pessoas possuem cultura. Essa expressão quer muitas vezes dizer que a pessoa em questão não tem erudição ou conhecimento específico sobre algo. Erroneamente, os conceitos de erudição e cultura são usados como sinônimo.
Você viu que a cultura possui múltiplas definições. A Antropologia moderna concebe a cultura a partir de sua dimensão simbólica. Neste tópico, vamos analisar a dimensão simbólica do concei- to de cultura, enfatizando a análise sobre o comportamento humano e o seu simbolismo.
A dimensão simbólica do conceito de cultura está ligada ao fato de que é inerente aos seres hu- manos a capacidade de simbolizar. Mas o que isso significa? Bem, simbolizar significa represen- tar questões materiais através da linguagem ou de símbolos abstratos. Quando erguemos nosso polegar, por exemplo, estamos simbolizando que algo está certo, ou seja, estamos representando uma situação concreta com um gesto.
A cultura, de acordo com essa perspectiva, se dá pelos símbolos comuns que ela possui. O ho- mem utiliza muitos meios para acessar a cultura de sua sociedade e interagir com ela: as línguas, os valores, as crenças, o modo de fazer as coisas etc. Assim, é possível dizer que toda ação hu- mana é socialmente construída através de símbolos, que integram redes de significados e variam conforme os diferentes contextos sociais e históricos (GEERTZ, 2008).
A dimensão simbólica possui aspectos subjetivos e objetivos da cultura, já que a produção ma- terial humana possui um caráter simbólico e é repleta de significações. Assim, como já vimos, a Antropologia moderna concebe a cultura como um sistema simbólico (GEERTZ, 2008), que se refere ao aspecto fundamental da humanidade de atribuir, de forma sistemática, racional e estruturada os significados e sentidos a tudo.
O livro A interpretação das culturas (2008), de Clifford Geertz, publicado pela editora Brasiliense, é uma referência para o entendimento da cultura em sua dimensão simbó- lica. Trata-se de um estudo que demonstra a importância da etnografia para o estudo das culturas. A etnografia é, entre os ramos da Antropologia, a melhor opção na com- preensão da relação entre o indivíduo e a sociedade.
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Antropologia e cultura
Você deve estar se perguntando “mas o que insere um homem em determinada cultura e como ele consegue assimilar as regras gerais da cultura em que vive?”. A resposta, segundo Berger e Berger (1978, apud FLEURY, 1987), é categórica: é a linguagem que permite esta assimilação e serve para orientar a conduta individual imposta pela sociedade. A linguagem é essencial no desenvolvimento da cultura, já que é um universo de significados construídos e que só existem por meio da própria sociedade. Pense em como uma criança absorve a linguagem e a habilida- de de se comunicar aos poucos; à medida que ela amadurece essas habilidades, fica mais fácil compreender o que ela está pensando e sentindo.
O compartilhamento de uma mesma língua une um grupo de pessoas. Não é à toa que há movi- mentos separatistas que enfatizam que há dialetos ou polilinguismo (capacidade de compreender e falar mais de um idioma) dentro da fronteira de um país, o que justificaria o desmembramento de territórios políticos: a Catalunha, por exemplo, luta há décadas para se separar da Espanha com alegação de que possui língua e cultura diferentes (G1, 2014). A língua, portanto, é um sis- tema simbólico, ou seja, uma organização de significados, que organiza a percepção de mundo e diferencia uma cultura de outra (CUNHA, 1987).
O homem participa dos processos culturais de sua sociedade por meio de uma socialização, que ocorre pela linguagem, e esta possui um papel ideológico através da coerção exercida sobre este indivíduo. A linguagem terá um padrão e organização próprios e será cheia de significações.
O site da Associação Brasileira de Antropologia possui notícias de publicações, pre- miações, eventos oficiais pelo Brasil e em outros países e informações sobre o fazer antropológico. Disponível em: http://www.portal.abant.org.br/.
Cunha (1987) afirma que a cultura não é algo dado, posto ou dilapidável, mas algo constante- mente reinventado. O ser humano, quando partilha de uma cultura, não é passivo a ela exclu- sivamente: ele atua como agente de mudanças, ou seja, transforma o ambiente em que vive e constrói significados através daquilo que lhe é passado. O homem se torna um reprodutor social, o que também está diretamente relacionado à sua vivência e à sua experiência social.
Mas o que acontece quando um grupo ou um indivíduo valoriza a sua cultura e visão de mundo em relação às demais? O que acontece quando há a identificação de outra proposta de cultura ocupando o mesmo espaço? E qual a diferença do conceito de raça e o de etnia? O que, afinal, é alteridade? Estas são algumas questões que pretendemos discorrer neste tópico. Vamos lá? Es- ses conceitos estão intrinsecamente relacionados à forma como determinada cultura é percebida.
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Antropologia e cultura
Nas primeiras décadas da Antropologia como ciência e disciplina, predominou a corrente evo- lucionista, ou seja, uma vertente que presumia uma linha evolutiva na qual todas as sociedades poderiam ser encaixadas; da mais bárbara e primitiva à mais civilizada. Mas será que dá para criar critério de análise para comparar uma cultura com outra de modo hierárquico cientifica- mente? É claro que não, e é aqui que entra o relativismo cultural! O relativismo cultural refere-se à incapacidade de mensurar a cultura de um grupo.
A ideia de relativismo social tem origem com a Antropologia social, buscando comparações e cri- térios independentes. Pense bem: relativizar significa conceber uma cultura dentro de seu próprio contexto cultural. Quando um pesquisador se propõe a ir a campo, precisa se despir de qualquer parâmetro externo que possa ser considerado etnocêntrico. Parte-se em realizar a avaliação sem privilegiar os valores de um só ponto de vista (COUCHE, 2004).
O relativismo cultural poderia ser uma prática para membros de qualquer cultura ou estaria li- gado ao fazer científico da Antropologia e de outras ciências do homem? O relativismo cultural é uma atitude necessária para aceitar a diversidade cultural em qualquer contexto, pois permite compreender que toda cultura é única. Grave bem: os costumes e as regras sociais de determi- nado grupo devem ser interpretados de acordo com as funções que possuem naquele grupo/ contexto específico.
O relativismo cultural, como premissa teórico-metodológica da Antropologia, surgiu a partir do século XX como uma espécie de regra de conduta contra a atitude etnocêntrica, que impli- cava em uma visão muitas vezes evolucionista, em que a cultura do cientista servia de base às comparações. Pense aqui não numa linha evolutiva, mas em um espaço em que cada cultural é representada de acordo com suas próprias interpretações, sem qualquer escala hierárquica.
Etnicidade é outro conceito muito discutido em Antropologia. Trata-se de um conjunto de carac- terísticas comuns a um grupo de pessoas que as diferenciam de outro grupo. Pode ser composto de língua, cultura, aspectos biológicos e origem comum. Pode ser definida como uma espécie de autoconsciência da condição cultural e social de determinado grupo, ao pertencimento a uma cultura. Refere-se à percepção do papel social do indivíduo no seu próprio grupo e fora dele.
A etnicidade envolve distinção de grupos e indivíduos pelo estilo das vestimentas, da língua, da religião e de outras características que são culturalmente percebidas e aprendidas. Todas as pes- soas em sociedade possuem etnicidade, mas o conceito é mais evidentemente percebido entre os grupos que sofrem preconceitos. Conforme Bobbio et al. (2000, p. 449), estas são as premissas que caracterizam o conceito:
[...] falar a mesma língua, estar radicado no mesmo ambiente humano e no mesmo território, possuir as mesmas tradições são fatores que constituem a base fundamental das relações ordinárias da vida cotidiana. Marcam tão profundamente a vida dos indivíduos, que se transformam num dos elementos constitutivos da sua personalidade e definem, ao mesmo tempo, o caráter específico do modo de viver de uma população. Por outro lado, as relações sociais que derivam do fato de pertencer a mesma etnia criam interesses coletivos e vínculos de solidariedade caracteristicamente comunitários.
A etnia refere-se às diferenças socioculturais aprendidas. Podem possuir similaridades biológicas (parentesco), mas isso não é uma regra. O conceito de raça pode ser confundido com etnia, porém trata-se de algo cada vez mais criticado na atualidade, posto que é menos abrangente.
A etnicidade possui as seguintes características gerais:
- a etnicidade é construída a partir da relação com o outro (alteridade); - os grupos que possuem similaridades são considerados cultural ou socialmente distintos; - as diferenças podem ser determinadas pelo outro e incorporadas pelo grupo; - as diferenças étnicas são legitimadas por aspectos históricos, sociais e políticos; - cada grupo étnico elabora um discurso sobre o outro; - os grupos étnicos estão em constante mudança – há um processo dinâmico; - é importante ressaltar que não é a diferença cultural que está na origem da etnicidade, mas a comunicação cultural que sugere a ideia de diferença.
Imagine que a etnia diz respeito ao conjunto de informações orais, escritas e comportamentais que absorvemos durante nossa convivência com determinado grupo. Um grupo étnico, portanto, refere-se a um alinhamento entre seres que convivem no mesmo espaço. Esse conjunto de in- formações é passado adiante e adaptado durante gerações, formando o que podemos entender como a “teia de significados” (ou rede de significados) de Geertz, mencionado anteriormente.
Para Laplantine (2003, p. 13), a alteridade é a descoberta proporcionada pela distância em re- lação a nossa sociedade, ou seja, “[...] aquilo que tomávamos por natural em nós mesmo é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é infinitamente problemático”. Para o autor, a alteridade nos leva à experiência da “diferença”, em aceitar no outro aquilo que acabamos descobrindo em nós mesmos, já que os seres humanos têm em comum a capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar valores, costumes, línguas, conhecimento etc.
Assim, é também objeto da Antropologia o reconhecimento e conhecimento da compreensão de humanidade plural, ou seja, se a ciência antropológica estuda o homem e suas pluralidades e se a alteridade é o estudo das diferenças e o estudo do “outro”, é tarefa essencial da Antropologia discuti-la.
É preciso decentralizar o olhar para perceber as diferenças e similaridades que nos cercam. Des- sa forma, a alteridade implica em deixar de rejeitar as peculiaridades dos outros, isto é, daqueles que são diferentes de nós, reconhecendo esses aspectos em nós mesmos.
Assista ao curta Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado, que mostra as relações de- siguais entre os seres humanos de forma atual e pertinente. Disponível em: <http:// portacurtas.org.br/filme/?name=ilha_das_flores>.
O ambiente de trabalho é apenas mais um espaço em que há interações culturais de todos os tipos. Essas interações podem se traduzir em trocas, hibridismo, conflitos, etnocentrismo e outros fenômenos culturais. As mudanças, por sua vez, também esbarram em resistências advindas de valores e padrões culturais diferentes e até mesmo padrões culturais dominantes neste espaço. Assim, a atitude da alteridade é pertinente em todas as relações sociais e também no ambiente profissional.
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Neste capítulo, você pôde:
- compreender que a Antropologia é por excelência uma ciência que busca compreender o homem, a cultura e a diversidade cultural; - constatar que a Antropologia possui diferentes tendências desde a sua origem e que a cultura sempre foi o seu objeto de estudo; - concluir que a cultura é toda atividade física ou mental que não advém necessariamente da biologia, mas uma construção social, partilhada pelos membros de um grupo que possuem características comuns entre si; - entender que a linguagem é um aspecto muito importante, pois permite que haja a assimilação cultural e serve para orientar a conduta individual imposta pela sociedade; - perceber que o ambiente de trabalho é apenas outro espaço em que as diferenças culturais são percebidas e que estas devem ser compreendidas e até mesmo valorizadas.
Síntese