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Um trabalho sobre arquitetura, visão e movimento
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Autor
Dissertação apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Arquitetura
Orientador
Porto Alegre, 2011
Agradeço a Deus pela vida e por todas as bênçãos recebidas.
Agradeço à minha família, na pessoa dos meus pais Nestor e Iná, pelo amor e suporte incondicionais.
Agradeço aos meus alunos e aos meus mestres, na pessoa dos professores Germano Brune e Benamy Turkienicz, pela confiança em mim depositada.
Agradeço a todos os meus amigos, nas pessoas de Iara Prates e Luciana Snel, pelo apoio direto e indireto ao longo dessa jornada.
Agradeço ao arquiteto Paulo Mendes da Rocha pela inspiração e pela oportunidade de uma magistral aula de arquitetura
Agradeço à nação brasileira pelas oportunidades de aprendizado, crescimento e realização profissional em suas instituições, em especial a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Justiça Federal do Rio Grande do Sul.
Os meus sinceros agradecimentos.
Esta dissertação investiga o discurso de Paulo Mendes da Rocha a respeito da arquitetura de museus em uma obra sua, a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Os aspectos do discurso do arquiteto dizem respeito à estruturação espacial da Pinacoteca, à movimentação de seus visitantes e à inteligibilidade do ambiente. Esses aspectos foram discutidos através da análise comparativa da Pinacoteca antes e depois da reestruturação espacial proposta por Mendes da Rocha. O estudo está baseado no modelo da sintaxe espacial e no modelo ecológico da percepção visual. O método combina a análise de mapas convexos e axiais, grafos de visibilidade, agentes computacionais e isovistas. O trabalho também aborda a interferência da montagem de exposições na estruturação e inteligibilidade do museu. Os resultados demonstram que a intervenção de Paulo Mendes da Rocha tornou o espaço interno da Pinacoteca menos estruturado, ampliou a possibilidade dos visitantes escolherem seus próprios percursos e estimulou a movimentação de seus visitantes. A montagem de exposições aumentou a estruturação do espaço, demonstrando a flexibilidade do museu para receber diferentes tipos de exposição, mas interferiu no movimento dos visitantes a na inteligibilidade do museu. A reformulação da Pinacoteca também melhorou as condições de visualização e compreensão do ambiente, aumentando sua inteligibilidade. O trabalho conclui que os aspectos analisados do discurso de Paulo Mendes da Rocha são efetivamente confirmados na reformulação espacial da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
This thesis examines the discourse of Paulo Mendes da Rocha, about the architecture of museums in one of his works, the Pinacoteca Art Museum of the State of São Paulo. The architect's speech concerns aspects such as the spatial structure of the museum, visitor movement and the intelligibility of the building. These aspects were discussed through comparative analysis of the museum before and after the spatial restructuring proposed by Mendes da Rocha. The study is based on the space syntax model and the ecological approach to perception visual. The method combines the analysis of convex and axial maps, visibility graphs, computational agents and isovists. The work also addresses the interference of exhibitions in the spatial structure and intelligibility of the museum. The results demonstrate that the intervention by Paulo Mendes da Rocha reduced the spatial structuring of the building, stimulated visitor movement and improved the conditions for visitors to choose their own pathway. The exhibitions increased the structuring of space, demonstrating the flexibility of the museum to receive different types of exhibits, however interfering with visitor movement and the intelligibility of the museum. The spatial restructuring also improved the conditions for visualization and understanding the building, increasing its intelligibility. The paper concludes that the analyzed aspects of Paulo Mendes da Rocha’s discourse are actually confirmed in the spatial restructuring of the museum.
Com relação ao usuário, Paulo Mendes da Rocha afirma que a arquitetura deve configurar o livre-arbítrio, sobretudo em atividades lúdicas como a fruição de um museu. A arquitetura que obriga é repudiável, e se justifica apenas no caso de presídios. Na visão do arquiteto, o percurso de visitação em museus deve ser variável, para poder se modificar “por conveniência da graça e do êxito da museologia”. Mesmo em museus com acervo fixo não é interessante para a instituição manter um percurso fixo de visitação. E ainda que a cada montagem determinados percursos sejam definidos, a graça em visitar um museu está justamente em romper o “didatismo formal” da exposição. Desse modo quem conhece arte pode atravessar o museu “na diagonal” em busca de suas obras prediletas, possibilidade fundamental no caso de grandes museus, cuja visitação completa demanda várias horas. O arquiteto conclui que, excetuado o caso de visitas guiadas ou em grupo, o ideal é que cada indivíduo escolha seu próprio percurso de visitação.
Em resumo, de acordo com Paulo Mendes da Rocha, a arquitetura de museus deve conciliar a flexibilidade para a montagem de exposições com a possibilidade dos visitantes escolherem seus próprios percursos, aspectos que dependem fundamentalmente da estruturação espacial do museu. A montagem de exposições de um museu requer flexibilidade em diferentes níveis de definição espacial para atender a cada situação, já que a estruturação espacial está diretamente relacionada ao modo com que o conteúdo exposto será percebido e compreendido pelo usuário (Pradinuk, 1986). A estruturação espacial de um museu é constituída por dois fatores: sucessão espacial e opção de percurso. A sucessão espacial corresponde à quantidade de espaços justapostos em sequência única, e é uma variável topológica. As opções de percurso , por sua vez, correspondem à quantidade de rotas alternativas a partir de cada espaço. Um museu muito estruturado possui claras separações entre um número significativo de espaços sucessivos e apresenta um percurso de visitação mais definido, com poucas ou apenas uma opção de rota. Já um museu pouco estruturado apresenta pouca sucessão de espaços diferenciados em cada trajeto e percursos pouco definidos, com várias rotas alternativas de visitação.
Essas características podem ser aferidas através da análise da configuração espacial, representação baseada em unidades espaciais e nas relações entre as mesmas. Esse método de análise pertence à Sintaxe Espacial, teoria proposta por Hillier e Hanson (1984) a respeito da relação entre sociedade e espaço. O método permite descrever relações configuracionais de visibilidade e permeabilidade entre unidades espaciais mínimas. Relações de permeabilidade definem a possibilidade de
um usuário se deslocar de uma unidade espacial para outra unidade contígua; relações de visibilidade possibilitam visualizar um espaço ou parte de um espaço a partir de outro. As relações estabelecidas entre apenas duas unidades espaciais contíguas podem ser consideradas relações básicas, enquanto as relações denominadas configuracionais requerem no mínimo três unidades, pois descrevem dois elementos em relação a um terceiro. Relações configuracionais envolvem as noções de simetria/assimetria e distribuição/não-distribuição. Simetria entre espaços –equivalência de relações– costuma coincidir com a presença, nesses espaços, de categorias sociais semelhantes. Assimetria –não-equivalência de relações espaciais– pode ser forte indicador de segregação de categorias sociais. Distribuição –pluralidade de relações entre pares de elementos– indica tendência à difusão do controle espacial. Não-distribuição –singularidade de relações entre pares de elementos– indica tendência ao aumento e concentração do controle espacial. Enquanto a noção de simetria/assimetria está relacionada à sucessão espacial, a noção de distribuição/não-distribuição está relacionada à opção de percurso. Assim, um museu muito estruturado tende à assimetria e à não- distribuição e um museu pouco estruturado tende à alta simetria e a grande distribuição. Um museu flexível deve permitir a estruturação de configurações espaciais predominantemente simétricas ou predominantemente assimétricas e/ou predominantemente distribuídas ou não distribuídas.
A definição do percurso de visitação depende da percepção, por parte do visitante, das alternativas de circulação, entrada e saída dos espaços do museu, constituindo o que James Gibson denomina ‘ affordances’ , que constituem tudo aquilo que o ambiente oferece, permite ou disponibiliza para um usuário específico, tanto em seu benefício quanto em seu prejuízo (Gibson, 1986:127). O conceito de ‘ affordances’ faz parte de uma teoria proposta por Gibson (op. cit.) denominada ‘Abordagem Ecológica da Percepção Visual’, que descreve as possibilidades do ambiente através da percepção visual. Seguindo o conceito de Gibson, os fatores de estruturação do espaço em museus –sucessão espacial e opção de percurso– constituem diferentes possibilidades do ambiente a serem oferecidas para o usuário ( affordances ). Enquanto a sucessão espacial refere-se à maior ou menor quantidade de espaços visitáveis em cada trajeto, a opção de percurso envolve o número maior ou menor de rotas alternativas, de acordo com as restrições impostas pelo ambiente da exposição. Assim um museu mais estruturado tende a oferecer menos alternativas de percurso com mais espaços sucessivos em cada trajeto, e um museu menos estruturado tende a oferecer mais alternativas de percurso com menos espaços diferenciados e sucessivos em cada trajeto.
cobertura tornou o espaço central acessível no pavimento intermediário. Foram também instalados dois elevadores, um grande no pátio norte, para público e transporte de obras, e outro menor para funcionários, junto à circulação periférica do átrio.
Paulo Mendes da Rocha justifica a reestruturação espacial da Pinacoteca nas citações que seguem. A alteração da entrada se deveu ao “estrangulamento que havia entre o prédio e a Avenida Tiradentes”, cujo tráfego aumentara excessivamente. Já a construção das passarelas e a cobertura dos pátios, que antes eram “dois sombrios e úmidos poços”, transformaram a “espacialidade” do prédio criando “grande transparência”. E a criação do novo eixo de circulação longitudinal, seria “para evitar a visão labiríntica do projeto original”, cuja “circulação não fluía”. (Rocha, op. cit., 1998, p. 47) Em resumo, as justificativas de Paulo Mendes da Rocha para a reestruturação espacial da Pinacoteca, baseadas em parte na crítica ao projeto original do prédio, ressaltam aspectos relacionados a visibilidade e movimento. Enquanto no prédio original a “circulação não fluía”, a intervenção arquitetônica criou novos eixos de deslocamento, com mais possibilidades de movimento para os visitantes, permitiu uma “grande transparência” e ampliou as relações de visibilidade entre os ambientes, ao passo que a situação anterior era “labiríntica”, ou seja, complexa e com visibilidade restrita.^1 Assim a reestruturação espacial da Pinacoteca teve por objetivo ampliar as possibilidades de movimentação dos visitantes e ao mesmo tempo facilitar a compreensão por parte dos usuários da organização espacial do prédio.
A possibilidade de um sistema espacial complexo ser compreendido através da experiência sucessiva das suas partes é denominada ‘inteligibilidade’ desse sistema (Hillier 1996:338). Por outro lado, as possibilidades de ocupação, movimento e controle em um dado espaço determinam o seu potencial de uso para diferentes atividades, ou de acordo com Hillier sua ‘funcionalidade’. Essas possibilidades variam de acordo com as características dos espaços e com sua organização, às quais correspondem diferentes categorias sociais e formas de controle do espaço. Inteligibilidade e funcionalidade constituem o que Bill Hillier denomina ‘função genérica’ das edificações e aglomerações humanas. Enquanto a funcionalidade está primordialmente relacionada a comportamentos de ordem social, a inteligibilidade corresponde ao comportamento individual de compreensão dos espaços e de sua organização.
(^1) Um labirinto é um sistema espacial complexo, em que o movimento dos usuários fica comprometido pela dificuldade em compreender a estruturação do espaço.
Na teoria ecológica de Gibson (op. cit.), a compreensão da estrutura espacial se inicia com a percepção visual do ambiente. Naquele modelo, a percepção visual é considerada um processo de coleta de informações em um fluxo contínuo de estímulo disponível no ambiente. A informação visual disponível para a percepção ambiental corresponde à ‘arrumação óptica ambiente’ ( ambient optic array ), que especifica as superfícies de diversos locais através de ‘bordas oclusivas’. O movimento do observador permite a alternância entre superfícies ocultas e aparentes, de acordo com o princípio da ‘oclusão reversível’. O modelo ecológico distingue as informações variáveis, relacionadas ao observador, das informações permanentes, relacionadas ao ambiente. As possibilidades para a movimentação do usuário, em particular, dependem da disposição das superfícies no ambiente. Enquanto superfícies horizontais permitem equilíbrio e postura, superfícies verticais podem ser obstáculos, que permitem colisão, ou indicar aberturas, que permitem passagem.
A disposição das superfícies em determinado local pode ser descrita através de uma ‘isovista’ , uma figura geométrica formada pelo conjunto de todos os pontos visíveis a partir de determinado ponto de visada (Benedikt, 1979). Assim como o modelo ecológico, o método de isovistas relaciona indivíduo e ambiente e permite descrever e quantificar atributos envolvidos na percepção visual e na movimentação do usuário. Características qualitativas básicas do espaço tais como amplitude, permeabilidade, complexidade, ordem e fechamento estão correlacionadas a atributos quantitativos simples de isovistas (Franz e Wiener, 2005, Stamps, 2005). O método das isovistas vem sendo utilizado, na análise de museus, para modelar o potencial de visualização e a acessibilidade dos objetos expostos (Peponis et al, 2004), bem como os padrões de escolha de percursos e a interação com os objetos expostos por parte dos visitantes (Kaynar, 2005,). Isovistas permitem não apenas modelar as propriedades geométricas locais, relacionadas à representação mental do ambiente (Meilinger et al, 2007), mas também aspectos de percepção e cognição espacial relacionados à interação entre geometria e movimento (Batty, 2001).
A partir da percepção das características locais dos espaços, o movimento do observador permite a compreensão da estrutura global do ambiente. Peponis et al. (1990) propõe um modelo que relaciona as propriedades inteligíveis de sistemas espaciais a regras de navegação para analisar os padrões de navegação e orientação humanos. De acordo com Dalton (2001), os indivíduos tendem a desenvolver um percurso o mais linear possível, a fim de torná-lo menos complexo e desse modo mais compreensível. Esses são aspectos fundamentais do processo
A definição das unidades espaciais nos métodos ‘alpha’ e ‘gamma’ não é absoluta, o que dá margem a diferentes descrições de um mesmo sistema. Em função disso foram desenvolvidos métodos que permitem a geração automática de descrições. O ‘ all-line map ’ é um método de geração automática de mapas axiais a partir do desenho de eixos ligando todos os vértices mutuamente visíveis de um determinado complexo espacial (Hillier, op. cit.). Outro método é a análise do grafo de visibilidade ( visibility graph analysis – VGA ), que se baseia na construção de um grafo de todas as posições mutuamente visíveis de uma malha regular de pontos próxima da escala humana (Turner et al, 2001). Além de permitir uma descrição mais refinada, ponto a ponto, as propriedades do grafo de visibilidade (VGA) eventualmente podem estar mais bem correlacionadas ao movimento humano do que os descritores sintáticos baseados no mapa axial (Desyllas e Duxbury, 2001). A integração visual (VGA) é um aspecto da morfologia espacial ao qual estão relacionados os padrões de uso do espaço interno de prédios públicos para a exibição de espetáculos (Doxa, 2001). Grafos de visibilidade são também utilizados em outro modelo para a análise do movimento humano denominado ‘ exosomatic visual architecture ’ (Turner e Penn, 2002). Baseado na teoria ecológica de Gibson, o modelo utiliza o conceito de ‘ affordances ’ para estabelecer uma relação entre ambientes virtuais e agentes computacionais. Como não enxergam literalmente, os agentes são previamente informados das possibilidades de movimentação no ambiente através de um grafo de visibilidade (VGA). O movimento dos agentes é aleatório, seguindo decisões individuais baseadas nas ‘ affordances ’ espaciais presentes na morfologia do campo visual local de cada agente, o que permite simular os efeitos da configuração espacial sobre o movimento de pessoas (Penn e Turner, 2002). Apesar de aleatório, o movimento dos agentes é direcional e está correlacionado com as propriedades sintáticas de mapas axiais e com o movimento humano observado em estudos de sintaxe espacial. Assim, tanto a integração axial quanto o uso de agentes permitem modelar com sucesso o movimento humano no espaço, pois ambos os métodos relacionam a dinâmica visual do movimento direcional com as propriedades configuracionais do ambiente (Turner, 2003).
Em resumo, o movimento humano no espaço vem sendo largamente investigado no âmbito da Sintaxe Espacial, podendo ser modelado e analisado através de mapas axiais, mapas convexos, grafos de visibilidade (VGA) e agentes computacionais. No estudo de museus, em particular, as propriedades sintáticas da configuração espacial estão relacionadas ao movimento dos visitantes, com ênfase na inteligibilidade e no movimento exploratório, visando à compreensão e reconhecimento da estruturação do espaço. Já o potencial de visualização do conteúdo exposto, sua acessibilidade, bem como os padrões de escolha de
percursos por parte dos visitantes e sua interação com os objetos expostos vêm sendo modelados através de isovistas e grafos de visibilidade (VGA).
O objetivo desta dissertação é verificar se a reestruturação espacial da Pinacoteca do Estado de São Paulo efetivamente ampliou a inteligibilidade do ambiente e a flexibilidade para a montagem de exposições, conforme argumenta Paulo Mendes da Rocha. O estudo se baseia nos modelos sintático e ecológico para investigar a estruturação espacial da Pinacoteca quanto às alterações na sucessão espacial e nas opções de percursos e quanto aos padrões de movimento de seus visitantes. Esses atributos serão investigados através da análise comparativa da Pinacoteca antes e depois da reestruturação espacial proposta por Mendes da Rocha. Será também contemplada a interferência da montagem de exposições na estruturação e inteligibilidade do museu, analisando-se uma amostra do prédio em uso, com exposições instaladas. O método de análise inclui a modelagem convexa e axial das relações de permeabilidade entre os espaços, a modelagem das relações de visibilidade com grafos de visibilidade (VGA) e isovistas, e a modelagem do movimento dos visitantes utilizando-se agentes computacionais e amostragem feita no local. A dissertação está organizada em quatro partes. O primeiro capítulo corresponde à fundamentação teórica, o segundo aos materiais e métodos de análise, o terceiro aos resultados e o quarto às conclusões do trabalho.
contendo informação visual a respeito das superfícies que a refletem, tais como disposição, textura, forma, refletância e cor.
A informação visual disponível para a percepção do ambiente corresponde à ‘arrumação óptica ambiente’ ( ambient optic array ), uma estrutura que envolve completamente um determinado ponto de observação, formada por um arranjo de ângulos visuais intrincados (sólidos piramidais ou cônicos) que correspondem às superfícies do ambiente. A informação visual que especifica as superfícies está na ‘borda oclusiva’, limite que separa superfícies visíveis e ocultas e também as faces anteriores e posteriores de objetos. As superfícies especificadas em uma dada arrumação óptica definem uma porção de espaço, um local. A cada local corresponde uma série de vistas constituídas por superfícies oclusivas, pertencentes àquele local, e superfícies parcialmente visíveis e ocultas, pertencentes a outros locais. Obtida através do movimento dos olhos e da cabeça do observador, a arrumação óptica de um local constitui a ‘visão ambiente’, que é de natureza sincrônica.
Figura 1 - arrumação óptica ambiente convergindo para um determinado ponto Por outro lado o fluxo de informação resultante do movimento do observador corresponde à ‘visão ambulatória’, de natureza diacrônica. O movimento do observador permite a alternância entre superfícies ocultas e aparentes, de acordo com o princípio da ‘oclusão reversível’: as superfícies ocultadas por um movimento são reveladas pelo movimento reverso. A abertura de vistas em relação a bordas oclusivas permite ao observador, em movimento, a visualização das conexões entre superfícies visíveis e ocultas e entre diferentes locais, permitindo ainda a emergência da estrutura invariante do ambiente. Através da locomoção exploratória ( way-finding ), a abertura e o ordenamento de sucessivas vistas no espaço permitem tanto a cognição espacial ( place-learning ) quanto a orientação espacial, que é a relação entre a posição momentânea do observador e as outras posições possíveis no ambiente.
Figura 2 - arrumação óptica ambiente com o ponto de observação ocupado por um observador, alterações na arrumação óptica ambiente devido movimento do observador
A percepção visual subsidia diversas formas de comportamento humano, através da percepção simultânea do ambiente, denominada exterocepção, e do próprio observador, denominada propriocepção. No caso da locomoção, a estrutura variável e em perspectiva do fluxo óptico ambiente especifica o movimento do observador, enquanto a estrutura permanente especifica o espaço percorrido. Enquanto a estrutura variável do fluxo de informação está relacionada à noção de tempo presente, passado e futuro, a arrumação óptica em um determinado ponto de observação especifica apenas a posição momentânea do próprio observador no ambiente. Já o fluxo de informação óptica ao longo de um determinado percurso especifica o ambiente e todas as posições que o mesmo oferece, através da apreensão de sua estrutura permanente, não perspectivada, atemporal e contínua.
Em termos de percepção visual, a propriocepção está relacionada aos limites do campo visual, amostra parcial da arrumação óptica ambiente resultante da combinação do campo de visão dos dois olhos. O campo visual humano tem limites precisos tanto superiores –o nariz e as sobrancelhas– quanto inferiores –o tronco e os membros. Esses limites constituem bordas oclusivas reversíveis pelo giro da cabeça. A propriocepção envolve ainda a cinestesia, que é a percepção do movimento próprio, primordialmente visual. Enquanto o fluxo de informação especifica movimento, a interrupção no mesmo indica repouso. Quando o observador está em movimento, a perspectiva fluente divide a arrumação óptica ambiente em dois hemisférios, de acordo com o fluxo da informação. Enquanto a fluxo centrífugo e a magnificação de estrutura especificam aproximação, o fluxo centrípeto e a minimização de estrutura especificam afastamento. O foco de efluência, de onde parte o fluxo de informação, especifica o destino do observador, enquanto o foco de afluência, para onde vai o fluxo de informação, especifica a origem do observador. A linha de deslocamento do observador corresponde ao eixo ligando ambos os focos, e o deslocamento desse eixo especifica a mudança de direção do movimento.
1.2. Isovistas
A disposição das superfícies em determinada ‘arrumação óptica ambiente’ pode ser descrita através de uma ‘isovista’, o conjunto de todos os pontos visíveis a partir de determinado ponto de visada. Assim como o modelo ecológico, o método de isovistas, proposto por Benedikt (op. cit.), está baseado na relação entre usuário e ambiente, permitindo descrever e quantificar atributos envolvidos na percepção visual do ambiente. Uma isovista é a figura bidimensional resultante da intersecção da forma tridimensional constituída por todos os pontos visíveis e um plano horizontal na altura dos olhos do observador. O tamanho e forma de uma isovista, que se alteram com a mudança do ponto de observação, podem ser descritos por determinados atributos expressos em medidas numéricas:
Figura 4 - isovistas com oclusividade crescente da esquerda para a direita Traçando-se uma série de isovistas uniformemente distribuídas sobre uma malha de pontos podem-se desenhar mapas de “campos de isovistas” ( isovist fields ). Nesses mapas as propriedades das isovistas são representadas como uma topografia de valores escalares, permitindo mapear a informação visual permanente disponível no ambiente. Benedikt demonstra a utilização do método para comparar espaços arquitetônicos compartimentados com outros mais abertos e fluidos.
Figura 5 - mapas escalares demonstrando a variação da área de isovistas : pavilhão de Barcelona de Mies Van Der Rohe, uma sala e sua circulação Batty (op. cit.) propõe a utilização de uma malha regular de pontos para programar computacionalmente o cálculo de isovistas e campos de isovistas. Além de constituir os possíveis pontos de visada, a malha serve para simplificar as isovistas através de sua “pixelização” sobre a malha. Assim, atributos como área, agrupamento (medida de convexidade), distâncias mínima, média e máxima, compacidade e relação área perímetro podem ser calculados em relação aos pontos da malha, o que faz com que a precisão das medidas dependa do tamanho do módulo escolhido. Batty utiliza mapas e gráficos para analisar as propriedades geométricas e estatísticas das isovistas no interior de um museu e em duas amostras de parcelas urbanas, encontrando uma correlação entre variação da área, distância média e perímetro das isovistas. O estudo sugere ainda um método para a definição de um conjunto mínimo de isovistas que permita visualizar um complexo espacial por inteiro e também a analisar a variação das isovistas ao longo de um percurso. Como conclusão, Batty afirma que as isovistas permitem ampliar a descrição da morfologia espacial para aspectos de percepção e cognição espacial ligados à interação entre geometria e movimento.
Franz e Wiener (op. cit.) utilizam o modelo das isovistas para analisar a influência da morfologia e da configuração espacial no comportamento humano e na experiência do espaço. Partindo de experiências empíricas envolvendo a descrição do espaço e a navegação em ambientes virtuais, o estudo correlaciona características qualitativas básicas do espaço tais como amplitude, permeabilidade, complexidade e ordem a atributos quantitativos simples de isovistas e grafos de visibilidade (VGA). Stamps (op. cit.) utiliza isovistas para comparar diferentes ambientes quanto ao seu fechamento. O autor conclui que essa propriedade do espaço, associada à sensação de segurança e controle do indivíduo, está também relacionada a determinados atributos de isovistas.