
















Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Este documento analisa a contribuição das revistas femininas no movimento de libertação das mulheres no brasil durante a segunda metade do século xx. O texto explora se as revistas realmente contribuíram para a libertação das mulheres ou se apenas perpetuaram a busca pela beleza manipuladora. O autor observa como as revistas tratam de temas relacionados à identidade feminina, como moda, beleza, vida sexual e comportamental, e como elas influenciaram a representação da feminilidade ideal. O documento também discute as implicações da representação da beleza feminina na sociedade e como as revistas manipulam as mulheres para se conformarem aos padrões de beleza.
O que você vai aprender
Tipologia: Trabalhos
1 / 24
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
Suelen Silveira Valente¹
RESUMO: O desígnio deste artigo é abordar as múltiplas relações que existem no mundo da moda. Para adentrarmos em tais ambientes, analisaremos as revistas femininas da década de 1970, mais especificamente alguns editoriais da Manequim e Claudia , cujo lançamento das mesmas, ocorreu entre 1978/1979. A partir delas, será traçada uma investigação onde veremos se de fato, as revistas contribuíram para com os movimentos de libertação das mulheres no Brasil nesta segunda metade do século XX, ou se apenas reforçam uma busca pela beleza de modo manipulador, em busca da mulher como um ser “perfeito”, tal como as princesas descritas nos contos tradicionais, onde vemos mulheres ideais, e totalmente submissas aos príncipes encantados, já que somente em companhia deles elas seriam bem sucedidas, como se a felicidade feminina dependesse apenas da figura masculina. Com tais pontos, observaremos as duas analogias em relação à moda no século XX, quando a revista era um forte transmissor de tendências da época. A partir desse pressuposto, podemos ver a evolução do pensamento feminista em busca da tão sonhada libertação, porém essa liberdade não se traduz de modo geral, já que abandona as garras do machismo e adentra em outras garras, onde a manipulação da imagem feminina é vista intensamente em revistas que filtram os ideais de elegância, orientando e impondo seu posicionamento diante de uma sociedade. Se por um lado a moda pode ser instrumento de liberação feminina, por outro pode ser promotora de estereótipos, de ideias de beleza que reprimem.
Palavras-chave : Revista feminina. Anos 70. Moda. Mulheres.
Querendo ou não, desde muito pequenos, ouvimos cotidianamente as clássicas estórias de contos de fadas, onde prevemos claramente a imagem magnífica da boa e bela princesa, demonstrando a existência de um mundo ‘perfeito’ que é irreal. Os pontos que se faz em relevância neste momento, é considerarmos uma análise perspectivando esta figura ‘idolatrada’ das princesas, partindo-se ao modelo de corpo, a sua estética, seu estilo, figurino que vem sempre incrementado de brilho e elegância, aos penteados e maquiagens, tanto quanto, na predominância de gestualidade e posicionamento ‘apaixonado’ pelo parceiro romântico, ou seja, ao príncipe encantado. Esta imagem faz com que, as mulheres criem perspectivas e obsessões para buscarem à ‘perfeição’, semelhante, à postura e boa aparência provindas destas princesas, tornando-se influências, até mesmo as revistas de moda para a representação de uma feminilidade ideal, aonde, a características destas belas mulheres vêm a ser mistificadas e
‘aprovadas’. Se pararmos para refletir uma estória de contos de fadas, seja ela qual for, perceberemos de imediato, que há uma representatividade da submissão da mulher para com o seu marido, este tipo de acontecimento fica bastante claro ao pensarmos que, a grande maioria das princesas para além
de delicadas e belas necessitava urgentemente da ajuda de um homem (príncipe encantado) para continuarem sua trajetória de vida, sem sua presença, ela correria riscos de vida e não concluiria seu desejável final feliz. Percebemos, portanto, que estes contos, nos trazem uma realidade bastante explícita, ao tratar das mulheres como não atuantes. Ou seja, temos o olhar sob elas sem nenhuma autonomia, ao olharmos para as princesas, notamos que sem o ‘príncipe’ elas não seguem o caminho, não se desenvolvem, não se felicitam, olhar para estes contos, é interpretar mensagens que ditam ‘infelicidade’, afinal de contas, sem a imagem do homem a princesa não é completamente feliz.
Ao perspectivarmos os anos de 1970, vemos que o objetivo é libertar-se deste machismo que desde sempre fora imposto, é quebrar a imagem da ‘princesa perfeita’ é criar autonomia, é poder fechar sua própria estória com um final feliz individual, ao qual, a mulher não se contorna dependente da figura masculina. Além disso, a imposição não se torna algo que advém de uma tomada de consciência em vida adulta, mas sim numa imposição social e cultural desde que a pessoa é criança, quando ainda está em formação intelectual ela recebe cotidianamente cargas de machismo e de ideias que reforçam a submissão feminina através dos contos infantis. Podem ser chamados de infantis, mas a carga moral que carregam sempre tem influência do contexto em que se originaram, agindo sempre para que se mantenha sem alterações na ordem patriarcal e social em que nasceram.
Na historiografia, temos em voga a junção de variados métodos e objetos de análise, uma profusão de novas ideias que acabam por abrir um leque gigantesco de possibilidades dentro do campo historiográfico. É inegável, porém, que existe uma predileção declarada por documentos tradicionais em detrimento de jornais e revistas. Por muitas vezes não possuírem, aos olhos do pesquisador, a autoridade necessária à pesquisa, os textos jornalísticos acabam sendo relegados ao segundo plano. Partindo desse pressuposto, temos em mente que as revistas femininas que refletem moda e comportamento, traduzem, em muitos sentidos, os modos de vida de uma sociedade, materializando assim o pensamento dos tempos que estão imbricados no estudo.
diferentes aspectos, tais como, moda, beleza, vida sexual e comportamental, fazendo com que matérias como estas suscitem uma longa discussão sobre a identidade feminina ao qual faz referência a uma imprensa voltada para mulheres. Vale ressaltar que a imprensa feminina não surge com temas sexuais e comportamentais logo de início, muito pelo contrário, no século XIX os editoriais eram vistos pelo público feminino como ‘um manual de boas maneiras’ que demonstravam como as mulheres mães de família, deveriam agir em seus lares diante de seus maridos, se submetendo a realizarem todas suas ‘vontades’.
A partir daí analisaremos algumas das imagens que demonstram como as mulheres conseguiram conquistar uma maior autonomia sob seu próprio corpo, mostrando como as revistas femininas nos anos 70 ajudaram as mulheres a conquistar essa independência. Avaliaremos as revistas dos anos 70 – especificamente algumas revistas Manequim; Claudia dos anos 1978/1979, escolhendo-se esta década por ser o período dos movimentos feministas, ou seja, a imprensa feminina não surge nos anos 70, nos anos 60 as publicações que tratavam de um universo feminino independente do machismo tradicional já alcançavam um número significativo. Conseguiremos em primeiro momento perceber que a partir dos anos 1970, as revistas de moda, voltada especificamente para mulheres iniciam um processo de abordagem sobre temas polêmicos, até então pouco discutidos, tornando-se um ‘amigo de leitura das mulheres’ ao qual, a mesma poderia realizar perguntas, até então oculta pela sociedade reservada da época.
Figura 1: Revista Manequim Jovem, nº 225, 1978, p.33.
Como o próprio título nos mostra, “Uma garota precisa ter escolha”, não pode mais viver sem o direito de poder manifestar o que almeja e o que lhe agrada. A parir daí vemos que as revistas fazem parte de um contexto em que as mulheres, cada vez mais, conquistam sua autonomia, se libertando gradativamente do machismo tradicional. Como o enunciado nos mostra, agora a mulher já escolhe seus amores, profissão e amizades, o paternalismo que direcionava a vida da mulher já não faz parte do contexto dos anos 70.
A moda representa então, uma libertação, a imagem faz alusão a um estilo, e como justificativa do uso de tal, mostra que a mulher está livre para fazer suas próprias escolhas, a adoção de determinadas peças de vestimenta faz parte de todo um ideário revolucionário que se estende a todos os campos da sociedade onde as mulheres se inserem ou desejam estar inseridas. A moda inovadora acompanha a evolução do pensamento feminino desde os anos 60, mas na década seguinte é que encontra o seu auge de atuação nas novas formas de pensamento feminino, tal como vemos por Hobsbawm em seu livro Tempos Interessantes (2002), onde o autor coloca que: O que realmente mudou o mundo foi a revolução cultural da década de 1960. O ano de 1968 pode ter sido menos um ponto decisivo na história do século XX do que o ano de 1965, que não teve qualquer significação política, mas foi o ano em que pela primeira vez a indústria francesa de roupas produziu mais calças femininas do que saias (...). (HOBSBAWM, 2002, p. 290).
Figura 2: Revista Manequim Festas, nº 238, 1979, p.18.
“um vestido de bailarina que esvoaçava ao mínimo gesto” ou, um outro, que “desnuda o ombro escondendo maliciosamente o outro, dando a mulher a possibilidade encantadora de brincar com o tecido que parece escorregar”, enquanto um decote poderia, “tais como estas flores noturna, que dobram as suas pétalas para prender a noite o segredo de suas corolas” e assim, concluía, que não importava o vestido, qualquer um deles “que se destacam neste meio século, por um refinamento precioso, saberá embelezar a mulher”. (SANT’ANNA, 2005, p. 541)
Assim como vemos na citação acima, a função primordial dos vestidos é de embelezar a mulher, logo, esta provocação que acontece pelo uso destas vestes decotadas, ocorre sem que a mulher perca a função original do vestido, que seria a de deixá-la mais bonita e consequentemente mais sexy sem se tornar vulgar. Sendo assim, esta libertação em relação às vestes, ocorre também em grande estilo e sofisticação.
Figura 4: Revista Manequim Jovem, nº 225, 1978, p.41.
Em primeiro momento, conseguimos ter uma percepção da “garota a seu modo”, ao qual podemos por vezes nos identificar, fazendo com que, nossas escolhas sejam explícitas diante de toda uma sociedade. Esta liberdade de escolhas se fez presente nas revistas dos anos 1970, se fazendo perceber, que diante de tanto tabu, por vezes ainda as mulheres poderiam se adequar a sua própria maneira. Sentindo-se como pessoas verdadeiramente autônomas, como aderindo a seu estilo próprio, sendo ele, mais retrô, ingênua, ou até mesmo mais sexy, ou seja, a escolha é somente delas, das mulheres. Segundo Baudrillard, é a escolha, antes de tudo, um signo de liberdade e sobre tal disponibilidade repousa a personalização. Aceitar ou recusar um novo objeto, justificálo, e querê-lo, apropriar-se dele é exercitar as escolhas. (SANT’ ANNA, 2005 p. 91).
Portanto, vemos que agora a revista está de certa maneira contribuindo à leitora, lhes oferecendo uma maior visibilidade de escolhas, ou seja, conduzindo as mulheres a perceberem que para se possuir uma maior autonomia sobre si, é importante até mesmo no realizar um ato de compra, se compreender por si só, sabendo o que lhe agrada, para que desta forma sua autoestima se eleve gradativamente, fazendo com que se sintam felizes, leves e completamente à vontade em suas vestes.
Sua maneira de escolher suas roupas pelo conforto e pela liberdade, desde em usar os esquecidos e até em esquecendo as ideias recebidas. A moral a ser apreendida era que cada um fazia o que achava mais confortável para si, e assim “(...) e essa maneira de ser mais livre, mais confortável, mais moderna, mais descontraída, é isso o novo chique”. ( SANT’ ANNA, 2005, p. 363).
Sendo uma “garota a seu modo” as mulheres por vezes mostravam sua personalidade, demonstrando a si e a todos que lhes cercam sua autonomia, seu poder de sedução, conquistando algo que estava adormecido no seu âmago feminino, reatando sua autoestima, percebendo que para todas as coisas que fossem realizar, conseguiriam se auto sustentar, se perceber e acima de tudo, se amar. Logo em sequência, vemos outro recadinho da revista Manequim, ao qual estipula-se na subsequente ordem: “Nem toda garota é magra”. Ou seja, agora vemos que as revistas e as indústrias de moda, não criam e difundem vestimentas que obedecem apenas as formas dos manequins tradicionais, afinal de contas, a maioria das mulheres não tem o corpo ao estilo “manequim”. Então a revista incentiva à mulher ser ela mesma e não que tente a todo tempo buscar o corpo que não lhe pertence, ou seja, um corpo ao estilo “modelo de vitrine”, pois seja magra ou
‘apareçam’, e sintam-se acima de tudo bem, desenvolvendo-se desta forma, uma elevação de sua autoestima.
Percebemos que nesta época era uma ousadia exibir as pernas, portanto era uma forma de revolucionar, de demonstrar, que para além de mães e donas de casas, as mulheres tinham o pleno direito de sensualizar, sentirem-se bem, amadas, e acima de tudo, se olharem ao espelho e perceberem os reflexos do seu bem estar, deixando de crer que não se “cuidar” era sinônimo de “desleixar”, os novos modelos de roupas, ajudavam a quebrar a ideia de uma “mulher tradicional”, permitindo-se desta forma, uma liberdade, uma leveza e uma modernidade. Vemos que o próprio modo de se vestir representava uma escolha muito pessoal, o ato de usar as roupas que lhe agradam é reflexo dessa autonomia feminina: o ato de escolher, por si só representa a autonomia que buscavam tanto. Independente de exibir as pernas, as costas, ou utilizar-se de decotes, o que realmente importava nesta década, era impor suas escolhas e desejos, sem temer, aderir uma autonomia independente, acima de tudo, se valorizando como mulheres.
Figura 6: Revista Claudia, nº 208, 1979, p.214. Diante desta pergunta enviada aos editoriais da Claudia em 1979, analisamos que agora as mulheres possuíam tanto o interesse como a coragem para fazer perguntas e expor seus sentimentos
e opiniões que até então eram ocultos e oprimidos. Percebemos claramente a falta de abertura masculina para com o diálogo, pois as mulheres já tomam esta liberdade de falar sobre sexo, mas os maridos ainda não davam espaço para que este tipo de conversa se ampliasse tornando-se resolvível. Mas observando a declaração por outros ângulos, notamos nitidamente, que o tema central da questão, o ‘orgasmo’, é tratado de forma correta com a exposição conflituosa de sentimentos, porém, o resultado disso, é o continuar de uma relação desigual, na qual apenas um dos lados saía satisfeito, neste caso, apenas o homem.
Apesar da abertura para o diálogo, a velha estrutura se mantém, pois, ela mesma prefere continuar fingindo, o marido não força a situação, porém, ela vê como “natural” continuar a vida sexual infeliz do que ter uma possível briga entre eles, vindo a quebrar um sistema patriarcal ainda muito persistente.
Com as modificações, as mulheres passaram a gozar de maior liberdade sexual e a encarar o sexo por outra perspectiva. Desde então, pode-se afirmar que as disputas políticas e ideológicas sobre as representações sobre o corpo feminino (condição feminina) passaram a ser alvo de debates e interpretações concorrentes. (PACHECO, THIENE BARRETO, s.a. p. 3).
A questão da ‘insatisfação’ vem à tona diante das revistas femininas, notando-se, que a revista responde nitidamente a questão levantada, construindo desta forma uma relação de “igual para igual” de melhores amigos, cuidando sempre em dar ênfase á ambos os lados, percebe-se que querendo ou não, os editores das respostas, por vezes ficam em cima do muro, tentando não beneficiar nem o homem e nem a mulher. Mas estes tipos de debates foram fundamentais para que estas liberdades femininas fossem adentrando na sociedade, quebrando aos poucos os tabus, preconceitos e até mesmo o medo proveniente de muitas mulheres da época.
A revista está voltada para uma leitora moderna, que trabalha, é independente, busca lazer, conhecimento e informação, enfatizando menos a família, abordagem inicialmente forte, pois nos anos 60 a maioria das mulheres ainda não tinha conquistado um lugar no mercado de trabalho, portanto, as reportagens focavam a casa, o marido e os filhos. Nos anos 70 inicia-se um processo de abordagem sobre temas polêmicos como sexo, aborto, homossexualismo, divórcio, entre outros. (PACHECO, 2007, p. 35)
Os diferentes textos envolventes nas revistas femininas, querendo ou não, são produtos resultantes deste processo de interação entre o autor e o leitor em uma relação de ‘intimidade’ e comunicação, ao qual, contribui para um entrelaço de ambas as partes. Sendo assim, dando ênfase na matéria da revista aqui analisada, percebemos que a proporção de temáticas que esta abordava, era bastante intensa para a época, portanto, demonstrava-se uma perspectiva desta ‘liberdade’ que estava se ‘espalhando’, assim sendo, as mulheres através destas reportagens, imagens e discursos, tinham a possibilidade de radicalizar, e adentrar dentro desta sociedade que até então era tão conservadora, de instintos tradicionais.
[...] existe uma subvida secreta que envenena nossa liberdade: imersa em conceitos de beleza, ela é um escuro filão de ódio a nós mesmas, obsessões com o físico, pânico de envelhecer e pavor de perder o controle. Não é por acaso que tantas mulheres potencialmente poderosas se sentem dessa forma. Estamos em meio a uma violenta reação contra o feminismo que emprega imagens da beleza feminina como uma arma política contra a evolução da mulher: o mito da beleza. Ele é a versão moderna de um reflexo social em vigor desde a Revolução Industrial. À medida que as mulheres se liberaram da mística feminina da domesticidade, o mito da beleza invadiu esse terreno perdido, expandindo-se enquanto a mística definhava, para assumir sua tarefa de controle social. (WOLF, 1992, p. 9).
Assim como acabamos de observar a epígrafe acima, o lado de autonomia e liberdade ao quais as revistas de moda feminina nos transmitem também tem o seu lado ‘opressor’, ao qual, influi a mulher a ser um modelo ‘perfeito’ dentro da sociedade. Afinal de contas, as revistas traziam à tona um lado que por vezes se distanciava do cotidiano da vida, ou seja, o mundo perfeito, para ser mais exato, com o desejável final feliz. O ‘ideal mundo de contos de fadas de uma verdadeira princesa’, é mostrado por este meio de comunicação em propagandas do tipo “seja você mesma”, conquistando momentaneamente tais mulheres leitoras, porém, acrescentando as particularidades das leis da moda “seja você mesma, desde que seja assim”, querendo ou não são modelagens de
discurso tais como estes, que acabam por levar as mulheres a outros olhares de submissão ao da moda e de um símbolo perfeito de uma beleza ‘ideal’. Vandressen em seu artigo Moda e Elegância (2007) coloca a moda das revistas como algo condicionador, pois através dessa manipulação é que se decide o que é elegante, charmoso e sexy.
Ao mesmo tempo em que privilegia a formação de novos hábitos, a revista reforça para o seu destinatário a valorização promissora do novo, do abundante, do distinto, da inclusão do diverso do habitual, e assume um discurso no qual a revista avoca uma posição de delegado do público alvo que, com a sua competência e autorização para fazê-lo, passa a ensiná-lo a linguagem da moda, do estilo e da elegância. (VANDRESSEN, 2007, p. 7).
Pensa-se então, que as revistas são autoridades no assunto, se deseja que as mulheres percebam que na verdade estão sendo condicionadas a pensar que aquele estilo é melhor ou mais adequado ao momento. Porém isso não ocorre apenas quando se pensa em roupas, mas também quando o assunto em pauta é a beleza da mulher em si, ou seja, em relação às imposições das revistas femininas em semelhança aos corpos e seus conceitos de beleza. Nesse contexto a mulher parece sempre como uma “não saudável”, “não desejável” caso não tenha certas medidas para suas roupas e o controle do seu próprio peso, o que acaba gerando uma insatisfação imensa das mulheres consigo mesmas, obsessões com os tipos físicos e também o pavor cada vez mais intenso da ‘deformidade do corpo’.
Estas formas de manipulação postas pelas revistas de moda feminina são organizadas por diretrizes estratégicas, provenientes de propagandas sedutoras como “estar na moda”, “libertese”, “tenha seu próprio estilo”, “seja elegante”. Desta forma, as leitoras encantam-se, muitas vezes pelo irreal, como é o caso do estilo ‘Barbie’, magérrima e perfeita. Portanto, se formos analisar de outros ângulos a questão da ‘liberdade’ das mulheres dentro das revistas de moda, prevemos que, se por um lado, um vestido ousado e colado pode encaminhar os logradouros da autonomia, por outro, pode transmitir uma mensagem errônea, pautando-se ‘ao apelo sexual’, portanto
a imagem de uma pessoa sedutora é uma faca de dois gumes: um lado atrai atenção, e do outro, o significado implícito do corpo como um “bem”, um atributo mais importante que a própria inteligência. (FREIBERGER, 2009, p. 5).
Vemos que as revistas se contradizem nestes aspectos, principalmente quando colocam em voga “seja elegante com vestidos até os joelhos”, subentende-se, portanto, que outros cumprimentos
manter-se sempre belas, por mais que venham a envelhecer (que é inevitável), ao menos, evitarão o processo de ‘culpa’.
O envelhecimento na mulher é "feio" porque as mulheres adquirem poder com o passar do tempo e porque os elos entre as gerações de mulheres devem sempre ser rompidos. As mulheres mais velhas temem as jovens, as jovens temem as velhas, e o mito da beleza mutila o curso da vida de todas. (WOLF, 1992, p. 13).
Assim sendo, podemos notar o quanto as mulheres acabam se prendendo a garras que elas mesmas aceitam que perdurem, a criação desses mitos em torno da beleza feminina e as questões relativas ao seu envelhecimento já se tornaram tão enraizados nesse meio que pouco notamos o quanto deterioram as relações sociais. Essa deterioração é observada quando Wolf (1992) chama atenção ao abismo que existe nas relações entre mulheres jovens e idosas, pois pouco, partilham de um ideal feminino: as concepções que tem em relação à vida, família e cultura, são muitíssimo diferentes se comparadas entre elas, e pouco observamos na transposição de tais barreiras, ou na aproximação dos ideais de tais mulheres.
Figura 9: Revista Manequim, nº 226, 1978, p.62.
Nesta outra imagem, damos continuidade na observação da opressão desenvolvida pelas revistas femininas, afinal de contas, conseguimos perceber com a frase “você tem muita beleza para mostrar” uma pressão grandiosíssima em relação ao gênero feminino, pois a propaganda aqui
observada, demonstra o ‘quão importante é se maquiar’, ou seja, a moldura do rosto modifica-se ‘totalmente’ com as pinturas diversificadas, criadas especialmente para a pele, acontece, que se de um lado, estas pinturas tais como pó compacto, batons, sombras corretivos, base ou máscaras de cílios são grandes aliados contra pequenas ‘imperfeições’ presentes nas mulheres em geral, tornando-se um ‘companheiro feminino’, por outro lado, há uma reação, quebrando-se uma
‘liberdade de ser quem realmente você é’, criando-se uma ‘ultra- preocupação’ em estar sempre bem maquiada, um medo de comentários sobre sua aparência natural. Esta situação acaba, por contribuir em um ‘mal estar’ dissolvido no âmbito feminino, e certamente em uma repressão ‘do estar sempre bela’ o que, por vezes, vem a atrapalhar o cotidiano feminino, não as deixando completamente à vontade, e o mais importante, felizes. A maquiagem ‘descaracteriza’ o ‘natural’, e por vezes sufoca as mulheres, bloqueando sua visibilidade em relação ‘ao belo por si própria’, ou seja, as mulheres prendem-se nesta artificialidade para sentirem-se ‘desejadas, admiráveis, importantes, amadas e aceitas’, e isto faz delas reféns deste ‘mito da beleza’, as prendem nas garras de submissão das revistas femininas, as seduzindo, e provocando ao gênero feminino um desejo incontrolável da busca pela perfeição, pelo desejável ‘rosto de porcelana’, que por vezes vem a ser ‘irreal’. Notadamente, conclui-se que realmente há intrometimento das revistas de moda no âmbito feminino, que com discursos de interação faz das leitoras, receptoras de ‘meias verdades’.
Esta cobrança ao estilo ‘Barbie de ser’, vem a ser um empecilho nas proporcionalidades do desenvolvimento destas mulheres dentro da sociedade, afinal de contas, ocorre para muitas, uma obsessão profunda ao encontro das medidas ‘perfeitas’ e ao modelo ideal figurativo e ‘representável’ diante de todos os olhos ‘contestáveis’ dentro de seu espaço cotidiano. Para estas mulheres, elogios sobre aparência, seja ela qual for, é algo ignorável, pelo fato de sentirem que somente elas mesmas sabem realmente o quanto é repulsivo o corpo oculto à visão de terceiros.
Observamos o seguinte: - Sim, mulheres obesas podem tornar-se um problema, mas a si própria, devido a provocações de mal estar e de saúde ocasionada pelo excesso de peso, ao concluir- se este nível, é propício encontrar-se com um médico, para que o aspecto de mulher
‘gordinha’ saudável não se perca. Por outro lado e totalmente diferente, é oprimir as mulheres ‘cheinhas’ por uma questão de estética, as perturbando com um ‘alvo de beleza’ que por vezes não adéquam-se nem a seu organismo e muito menos a sua altura. O que realmente importa é ser feliz, saudável e acima de tudo sentir-se bem consigo própria, valorizar-se com suas proporções, deixando de lado esta ‘pressão psicológica’ ditada por revistas de moda. Neste caso a observância enfoca-se ao século XX, na década de 1970, aos quais as mulheres deixavam-se guiar pelas ‘regras’ de moda para livrar-se de posicionamentos considerados machistas, para adentrarem a sociedade, terem vozes ativas e tornarem-se autônomas de sua própria imagem, sem se darem conta que por vezes, trocavam uma ‘opressão pela outra’, agora os mandos dos editoriais de moda, como vemos abaixo:
Figura 11: Revista Claudia, nº 208, 1979, p.66.
“SOLTO EM CIMA, JUSTO EM BAIXO” este é o slogan da propaganda acima Aqui, cabe observarmos uma das opressões ditada pelas revistas de moda em relação ao corpo, incentivando as mulheres a vestirem-se com roupas ‘soltas e largas’ disfarçando-se desta maneira a saliência da barriga, os quadris mais alargados, a falta de bumbum e até mesmo o pouco desenvolvimento do volume do busto, o que é considerado lamentável, pois como vemos nas ‘entre linhas’, as revistas por vezes ofendem a ‘naturalidade’ das mulheres em geral, tal como “seja bonita e sexy com ‘tal’ tamanho de seios, com ‘tal’ medidas de quadris e com ‘tal’ estilo de roupas, seja sexy desde que seja assim”. Esta quebra de autonomia enfraquece, oprime, entristece e prejudica as mulheres, as fazendo sentir-se ‘menos femininas’ pela falta de medidas publicadas como ‘ideais’.