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se expandia em cifras largas”, justamente por terem se tornado um espaço, um pólo de criação ... Love Me Like A Stranger ... 9 DON'T YOU WORRY 'BOUT A THING.
Tipologia: Exercícios
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“JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências e Letras Campus de Araraquara - SP
SS SOOOMMM LLLIIIVVVRRREEE::: (^) AS TRILHAS SONORAS DAS
TELENOVELAS E O PROCESSO DE DIFUSÃO DA
MÚSICA
Tese de Doutorado, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para obtenção do título de Doutor em Sociologia. Linha de pesquisa: Cultura e Ideologia Orientador: Profa. Livre-Docente Anita Simis Bolsa: Capes e FAPESP
O objetivo desta tese é a análise da trilha sonora das telenovelas da TV Globo como meio privilegiado de difusão da canção nacional e também internacional no mercado fonográfico brasileiro. Produzida e divulgada pela TV Globo e por sua gravadora Som Livre, a trilha sonora se constituiu, desde o início de sua produção por essas empresas das Organizações Globo, em um produto específico da indústria fonográfica e, ao mesmo tempo, em um espaço de divulgação, por excelência, de artistas, canções e segmentos musicais que, em casos específicos, duraram apenas o tempo em que a respectiva novela da qual eram tema foi exibida. A proposta aqui é, justamente, analisar os impactos dessa relação entre dois dos mais importantes setores da indústria cultural – televisão e indústria fonográfica - ao redor de duas das mais significativas manifestações culturais brasileiras – novela e música, demonstrando como tal relação influenciou significativamente o mercado fonográfico nacional. Dessa forma, a pesquisa aborda o período compreendido entre 1969 (ano de divulgação da primeira trilha sonora produzida pela TV Globo) e 2005, quando, então, a gravadora Som Livre passa a diversificar sua atuação depois de quase duas décadas concentrada quase que exclusivamente na divulgação das trilhas sonoras. Definidos os segmentos, artistas e canções que compuseram o fundo musical da novela em todo esse período, a análise buscou cruzar essas informações com as listagens de discos mais vendidos (elaboradas pelo NOPEM e ABPD) e de músicas mais executadas anualmente nas rádios (de acordo com o ECAD), visando identificar a correlação entre a presença da canção e do artista na trilha com as outras formas de difusão da música. A pesquisa enfatiza, ainda, a importância da trilha sonora como meio de renovação de segmentos musicais consolidados, ao mesmo tempo em que funciona também como espaço estratégico para a intensa divulgação de segmentos e gêneros musicais efêmeros.
Palavras- chave : Trilha sonora. Difusão. TV Globo. Som Livre. Indústria fonográfica.
The objective of this thesis is analysis of the soundtrack of TV Globo‟s soap operas as a means for promoting the national and also international songs in the Brazilian music industry. Produced and disseminated by TV Globo and its record company, Som Livre, the soundtrack is constituted, since the beginning of its production by such companies of Globo Organizations, in a specific product in the music industry and the same time, in a space for the promoting, par excellence, of artists, songs and musical segments that, in specific cases, lasted only the time that the soap opera, which they were subject of, was displayed. The proposal here is precisely to analyze the impacts of this relationship between two of the most important sectors of the cultural industry - television and music industry – the two of the most significant cultural events in Brazil – soap opera and music, demonstrating how this relationship significantly influenced the National Music Industry. The survey covers the period from 1969 (year of the release of the first soundtrack produced by TV Globo) to 2005, when then Som Livre starts to diversify its operations after nearly two decades focusing exclusively on the dissemination of soundtracks. Defined the segments, artists, and songs that made up the soap opera‟s background music throughout this period, the analysis sought to cross this information with the listings of the best selling albums (produced by NOPEM and ABPD) and the most played songs on the radio during the year (according with ECAD), to identify the correlation between the presence of the song and the artist on the soundtrack with other forms of dissemination of music. The study emphasizes the importance of the soundtrack as a means of renewing musical segments already consolidated and at the same time it also functions as a strategic field of intense diffusion of segments and ephemeral genres.
Keywords : Soundtrack. Promoting. TV Globo. Som Livre. Music industry.
Gráfico 1 Participação dos segmentos musicais entre os discos mais vendidos - 1969 - 2005 .................................................................. p. Gráfico 2 Participação dos segmentos musicais nas trilhas sonoras das novelas da TV Globo - 1971/1974................................................. p. Gráfico 3 Participação dos segmentos musicais nas novelas da TV Globo – 1975/1987 (por faixa de horário)................................................. P. Gráfico 4 Comparativo das vendas da indústria fonográfica (em milhões de unidades) e da inserção de trilhas sonoras entre os discos mais vendidos (1969-2005)........................................................... p. Gráfico 5 Participação dos segmentos musicais nas novelas da TV Globo- 1987/2005 por faixa de horário.................................................... p.
Tabela 1 Vendas da Indústria Fonográfica no Brasil 1966-1979 (em milhões de unidades)....................................................................................... p. Tabela 2 Número de inserções das gravadoras na lista dos mais vendidos e de pontos obtidos pelos lugares conquistados- 2º Semestre/1972 ..... p. Tabela 3 Percentual sobre o total de pontos obtidos pelas gravadoras-^ 2º semestre/1972...................................................................................... p. Tabela 4 Participação da gravadora Som Livre entre os 50 discos mais vendidos (por segmentos) 1972- 1987 ................................................. p. Tabela 5 Artistas com maiores participações em trilhas sonoras das novelas da Globo entre 1971- 1974 ................................................................... p. Tabela 6 Participação dos artistas nacionais e internacionais que faziam parte de trilhas sonoras das novelas da Globo entre os 50 discos mais vendidos - 1969 - 1974 ....................................................................... p. Tabela 7
Tabela 8 Tabela 9
Tabela 10
Tabela 11
Tabela 12
Tabela
Tabela 14
Tabela 15
Tabela 16
Tabela 17
Participação de canções nacionais e internacionais de trilhas sonoras entre as 100 mais executadas por ano – 1971 - 1974 ............... Discos de trilhas sonoras entre os 50 mais vendidos – 1971 - 1974 .... Participação das trilhas nacionais e internacionais das telenovelas da TV Globo – 1971 - 1974 ................................................................... Artistas com maiores participações nas trilhas sonoras das telenovelas da TV Globo entre 1975- 1987 ................................... Canções que faziam parte de trilhas sonoras entre as mais executadas em 1976............................................................... Participação de canções nacionais e internacionais de trilhas sonoras entre as 100 mais executadas por ano – 1975/1987............................................................................ Participação de artistas que tinham canções me trilhas entre os 50 mais vendidos – 1975/87.................................................................... Participação de discos de trilhas sonoras nacionais e internacionais entre os 50 mais vendidos – 1975/1987.............................................. Vendas da Indústria Fonográfica 1987/2005 (em milhões de unidades)............................................................................................ Participação dos discos da Som Livre entre os mais vendidos – 1988/2005 (por segmentos)................................................................. Artistas com maiores participações em trilhas sonoras das novelas da TV Globo entre 1987- 2005
p. p. p. p. p_._ 122
p. p. p. p. p. p.
Tabela 18 Participação de canções nacionais e internacionais de trilhas sonoras entre as 100 mais executadas por ano – 1987-2005..................p.
Tabela 19 Discos de trilhas sonoras entre os 50 mais vendidos – 1987-2005............p.
ANEXO II – Relação entre as canções de trilhas sonoras de telenovelas e as 100 mais executadas nas rádios a cada ano (1969/2005)……………………p.
O cenário citado acima nos dá uma amostra dos caminhos percorridos por uma canção ao ser inserida como parte do fundo musical de uma telenovela. Num poderoso esquema de promoção, artista e canção extrapolam qualquer limite que lhes poderia ser impostos, nesse caso especifico o do completo desconhecimento da artista em questão por parte do público brasileiro. A inserção de uma canção na trilha sonora de uma telenovela da maior emissora de TV do Brasil provoca, então, efeito na indústria cultural de uma maneira geral: são os discos da artista, os discos específicos das trilhas sonoras, o show da cantora transmitido por uma emissora de TV a cabo, a participação da gravadora Som Livre no ranking dos discos mais vendidos, as execuções radiofônicas etc.., enfim, o consumo da mercadoria musical nas suas mais diferentes formas e escalas. Trata-se, sem dúvida, de uma das faces mais dinâmicas da indústria fonográfica brasileira: a trilha sonora da telenovela como meio de difusão, por excelência, de canções, artistas e segmentos musicais. Este será, portanto, o eixo central de nossa análise, apresentada aqui nesta pesquisa. A interação entre música e cena é, certamente, uma prática inerente ao produto audiovisual desde suas origens e dotado de uma particularidade própria no conjunto das mercadorias culturais. Há, pelo menos, duas abordagens possíveis que decorrem desse fato. Em uma delas, temos a análise da função e sentido da música, enquanto parte de uma narrativa visual. Origina-se aqui um novo produto cultural, que classificamos, justamente, como audiovisual, e pelo qual tanto os sentidos proferidos pela imagem (visual) quanto pela sonoridade (audição) se interpõem com a mesma importância, operando conjuntamente. Esperamos de uma cena de amor que o fundo musical seja romântico; uma cena de perseguição ou aventura “pede” um gênero musical mais agitado ou agressivo; uma cena com ambiente rural evoca sonoridade sertaneja, etc.. Da mesma forma, música e cena podem associar-se buscando nessa relação demarcar o contexto histórico ou geográfico ao qual a história, por ventura, remeta5. Som e imagem atuam, dessa forma, complementando-se um ao outro e a alteração de qualquer um deles implica, necessariamente, em outra interpretação da cena ou do contexto exposto. Estamos aqui no universo da recepção: diante de uma cena
(^4) Os dados são da ABPD - Associação Brasileira de Produtores de Discos e podem ser consultados na página da associação na Internet: http://www.abpd.org.br. Confira ainda: CDs mais vendidos no Brasil em 2000, em unidades”. Rolling Stone , edição 12, set.2007 5 proposta uma trilha sonora, na sua maior parte, formada por cantores mineiros, já que a história da novela se passava numaPara a trama da novela^ Coração de Estudante^ (escrita por Emanuel Jacobina, 2002), exibida às 18:00 pela TV Globo, foi fictícia cidade de Minas Gerais. Podemos citar, ainda, como outro exemplo, a músicafoi o tema de abertura da minissérie Anos Rebeldes (Gilberto Braga, 1992). Alegria, Alegria A trama era ambientada no período de Caetano Veloso que compreendido entre 1964-1979 tendo, portanto, a Ditadura Militar como contexto. Nota-se, aqui, que a função da música era muito mais remeter e demarcar o período histórico do que propriamente descrever a trama em si; a canção de Caetano Veloso é tida muito mais como uma “espécie de manifesto precursor do movimento tropicalista” (HOMEM DE MELLO e SEVERIANO, 2006, p. 107) do que propriamente uma resposta à repressão da Ditadura Militar, nos moldes da “canção deprotesto”.
qualquer podemos ou não estar conscientes dos diferentes sentimentos e efeitos operados pela inserção musical (felicidade, medo, ansiedade, suspense, romance, comicidade, etc..), mas, o fato é que se alterarmos o gênero musical, teremos outra interpretação possível da mesma cena. É certo, pois, que a conjunção de sentidos que podemos ou não conferir à função da canção em uma cena qualquer é parte de um grande arcabouço presente em todos nós, resultado das combinações estereotipadas, forjadas em todo esse período pelas produções audiovisuais do cinema e da TV, das quais somos consumidores6. Mas, há, ainda, uma segunda abordagem possível do papel das trilhas sonoras e, tal como foi dito anteriormente, esse é o aspecto que nos interessa aqui nessa pesquisa e que representa nosso principal eixo de análise. Nesse sentido, buscamos avaliar qual foi o impacto da trilha sonora da telenovela como um meio peculiar de difusão da canção popular brasileira e também internacional (sobretudo de língua inglesa) no mercado fonográfico brasileiro. Mais precisamente buscamos analisar como a inserção de uma canção e artista como fundo musical da telenovela extrapolou os limites da própria teledramaturgia e influenciou o mercado musical em todo seu conjunto, determinando a participação de tal artista e canção entre as músicas mais executadas nas rádios, entre os discos mais vendidos e, até mesmo, em segmentos e gêneros musicais predominantes que, em casos específicos, duraram apenas o mesmo tempo de exposição que a telenovela esteve ar. Partimos, para tanto, de algumas questões-chaves: qual a participação da trilha sonora, como mercadoria cultural especifica, no mercado fonográfico? Quais foram os artistas, canções e segmentos musicais predominantes na composição do fundo musical das telenovelas? Como a presença na trilha sonora determinou o sucesso desses artistas e canções, ou seja, como influiu nas listagens dos discos mais vendidos e das canções mais executadas nas rádios? Em que medida a trilha sonora potencializou determinados segmentos e gêneros musicais em todo o mercado musical? Estamos, dessa forma, no espaço da difusão das mercadorias musicais, espaço especifico da produção cultural, cenário no qual a trilha sonora desempenha um papel bastante singular, não apenas como uma mercadoria cultural particular, mas também como um dos meios possíveis para compreendermos a forma de atuação da indústria fonográfica e da difusão da canção popular no contexto brasileiro. A trilha sonora da telenovela resulta, dessa forma, da junção entre canção e novela, entre indústria fonográfica e televisão; duas das
(^6) Yúdice (2007, p. 29-31) argumenta que a modernidade é marcada por uma reconfiguração acústica de todas as sonoridades tradicionais, graças, sobretudo, às vastas tecnologias que ampliaram os meios possíveis de escuta. Nesse sentido, diz o autor, ao mesmo tempo em que temos que considerar a existência de um inconsciente ótico, na medida em que a modernidade é um regime predominantemente visual, devemos considerar também a existência de um inconsciente sonoro, marcado pela intensa presença do som em nossa vida.
Para os fins desta pesquisa, elegemos como objeto a trilha sonora da telenovela produzida pela TV Globo e pela gravadora Som Livre, seu braço fonográfico, ambas pertencentes às Organizações Globo. Como se sabe, embora existiram outras gravadoras como Seta/Record e GTA/Tupi, ou existam outras gravadoras como Bandeirantes Discos/ Bandeirantes, a Som Livre/Globo é hegemônica no Brasil. Abordamos, para tanto, um período bastante extenso, compreendido entre 1969 e 2005, que nos permitirá, ao final, uma visão panorâmica de todo esse cenário, revelando seus principais aspectos quanto à participação da trilha sonora no mercado fonográfico nacional. A primeira trilha sonora produzida pela TV Globo foi em parceria com a gravadora Phillips (atual Universal Music), justamente no ano de 1969, para a novela Véu de Noiva. A Som Livre, embora já tivesse sido criada nesse mesmo ano como parte da Sigla – Sistema Globo de Gravações Audiovisuais – , viria a produzir sua primeira trilha apenas em 1971 (novela O Cafona), quando, então chega ao fim a parceria TV Globo/Phillips. Termino esta abordagem com a trilha sonora da novela Vila Madalena, transmitida no horário das 19:00hs pela emissora carioca, em 2005, ano que marca uma reconfiguração nas estruturas da Som Livre com a saída do presidente João Araújo (que ocupava o cargo desde o surgimento da gravadora) e com a volta da produção de discos autorais pela gravadora, prática que havia sido extinta desde 1987, quando a Som Livre passou a concentra-se unicamente na produção e divulgação das trilhas sonoras. De qualquer maneira, embora a TV Globo tenha investido nas questões relativas ao áudio, de uma maneira geral e no conjunto de toda programação (através da profissionalização de seus quadros e com a criação, em 1984, de um departamento exclusivo para tratar especificamente dos ruídos do produto televisivo, numa alusão ao que é feito pelo cinema norte-americano), foi através da consolidação das trilhas sonoras das telenovelas que a emissora estabeleceu, de fato, um vínculo com a indústria fonográfica por meio da gravadora Som Livre – que possui a exclusividade da produção e difusão dos discos das trilhas – , e também com as outras gravadoras que, interessadas no espaço desfrutado pela telenovela no mercado brasileiro, enxergavam uma possibilidade de divulgação em massa com características muito particulares: exibição diária, por meses, altos índices de audiência. São as gravadoras multinacionais do mercado fonográfico que irão “contribuir” com a Som Livre e com a TV Globo na composição das trilhas sonoras das novelas, cedendo artistas e canções. Das trilhas sonoras encomendadas a um ou dois artistas no início dos anos 70 que compunham as canções especialmente para cada trama de novela, a parceria Globo/Som Livre logo apostaria em outra prática, em meados da mesma década: a associação com as multinacionais do disco, buscando fonogramas já gravados (portanto, sem os custos da
produção para TV Globo e sua gravadora), num cenário mediado por interesses de grandes empresas com produtos a oferecer e interessadas, portanto, nos espaços de divulgação. Em pouco tempo, no conjunto do mercado da produção cultural, a importância da trilha sonora ultrapassou a mera função de complemento narrativo e acabou por se tornar um espaço privilegiado de difusão da música, determinando profundamente os artistas, canções e segmentos musicais que passaram a ocupar os espaços mais importantes de divulgação em outros programas da emissora carioca e também nos outros meios. A indústria fonográfica, cada vez mais, passou a ter no segmento das trilhas sonoras um dos seus pólos mais dinâmicos: artistas foram consolidados ou revelados nas trilhas, canções tocaram incessantemente enquanto a telenovela, da qual eram temas, esteve no ar e mesmo segmentos musicais foram intensamente difundidos por estarem associados a determinadas tramas, repercussão que durou, na maioria dos casos, apenas o mesmo tempo de exibição da novela. Em casos específicos, com a exportação da telenovela para outros países, esse fenômeno também se internacionalizou: recentemente, a trilha sonora da novela Páginas da Vida, escrita por Manoel Carlos, figurou por meses como o disco mais vendido em Portugal7. A consolidação da trilha sonora como produto cultural específico e de importante repercussão na indústria fonográfica se fez num momento bastante particular da indústria cultural brasileira: a formação e consolidação do mercado de bens simbólicos sob a égide do Regime Militar (ORTIZ, 2001), chegada e consolidação das gravadoras multinacionais do disco no mercado brasileiro (MORELLI, 1991; DIAS, 2000, VICENTE, 2001); o controle do mercado pelas grandes agências monopolistas; a consolidação da televisão, de uma maneira geral, e da TV Globo em particular como o principal meio de comunicação de massa no país. Tais forças atuaram no panorama musical desde os anos 60, impondo novas estratégias de promoção e produtos, reorganizando o mercado de bens culturais como um todo. A novela logo se tornaria um dos principais produtos culturais entre nós, mas, também no mercado mundial (ORTIZ, BORELLI, RAMOS, 1989; FERNANDES, 1997). No campo da produção musical, a MPB se configurava como um dos principais segmentos musicais, caracterizado por alguns pesquisadores como uma verdadeira instituição musical (NAPOLITANO, 1999), ao mesmo tempo em que gêneros musicais mundializados, originalmente estranhos ao nosso contexto, como o rock, jazz e soul, tornavam-se parte do mercado consumidor fonográfico através da distribuição de discos produzidos no exterior pelas multinacionais, e, também, pela
(^7) O CD ficou mais de quatro meses entre os discos mais vendidos, sendo que por 12 semanas ocupou o primeiro lugar. Cf.: Trilha sonora de ‘Páginas da Vida’ lidera vendas em Portugal. Disponível em http://musica.uol.com.br/ultnot/lusa/2007/05/15/ult3611u145.jhtm. Acesso em 05 jun. 2007.
depende desses mesmos nomes ou, então, de artistas que venham a fazer sucesso a partir de sua inserção na trama e que poderiam funcionar como um gatilho para motivar a compra do CD da trilha. Às demais gravadoras interessa o espaço de divugação que um artista novo conta quando exposto como trilha musical. Analisando, dessa forma, a trilha sonora como um meio difusor e relacionando seus impactos no mercado fonográfico, foi possível constatar que suas conseqüências ecoam, pelo menos, de duas maneiras distintas, mas não antagônicas: numa delas, o espaço de divulgação via trilha musical da novela funciona no sentido de potencializar modas musicais, de curta duração (normalmente apenas o tempo no qual a novela permanece no ar) que movimentam a indústria fonográfica, na medida em que significam grandes quantidades de vendas de discos, ainda que por um período curto. Nesse sentido, a inserção de tal gênero na trilha sonora se desmembra por todo mercado musical: em coletâneas, nas contratações das gravadoras, nas listagens dos mais executados, dos mais vendidos, o segmento em questão, como um todo, passa a fazer parte das listagens dos mais vendidos e das canções mais executadas. Sua presença na trilha sonora de uma determinada novela acaba sendo decisivo para a prospecção do gênero de uma maneira mais geral por toda a indústria fonográfica. Nesse caso especifico, o elemento difusor propiciado pela presença da música na novela possui um efeito cascata, influindo na duração do segmento como um todo pelo conjunto da indústria fonográfica. Na outra ponta, é possível percebermos no conjunto das trilhas sonoras a renovação de segmentos musicais já consagrados, com a entrada em cena de novos artistas, que permitem à indústria fonográfica outra relação com o mercado consumidor: se não representam, de uma forma geral, artistas de grande apelo popular, com alto índice de vendagem em um tempo curto, são, por outro lado, artistas cujo retorno dos investimentos se dá a médio prazo, mas que possuem um tempo “de duração” mais longo no interior da indústria fonográfica. Nesse último caso, um dos exemplos mais significativos é o da MPB. A difusão nesse caso por meio das trilhas sonoras teria como conseqüência possibilitar a renovação de um gênero musical de larga tradição na história da música brasileira, mas alavancando apenas as vendagens dos artistas que se relacionariam com a trilha naquele momento e não do segmento como um todo. Ou seja, não se verifica um boom na produção, difusão e consumo da MPB, apesar da presença de alguns dos seus novos nomes entre os discos mais vendidos. Logo, se instaura uma interdependência entre a emissora de TV e as gravadoras do mercado fonográfico que acabam revelando o círculo vicioso do processo de difusão de canções a artistas Nesse cenário, o espaço de divulgação da música passou a ser o da promoção inserida no conjunto da programação, mais especificamente, como fundo musical
da novela, gerando o disco de trilha sonora, produto que tem garantido nesses anos seu lugar privilegiado não apenas da TV Globo e da Som Livre, mas de toda indústria fonográfica. A seleção de canções e artistas, feitas sob encomenda ou selecionadas a partir da diversidade de canções já gravadas, obedece a uma série de interesses tanto dos produtores de telenovelas como também da indústria fonográfica que acabaram determinando quem participa ou não do grande mercado de música do país. No centro de todo esse processo está a música e as inúmeras decisões que permeiam o universo da sua divulgação. A pesquisa desta tese oferece, portanto, uma visão panorâmica desse cenário no qual a trilha sonora das telenovelas produzidas pela TV Globo tornou-se um dos produtos culturais mais importantes da indústria fonográfica, determinando em muitos momentos os caminhos que essa indústria seguiu. Para a análise proposta aqui, o conceito de indústria cultural, tal como formulado por T. Adorno e M. Horkheimer (1985) e, especialmente, os trabalhos de Adorno (1983; 1994;