




























































































Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
teologia reformada
Tipologia: Notas de estudo
1 / 651
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
D o g m á t ic a
R e fo r m a d a
Dogmática Reformada - O pecado e a salvação em Cristo Herman Bavinck
Dogmática Reformada - O pecado e a salvação em Cristo © 2012, Editora Cultura Cristã. © 2003 by the Dutch Reformed Translation Society. Originalmente publicado em inglês com o título Reformed Dogmatics pela Baker Academic, uma divisão do Baker Publishing Group, Grand Rapids, Michigan, 49516, USA. Todos os direitos são reservados. Ia edição - 2012 - 3.000 exemplares
Conselho Editorial Ageu Cirilo de Magalhães Jr Cláudio Marra ( Presidente) Fabiano de Almeida Oliveira Francisco Solano Portela Neto Heber Carlos de Campos Jr. Mauro Fernando Meister Tarcízio José de Freitas Carvalho Valdeci da Silva Santos
Produção Editorial Tradução Vagner Barbosa Revisão Maria Suzete Casselatto Airton Williams Mauro Filgueiras Wilson Ferreira de Souza Neto Editoração OM Designers Gráficos Capa Magno Paganelli
Bavinck, Herman B354d Dogmática reformada - O pecado e a salvação em Cristo / Herman Bavinck; traduzido por Vagner Barbosa. _ São Paulo: Cultura Cristã, 2012 656 p.; 16x23 cm Tradução Reformed dogmatics ISBN 978-85-7622-399-
1. Teologia 2. Teologia histórica I. Título CDD 230
G €DITORR CUITURR CRISTR Rua Miguel Teles Júnior, 394 - CEP 01540-040 - São Paulo - SP Caixa Postal 15.136 - CEP 01599-970 - São Paulo - SP Fones 0800-0141963 / (11) 3207-7099 - Fax (11) 3209- www.editoraculturacrista.com.br - cep@cep.org.br Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Editor: Cláudio Antônio Batista Marra
Religião, cultura e redenção ........... Sacrifício .......................................... 333 O sacrifício de Cristo ...................... 341 A doutrina da obra de Cristo .......... O desafio sociniano ......................... 351 Interpretações modernas da expiação ...................................... 357 Jesus, o Mediador ........................... 365 O triplo ofício de Cristo .................. 368 Justiça ou amor de Deus? ............... 372 A obediência de Cristo por nós ...... 381 Dimensões da morte de Cristo ....... 386 Consciência messiânica .................. 391 Satisfação vicária ............................. Objeções à satisfação vicária ........ 403 A doutrina dos dois estados ............ A descida ao inferno ....................... 415
8. A exaltação de Cristo .................... 423 Por meio da morte para a vida ...... 426 A doutrina dos dois estados ............ A interpretação reformada: a exaltação por meio da obediência ................................... Ressurreição e aparições ................ 442 Ascensão .......................................... 448 Reconciliação (expiação) ................ 452 Noções modernas de reconciliação ............................... O alcance da reconciliação (expiação) de Cristo ........................ 461 Expiação particular (limitada) ...... 466 O desafio do universalismo ............. A importância universal da expiação particular ......................... 475 O triplo ofício de Cristo no estado de exaltação .................... 480
Parte IV A salvação em Cristo........................... 489
9. A ordem da Salvação .................... 491
A busca universal de salvação ....... 497 A interpretação escriturística da salvação: graça ......................... 500 O derramamento do Espírito Santo ................................. 506 A plenitude da salvação como o dom do Espírito ........................... 510 Pelágio e Agostinho ....................... 515 Semipelagianismo? ........................ 519 Lutero e a Reforma ......................... 524 A ordo salutis na teologia reformada ....................................... 529 A ordo salutis no misticismo e no racionalismo ........................... 535 Pietismo e metodismo .................... 541 Subjetivismo no pensamento moderno: Kant ............................... 546 A filosofia moderna depois de Kant ............................................ A teologia moderna: Schleiermacher e Ritschl ................ 558 Estudo psicológico da experiência religiosa ...................... 563 Opções e erros básicos ................... 572 O caminho trinitariano de salvação ..................................... 577 O que é “graça”? .......................... 581 Os benefícios da graça ................... 587 A experiência religiosa e a questão da verdade ........................ 592 Somente a revelação produz realidade e verdade ........................^597
B i b l i o g r a f i a ......................................... 605 Abreviações .................................... 606 Livros .............................................. Artigos .............................................
S o c ie d a d e r e f o r m a d a
HOLANDESA DE TRADUÇÃO
“A herança dos tempos para hoje” P. O. Box 7083 Grand Rapids, MI 49510
C o n s e l h o d e D ir e t o r e s
Rev. Dr. Joel Beeke Reitor do Puritan Reformed Theological Seminary Pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation, Grand Rapids, Michigan
Dr. Gerald M. Bilkes Professor assistente de Antigo e Novo Testamentos do Puritan Reformed Theological Seminary, Grand Rapids, Michigan
Dr. John Bolt Professor de Teologia Sistemática no Calvin Theological Seminary, Grand Rapids, Michigan.
Dr. Arthur F. De Boer Médico aposentado. Grand Haven, Michigan.
Dr. James A. De Jong Reitor e Professor de Teologia Histórica, emérito, no Calvin Theological Seminary, Grand Rapids, Michigan.
Dr. Robert G. Den Dulk Homem de negócios. Reitor, emérito, do Westminster Theological Seminary, Escondido, Califórnia.
Prof. David J. Engelsma Professor de Teologia no Protestant Reformed Seminary, Granville, Michigan.
Dr. I. John Hesselink Albertus C. Van Raalte Professor de Teologia Sistemática, emérito, no Western Theological Seminary, Holland, Michigan.
Dr. Earl William Kennedy Professor de Religião, emérito, do Northwestern College, Orange City, Iowa.
Mr. James R. Kinney Diretor da Baker Academic, Baker Publishing Group, Grand Rapids, Michigan.
Dr. Nelson Kloosterman Professor de Ética e Estudos no Novo Testamento, no Mid-America Reformed Seminary, Dyer, Indiana
Dr. Richard A. Muller P. J. Zondervan. Professor de Teologia Histórica no Calvin Theological Seminary, Grand Rapids, Michigan
P r e f á c io
1^ A Sociedade Holandesa Reformada de Tradução (DRTS) foi formada em 1994 por um grupo de empresários e profissionais, pastores e professores de seminário, representando cinco diferentes denominações reformadas, para pa trocinar a tradução e facilitar a publicação, em inglês, de clássicos teológicos reformados e literatura religiosa publicada em língua holandesa. Ela é incorpo rada como uma entidade sem fins lucrativos no Estado de Michigan e governada por um conselho de diretores. Crendo que a tradição reformada holandesa tem muitas obras valiosas que merecem uma distribuição mais ampla do que a que é permitida pela limitada acessibilidade da língua holandesa, os membros da sociedade procuram am pliar e fortalecer a fé reformada. O primeiro projeto da DRTS é a tradução definitiva da Gereformeerde Dogmatiek (Dogmática Reformada) de Herman Bavinck em quatro volumes. A sociedade convida aqueles que compartilham de seu empenho e visão de difusão da fé reformada a escrever para prestar informações adicionais.
I n t r o d u ç ã o d o
ORGANIZADOR
F -1—Vste é o terceiro volume completo da Dogmática Reformada, de Herman Bavinck, preparado pela Sociedade Holandesa Reformada de Tradução como parte de seu projeto de, no prazo de dez anos, publicar a tradução inglesa completa da obra holandesa de Bavinck em quatro volumes. Antes do primeiro volume, sobre prolegômena, publicado pela Baker Academic em 20031 e o segundo volume em 2004,2 uma obra publicada em dois volumes, um sobre a unidade da escatologia,3 e o outro sobre a unidade da criação.4 O presente volume, sobre Cristo e a salvação, contém material nunca antes disponível em língua inglesa e fornece uma compreensão adicional sobre o caráter da teologia de Bavinck. Mais adiante, nesta introdução, examinaremos, brevemente, essas novas dimensões e sua importância contemporânea, mas, primeiro, diremos umas poucas palavras sobre o autor de Dogmática Reformada. Quem foi Her man Bavinck e por que esta obra de teologia é tão importante? A Gereformeerde Dogmatiek, de Herman Bavinck, publicada originalmente há cem anos, representa o ápice final de quatro séculos de reflexão teológica reformada holandesa marcantemente produtiva. Pelas numerosas citações feitas por Bavinck de grandes teólogos reformados holandeses, como Voetius, Moor, Vitringa, van Mastricht, Witsius e Walaeus (bem como do importante Synopsis purioris theologiae3 de Leiden), fica claro que ele conhecia bem essa tradição
1H erm an, B avinck, R eform ed D ogm atics, vol. 1, Prolegomena, org. John Bolt, trad. John V riend (G rand Rapids: Baker, 2003). 2H erm an B avinck, R eform ed D ogm atics, vol. 2, G od a n d Creation, org. John bolt, trad. John V riend (G rand Rapids: Baker, 2004). 3 H erm an B avinck, The L ast Things: H ope f o r This World a nd the Next, org. John B olt e trad. John Vriend (G rand Rapids: Baker, 1996). Este volum e representou a segunda m etade do volum e 4 da Gereformeerde D ogm a tiek, e será incluído no volum e 4 de R eform ed Dogmatics. 4 H erm an Bavinck, In the Beginning: Foundations o f Creation Theology, org. John B olt e trad. John V riend (G rand Rapids: Baker, 1999). Este volum e representou a segunda m etade do volum e 2 da Gereformeerde D ogm a tiek e foi incluído no volum e 2 de R eform ed Dogmatics. 3 A Synopsis de Leiden, publicada originalm ente em 1625, é um grande m anual de doutrina reform ada como definida pelo Sínodo de Dort. E la serviu com o livro texto de referência p ara o estudo d a teologia reform ada até o século 20 (ela é citada até m esm o p or K arl Barth, em sua Church D ogm atics). Com o um a obra original de referên c ia da teologia clássica reform ada holandesa, é com parável à R eform ed D ogm atics: S e t O ut a n d Illustrated fro m the Sources, de H einrich Heppe, no século 19, revisada e organizada por Ernst Bizer, traduzida por G. T. Thom son,
12 I^ n t r o d u ç ã o^ d o^ o r g a n iz a d o r
A segunda grande influência sobre o pensamento de Bavinck vem do perío do de sua formação teológica, na Universidade de Leiden. A Igreja Reformada Holandesa tinha seu próprio seminário, o Kampen Theological School, fundado em 1854. Bavinck, depois de estudar em Kampen por um ano (1873-74), ma nifestou o desejo de estudar na faculdade teológica da Universidade de Leiden, uma faculdade famosa por sua abordagem “científica”, agressivamente mo dernista, da teologia.11 Sua comunidade eclesiástica, inclusive seus pais, ficou chocada com essa decisão, que Bavinck explicou como sendo um desejo de “tomar-se familiarizado com a teologia moderna em primeira mão” e receber “uma formação mais científica do que a que a Theological School é atualmente capaz de oferecer”.12A experiência em Leiden deu origem àquilo que Bavinck percebeu como sendo a tensão em sua vida entre seu compromisso com a te ologia e a espiritualidade ortodoxas e seu desejo de entender e apreciar tudo o que pudesse sobre o mundo moderno, inclusive cosmovisão e sua cultura. Um impressionante e comovente registro em seu diário pessoal, no início de seu período de estudos em Leiden (23 de setembro de 1874), indica sua preocu pação em ser fiel à fé que ele havia publicamente professado na Igreja Cristã Reformada de Zwolle, em março desse mesmo ano: “Permanecerei firme [na fé]? Deus permita que sim”.1 3 Durante a realização de seu trabalho doutoral em Leiden, em 1880, Bavinck reconheceu francamente o esgotamento espiritual que Leiden havia lhe custado: “Leiden me beneficiou de muitas formas: Espero sempre reconhecer isso agradecidamente. Mas ela também me empobreceu sobremaneira; roubou-me não somente muito lastro (pelo que estou feliz), mas também muito daquilo que eu recentemente, especialmente quando prego, re conheço como vital para minha própria vida espiritual”.1 4 Não é incorreto caracterizar Bavinck como um homem entre dois mundos. Um de seus contemporâneos, certa vez, o descreveu como “um pregador da Igreja Separada e um representante da cultura moderna”, concluindo: “Essa é uma característica surpreendente. Nessa dualidade é encontrada a importância de Bavinck. Essa dualidade é, também, um reflexo da tensão - às vezes crise
1 1Para um a visão panorâm ica das principais escolas de teologia reform ada holandesa no século 19, ver Jam es H utton M acKay, R eligious Thought in H o lland d uring the N ineteenth C entury (Londres: H odder & Stoughton, 1911). Para um a discussão m ais detalhada sobre a escola “m odernista”, v e r K. H. Roessingh, D e M oderne Theolo gie in N ederland: H are Voorbereiding em E erste P eriode (Groningen: Van der K am p, 1915); E idred C. Vanderla- an, Protestant M odernism in H olland (Londres e N ova York: Oxford U niversity Press, 1924). 1 2R. H. Brem m er, H erm an B avinck en Zijn Tijdgenoten (Kam pen: K ok 1966), 20; cf. V. H epp, Dr. H erm an B avinck (Am sterdã: W. Ten H ave, 1921), 30. 1 3Brem m er, H erm an B avinck en Zijn Tijdgenoten, 19. 14H epp, Dr. H erm ann Bavinck, 84. 15 Citado p o r Jan Veenhof, Revelatie en Inspiratie (Amsterdã: B uijten & Schipperheijn, 1968), 108. O con tem porâneo citado é o ju rista reform ado A. A nem a, que foi um colega de B avinck na Free U niversity o f Am sterdã. U m a avaliação sem elhante de B avinck com o um hom em entre dois poios é feita p or F. H. von M eyenfeldt, “Prof.
I n t r o d u ç ã o d o o r g a n iz a d o r^13
de outras pessoas. Bavinck resume essa tensão claramente em seu próprio pen samento, em um ensaio sobre o grande teólogo protestante liberal do século 19, Albrecht Ritschl:
Portanto, enquanto a salvação em Cristo era antigamente considerada primariamente um meio para separar o homem do pecado e do mundo, para prepará-lo para a bem-aventurança celestial e fazer com que ele desfrutasse sossegadamente da comunhão com Deus ali, Ritschl postula exatamente o oposto: o propósito da salvação é precisamente capacitar a pessoa, uma vez livre do sentimento opressivo do pecado e vivendo na consciência de ser filha de Deus, a exercer sua vocação terrena e cumprir seu propósito moral neste mundo. A antítese, portanto, é absolutamente clara: de um lado, uma vida cristã que considera que o mais nobre obje tivo, aqui e na vida por vir, é a contemplação de Deus e a comunhão com ele e, por essa razão (sendo sempre mais ou menos hostis às riquezas de uma vida terrena) corre o perigo de cair no monasticismo ou no asce tismo, pietismo e misticismo; mas, do lado de Ritschl, uma vida cristã que considera que seu mais nobre objetivo é o reino de Deus, isto é, o compromisso moral da humanidade, e, por essa razão (sendo sempre mais ou menos contrário à solidão e à tranquila comunhão com Deus), corre o perigo de se degenerar em um Pelagianismo frio e um moralismo insensível. Pessoalmente, ainda não vejo uma forma de combinar os dois pontos de vista, mas sei que há muitas coisas excelentes em ambos, e que ambos contêm verdades inegáveis ,1 6
Certa tensão no pensamento de Bavinck entre as alegações da moderni dade, particularmente sua orientação terrena, científica, e a corrente pietista reformada da ortodoxia de manter-se afastada da cultura moderna, continua a desempenhar seu papel até mesmo em sua teologia madura, expressa na Dog mática Reformada. Em sua escatologia, por exemplo, Bavinck, de uma forma extremamente sutil, ainda continua a falar favoravelmente de certas ênfases na perspectiva terrena de Ritschl.1 7 Na sessão sobre a doutrina da criação (Reformed Dogmatics, II, c. 8-14), vemos repetidamente a tensão em seus esforços incansáveis para entender e, quando acha apropriado, afirmar, corrigir ou repudiar as modernas alegações científicas à luz do ensino cristão e escriturístico.1 8 Bavinck leva a sério a filo
Dr. H erm an Bavinck: 1854-1954, ‘Christus en de C ultuur” ’, P olem ios 9 (15 de outubro de 1954); e G. W. Brillen- burg-W urth, “Bavineks Levenstrijd”, Gereformeerde Weekblad 10.25 (17 de dezem bro de 1954). ,6H. B avinck, “De Theologie van A lbrecht R itschl” , Theologische Studiên 6 (1888): 397. Citado por Veenhof, Revelatie en Inspiratie, 346-47, ênfase acrescentada p o r Veenhof. K enneth K irk argum enta que essa tensão, que ele caracteriza com o sendo entre o “rigorism o” e o “hum anism o”, é um conflito fundam ental na história da ética cristã desde o início. Ver K. K irk, The Vision o f G od (Londres: Longm ans, Green, 1931), 7-8. 1 7B avinck, The L a st Things, 161 (R eform edD ogm atics, #578). D e acordo com B avinck, essa terrenalidade de R itschl “significa um a im portante verdade” contra aquilo que ele cham a de “sobrenaturalism o abstrato da Igreja O rtodoxa G rega e Católica Rom ana”. 1 8B avinck, In the Beginning, passim (R eform ed D ogmatics, II, 407-619 [##250-306]). Ver “Introdução do Organizador” em B avinck , R eform ed D ogm atics, II, 19-21.
I n t r o d u ç ã o d o o r g a n iz a d o r^15
época, Kuyper se tomou um vigoroso oponente do espírito moderno na igreja e na sociedade22- que ele caracterizou pelo canto da sereia da Revolução Fran cesa: “Ni Dieu! Ni maître!”2 3 - explorando todos os caminhos para se opor a ele com uma cosmovisão alternativa, ou, como ele a chamava, o “sistema de vida” do Calvinismo:
Desde o início, portanto, eu sempre disse a mim mesmo: Se a batalha deve ser travada com honra e com esperança de vitória, então um princí pio deve se alinhar contra outro, e deve-se perceber que, no Modernismo, a vasta energia de um sistema de vida totalmente abrangente nos assalta, e também deve-se entender que temos de assumir nosso posto em um sistema de vida de um poder igualmente abrangente e de muito maior al cance... Entendido dessa forma, eu encontrei, confessei e ainda sustento que essa manifestação do princípio cristão nos é dada no Calvinismo. No Calvinismo, meu coração encontrou descanso. Do Calvinismo eu extraio firme e resolutamente a inspiração para assumir meu posto na parte mais densa deste grande conflito de princípios.2 4
A forma de Calvinismo terrena e agressiva de Kuyper estava arraigada em uma visão teológica trinitária. O “princípio dominante” do Calvinismo, ele argumentava, “não era, soteriologicamente, a justificação pela fé, mas, cosmo- logicamente, no sentido mais amplo, a soberania do Deus Trino sobre todo o cosmos, em todas as suas esferas e reinos, visíveis e invisíveis”.2 5 Para Kuyper, este princípio fundamental da soberania divina conduzia a quatro importantes doutrinas ou princípios derivados e relacionados: graça co mum, antítese, esfera da soberania e distinção entre a igreja como instituição e a igreja como organismo. A doutrina da graça comum2 6 está baseada na convic ção de que, antes e, até certo ponto, independentemente da soberania particular da graça divina na redenção, há uma soberania divina universal na criação e na providência, restringindo os efeitos do pecado e concedendo dons gerais a todas as pessoas, tomando, assim, possíveis a sociedade e a cultura humana até
field à Encyclopedia o f Sacred Theology: Its P rinciples, de A. Kuyper, trad. J. H. D e Vries (N ova York: C harles Scribner, 1898), e na nota biográfica do tradutor em A. Kuyper, To B e N ear to God, trad. J. H. De Vries (G rand Rapids: Eerdm ans, 1925). 22Ver especialm ente seu fam oso discurso, H et M odernisme, een F ata M organa op Christelijke G ebied (A m s terdã: De H oogh, 1871). N a p. 52 desta obra K uyper reconhece que ele, tam bém , já havia sonhado os sonhos dos m odernistas. Esse im portante ensaio está agora disponível em sua tradução inglesa: J. B ratt, org., Abraham Kuyper. A Centennial R eader (G rand Rapids: Eerdm ans, 1998), 87-124. 23A. Kuyper, Lectures on Calvinism (G rand Rapids: Eerdm ans, 1931), 10. 2AIb id , 11-12. 25Ibid., 79. 26A posição de K uyper é desenvolvida em sua D e G emeene Gratie, 3 vols. (A m sterdã e Pretória: H öveker & Wormser, 1902). U m exam e com pleto das posições de K uyper pode ser encontrado em S. U. Zuidem a, “Com m on Grace and C hristian A ction in A braham K uyper” , in C om munication a n d Confrontation (Toronto: W edge, 1971), 52-105. C f J. Ridderbos, D e Theologische C ultuurbeschouwing van A braham K uyper (Käm pen: Kok, 1947). A doutrina da graça com um tem sido m uito debatida entre os reform ados holandeses conservadores na H olanda e nos Estados U nidos, tragicam ente levando a divisões eclesiásticas. Para um a visão panorâm ica da doutrina n a tradição reform ada, ver H. Kuiper, Calvin on C om mon Grace (Goes: O ostebaan & Le C ointre, 1928).
16 I^ n t r o d u ç ã o^ d o^ o r g a n iz a d o r
mesmo entre os não-redimidos. A vida cultural está arraigada na criação e na graça comum e, portanto, tem uma vida independente da igreja. Essa mesma compreensão é expressa, mais diretamente, pela noção de esfe ras de soberania. Kuyper se opôs a todas as versões anabatistas e cristãs ascé ticas de aversão ao mundo, mas se opôs igualmente à síntese Católica Romana medieval entre cultura e igreja. As várias esferas da atividade humana - família, educação, trabalho, ciência, arte - não extraem sua razão de ser e a forma de sua vida da redenção ou da igreja, mas da lei de Deus, o Criador. Elas são, assim, relativamente autônomas - também em relação à interferência do Estado - e respondem diretamente a Deus.2 7 Nesse sentido, Kuyper claramente distinguiu duas perspectivas diferentes da igreja - a igreja como instituição reunida em tomo da Palavra e dos Sacramentos e a igreja como um organismo diversamen te espalhado nas múltiplas vocações da vida. Não é explicitamente como mem bros da igreja institucional, mas como membros do corpo de Cristo, organizado em atividades comunitárias cristãs (escolas, partidos políticos, associações trabalhistas, instituições de caridade), que os crentes exercem suas vocações terrenas. Embora fosse agressivamente voltado para este mundo, Kuyper foi um oponente declarado e articulado da tradição Volkskerk, que tendia a misturar a. identidade sociocultural nacional com a da igreja teocrática ideal.2 8 Dizendo de outra forma: a ênfase de Kuyper sobre a graça comum, usada polemicamente para motivar os piedosos cristãos reformados ortodoxos holan deses à atividade cristã social, política e cultural, nunca deve ser vista isolada de sua ênfase, igualmente forte, sobre a antítese espiritual. A obra regeneradora do Espírito Santo divide a humanidade em duas partes e cria, de acordo com Kuyper, “dois tipos de percepção, a do regenerado e a do não-regenerado; e es sas duas percepções não podem ser idênticas”. Além disso, esses “dois tipos de pessoa” desenvolverão “dois tipos de ciência”. O conflito no empreendimento científico não é entre ciência e fé, mas entre “dois sistemas científicos... tendo cada um sua própria fé”.2 9 E aqui, nessa afirmação trinitária do mundo, mas em um Calvinismo resolu tamente antitético, que Bavinck encontra os recursos para produzir alguma uni dade em seu pensamento.30 “A pessoa zelosa”, ele observa, “coloca a doutrina
27 “N esse caráter independente, um a autoridade especial m ais elevada está necessariam ente envolvida, e essa autoridade m ais elevada nós cham am os intencionalm ente de soberania na esfera social individual, para que fique clara e decididam ente expresso que esses diferentes desenvolvim entos d a v ida social nada possuem acima de si m esm os além de Deus, e que o Estado não pode se introm eter aqui, e não tem qualquer autoridade em seus dom í nios” (Kuyper, Lectures on Calvinism, 91). 28 Sobre a eclesiologia de Kuyper, ver H. Zw aanstra, “A braham K uyper’s Conception o f the C hurch”, Calvin Theological Journal 9 (1974): 149-81; sobre sua atitude em relação à tradição volkskerk, v er H. J. Langm an, K uyper en de Volkskerk (Kam pen: K ok, 1950). 29Kuyper, Lectures on Calvinism, 133; cf. Encyclopedia o f Sacred Theology, 150-82. U m a discussão útil sobre a posição de K uyper em relação à ciência é dada p o r D el Ratzsch, “A braham K uy p er’s P hilosophy o f Science” , Calvin Theological Journal 27 (1992): 277-303. 30 A relação entre B avinck e Kuyper, incluindo diferenças e traços em com um , é discutida em detalhes em John B olt, “The Im itation o f C hrist Them e in the Cultural-Ethical Ideal o f H erm an B avinck” (dissertação de PhD, U niversity o f St. M ichael’s C ollege, Toronto, on 1982), especialm ente c. 3: “H erm an B avinck as a N eo-C alvinist Thinker”.
18 In t r o d u ç ã o^ d o^ o r g a n iz a d o r
pressuposto de toda religião e moralidade, especialmente o ensino cristão sobre a imagem de Deus em todos os seres humanos. Não obstante, é claro, a verdade completa da religião cristã não pode ser entendida por meio da criação. Uma revelação especial da graça de Deus é essencial para sabermos qual é nosso dilema e em que consiste nossa miséria como seres humanos (nosso pecado), e como devemos ser libertos dele (sal vação). Portanto, presume-se que os dois tópicos deste volume - o pecado e a salvação em Cristo - devem ser uma questão de teologia estritamente bíblica, uma questão de ouvir cuidadosamente os temas principais da palavra revela da de Deus na Sagrada Escritura. De fato, Bavinck se revela um cuidadoso estudante da Sagrada Escritura, cujos próprios padrões são moldados pelos padrões da Bíblia. No entanto, frequentemente, Bavinck nos surpreende com a ampla vastidão de seu conhecimento ao estruturar até mesmo a obra redentiva particular de Cristo dentro dos propósitos do Deus Trino na criação. Além da Escritura, os resultados da antropologia cultural, e especialmente a nova ciência da psicologia religiosa, entram em sua discussão. A obra redentiva particular de Cristo, insiste Bavinck, deve ser relaciona da à geral, necessidade e experiência universal humana, e tudo isso deve ser examinado na perspectiva mais ampla da aliança da criação de Deus com a humanidade. Depois de tratar da realidade universal do pecado e da miséria na perspectiva bíblica (c. 1-4), Bavinck reitera essa verdade antropológica no início de seu capítulo sobre a aliança da graça (c. 5). E, ele diz, o terrível e uni versal fato da miséria que evoca entre todas as pessoas a noção de que precisam de libertação do pecado. A aliança de Deus com Israel é um novo começo e um puro dom da graça. Porém, a ideia de aliança também é encontrada entre outros povos do mundo antigo e a linguagem da Escritura “pega empréstimos” de seus arredores, embora seu conteúdo seja exclusivamente gracioso. A aliança histórica da graça está, entretanto, no anterior e eterno conselho de paz, o com promisso mútuo do Deus Trino, Pai, Filho e Espírito Santo. Isso não somente consola os crentes com o fato de que sua salvação está arraigada no propósito eterno de Deus, mas também liga a obra redentiva de Deus, em Cristo, à boa criação original e à nova criação consumada. O propósito de Deus é único e universal, dirigido não a cada indivíduo particularmente, mas a toda a raça hu mana. Finalmente, a esse respeito, Bavinck também salienta que a aplicação da obra de Cristo pelo Espírito Santo não anula a vontade e a atividade humana, mas permite que elas sejam plenamente reconhecidas. O próprio Deus fornece aquilo que exige, no entanto, na aliança da graça, a honra de Deus sacrifica, mas beneficia os seres humanos, renovando toda a pessoa e restaurando a liberdade e a dignidade pessoais. A pessoa de Cristo, mediadora (c. 6), também não deve ser entendida independente da necessidade e do desejo universalmente expressos para um mediador encontrado em todas as religiões. As ideias de encarnação e apoteose ocorrem em virtualmente todas as religiões, um fato que tem levado muitos a concluírem erroneamente que a expectativa messiânica de Israel é simplesmen
I n t r o d u ç ã o d o o r g a n iz a d o r^19
te pega por empréstimo de seus vizinhos. No entanto, Cristo não é meramente um exemplo de um genótipo, ele é conhecido apenas por meio da revelação especial mediada. Jesus não é uma ideia, é o Filho unigénito de Deus que se tomou carne e habitou entre nós. A encarnação de Cristo está relacionada à cria ção. A própria possibilidade de encarnação é estabelecida na criação. Adão era um tipo de Cristo. O mundo foi criado de tal forma que, quando caísse, pudesse ser restaurado. A história da redenção é longa e progressiva. Aqui, também, Deus honra a condição humana. Em oposição a todas as formas de Gnosticismo e Apolinarismo, a igreja sustentou firmemente a plena humanidade de Cristo. “Aquilo que não é assumido não pode ser salvo.” Semelhantemente, quando nos voltamos para a obra de Cristo em sua humi lhação (c. 7), Bavinck começa chamando a atenção para a prática virtualmente universal de sacrifício em todas as religiões, e também para algum tipo de me diação sacerdotal para realizar os sacrifícios. O que é distinto a respeito da mor te expiatória de Cristo é que ele é tanto o sacerdote quanto o sacrifício, aquele que medeia por si mesmo, fazendo expiação completa. Apenas uma doutrina do completo sacrifício vicário faz justiça à natureza verdadeiramente humana de Jesus e às genuínas responsabilidade e culpabilidade humanas. Este volume conclui (c. 9, #427a) com aquela que pode ser uma das mais notáveis sessões em todos os 4 volumes de Dogmática Reformada, uma discussão precisa do novo (para o tempo de Bavinck) campo de estudo, a Psicologia da Religião. Bavinck insiste que a experiência religiosa não pode servir como fundamento da fé ou da teologia, mas que, no entanto, nenhum estudo teológico sério pode negligenciar essa reflexão. Em tudo isso, notadamente em sua apreciação e crítica dos estudos de Psi cologia da Religião, Bavinck se mostra um teólogo bíblico e confessional - fiel, pastoralmente sensível, desafiador e, ao mesmo tempo, aberto ao mundo mo derno e seus desafios. E por essa razão que a Dogmática Reformada continua relevante hoje. A vida e o pensamento de Bavinck refletem um sério esforço para ser piedoso, ortodoxo e completamente contemporâneo. Aos pietistas que temem o mundo moderno, por um lado, e aos críticos da ortodoxia céptica, sobre sua relevância contínua, por outro, o exemplo de Bavinck sugere um modelo de resposta: uma engajada visão trinitariana do discipulado cristão no mundo de Deus. Concluindo, são necessárias umas poucas palavras sobre as decisões edi toriais que governam este volume traduzido, que é baseado na segunda edição expandida de Gereformeerde Dogmatiek?6 Os nove capítulos deste volume correspondem, exatamente, aos do original, muito embora sua extensão seja desencoraj adora. Todas as tentativas de dividir o material de uma forma di ferente pareceram artificiais e arbitrárias. Embora o original consistisse de
36 O s quatro volum es da prim eira edição de Gereformeerde D ogm atiek foram publicados nos anos 1895 a