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Assistência Farmacêutica Clínica na Atenção Primária: Experiência em Janaúba (MG), Manuais, Projetos, Pesquisas de Farmácia

Artigo em português relacionado a assistência Farmacêutica

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2020

Compartilhado em 26/03/2020

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Rev. Bras. Farm., 91(1):37-45,2010
Assistência farmacêutica clínica na
atenção primária à saúde por meio
do Programa Saúde da Família
Clinical pharmaceutical assistance in
primary care services offered through
the family health program
Orenzio SolerI
Mário Borges RosaII
Aroldo Leal da FonsecaIII
Maria de Fátima FassyIV
Mirthes Castro MachadoIV
Rosa Maria da Conceição e SilvaIV
Carlos Alberto Pereira GomesIV
I Docente-Pesquisador. Programa Farmácia Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Centro de Ciências da
Saúde. Faculdade de Farmácia. Departamento de Medicamentos. CEP: 21.941-590. Rio de Janeiro. RJ. Brasil
II Consultor. Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais – Fhemig. Secretaria de Estado
de Saúde de Minas Gerais. CEP: 30140-040. Belo Horizonte. MG. Brasil
III Consultor. Colaborador. Fundação Osvaldo Cruz – Fiocruz. Ministério da Saúde. CEP: 21040-360. Rio de Janeiro. RJ. Brasil
IV Idealizadores do projeto. Fundação Ezequiel Dias – Funed. Secretaria de Estado de
Saúde de Minas Gerais. CEP 30510-010. Belo Horizonte. MG. Brasil
RESUMO - Este artigo avalia a estratégia da assistência farmacêutica clínica desenvolvi-
da pelo farmacêutico nas equipes do Programa Saúde da Família – PSF e sua inserção na
Atenção Primária à Saúde de Janaúba (MG). E um estudo de caso com recorte temporal
entre maio e dezembro de 2008. Para a programação das tarefas que foram desenvolvidas
pelos Farmacêuticos, partiu-se da linha de base de dados e informações armazenadas nos
sistemas disponibilizados pela Secretaria de Saúde. O método foi concebido e as ferra-
mentas de trabalho foram planejadas, desenvolvidas, testadas, incorporadas nos prontuá-
rios eletrônicos e os resultados monitorados e avaliados. Foram realizadas 1.883 avaliações
de adesão aos tratamentos, 2.544 visitas domiciliares, 2.571 atendimentos farmacêuticos à
demanda espontânea, 382 participações em grupos operativo-educativos, entre outras ativi-
dades. Observou-se, como resultado imediato, a efetiva participação do Farmacêutico na
equipe multidisciplinar de saúde. O Farmacêutico conheceu o diagnóstico local (epidemio-
lógico, demográfi co, ambiental e socioeconômico), a estratifi cação dos pacientes por riscos
das doenças, apropriando-se da população sob sua responsabilidade com metas defi nidas
e resultados avaliados. Conclui-se, que as atividades da assistência farmacêutica clínica
proporcionam ao Farmacêutico apoiar e cooperar efetivamente com as ações de promoção,
prevenção e tratamento na Atenção Primária à Saúde.
Palavras-chave: Assistência Farmacêutica Clínica. Programa Saúde da Família.
Atenção Primária à Saúde.
268/576 - Assistência Farmacêutica - Artigo Original
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Rev. Bras. Farm., 91(1):37-45,

Assistência farmacêutica clínica na

atenção primária à saúde por meio

do Programa Saúde da Família

Clinical pharmaceutical assistance in

primary care services offered through

the family health program

Orenzio SolerI Mário Borges RosaII Aroldo Leal da FonsecaIII Maria de Fátima Fassy IV Mirthes Castro Machado IV Rosa Maria da Conceição e SilvaIV Carlos Alberto Pereira Gomes IV

I (^) Docente-Pesquisador. Programa Farmácia Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Centro de Ciências da Saúde. Faculdade de Farmácia. Departamento de Medicamentos. CEP: 21.941-590. Rio de Janeiro. RJ. Brasil II (^) Consultor. Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais – Fhemig. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. CEP: 30140-040. Belo Horizonte. MG. Brasil III (^) Consultor. Colaborador. Fundação Osvaldo Cruz – Fiocruz. Ministério da Saúde. CEP: 21040-360. Rio de Janeiro. RJ. Brasil IV (^) Idealizadores do projeto. Fundação Ezequiel Dias – Funed. Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. CEP 30510-010. Belo Horizonte. MG. Brasil

RESUMO - Este artigo avalia a estratégia da assistência farmacêutica clínica desenvolvi- da pelo farmacêutico nas equipes do Programa Saúde da Família – PSF e sua inserção na Atenção Primária à Saúde de Janaúba (MG). E um estudo de caso com recorte temporal entre maio e dezembro de 2008. Para a programação das tarefas que foram desenvolvidas pelos Farmacêuticos, partiu-se da linha de base de dados e informações armazenadas nos sistemas disponibilizados pela Secretaria de Saúde. O método foi concebido e as ferra- mentas de trabalho foram planejadas, desenvolvidas, testadas, incorporadas nos prontuá- rios eletrônicos e os resultados monitorados e avaliados. Foram realizadas 1.883 avaliações de adesão aos tratamentos, 2.544 visitas domiciliares, 2.571 atendimentos farmacêuticos à demanda espontânea, 382 participações em grupos operativo-educativos, entre outras ativi- dades. Observou-se, como resultado imediato, a efetiva participação do Farmacêutico na equipe multidisciplinar de saúde. O Farmacêutico conheceu o diagnóstico local (epidemio- lógico, demográfico, ambiental e socioeconômico), a estratificação dos pacientes por riscos das doenças, apropriando-se da população sob sua responsabilidade com metas definidas e resultados avaliados. Conclui-se, que as atividades da assistência farmacêutica clínica proporcionam ao Farmacêutico apoiar e cooperar efetivamente com as ações de promoção, prevenção e tratamento na Atenção Primária à Saúde.

Palavras-chave: Assistência Farmacêutica Clínica. Programa Saúde da Família. Atenção Primária à Saúde.

268/576 - Assistência Farmacêutica - Artigo Original

ABSTRACT - This article evaluates the strategy of pharmaceutical services developed by teams of clinical pharmacists in the Family Health Program - FHP and its insertion into Primary Health Janaúba City (Minas Gerais, a state in Brazil). We performed a case study of the time frame between May and December 2008. For evaluation of the tasks developed by pharmacists, we obtained baseline data and information from systems provided by the Department of Health Janaúba. The method was designed, work tools were designed, develo- ped, tested and incorporated into online electronic medical records, and the results were monitored and evaluated. In this context, the pharmacist has to take ownership of knowledge (epidemiological, demographic, environmental and socioeconomic) of the local population under his or her responsibility, including its stratifi cation by risk and its accountability, and must defi ne goals and evaluate results. In the time frame studied, we observed 1883 asses- sments (sometimes relating to treatment adherence), 2544 home visits, 2571 instances of pharmaceutical care in response to growing demand and 382 instances of participation in educational duties, among other activities. As an immediate outcome of this study, it was observed that the pharmacist work has an effective participation in the health team. We conclude that the activities of the pharmaceutical care clinic contribute to better participa- tion of pharmacists in primary health care.

Keywords: Clinical Pharmaceutical Assistance. Family Health Program. Primary Health Care.

INTRODUÇÃO

Este artigo descreve a estratégia da estruturação da assis- tência farmacêutica clínica por meio do Programa Saúde da Família – PSF no município de Janaúba (MG), uma experiência inédita no Brasil. Aqui, compreende-se como assistência farmacêutica clínica as ações centrada em uma práxis ressignificada no campo do uso racional de medica- mentos na Atenção Primária à Saúde, resultante de inter- venções planejadas, estruturadas, articuladas, monitoradas e avaliadas.

De acordo com Gomes et al. (2007) a assistência farma- cêutica clínica com foco central de ação no paciente, estru- tura-se em ações técnico-assistenciais e téc nico-gerenciais, reelaborando suas estratégias e métodos de trabalho. Utili- za-se de recursos cognitivos para assistir ao pa ciente em suas necessidades de tratamento e cuidado, para acompa- nhar e avaliar a ação, interferência e re sultado do uso de medicamentos e outras intervenções terapêuticas. Sua ação integrada com uma equipe multiprofissional e outras práticas da atenção à saúde contribui decisivamente para a melhoria da quali dade desta atenção.

A função principal da assistência farmacêutica clínica se concentra em atividades edu cativas, apropriadas de outros saberes e práticas, dan do aos pacientes condições de melhor compreender a sua doença ou condição, a importância do seguimento ade quado do seu plano de cuidado, a proposta terapêuti ca e uso correto dos medicamentos. Em seu conjun- to de atividades educa, auxilia e dá suporte ao paciente no autocuidado planejado e na avaliação dos resultados de seu tratamento.

Com esta compreensão, já em 2002, o diagnóstico do panorama da saúde em Minas Gerais levou a Secretaria de Estado da Saúde a elaborar o Plano Estratégico da Saúde em Minas Gerais (MINAS GERAIS, 2007), considerado como prioridade do atual governo. O Plano se estrutura no chamado Plano Diretor da Atenção Primária à Saúde e organizado em Sistemas de Redes de Atenção à Saúde (MENDES, 2002; ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2004), que tem como base organizacional o Programa Saúde da Família – PSF. Este modelo compre- ende um dos componentes estratégicos para o Plano Diretor da Assistência Farmacêutica Clínica (GOMES et al. , 2007), pensado como um novo conceito no campo da Atenção Primária à Saúde (NAÇÕES UNIDAS, 1978), que em 2008 comemorou 30 anos.

A Fundação Ezequiel Dias – Funed (Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais) em parceria com uma equipe de conceituados profissionais formularam uma proposta factí- vel para a inserção do farmacêutico no Programa Saúde da Família – PSF, tendo como finalidade assegurar o uso racio- nal de medicamentos, especialmente para doenças crôni- cas, aumentando assim a efetividade no campo das ações de saúde. Esta nova estratégia de atuação do profissional farmacêutico na atenção primária à saúde está publicada no livro “A Assistência Farmacêutica na Atenção à Saúde” (GOMES et al. , 2007).

Ressalta-se, que a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais selecionou o município de Janaúba (MG) para a implantação do Plano Diretor da Atenção Primária à Saúde de Minas Gerais, justificado pelo seu compromisso com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS. Este plano consiste em um conjunto de intervenções

MATERIAL E MÉTODOS

O processo de construção desta experiência iniciou com a fase exploratória da investigação, tempo este dedicado a se interrogar sobre o objeto, os pressupostos, as teorias pertinentes, o método apropriado e as questões operacionais para levar a cabo o trabalho de campo (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 2003; YIN, 2005). Assim, optou-se por um estudo de caso, com recorte temporal entre maio e dezembro de 2008, a partir da linha base de dados e informações coletadas nos sistemas disponibilizados pela Secretaria de Saúde de Janaúba (MG).*

As etapas da implantação da assistência farmacêutica clíni- ca em Janaúba (MG) teve início em setembro de 2007, quando o município contratou sete farmacêuticos que foram distribuídos entre as vinte equipes do Programa Saúde da Família – PSF (100% de cobertura) existentes no municí- pio. A distribuição dos profissionais foi organizada de forma que cada farmacêutico fosse responsável por, em média, três equipes. Isso aconteceu por motivos geográficos, já que alguns farmacêuticos, como os responsáveis por regiões rurais, ficaram com duas equipes, enquanto na zona urbana, cada farmacêutico ficou responsável por quatro equipes. O farmacêutico passou a ter compromisso sanitário por uma parcela da população previamente definida, sendo respon- sável por acompanhar/monitorar a saúde dos seus pacientes (usuários), executando atividades definidas como assisten- ciais clínicas em contraponto às atividades logísticas.

É importante registrar que foram realizadas apresentações do projeto para cerca de 240 trabalhadores envolvidos, divididos em quatro sessões consecutivas, possibilitando uma aproxi- mação entre os distintos atores. Compreendendo a importân- cia das ações propostas, os Agentes Comunitários de Saúde

  • ACS começaram a identificar e encaminhar aqueles pacien- tes (usuários) que necessitavam de atenção especial.

Para superar a dificuldade de interlocução dos farmacêuti- cos para com seus pares houve a necessidade de educação continuada, por meio de estudos em grupos das Linhas- Guias e das doenças prioritárias e seus tratamentos, em reuniões periódicas com a assessoria do grupo idealizador do projeto.

Utilizou-se, de métodos e técnicas, que permitem a gestão da terapêutica a exemplo da gestão de caso, dispensação

especializada, atendimento farmacêutico a demanda espon- tânea, participações em grupos operativos/educativos e as visitas domiciliares. Registra-se, que a Secretaria de Saúde de Janaúba (MG) priorizou agravos como asma grave em crianças menores de cinco anos de idades, hipertensão, diabetes, hanseníase, tuberculose e idoso frágil.

Neste contexto, foram programadas e quantificadas as seguintes atividades para os farmacêuticos:

  • Acompanhamento da adesão que visa medir o grau de adesão do paciente ao tratamento farmacológico, identi- ficando os fatores que condicionam a não adesão. A partir daí, se estabelece um pacto com os pacientes (usuários) para o cumprimento do plano geral de cuidados.
  • Dispensação especializada onde o farmacêutico reali- za a entrega dos medicamentos pessoalmente, de forma reservada e conforme um sistema pré-fixado, aos pacientes (usuários) de primeiro diagnóstico, nova prescrição, dificuldade de adesão ou os encaminhados pelo médico. Também são agendados retornos para um melhor acompanhamento destas pessoas.
  • Conciliação de medicamentos como método utilizado para racionalizar o uso de medicamentos, diminuindo assim a possibilidade de erros quando o paciente se encontra em pontos de transição dos níveis de assistên- cia à saúde.
  • Gestão de caso como ação desenvolvida em conjunto com outros membros da equipe de saúde, é dirigida aos pacientes (usuários) com problemas de adesão ao trata- mento ou com elevado grau de risco.
  • Atendimento farmacêutico à demanda espontânea que tem como finalidade avaliar, orientar, ajudar e educar pacientes (usuários) com dúvidas ou problemas em relação aos medicamentos, a partir de demanda espon- tânea ou agendamentos.
  • Participação em grupos operativo-educativos para proporcionar informações sobre o uso racional de medicamentos e sanar dúvidas sobre sua perspectiva dos tratamentos, integrando-se efetivamente à equipe de saúde.
  • Visitas domiciliares para acompanhar de perto os casos clínicos participando com a equipe multidisciplinar das visitas domiciliares.
  • Janaúba é um município brasileiro do estado de Minas Gerais com uma população de 65.387 habitantes em 2007. Está localizada na Mesor- região do Norte de Minas, na área mineira do Semi-árido brasileiro e na micro-região da Serra Geral de Minas, da qual é a cidade pólo. Dista 132 km de Montes Claros e 547 km de Belo Horizonte. Conta com uma área de 2.151,71 km2, sendo 39,54 km2 perímetro urbano e com 20,00 km2 de área urbanizada. Possui 25 bairros distribuídos em 06 regiões. Possui os seguintes equipamentos públicos de saúde: 01 Hospital Regional com 120 leitos, 03 Postos de Saúde (zona rural), 02 Ambulatórios de Unidade de Saúde (Hospitais), 08 Consultórios Odontológicos da rede pública urbana, 03 Consultórios Odontológicos da rede pública rural e 07 Centros de Saúde (zona urbana) [Dados disponibilizados em 2007 pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais por meio do Comitê de Assuntos Estratégico da Secretaria de Saúde de Minas Gerais e referenciado no Plano Estratégico da Saúde em Minas Gerais 2007-2010].

Em tempo, a Programação Local da Assistência Farma- cêutica Clínica na atenção primária à saúde foi pactuada por categorias: resultados esperados, metas, descrição das atividades, parâmetro médio de percentual de atividades em função das especificidades de cada equipe, número de equipes por farmacêutico, perfil epidemiológico da popula- ção adstrita, atividades propostas, número de atividades programadas e prazos estabelecidos. Por fim, monitorou- se os resultados alcançados, o número total de atividades executadas e o percentual de cobertura do atendimento.

RESULTADOS

O município de Janaúba (MG) dispunha de duas farmacêu- ticas concursadas, responsáveis pelas atividades logísticas. A realidade local permitiu que fossem contratados mais sete farmacêuticos, garantindo assim, um farmacêutico em média, para cada três Equipes de Saúde da Família – PSF. A distribuição dos mesmos levou em consideração a dispo- sição geográfica, demográfica e o local da residência dos respectivos farmacêuticos.

As Planilhas de Programação Local da Assistência Farma- cêutica – PLAF se constituiu em um simulado de progra- mação considerando um profissional farmacêutico para três equipes do PSF com as atividades/mês para 40 horas semanais. Registra-se, que a diversidade das atividades preconizadas para os farmacêuticos dificultaram o estabele- cimento das metas quando comparado as de outros profissio- nais da equipe. Assim, chegou-se a proposição de que cada farmacêutico poderia realizar cerca de 240 atendimentos nas 40 horas semanais, divididos pelo número de equipes do PSF. Destaca-se, que o número de equipes por farma- cêuticos ainda é experimental, pois como se trata de uma proposta que não foi encontrado pelos autores na literatu- ra brasileira o relato de experiência deste tipo, não estando ainda definido qual é o número ideal de profissionais.

As informações referentes à população alvo (MENDES, 2002; MINAS GERAIS, 2005; 2006) a ser beneficiada foi referida e quantificada por condição ou patologia e estratifi- cação por grau de risco considerando:

  • Hipertensão de médio, alto e muito alto risco;
  • Diabetes: usuários de insulina, não usuários de insulina sem hipertensão, não usuários de insulina com hiperten- são;
  • Tuberculose;
  • Hanseníase;
  • Idosos de alto risco/ idoso frágil: idosos acima de oiten- ta anos; idosos com mais de sessenta anos apresentando polipatologias (cinco ou mais diagnósticos), polifar- Tabela 1. mácia (cinco ou mais drogas/dia), imobilidade parcial

Atendimentos da assistência farmacêutica clínica programados para o período de maio a outubro de 2008

Atividades programadas

Grupos prioritários

Hipertensos

Médio, alto, muitoalto, risco

Diabéticos usuáriosde insulina e nãousuários de insulinasem hipertensão

Tuberculose

Hanseníase

Idosos dealto risco/

Idosofrágil

Criança asmamoderada/grave menorde 05 anos

Outrospacientesoutras patologias

Soma dasatividades

Atendimentofarmacêutico

Total de atendimentos

Acompanhamento da adesãoao tratamento

4109

401

03

09

2180

88

NP

6790

1x

6790

Gestão de caso

172

31

21

09

167

14

NP

414

3x

1242

Dispensação especializada

357

34

03

185

44

NP

1x

Conciliação de medicamentos

150

15

07

03

143

NP

3x

Participações em gruposoperativos/educativos

117

18

NP

NP

49

NP

NP

184

3x

552

Visitas domiciliares

69

34

14

06

81

NP

NP

204

3x

612

Atendimento Farmacêutico ademanda espontânea

NP

NP

NP

NP

NP

NP

NP

NP

NP

NP

Total

Fonte: Programação das ações e tarefas dos farmacêuticos com base no perfil epidemiológico do município (Pesquisa de campo, 2008)NP – Não programado.

É importante registrar que no início das atividades houve um certo estranhamento por parte de membros das equipes, que não compreendia qual era o real papel do farmacêu- tico naquele contexto. Contudo, ao final dos seis meses, constata-se, que todos estão perfeitamente integrados, em especial com os Agentes Comunitários de Saúde – ACS, que interagem como elo entre as necessidades dos pacientes (usuários) e as habilidades e competências dos farmacêuti- cos, potencializando, assim, as estratégias farmacológicas e não-farmacológicas estabelecidas pelos profissionais da saúde. Neste cenário, é interessante assinalar que o corpo clínico reconhece, quando das entrevistas concedidas para a produção do vídeo sobre a da Assistência Farmacêutica Clínica na Atenção Primária à Saúde: Experiência de Janaú- ba – MG (MINAS GERAIS, 2009), a importância desse trabalho multiprofissional e multidisciplinar para a resolu- bilidade do Sistema Único de Saúde – SUS.

Assim como nas atividades dos demais profissionais, que já é parte regular do que prevê o Plano Diretor da Saúde, as atividades descritas anteriormente foram pensadas para comporem a Planilha de Produção por Equipes de Saúde

  • PPES que os farmacêuticos passaram a ser co-responsá- veis. Essa programação é, conforme idéia inicial, voltada especialmente para as condições clínicas observadas nos seguintes pacientes (usuários): diabéticos, hipertensos, hansenianos, tuberculosos, crianças com menos de cinco anos que portam asma grave e, por fim, idosos de alto risco (Tabela 1 – Atendimentos da assistência farmacêutica clíni- ca programados para o período de maio a outubro de 2008).

Os resultados das atividades apresentados na Tabela 2 (Atendimento da assistência farmacêutica clínica executa- dos no período de maio a outubro de 2008) demonstram que foram realizadas em seis meses 1.359 avaliações de adesão aos tratamentos, 1.747 visitas domiciliares, 1.822 atendimen- tos farmacêuticos à demanda espontânea, 311 participações em grupos operativo-educativos, entre outras atividades.

Em adição, pode-se, inferir que houve uma relação entre a melhoria da adesão aos tratamentos farmacológicos e as atividades implantadas, em média de 50% (Tabela 3 - Grau de adesão em maio e em outubro de 2008), alguns acima da média mundial em torno de 75%, (ORGANIZA- CIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 2004) demonstrando o resultado efetivo do trabalho das equipes de saúde em um município com 100% de cobertura da atenção básica.

Ressalta-se, que a proposta inicial quanto conciliação de medicamentos, seria feita somente nos idosos que recebes- sem alta hospitalar. Assim, estabeleceu-se um fluxo onde era informado aos farmacêuticos os idosos que recebiam alta para que os mesmos fizessem a conciliação. Com esta dinâmica se observou pouca demanda, provavelmente justi- ficado pela organização do Sistema Único de Saúde – SUS em Janaúba (MG) contar com um efetivo sistema de referên- cia e contra-referência. Reavaliou-se, conjuntamente com Programa Viva Vida , (MINAS GERAIS, 2005) responsá- vel pelos atendimentos especializados, da necessidade de busca ativa de todos os pacientes (usuários) com mais de duas patologias que recebessem alta na semana e, que usassem mais de cinco medicamentos, assim como, aqueles que utilizavam anticoagulantes. Esta dinâmica funcionou melhor. Observou-se, um excesso de visita domiciliar, mas quando se correlaciona as visitas com as efetividades dos tratamentos o resultado é satisfatório.

Sabe-se, que a estruturação de uma estratégia como a da assistência farmacêutica clínica iria encontrar algumas dificuldades inerentes a qualquer processo de inovação. Cumpre-se, registrar, que foi necessário superar dificulda- des relacionadas com estrutura, sistematização das ativida- des, treinamento dos auxiliares de farmácia, informatização e rede, gestão de suprimentos, prontuários eletrônicos, dificuldade de retorno de informação para o médico e à equipe, assim como as atividades dos farmacêuticos não serem inseridas no prontuário eletrônico para registro de

Tabela 3. Grau de adesão em maio e em outubro de 2008

Medida de adesão ao tratamento (MAT)

Grupos prioritários

Hipertensos Médio, alto, muito alto, risco

Diabéticos usuários de insulina e não usuários de insulina sem hipertensão

Tuberculose Hanseníase

Idosos de alto risco/ Idoso frágil

Criança asma moderada/ grave menor de 05 anos Usuários/pacientes acompanhados 960 113 10 06 15 NA Média do grau de adesão / Maio de 2008 29,9^ 29,3^ 47,4^ 47,1^ 33,15^ NA Média do grau de adesão / Outubro de 2008 59,9^ 58.6^ 94.8^ 94.2^ 66.3^ NA

NA – Não se aplica devido não ter tido ocorrência deste tipo de usuário/paciente. Fonte: Pesquisa de campo (2008)

produtividade. Em tempo, com a experiência adquirida, pode-se afirmar que há necessidade de 01 farmacêutico para cada Equipe de Saúde da Família.

CONCLUSÃO

A integração dos farmacêuticos às equipes de saúde não foi um processo fácil e rápido. Alguns obstáculos que se apresentaram inicialmente foram transpostos através de treinamentos específicos e muito trabalho. Pelo menos três momentos representaram desafios a serem superados, e que, já podem ser considerados como componentes a serem trabalhados em outros locais que venham a desenvolver esta modalidade de assistência farmacêutica clínica.

O primeiro obstáculo foi à compreensão do novo papel do farmacêutico pelos membros das equipes, o qual foi supera- do por meio da apresentação, esclarecimento e sensibili- zação dos trabalhadores envolvidos, possibilitando uma aproximação entre os distintos atores. Ao compreender a importância das ações propostas os Agentes Comunitários de Saúde – ACS passaram a identificar e encaminhar aqueles pacientes (usuários) que necessitavam de atenção especial.

O segundo obstáculo fez com que se buscasse superar as carências na formação dos farmacêuticos, a exemplo das dificuldades na abordagem aos pacientes (usuários), especialmente na comunicação com os idosos e suas dificul- dades de adesão ao tratamento, entre outras. A realização de treinamento específico para os farmacêuticos com a partici- pação de profissionais experientes foi fundamental para que os farmacêuticos se aperfeiçoassem, conquistando a confian- ça, a cumplicidade e amizade dos pacientes (usuários).

O terceiro obstáculo foi uma insegurança na interlocução com os profissionais prescritores, em especial os médicos. Um exemplo prático é que uma vez identificada à dificulda- de do paciente em aderir à determinada estratégia terapêu- tica farmacológica ou não-farmacológica, buscava-se pactuar com o médico ou com a equipe clínica uma nova

estratégia de abordagem. Grupos operativos/educativos das Linhas-Guias e das doenças prioritárias e seus tratamentos em reuniões periódicas com a assessoria do grupo idealiza- dor do projeto minimizaram este problema. Neste contexto, aponta-se, como perspectiva, socializar as fichas de acompa- nhamento nos prontuário eletrônico para todos os profissio- nais das equipes de modo a facilitar sua interlocução.

Inferi-se, por fim, que a Assistência Farmacêutica Clínica Integrada na Atenção Primária à Saúde, por meio Programa Saúde da Família e dos Núcleos de Assistência ao Progra- ma Saúde da Família – NASF, compreende um conjunto de serviços que visam proporcionar uma melhor eficiência à gestão da terapêutica, utilizando-se de métodos e técnicas que permitam a integração ensino/serviço/comunidade a exemplo da gestão de caso, medida do grau de adesão aos tratamentos com medicamentos, reconciliação de medicamentos, dispen- sação especializada, atendimento farmacêutico a demanda espontânea, participações em grupos operativos/educativos, visitas domiciliares, bem como de Estudos de Utilização de Medicamentos e da difusão de informações para a promoção do Uso Racional de Medicamentos.

AGRADECIMENTOS

Instituições : OPAS/OMS-Brasil. Ministério da Saúde (DAB/SAS). Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Fundação Ezequiel Dias. Secretaria de Saúde de Janaúba (MG). Colaboradores : Adriana Pereira Rodrigues. Cassya- no Januário Correr. Edney Mendes Pereira. Francisco José Pacheco dos Santos. Mário Borges Rosa. Mauro Silveira de Castro. Farmacêuticos : Caroliny Greice Silveira Alves. Danielle Azevedo Barbosa. Eliane Pimenta Borem Morei- ra. Júnia Fagundes Menezes. Klebsson Cantuária Santos. Magda Barbosa Saraiva. Poliana Silva Ribeiro. Thayze Helena Enéias Cordeiro. Tiago Ferreira Cangussu. Agrade- dimentos Especiais : Eugênio Vilaça Mendes. Helvécio Campos Albuquerque. Maria Helena Lemos Gontijo.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, A. Janaúba e sua bela história de saúde. Pharmacia Brasileira , 67: 12-15, 2008.

FUCHS F. D.; BUSNELLO, R.G.; MELCHIOR R.; FACCIN C.; VETTORI D.; PETTER J.; MOREIRA L. B. Características Associadas ao Abandono do Acompanhamento de Pacientes Hipertensos Atendidos em um Ambulatório de Referência. Arq Bras Cardiol ., 76 (5): 349-51, 2001.

GOMES, C. A. P. (Org.). FONSECA A. L DA.; SANTOS F. J. P. DOS; ROSA M. B.; MACHADO M. C.; FASSY M. F. A assistência farmacêutica na atenção à saúde. Belo Horizonte: FUNED, 2007. 70p. ISBN: 978-85-7526-293-

MENDES, E.V. Os sistemas de serviços de saúde: o que os gestores deveriam saber sobre essas organizações complexas. Secretaria de Estado de Saúde do Ceará. Fortaleza: Escola de Saúde Pública do Ceará, 2002. 186 p.