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Carlos Alberto Faraco - Prática de texto para estudantes universitarios, Exercícios de Cultura

Carlos Alberto Faraco - Prática de texto para estudantes universitarios

Tipologia: Exercícios

2015

Compartilhado em 05/09/2015

amandatrajfern
amandatrajfern 🇧🇷

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é al AL, 4 1 Carlos Alberto Fara Cristov: PRÁTICA DE FERBER para estudantes universitários O porem [17469123] VOZES - CaríruLo Dois AS LINGUAGENS DA LÍNGUA — Il Atividade 1 Os gêneros da linguagem No capítulo anterior nós vimos como a linguagem, na sua vida real, não é um bloco unitário e homogêneo, mas um imenso e mutante conjun- to de variedades. Como assinalou Mikhail Bakhtin, “cada época histórica da vida ideológica e verbal, cada geração, em cada uma das suas camadas sociais, tem a sua linguagem: ademais, cada idade tem a sua linguagem, seu vocabulário, seu sistema de acentos específicos...”. Desse modo, podemos dizer que a diversidade não se manifesta apenas nas grandes diferenças geográficas e sociais de expressão (conforme exempli- ficamos no capítulo um), mas também em cada um de nós, em cada falante, em diferentes estágios de sua vida e em diferentes momentos do seu dia a dia. Do ponto de vista formal, essas variedades da linguagem não se estabe- lecem por acaso ou simplesmente por força da nossa vontade individual. Ao contrário, elas nascem e fazem sentido no interior das inúmeras ativi- dades verbais de nosso contexto sociocultural. Podemos, então, dizer que a diversidade linguística manifesta, de um lado, diferentes roupagens de pronúncia, sintaxe e vocabulário (diferentes sistemas gramaticais) correla- cionadas com a diversidade geográfica e social. E, de outro lado, a diversi- dade linguística se estratifica em diferentes formas mais ou menos estáveis, que podemos chamar de gêneros, isto é, manifestações da linguagem tipifi- cadas por características formais recorrentes e correlacionadas a diferentes atividades socioculturais. Compreender a noção de gênero talvez seja um dos pontos mais im- portantes para compreender a própria noção de língua. Isto porque, na vida real, quando apreendemos uma palavra, ela nunca está sozinha, como puro sentido, pura forma ou puro significado — toda palavra real está envolta numa entonação, numa intenção, num conjunto de gestos e traços que nos colocam imediatamente num sistema concreto de significações sociais. Alguns exemplos de gênero Como as palavras jamais estão separadas de seus usuários e de alguma situação real, o que nós aprendemos, no processo de aquisição da linguagem, são gêneros da linguagem, isto é, conjuntos de regras próprias de cada si- 20 Exercício 1 Vamos exercitar um pouco o nosso “ouvido” para os fatos da língua. Munido de um bloco de papel e caneta, faça uma coleta de dados linguísti- cos, anotando cinco ocorrências reais da linguagem oral que demonstrem a diversidade da língua. Pode ser na fila do ônibus, no supermercado, em casa, nos telejornais, no rádio. Procure transcrever a fala do modo como você a ouvir, sem “corrigi-la”. Explique a situação (por exemplo, “fila de banco, reclamação”, ou “estádio de futebol, torcida do Atlético Paranaen- se”), dê um rápido perfil do falante (“senhora de idade, classe média”, ou “menino de rua”) e assinale que aspecto chamou a atenção (gramática da oralidade, vocabulário curioso etc.). Se possível, defina o exemplo como manifestação de algum gênero da oralidade, de alguma situação típica. Atividade 2 Os gêneros da linguagem escrita Vamos agora refletir sobre a noção dc gêncro com relação a outro uso da linguagem: a escrita. Mais adiante veremos em detalhes a distinção, im- portantíssima para nós, entre linguagem oral, ou língua, e linguagem escri- ta, isto é, a manifestação gráfica da língua. No momento, vamos nos deter especificamente nas formas que a escrita assume em função da diversidade de gêneros. Se na linguagem oral, como vimos, a variedade é praticamente infinita, na linguagem escrita ela é relativamente limitada, e o grau (e o re- conhecimento) da convenção é bastante acentuado. Há várias razões para o traço acentuadamente convencional dos gêneros da escrita, mas basta assi- nalar aqui a principal delas: a existência da escrita supõe, sempre, um fortís- simo controle social, sendo a escola o principal instrumento desse controle. Assim, a diversidade da escrita em geral se realiza sob estrita vigilância: do professor, do editor do jornal, do próprio jornalista, do próprio escri- tor, do publicitário, enfim, de todos que escrevem ou controlam a escrita. Trata-se de uma vigilância objetiva, consciente e sistemática (diferente- mente da oralidade, em que esse autocontrole, embora também exista, ocorre de forma muito mais solta e natural). Para compreender essa diferen- ça básica, bastará chamar a atenção para um pequeno detalhe: enquanto nós podemos pronunciar as palavras de muitos e muitos modos (pelo sotaque, pelo timbre, pela entonação, pela idade, pela gripe...), podemos grafá-las de um único modo; há mesmo um capítulo das gramáticas escolares que defi- ne esse aspecto — a ortografia, isto é, a grafia “correta” das palavras. Mas, apesar dessa considerável unidade de grafia, também a escrita se estratifica em gêneros. Da mesma forma como ocorre com a linguagem passada a primeira fase do abecedário (Ivo viu a uva...), nós aprende- o be] mos gêneros convencionais antes que palavras avulsas. Isto é, as frases que lemos, copiamos ou escrevemos sempre fazem parte de um gênero, uma forma convencional da linguagem, à qual atribuímos algum papel social, algum valor, alguma função. É importante deixar isso bem claro: nós não simplesmente escrevemos (isto é, escrever não é apenas preencher um espaço em branco com frases bem estruturadas e bem grafadas); nós escrevemos em gêneros. Exercício 2 Confira se é assim mesmo que as coisas acontecem. Leia as três ocor- rências escolares escritas abaixo c procure definir os seus gêneros: a) Todo homem deve pensar e fazer o bem, porque só o bem constrói. b) As minhas férias foram muito boas e divertidas, eu visitei a casa da minha tia na praia. c) O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Atividade 3 Alguns gêneros da escrita Vamos aprofundar um pouco mais a nossa percepção dos gêneros da escrita, analisando alguns exemplares da linguagem que fazem parte do nosso dia a dia. Os textos que seguem são uma pequena amostra da imen- sa variedade de linguagens que vivemos diariamente — encontram-se nos jornais, nos livros, nas revistas, nos bares, nas placas de rua, na escola, nos folhetos de rua etc. Para não dirccionar a análise, as fontes são apresenta- das somente no final do capítulo. Trabalhando em equipe de dois a quatro estudantes, cada uma com um texto, siga o roteiro abaixo. Lembre-se: o bom leitor é um detetive! 1. Antes de mais nada: o que há em comum nesta série de textos? Ou melhor: há neles alguma coisa em comum? 2. Faça um levantamento dos aspectos que definem o texto de sua equipe, o seu gênero. Considere: a) Vocabulário. Observe que cada gênero de texto tem um vocabulário mais ou menos específico, ou um campo semântico próprio. Alguns chegam a criar pa- lavras novas; em outros, empregam-se palavras estrangeiras. No caso do seu texto, o vocabulário chama a atenção por algum motivo? b) Grafia. Como é a ortografia do texto? De acordo com o padrão, ou contém “erros”? c) Estrutura da oração. Observe a extensão das frases no texto analisado. Há textos de frases mais curtas, outros de frases mais longas. Por quê? A exten- 23 no autoconhecimento c a tomar decisões mais corretas. Um alerta: a posi- cão lunar na primeira semana sugere que você não gaste à toa, economize c abra uma poupança. Texto 2 As razões de não ser. O que foi que eu pensei? Nas terríveis dificuldades; certa- mente, meiamente. Como ia poder me distanciar dali, daquele ermo jaibão, em enor- mes voltas e caminhadas, aventurando, aventurando? Acho que eu não tinha conci- so medo dos perigos: o que eu descosturava era medo de errar — de ir cair na boca dos perigos por minha culpa. Hoje sei: medo meditado - foi isto. Medo de errar. Sempre tive. Medo de errar é que é a minha paciência. Mal. O senhor fia? Pudesse tirar de si esse medo-de-errar, a gente estava salva. O senhor tece? Entenda meu fi- gurado. Texto 3 PODE NÃO PARECER QUE ELA TEM COLESTEROL ALTO MAS AS APARÊNCIAS ENGANAM A nova Light Marg Activ é a grande notícia para quem pre- cisa combater o colesterol. E um novo tipo de margarina que contém fitosteróis, um ingrediente revolucionário en- contrado nos óleos vegetais. Já está cientificamente com- provado que eles reduzem a quantidade de colesterol que o organismo absorve, ajudando a manter a saúde do cora- ção. O consumo de Light Marg Activ, como parte de uma dieta saudável, reduz, em média, 10% a 15% do mau co- lesterol (LDL), em apenas 3 semanas*. Testes clínicos in- dependentes confirmam que nenhuma outra margarina é mais efetiva que Light Marg Activ na redução do coleste- rol. Se você quiser mais informações sobre colesterol e a manutenção de um coração saudável, ligue 0800 1234567 ou visite nosso site: www.light.marg.activ light marg activ a novidade em margarina *Weststrate e al (1998) Eur J Clin Nutr 55:333-333 — Hendriks et al (1999) Eur J Clin Nutr 54: 222-222 2o Texto 4 e o no) . Estacione o veículo convenientemente. Sinalize o local com o triângulo de se- gurança. . Puxe o freio de estacionamento e calce a roda oposta, a fim de evitar qualquer deslocamento. . Introduza 0 macaco no respectivo encaixe quadrado, debaixo do estribo, perto do pára-lama traseiro. Em seguida, acione-o, até que o veículo comece a levantar. . Retire a calota, comprimindo-a junto ao aro, em um ponto de seu diâmetro. . Solte os parafusos da roda com a chave sextavada, enquanto o pneu estiver ainda no solo. . Levante o veículo. . Acabe de desatarraxar os parafusos e retire a roda. . Continue a levantar o carro, até que os furos dos parafusos da roda sobressa- lente coincidam aproximadamente com os do cubo. à fuso) Texto 5 26 Um texano bêbado, um papua das Novas Hébridas, uma neozelandesa corcunda e começamos a rodar, a girar como heliotrópios sonâmbulos em torno do obelisco num compasso hipnótico, hipostático, helicoidal, a cirandar e a cada volta rodamos mais depressa e o papua de porre americano tem uma neozelandesa de corcunda floreada que confunde suas hébridas com um texas papuano a gidar, a rorar, hipotrópico, sonambelístico, hipnoidal. Em pacientes com antecedentes de hipersensibilidade à metoclopramida em nu- trizes. A metoclopramida é contraindicada em pacientes com feocromocitoma, pois pode desencadear uma crise hipertensiva, devido à provável liberação de catecola- minas do tumor. Tal crise hipertensiva pode ser controlada com fentolamina. Em presença de hemorragia gastrointestinal, obstrução mecânica ou perfuração. Texto 9 10. Ocorrerá a rescisão deste contrato, de pleno direito, no caso de desapropriação, incêndio ou acidente que sujeite o imóvel locado a obras que importem na reconstrução total ou que impeçam o uso do mesmo por mais de 30 (trinta) dias, ou ainda no caso de falência ou concordata do fiador, ou obrigado solidário, não sendo substituído em 15 (quinze) dias por outro idôneo, a critério do locador, ficando o locatário em mora e sujei- to a multa contratual e despejo decorridos aqueles dias de tolerância. PARÁGRAFO ÚNICO: Ocorrerá também a rescisão do presente contrato, se o lo- catário infringir obrigação legal ou cometer infração contratual ou atrasos nos paga- mentos dos aluguéis mensais. Texto 10 Quando viu que Adama e Evo(*) tinham comido a expressamente proibida maçã da árvore da Ciência do Bem e do Mal, foi assim que o Senhor falou: “Pois de agora em diante ireis ganhar o pão com o suor do vosso rosto & tereis de sair aí da zona sul e ir morar a leste do Éden, sem parques floridos, nem reservas florestais, sem cascatas no pátio, nem borboletas no closet. E vossa habitação será limitada ao uso que fareis dela, praticamente senzala de vossos corpos. Mas esse não é o castigo. O castigo é que vossos corpos se reproduzirão automaticamente, ao menor contac- to, tereis filhos, esses filhos botarão os pés cheios de lama no sofá de vinil compra- do em dez prestações, rasgarão as cortinas, riscarão as paredes como aprenderam a fazer na escola permissiva, quebrarão as vidraças ensaiando futuros protestos es- tudantis, entupirão os ralos das pias, berrarão dia e noite azucrinando a vossa pa- ciência e nunca puxarão a descarga depois de fazerem cocô na privada. (*) Reparem que estou cada vez mais feminista. Texto 11 (17:50:57) Leticia/14 fala para Lake O Fire: c tem, é? (17:51:19) GOTO!!! grita com MGDRCINHO: Vc esta comigo ou com 28 (17:51:28) Gi manhosa grita com MGORCINHO: DE SAMPA, E VC DEVE SER O MAIOR GATINHO, TO TE ADORANDO, ADORO IR AOS BARZINHOS!!!!t tt (17:51:37) O SURFISTA grita com TODOS: ALGUMA GAROTA AFIM DE TC? (17:51:41) Leticia/14: Ninguém pode ir até a sala 1 ....larguem mao de serem egoistas........ (17:51:50) GOt(D manhosa grita com RENATO/19/SP: VC TEM 19 ANOS?? (17:51:56) Sedutor grita com MGDRCINHO: prefira a gatinha manhosa já que o namorado dela é meio assim (17:52:03) Graziela reservadamente fala para TODOS: A'LGUÉM QUER TC? (17:52:31) TK fala para Mari: TO AFIN DE TE CONHECER (17:52:37) Leticia/14 fala para Lake O Fire: eu acho q foi a tonta da Courtney q matou ele! (17:53:34) GOO manhosa grita com GOTO!!!: NATHÁLIA, EU VI AQUELE (17:53:35) Lobo+-solit(Orio grita com TODOS: E aí, tem alguma gatinha afim de tc? (17:54:16) Sedutor grita com GOTO!!!: bem e aí o que vc me diz de ter um magico ao seu lado beijando seus labios úmido. Que tal? (17:55:18) Xande MTX grita com TODOS: BOA TARDE GALERA!!! Texto 12 S. Carlos Favor de comprar cerra, lustra move, ajaque, e foco para a porta da sala que esta queimado. A bassora de barre carçada quebrou o cabo. Na Samtana tem umas boa que eu já ví. A mais simpre atura mais tempo. Tem vitamina das pranta. Tião Marta. Texto 13 O galego começa a isolar-se do português desde o século XIV, com obras em prosa de que a Crónica Troiana é um dos melhores exemplos. Entre 1350 e 1450 houve na Galícia uma segunda floração lírica, da qual os portugueses não participa- ram. Mas a partir do século XVl o galego deixa de ser cultivado como língua literária e só sobrevive no uso oral. (...) 29 O terceiro derramamento na baía ocorreu nove dias depois do maior desastre ecológico no país nos últimos 25 anos. O Ministério do Meio Ambiente vai aplicar multa à Petrobras por causa do vazamento de quatro milhões de litros de óleo nos rios Iguaçu e Barigui, no Paraná. O valor pode chegar a R$ 150 milhões. No desastre da última semana, a estatal alega inocência. A Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Rio concluiu que o óleo derramado é utilizado em motores de navio. Os responsáveis serão multados em R$ 1 milhão. Texto 16 É lá lá naquela Ilha de três cômoros, bem na boca da barra, onde começa o parcel da Bandarra e acaba o banco das Palmas lá vive Ana das Almas, sozinha faz tempo com o filho pequeno chamado Menino magrinho, ligeiro, sempre pulando na pedra e brincando de pássaro no meio das gaivotas e tesoureiros Noite q'nem esta de Lua, vazante parando coa brisa no fim da maré mãe e filho vão pra enseada quietos se agacham na escuta e na espera ele das águas ela das almas É ali, na sombra da Ilha e do Vento, que sempre se juntam as almas perdidas do Mar — Texto 17 Quando o Mestre e os da cidade viram como se el-rei de Castela partira com suas gentes, e como alçara o cerco de sobre ela, no tempo da sua mais afincada tri- bulação que era míngua de mantimentos que haver não podiam, foram todos tão le- dos com sua partida quando se por escrito dizer não pode, dando muitas graças ao Senhor Deus que daquela guisa se amerceara deles. E saíram fora da cidade para ver o assentamento do arraial que já era queimado, e acharam muitos doentes naquele mosteiro de Santos que dissemos, e usaram com eles de piedosa caridade, posto que seus inimigos fossem. Créditos: Texto 1: horóscopo de uma revista mensal destinada ao público feminino. Texto 2: trecho da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Texto 3: texto publicitário. Texto 4: manual de instruções de automóvel. Texto 5: “Girândola”, de Jamil Snege. Em: O jardim, a tempestade. Texto 6: Revista Chico Bento, nº 83. Texto 7: Bíblia Sagrada. Círculo do Livro. Texto 8: Bula de remédio. Texto 9: Contrato de locação. Texto 10: Texto de Millôr Fernandes. Revista /stoÉ/Senhor, 10/5/89. Texto 11: Trecho de um sala de bate-papo da internet. Texto 12: Bilhete de empregada doméstica. Texto 13: História da Língua Portuguesa, de Paul Teyssier, p. 46. Texto 14: Volante publicitário. Texto 15: Revista Veja. Texto 16: O povo do mar e dos ventos antigos, de W. Rio Apa. Texto 17; Textos escolhidos, de Fernão Lopes. Atividade 4 Estrangeirismos: que fazer? Você abre a Revista da Web e lê o seguinte texto: Texto 18 CHIQUES & FAMOSAS Ou anônimas e raçudas: as mulheres de Annie Leiboviiz estão no ar A fotógrafa americana Annie Leibovitz começou a clicar estrelas do rock na dé- cada de 70, para a revista Rolling Stone. Mestra em driblar a imagem pública de seus personagens para criar retratos antológicos — como aquele em que Jotm Len- non aparece nu sobre uma cama, em posição fetal, com Yoko Ono —, virou, ela mes- ma, celebridade. Agora, a colaboradora assídua da revista Vanity Fair e autora do novo calendário da Pirelli lança o livro Women, que reúne 60 retratos em pre- to-e-branco de mulheres americanas — das famosas Jerry Hall, Martina Navratilova e Gwyneth Paltrow a soldadas, strip-teasers e vítimas da violência anônimas. O livro está à venda na Amazon (www.amazon.com) e as fotos, expostas na Corcoran Gal- lery, em Washington. Quer dar uma bicada? O The New York Times on the Web tem 32 grando” um momento de assimilação de empréstimos. Ele usa micros de mesa (substituindo perfeitamente desktops), mas mantém notebooks, per- feitamente traduzível por portáteis. Do mesmo modo, usa armazenamento em disco (isto é, disco rígido, denominação que já se firmou no uso corren- te), mas mantém o desnecessário iwinchester (disco rígido) logo adiante. E “barbariza”, duas vezes, com o estapafúrdio neologismo customizar (do in- glês custom, “adaptar”, “fazer sob medida”), absolutamente desnecessário. Enquanto isso, o inglês slot (abertura, fenda), termo técnico do computa- dor, continua esperando uma solução. Ignorância e oportunismo Esses movimentos de suposta “defesa da língua” são, na verdade, fru- tos de uma profunda ignorância linguística, somada a um certo oportunis- mo político. Conforme já vimos nos primeiros capítulos do livro, esse é um terreno fértil: todo mundo se sente inseguro em questões da língua (nós “não sabemos” a nossa língua...), e então qualquer coisa que denuncie a “destruição da linguagem” ou algo semelhante acaba sendo recebida com palmas como a receita para a salvação da lavoura... Muitas vezes, o que se quer mesmo é controlar a linguagem dos outros: recentemente, um deputado chegou até a claborar um projeto de lei pre- vendo multas ao uso “indevido” de palavras estrangeiras — ficando a Aca- demia Brasileira de Letras encarregada de decidir o que pode c o que não pode. Parece inacreditável, mas muita gente levou a sério o projeto. Dois fatos a considerar O estudo histórico das línguas mostra dois fatos fundamentais a consi- derar sobre a influência estrangeira na linguagem. O primeiro é que as lín- guas se enriquecem pelo mútuo contato. Não há nenhum caso de língua que tenha se “descaracterizado” pelo contato com outras. Ao contrário, só há enriquecimento. Como as culturas são necessariamente híbridas, as lín- guas são, todas elas, caracterizadas também pela hibridização vocabular. Basta dar uma rápida olhada no vocabulário corrente do português; va- mos encontrar um belíssimo registro de cada momento de sua história: há palavras das línguas ibéricas anteriores à dominação romana; há um vasto vocabulário romano (por razões óbvias); há palavras gregas que nos vie- ram já emprestadas pelos romanos e outras divulgadas pela igreja cristã durante a Idade Média; há várias palavras germânicas (decorrentes da pre- sença dos povos germânicos na península ibérica que, ao sc mesclarem com a população romana local, forjaram as bases dos povos ibéricos mo- dernos); há palavras árabes (sinal dos 700 anos da presença árabe na Pe- 34 nínsula Ibérica); há palavras italianas, principalmente no campo semântico las artes, incorporadas à época do Renascimento; há vários empréstimos do castelhano (incorporados em diferentes momentos da história) e, ainda, do francês, como já vimos. E mais: há vários empréstimos eruditos do la- rim e do grego no período da Renascença e, posteriormente, na época da revolução científica; há inúmeros empréstimos de línguas ameríndias, afri- canas e asiáticas. Como se não bastasse, o português brasileiro ainda se enriqueceu com empréstimos do italiano, do alemão, do holandês, das línguas eslavas, do japonês, do árabe, em decorrência da maciça chegada dos imigrantes. No caso do inglês — que parecc ter sc tornado o “inimigo” do momento -, in- corporamos nos últimos 100 anos desde o vocabulário do futebol, até a terminologia da informática e do setor financeiro. Há um cálculo que esti- ma em quatro centenas as palavras de origem inglesa presentes no portu- guês. E interessante destacar que o vocabulário do português tem algo em torno de 500 mil palavras. Vocabulário e estrutura gramatical Diante dos exemplos, mais evidente ainda fica o ridículo de tentar “con- trolar” a entrada de palavras estrangeiras. Mas há ainda um outro detalhe im- portante: observe que a importação ininterrupta de palavras estrangeiras ao longo da história não modifica a estrutura gramatical da língua. Em resumo: as línguas são abertas no seu vocabulário, enriquecendo-o continuamente, e bastante fechadas em sua organização gramatical (o con- tato entre as línguas afeta essa organização só muito raramente). É claro que a organização gramatical também se modifica ao longo do tempo, mas antes por uma lógica interna da própria língua que por pressão de sistemas gramaticais estrangeiros. O segundo fato a considerar é conhecido desde sua primeira formula- ção pelo gramático romano Varrão (séc. 1 aC) e só vcio encontrando re- forço à medida que a ciência da linguagem se desenvolveu. De forma sim- ples, podemos dizer que quem faz a língua são seus falantes (nesse sentido, a história mostra que qualquer tentativa de legislação é sempre absoluta- mente inócua; é como se quiséssemos legislar sobre a direção dos ventos e o movimento dos oceanos). Tudo bem: mas o que fazer quando escrevemos? Este é um terreno simplesmente de bom-senso. É claro que chamar “intervalo para o café” de “coffee break” é uma bobagem completa; não é vras inglesas não afeta em absolutamente nada a estrutura sofisticada das ora- ções, o ritmo do texto e o seu tom coloquial brasileiríssimo. 5. Uma última dica: na transcrição de títulos de filmes, livros, discos etc., prefira sem- pre a tradução corrente em português; se necessário, acrescente entre aspas o título original. Exemplo: “No filme O poderoso chefão ("The Godfather”), o diretor...” Atividade 5 Leitura Para encerrar este capítulo, vamos ler uma crônica — que é outro gêne- ro muito especial da linguagem! — sobre o poder das palavras. Texto 19 MEDITAÇÃO SOBRE O CALOR DAS PALAVRAS José Castello Costumo ter pesadelos com elevadores sem freios, anjos privados de asas e jatos comerciais desgovernados, sofro de alergia a doninhas, salgadinhos, cuecas de seda e mertiolate e nem sempre aceito minha imagem quando me olho no espelho. Sou hipo- condríaco, é verdade, então metade desses males deve ser imputada à força de minha imaginação. Metade não. A outra parte, a mais importante, talvez mereça uma explica- ção bem simples. Sou, como qualquer homem, uma vítima das palavras, de seu fulgor, de seu poder de desgaste, do modo como elas podem nos submeter e governar. Ocorre-me, a meu favor, que é ridículo pensar que sou hipocondríaco se me compararem, por exemplo, ao repórter Bartolomeu Sáurio, que trabalhou comigo no Mundo Ilustrado. Era um sujeito manso, que jogava basquete, não comia carne ver- melha e, mesmo quando o provocavam, e apesar dos olhos redondos, conservava uma placidez tibetana. Era sempre escalado para casos impossíveis e se safa bas- tante bem. Um dia, ganhou de presente um dicionário da língua portuguesa. Maldita hora. Bartolomeu entregou-se ao jogo, muito estimulante para quem mexe com pa- lavras, de abrir o livro ao acaso e, fazendo-o de oráculo, encontrar revelações. Um acaso malicioso o levou à palavra sáurio, seu sobrenome, e Bartolomeu Sáurio fez uma ex- pressão murcha, de esgotamento, quando descobriu o significado nela contido. Os sáurios, ele passou a saber, são répteis cordados, escamados, com um osso quadrado, vértebras móveis, língua partida e órgão copulador duplo, que se arrastam pelas pedras e se dissimulam nas frestas dos desfiladeiros. São, numa expressão mais simples, os lagartos. Depois dessa revelação, Bartolomeu Lagarto (assim pas- sou a ser chamado) nunca mais foi o mesmo. Sua pele adquiriu, aos poucos, um tom esverdeado; algumas vezes, enquanto escrevia suas reportagens, era visto com a boca aberta, a língua imensa circulando pelos lábios, como um chicote. 37 Foi vítima, mais que da hipocondria, das palavras, açoitado por um nome que já carregava, mas que, até aquele dia, era apenas um invólucro vazio; preenchido, o sobrenome passou a moldar a vida de Bartolomeu Sáurio, que começou a sofrer dele, como sofremos de uma alergia, ou um vício. Algumas dúvidas ainda o consola- ram quando, num restaurante, conheceu uma certa Magali Gamarra que, apesar do sobrenome, que aliás divide com um zagueiro célebre, jamais se deixou afetar por seu significado. Gamarra é a correia que se amarra à cabeça do cavalo para que ele não a levante em demasia; Magali, apesar disso, sempre andou de cabeça erguida e, ainda mais, recusa-se a usar gargantilhas, colares de pérolas c lenços de pescoço. Desmente assim seu sobrenome, até o ironiza. Bartolomeu pensou que podia fa- zer o mesmo, mas percebeu manchas difusas surgirem em sua pele, as unhas cres- cerem, a cabeça ficando mais quadrada. Nunca mais o vi, mas me disseram que mudou-se para os Andes e se tornou alpinista, o que não deixa de ser outra maneira de se sujeitar ao nome que carrega. Bartolomeu Sáurio é uma prova viva do que as palavras podem fazer com um sujeito. Um amigo, que se analisa com um lacaniano, me disse que tenho pesadelos com elevadores porque o elevador “eleva a dor”. Não, não me refiro a esses jogos de palavras tão franceses. Falo de algo que se passa mais por baixo, que é mais simples, e que é mais devastador. O problema é que as palavras fixam os significa- dos — basta ver o que fazem com elas os dicionários. E ali, congelam, perdem seu calor, transformando-se em etiquetas, dessas que grudam para sempre. Ao passar a saber o que é um sáurio, Bartolomeu arrastou para dentro de si uma série de signifi- cados fixos, que colaram em seu espírito; e, porque é impressionável (mas quem não é?), tratou de encontrar dentro de si provas da existência de tais atributos — e, no abismo das palavras, todas as ideias se relacionam, qualquer coisa pode estar em qualquer lugar, então tudo é possível. Pobre Bartolomeu, que deixou escapar o calor das palavras, perdeu-o, e fez delas cubos de gelo. Que esqueceu que palavras podem ser mastigadas, retorcidas, desdobradas, e deixou, ao contrário, que elas o asfixiassem, pois, em vez de saboreá-las, ele as engoliu. O Estado de S. Paulo, 20/7/1999 38