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Cartografia Geomorfológica, Notas de estudo de Geografia

Cartografia Geomorfológica

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 04/11/2009

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Cartografia geomorfológica
5. Cartografia Geomorfológica
5.1. Parte de legenda (dados estruturais) proposta por Tricart (1965)
5.2. Exemplos de mapeamentos geomorfológicos em diferentes escalas
Dar ênfase aos níveis de abordagem da representação geomorfológica: morfométrico, morfográfico,
morfogenético e morfocronológico.
Considerar a representação geomorfológica segundo escalas taxonômicas, chamando atenção para aspectos
ligados à geomorfologia funcional.
5. Cartografia Geomorfológica
A Cartografia Geomorfológica se constitui em importante instrumento na espacialização
dos fatos geomorfológicos, permitindo representar a gênese das formas do relevo e suas
relações com a estrutura e processos, bem como com a própria dinâmica dos processos,
considerando suas particularidades. Para Tricart (1965), o mapa geomorfológico refere-
se à base da pesquisa e não à concretização gráfica da pesquisa realizada, o que
demonstra seu significado para melhor compreensão das relações espaciais, sintetizadas
através dos compartimentos, permitindo abordagens de interesse geográfico como a
vulnerabilidade e a potencialidade dos recursos do relevo. Ao se elaborar uma carta
geomorfológica devem-se fornecer elementos de descrição do relevo, identificar a
natureza geomorfológica de todos os elementos do terreno e datar as formas (Ross,
1996).
Muitas são as propostas existentes para a representação do relevo. A maior unanimidade
entre elas refere-se à questão do conteúdo geral dos mapas, independentemente da
maneira de representação gráfica, que geralmente provoca divergência entre as diversas
tendências. Portanto, “o que parece mais problemático é a questão relativa à
padronização ou uniformização da representação cartográfica, pois ao contrário de
outros tipos de mapas temáticos, não se conseguiu chegar a um modelo de representação
que satisfaça os diferentes interesses dos estudos geomorfológicos” (Ross, 1990).
Abreu (1982) procura destacar o problema da classificação dos fatos geomorfológicos,
“na medida que isto é um dado fundamental para o processo de análise”. Para tal, o
autor considera procedente “deslocar o eixo de abordagem do problema da escala para o
problema da essência dos fenômenos que interessa ao estudo do georrelevo”. Destaca a
“forma” como síntese metodológica, “procurando obter dela as informações necessárias
para a compreensão da essência de sua dinâmica e das propriedades adquiridas (...)”.
Defende assim uma geomorfologia mais funcionalista, na medida que oferece subsídios
de interesse geográfico. Ressalta, contudo, que o problema da escala apresenta
significância “principalmente na definição do encaminhamento metodológico, na
escolha dos instrumentos de investigação e no nível de resolução gráfica do tratamento
cartográfico (...)”. A forma passa a se caracterizar, então, como expressão da dinâmica
ou do movimento dos materiais responsáveis pela morfogênese na crosta terrestre.
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Cartografia geomorfológica

5. Cartografia Geomorfológica

5.1. Parte de legenda (dados estruturais) proposta por Tricart (1965)

5.2. Exemplos de mapeamentos geomorfológicos em diferentes escalas

Dar ênfase aos níveis de abordagem da representação geomorfológica: morfométrico, morfográfico, morfogenético e morfocronológico.

Considerar a representação geomorfológica segundo escalas taxonômicas, chamando atenção para aspectos ligados à geomorfologia funcional.

5. Cartografia Geomorfológica

A Cartografia Geomorfológica se constitui em importante instrumento na espacialização dos fatos geomorfológicos, permitindo representar a gênese das formas do relevo e suas relações com a estrutura e processos, bem como com a própria dinâmica dos processos, considerando suas particularidades. Para Tricart (1965), o mapa geomorfológico refere- se à base da pesquisa e não à concretização gráfica da pesquisa realizada, o que demonstra seu significado para melhor compreensão das relações espaciais, sintetizadas através dos compartimentos, permitindo abordagens de interesse geográfico como a vulnerabilidade e a potencialidade dos recursos do relevo. Ao se elaborar uma carta geomorfológica devem-se fornecer elementos de descrição do relevo, identificar a natureza geomorfológica de todos os elementos do terreno e datar as formas (Ross, 1996).

Muitas são as propostas existentes para a representação do relevo. A maior unanimidade entre elas refere-se à questão do conteúdo geral dos mapas, independentemente da maneira de representação gráfica, que geralmente provoca divergência entre as diversas tendências. Portanto, “o que parece mais problemático é a questão relativa à padronização ou uniformização da representação cartográfica, pois ao contrário de outros tipos de mapas temáticos, não se conseguiu chegar a um modelo de representação que satisfaça os diferentes interesses dos estudos geomorfológicos” (Ross, 1990).

Abreu (1982) procura destacar o problema da classificação dos fatos geomorfológicos, “na medida que isto é um dado fundamental para o processo de análise”. Para tal, o autor considera procedente “deslocar o eixo de abordagem do problema da escala para o problema da essência dos fenômenos que interessa ao estudo do georrelevo”. Destaca a “forma” como síntese metodológica, “procurando obter dela as informações necessárias para a compreensão da essência de sua dinâmica e das propriedades adquiridas (...)”. Defende assim uma geomorfologia mais funcionalista, na medida que oferece subsídios de interesse geográfico. Ressalta, contudo, que o problema da escala apresenta significância “principalmente na definição do encaminhamento metodológico, na escolha dos instrumentos de investigação e no nível de resolução gráfica do tratamento cartográfico (...)”. A forma passa a se caracterizar, então, como expressão da dinâmica ou do movimento dos materiais responsáveis pela morfogênese na crosta terrestre.

Com base nessa premissa, Abreu (1982) recorre aos trabalhos soviéticos, desenvolvidos principalmente após a Segunda Guerra Mundial, voltados à análise de grandes e médios espaços, utilizando fundamentalmente o método cartográfico. Para o autor, a denominada “análise morfoestrutural”, que “deveria ser chamada simplesmente de geomorfológica, tem suas raízes firmemente plantadas na obra de Penck (1924) e teve como pioneiro Gerasimov, que propôs, em 1946, os conceitos de geotextura 1 , morfoestrutura e morfoescultura” (Gerasimov & Mescherikov, 1968), os quais se equivalem aos conceitos de morfotectura, morfoestrutura e morfoescultura empregados por Mescerjakov (1968). O conceito de morfotectura, morfoestrutura e morfoescultura fundamentam-se na premissa penckiana do jogo de forças, internas e externas, que através de um conjunto de processos responde pela gênese do modelado do relevo terrestre.

A identificação e a classificação das formas do relevo, necessariamente implicam considerar a gênese, a idade ou ainda os processos morfogenéticos atuantes (Ross, 1990). A questão da escala de tratamento ou de representação se constitui na premissa básica para o grau de detalhamento ou de generalização da informação.

Demek (1976, apud Avansi, 1982) propõe o seguinte encadeamento de operações para o mapeamento de morfoestruturas:

a) análise das cartas geológicas e tectônicas de áreas em estudo (em escalas pequenas e grandes), com a transferência dos principais falhamentos para uma determinada base;

b) análise de cartas topográficas, em iguais escalas, com o objetivo de se elaborar uma carta das rupturas tectônicas e das formas de relevo lineares, e uma carta dos elementos do relevo segundo seus atributos morfográficos e morfométricos;

c) elaboração de perfis geológico-geomorfológicos, com a intenção de se definirem níveis regionais e elaboração de uma estratigrafia das formas;

d) interpretação de fotografias aéreas procurando especificar a gênese dos elementos do relevo;

e) levantamento de campo para teste e correção das interpretações, valorizando-se itinerários previamente definidos e utilizando-se, eventualmente, de sobrevôos no caso de áreas de difícil acesso. Nesta fase pode-se incluir coleta de materiais para posterior análise laboratorial;

f) integração da informação obtida em campo. A carta das formas de relevo resultante, considerando seus aspectos morfográficos e morfométricos, é revista, assumindo um caráter genético, dada a existência de elementos importantes para explicar a origem das formas e esculturação do modelado.

Tricart (1965), ao tratar da concepção e princípios de realização da Carta Geomorfológica ressalta as diferentes categorias de fenômenos representados segundo a escala adotada. Como exemplo, as cartas em pequena escala, como 1:1.000.000, 1:500.000, se orientam essencialmente para os fenômenos morfoestruturais, mostrando as anticlinais resultantes de dobramentos, seus monts ou combes , ou ainda os horsts e os grabens de um processo de falhamento, feições correspondentes à quarta (10 2 km 2

que adotadas com outro sentido, podem oferecer subsídios dessa natureza. Exemplo são os mapas geomorfológicos ao milionésimo do Projeto Radambrasil, onde a cor representa os relevos conservados e as tonalidades os relevos dissecados. Partindo desse princípio, as formas estruturais e as formas erosivas, associadas a “relevos conservados”, encontram-se relacionadas a processos morfogenéticos ou morfoclimáticos bem mais antigo em relação aos modelados pós-pliocênicos referentes aos “relevos dissecados”. As tonalidades adotadas para deposições de materiais, como os terraços e planícies, que podem ocorrer tanto nos relevos conservados como nos dissecados, mantêm relações genético-processuais pleisto-holocênicas. Muitas vezes as informações morfocronológicas são incorporadas na própria legenda, a exemplo das superfícies de aplainamento terciárias, planície de várzeas holocênicas, pedimentos pleistocênicos coluvionados, dentre outros. Nas representações geológicas as cores convencionadas expressam relações cronológicas das estruturas litoestratigráficas, dispostas inclusive de forma cronológica na legenda.

Quanto aos princípios da representação da carta geomorfológica, Tricart (1965) considera, como primeiro passo, a necessidade de uma base cartográfica. A adição de curvas de nível nos mapas geomorfológicos, extraídas das cartas topográficas, pode se constituir em alternativa para suprir a ausência de informações morfométricas, desde que não sobrecarreguem os limites da lisibilidade. A base topográfica pode proporciona ainda a adição de outras informações morfométricas, como a adoção de duas ou três classes de declividade na representação. Outro aspecto para o qual o autor chama atenção refere-se à importância dos dados estruturais na representação geomorfológica, o que não representa uma opinião unânime entre os especialistas. “Os ingleses, por exemplo, limitam a geomorfologia a uma cronologia da dissecação, sem se ocuparem da estrutura dos processos. Os poloneses negligenciam praticamente a geomorfologia estrutural em suas cartas, figurando, sobretudo a ‘cronologia denudativa' e os processos associados às formas”. São, portanto dois pontos de vistas incompatíveis, “que negligenciam as relações dialéticas entre a estrutura e o jogo das forças externas” (Tricart, 1965).

No método C.G.A 2 .-Tricart, são figurados sistematicamente os dados estruturais influenciando a geomorfologia: a litologia aparece em tons pastéis, sob a forma de um fundo de carta. As rochas coerentes são representadas por pontos. As rochas móveis por trama. A disposição das camadas figura através de símbolos, como fron t de crista monoclinal, superfície estrutural, dentre outras formas. Apresenta-se, a título de exemplo, parte de legenda de cartas geomorfológicas detalhadas referente ao sistema CGA-Tricart ( Fig. 5.1) , constante de anexo em sua obra (Tricart, 1965). Deve-se chamar a atenção para o fato de que a metodologia em questão adequa-se mais às representações de grande escala (maiores que 1:50.000).

5.1. Parte de legenda (dados estruturais) proposta por Tricart (1965)

Demek (1967) propõe a utilização de três unidades taxonômicas básicas nas cartas geomorfológicas, representadas pelas superfícies geneticamente homogêneas, formas do relevo e tipos de relevo 3. Portanto, nas superfícies geneticamente homogêneas, como no domínio dos chapadões tropicais interiores com Cerrados e Floresta de Galeria (Ab'Sáber, 1965), tem-se a presença de formas de relevo representadas por processo de pediplanação (plainos e cimeira e plainos intermontanos, pedimentos escalonados, onde se constatam tipos de relevo caracterizados por vertentes com discreta convexização,

cabeceira de drenagem em dales (veredas), vales simétricos, dentre outras formas. Para o autor, “a menor unidade taxonômica é a superfície geneticamente homogênea, que resulta de um determinado processo ou de um complexo de processos geomorfológicos. Essa unidade taxonômica é condicionada por processos de três origens: os endógenos, os exógenos e os antrópicos” (apud Ross, 1990).

A preocupação quanto às relações taxonômicas das unidades, feições ou formas a serem representadas, levaram Ross (1992) a apresentar os pressupostos metodológicos discutidos no capítulo 1 ( Fig. 1.12 ), tendo como referência Demek (1967) e Mescherikov (1968):

  • 1 º táxon: unidades morfoestruturais que correspondem às grandes macroestruturas, como os escudos antigos, as faixas de dobramentos proterozóicos, as bacias paleomesozóicas e os dobramentos modernos. Essa unidade pode conter uma ou mais unidades morfoesculturais, associadas a diversidades litológico-estruturais, guardando evidências das intervenções climáticas na elaboração das grandes formas;
  • 2 º táxon: unidades morfoesculturais, que correspondem aos compartimentos gerados pela ação climática ao longo do tempo geológico, com intervenção dos processos tectogenéticos. As unidades morfoesculturais são caracterizadas pelos planaltos, planícies e depressões, que estão inseridas numa unidade morfoestrutural. Como exemplo, na unidade morfoestrutural representada pelos dobramentos antigos, como da região central do Brasil, insere-se o Planalto Central Goiano, a Depressão do Tocantins e a Planície do Araguaia. As unidades morfoesculturais, em geral, não têm relação genética com as características climáticas atuais ;
  • 3 º táxon: unidades morfológicas, correspondentes ao agrupamento de formas relativas aos modelados, que são distinguidas pelas diferenças da rugosidade topográfica ou do índice de dissecação do relevo, bem como pelo formato dos topos, vertentes e vales de cada padrão. Como exemplo, na Folha SE.22 Goiânia (Mamede et al, 1983), o Planalto Central Goiano (unidade morfoescultural, denominado de unidade geomorfológica na referida folha) se caracteriza pela presença de quatro unidades morfológicas (denominadas de subunidades na referida folha): Planalto do Distrito Federal, Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba, Planalto Rebaixado de Goiânia e Depressões Intermontanas. Uma unidade morfoescultural pode conter várias unidades de padrão de formas semelhantes;
  • 4 º táxon: corresponde à unidade de padrão de formas semelhantes. Estas formas podem ser: a) de agradação (acumulação), como as planícies fluviais ou marinhas, terraços; b) de degradação como colinas, morros e cristas. Na metodologia adotada pelo Projeto Radambrasil (IBGE, 1995) no segundo conjunto de símbolos, denominado de Formas de Relevo, estas encontram-se subdivididas em três partes: Formas Estruturais, Formas Erosivas e Formas de Acumulação. As formas estruturais são representadas pela letra S, seguida por outras letras e respectivas traduções. O mesmo procedimento é adotado para as formas erosivas e para as formas de acumulação. Nos Tipos de Dissecação encontram-se três letras básicas: a, c e t, ou seja, formas aguçadas, formas convexas e formas tabulares. Os Índices de Dissecação encontram-se sintetizados adiante ( Tab. 5.1 ), onde são combinadas cinco classes medidas na imagem de radar, correspondentes à dimensão interfluvial, e à intensidade de aprofundamento dos talvegues, avaliada qualitativamente, também representada por cinco classes;

Considerando a escala da representação, o mapeamento geomorfológico considerou os quatro primeiros táxons adotados pelo Projeto Radambrasil (IBGE, 1995), conforme esquema apresentado ( Esq. 5.1 ):

Esquema 5.1. Estrutura da Geomorfologia adotada pelo Radambrasil (IBGE,1995)

  • Os “Domínios Morfoestruturais”, também denominados de “Unidades Morfoestruturais” na classificação de Ross (1992), correspondem aos três grandes conjuntos estruturais do globo. “Os Domínios Morfoestruturais apresentam características geológicas prevalecentes, tais como direções estruturais que se refletem no direcionamento geral do relevo ou no controle da drenagem principal” (IBGE, 1995). Na área eleita, os dois domínios morfoestruturais apresentam certa relação com as unidades geomorfológicas: os Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná são associados aos sedimentos paleomesozóicos da referida bacia, representados pela cor verde (relevos conservados) e respectivas tonalidades (relevo dissecado). Já a Depressão do Araguaia, associada às estruturas cristalinas do Complexo Goiano, encontra-se representada na tonalidade rosa, correspondendo a relevo dissecado;
  • As Regiões geomorfológicas referem-se ao segundo táxon da metodologia adotada pelo Radambrasil (IBGE, 1995) na elaboração da Folha SD-23 Brasília, correspondentes às Unidades Morfoesculturais discutidas por Ross (1992). Trata-se de “grupamentos de unidades geomorfológicas que apresentam semelhanças resultantes da convergência de fatores de sua evolução” (Barbosa et al, 1984). “Estas se caracterizam por uma compartimentação reconhecida regionalmente e apresentam não mais um controle causal relacionado às condições geológicas, mas estão ligadas, essencialmente, a fatores climáticos atuais ou passados” (IBGE, 1995). Portanto, não são as condições estruturais ou litológicas que lhes dão as características comuns e aspectos semelhantes. O clima é um fator interveniente ou integrante desse conceito. Na área eleita ( Fig 5.2 ) as referidas unidades, embora não tratadas numa relação taxonômica e nem mesmo mencionada a condição de “região geomorfológica”, podem ser entendidas como os denominados Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná, Planalto Central Goiano e pela Depressão do Araguaia;
  • O terceiro táxon refere-se às Unidades Geomorfológicas (ou Sistemas de Relevo), denominadas simplesmente de “Unidades Morfológicas” por Ross (1992). Correspondem a “formas fisionomicamente semelhantes em seus tipos de modelado; a similitude resulta de uma determinada geomorfogênese, inserida em um processo sincrônico mais amplo. (...). Cada Unidade Geomorfológica mostra tipos de modelado, processos originários e formações superficiais diferenciadas de outras” (Barbosa et al, 1984). “O comportamento da drenagem, seus padrões e anomalias são tomados como referencial na medida que revelam as relações entre os ambientes climáticos atuais ou passados e as condicionantes litológicas ou tectônicas” (IBGE, 1995). Na Folha SE.22, Goiânia, Mamede et al (1983) tratam os Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná e o Planalto Central Goiano como unidades geomorfológicas, encontrando-se a primeira constituída das subunidades Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e Planalto Maracaju-Campo Grande. O Planalto dos Guimarães (Alcantilados), que aparece ao norte, foi tratado separadamente, preservando suas características regionais. A área correspondente ao Planalto Setentrional da Bacia do Paraná e ao Planalto dos Guimarães recebeu duas cores verdes, correspondentes aos relevos conservados. como as formas estruturais identificadas pelas superfícies estruturais tabulares (St) e os patamares estruturais (Spt), e as formas erosivas individualizadas por superfícies pediplanadas (Ep) e superfícies erosivas tabulares (Et). As tonalidades foram atribuídas às áreas dissecadas, sendo as mais fortes referentes às áreas mais elevadas topograficamente (reverso dissecado da cuesta do Caiapó) e as mais fracas aos níveis

Com relação aos componentes da representação geomorfológica recomendados pela União Geográfica Internacional entende-se que o exemplo escolhido possui uma boa correspondência, apesar das naturais limitações da escala (1:1.000.000). Alguns parâmetros encontram-se contidos de forma direta ou indireta na representação, como:

a) morfométrico: que pode ser inferido pela tonalidade, como no caso do Planalto Setentrional da Bacia do Paraná, onde a mais forte corresponde às superfícies mais elevadas (relevo conservado como o reverso da cuesta) e o mais claro às mais baixas (como o relevo dissecado correspondente ao nível rebaixado e desdobrado), dando assim a sensação hipsométrica à representação. Também algumas simbologias lineares expressam unidades métricas, como front de cuesta , que no exemplo ( Fig. 5.2 ) encontra-se como portadora de desnível acima dos 150 metros ;

b) morfográfico: marcado por “manchas” de modelados de relevo específicos, como os tabulares, os convexos ou os aguçados nas formas de dissecação;

c) morfogenético: que embora implícito na morfologia representada, pode ser inferido através de formas específicas, como as planícies fluviais, superfícies pediplanadas, ou mesmo as diferentes formas de dissecação vinculadas aos processos lineares e areolares;

d) cronológico: que também pode ser inferido através de formas específicas, como a presença de terraços fluviais, sempre ligados a processos climáticos ou paleoclimáticos, sobretudo pleistocênicos, ou planícies fluviais, associadas às superfícies alveolares holocênicas.

  • Representações geomofológicas em escalas média a grande

Os dois exemplos de mapeamentos geomorfológicos selecionados, correspondentes às escalas de 1:50.000 e 1:40.000, têm por objetivo evidenciar a diferenciação de parâmetros empregados, considerando as respectivas especificidades.

a) Geomorfologia de Huaraz - Peru

Como exemplo de mapeamento geomorfológico de escala média a grande (1:50.000), utilizou-se da carta de Huaraz, no Peru ( Fig. 5.3 ), elaborada por Tricart (1978), com o objetivo de mostrar a vulnerabilidade do relevo em função de manifestações magmáticas e frente à ocupação urbana. Podem ser constatados os quatros componentes de análise geomorfológica da representação cartográfica, o que é natural por se tratar de uma escala de semidetalhe.

Fig. 5.3. Geomorfologia de Huaraz (J. Tricart, 1978)

1 As informações morfométricas foram representadas através de curvas de nível, que variam entre 3.100 a 3.400 metros , demonstrando que a cidade de Huaraz encontra-se numa posição de vale, onde são individualizados fluxos torrenciais de lavas vulcânicas;

2 Morfograficamente a área encontra-se individualizada por formas fluviais, formas glaciais, formas associadas a ações hídricas e movimentos de massa. Por corresponder a uma área andina, em posição altimétrica elevada, os efeitos dos glaciais se fazem presentes. O elevado gradiente, ligado à tectônica moderna, além de favorecer a erosão acelerada comandada pelos fatores hídricos, como escoamentos concentrados e as formas resultantes (ravinamentos, bad-lands ), contribuem para os movimentos de massa do tipo solifluxão e fluxos de lava;

3 Os elementos morfogenéticos encontram-se representados através das formas de escoamento (fluxo concentrado, difuso) ou manifestação dos diferentes processos, como os glaciais (morainas), ligados aos fatores climáticos;

A representação geomorfológica do município de Goiânia, elaborada com base em levantamento aerofotogramétrico na escala de 1:40.000, partiu do terceiro táxon de Ross (1992) correspondente às unidades geomorfológicas, que foram definidas em função da similitude de formas de relevo e suas relações estruturais, incorporando a posição altimétrica. Numa relação azonal foram mapeados os terraços e as planícies da bacia do rio Meia Ponte, bem como os fundos de vale que os abrigam. O padrão de formas semelhantes, correspondentes ao quarto táxon de Ross (1992), foi apresentado com base no grau de dissecação do relevo, comandado pela drenagem (dimensão interfluvial e grau de aprofundamento dos talvegues). O quinto táxon foi individualizado pelos segmentos de formas das vertentes, como a sua geometria, além das formas associadas a agradação e degradação do modelado, com destaque para as influenciadas pela litologia e estrutura, que foram representadas através de simbologias pontuais e lineares.

As unidades geomorfológicas foram representadas por cores, na representação original, enquanto as informações relacionadas aos padrões de formas semelhantes foram classificadas segundo processos de agradação e de degradação. Foram incorporados dados morfométricos referentes à declividade das vertentes e adoção de simbologia correspondente. As unidades geomorfológicas foram individualizadas por três compartimentos. Há apenas uma exceção, representada por terraços e planícies, bem como pelos fundos de vales, que ocorrem indistintamente nos diferentes compartimentos (azonais).

  • Planalto Dissecado de Goiânia ( 920 a 950 metros de altitude), constituído pelo domínio “formas aguçadas” com declives superiores a 30%, correspondentes a cristas monoclinais quartzíticas, e formas convexas, com declives inferiores a 20%, representando o teto orográfico do município, associadas aos granulitos félsicos;
  • Chapadões de Goiânia ( 860 a 900 metros ), constituído por superfícies aplainadas, sustentadas por quartzitos, e superfícies rampeadas (pedimentos detríticos que coalescem com os níveis de aplainamento);
  • Planalto Embutido de Goiânia ( 750 a 800 metros de altitude), constituído pelo domínio de formas convexas, com declividade de até 20%, e de formas tabulares, correspondentes a remanescentes do pediplano embutido abrigando dales ;
  • Terraços e Planícies da Bacia do rio Meia Ponte ( 700 a 720 metros de altitude), individualizados em terraços fluviais suspensos, associados às influências paleoclimáticas pleistocênicas, e planícies fluviais de inundação, correspondentes aos depósitos holocênicos atuais e subatuais;
  • Fundos de Vales, correspondentes a uma faixa irregular, paralela ao sistema fluvial, com declividade que pode chegar a 40%. Sua individualização deu-se em função de mudanças nas relações processuais, sobretudo entre os fluxos difusos e laminares em relação aos lineares.

A definição das unidades e respectivas características morfológicas permitiram a identificação de riscos, que foram agrupados em três grandes compartimentos (Casseti & Nascimento, 1991):

Notas de Rodapé

1 “Geotextura” corresponde às grandes feições da crosta, associadas às manifestações de processos a elas associados.

2 Centre de Géographie Appliquée.

3 Para Demek (1967) ‘Superfícies geneticamente homogêneas” são áreas de geometria relativamente planas, sem apresentar quebras de relevo. Resultam de curtos estágios na evolução do relevo decorrentes de um ou mais processos agindo em uma certa direção (variam entre algumas dezenas de metros/alguns quilômetros quadrados); “Formas de relevo” são constituídas pela junção de superfícies geneticamente homogêneas, resultantes de um mesmo processo, mas correspondendo a estágios mais longos no desenvolvimento do relevo (alcançam algumas centenas m 2 / km 2 ; “Tipos de relevo” correspondem a complexo de formas, em uma área limitada de forma relativamente distinta, com a mesma altitude, mesma gênese dependendo da morfoestrutura, originada dos mesmos processos morfogenéticos numa mesma história evolutiva.

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