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Livro didático e humorístico que fundamenta características peculiares de como as crianças se posicionam em diversas situações.
Tipologia: Notas de aula
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Infância vem do latim infans: o que não fala. As crianças que falaram aqui não conheciam essa definição. A cada uma delas, minha gratidão. Ainda que pareça excessivo, para os adultos que somos, sem a voz da criança não há descoberta possível, nem poesia, nem paraíso, nem dor, nenhum conhecimento, nenhuma comunhão.
Octavio Paz
“Em lábios de crianças, loucos, sábios, apaixonados ou solitários, brotam imagens, jogos de palavras, expressões surgidas do nada… Feitas de matéria inflamável, as palavras se incendeiam assim que as roçam a imaginação ou a fantasia.” Era uma vez, quando todas as coisas nos falavam e os adultos também escutávamos as crianças, que se celebraria em um colégio de Rionegro, Antioquia, o “dia das crianças”. Estávamos no ano de 1988 e preparávamos uma festa para todos. Os professores organizaram diversos jogos – pistas escorregadias, competições e partidas de futebol – e as mamães fizeram tortas e refrescos. Os salões e o auditório estavam decorados com flâmulas e bandeirinhas de cores vivas. Teríamos aula nas primeiras horas e logo, à luz do meio-dia, nos “enfestaríamos”. Estávamos na aula de criação literária, fizemos um primeiro jogo de palavras, rimos, li um fragmento de um conto e, entre todos, imaginamos finais possíveis. Faltando pouco para terminar a aula, tive a ideia de pedir às crianças que escrevessem em seu caderno o que era uma criança para elas. Luís Gabriel Mesa, de 7 anos, escreveu: “Uma criança é um amigo, que tem o cabelo curtinho, joga bola, pode brincar e ir ao circo”. Surpreendeu-me a síntese que ele fez, a beleza das palavras quando se casam dessa maneira, a construção tão sábia e simples. Sinônimos talvez? Johanna Villa, de 8 anos, escreveu: “Para mim a criança é algo que não é cachorro, é um humano que todos temos que apreciar”. Ri às gargalhadas, mas com um espinho cravado no riso. Desfrutei da maneira como definiu negando, encantou-me a palavra “apreciar”, a obrigatoriedade doída que encontrava em “temos”. Desfrutei sem todas estas considerações que estão em um depois… Desfrutei da maneira como eles viam a si próprios e sobretudo quando comecei a soltar-lhes palavras para que definissem, surpreendi-me sozinho, e às gargalhadas, com a sua doce e sábia “irresponsabilidade” com elas. Apesar de a poesia para Eulalia Vélez, de 12 anos, ser “expressão de reprimidos”. Para mim era claro que nas crianças, em seu abandono, na sua liberdade interior, se encontram caminhos certos para a poesia. Mas, o que é criação literária? Como eram essas aulas? Custa-me dar forma a algo que dificilmente a tenha, já que as aulas não obedeciam a um esquema rígido. As aulas, assemelhando-se a seres vivos, moviam-se um pouco à sua vontade, buscando a nossa para poder acontecer. Não havia qualificações, não havia mediadores, e, enquanto os adolescentes nos olhavam das janelas fechadas em seus cursos de física ou química, nós, sentados na grama, brincávamos. Apaixonados, seguíamos o caminho que faziam as palavras, com suas bifurcações, seus jardins secretos, pontes e alamedas. Passávamos bons momentos: inventávamos contos, países imaginários com seus rios, seus animais, suas moedas, seus deuses – como o país de Niclan, cujo Deus supremo se identifica com o ar e não tem limites, como o define claramente Emilse Vallejo, em seus 9 anos de idade, “pois está na minha mente e minha mente não tem limites”. Inventávamos histórias à Gianni Rodari, entrávamos na sala de jogos, fazíamos acrósticos, caligramas, rimas, encenações, palíndromos, cartas que nos escrevíamos, fazíamos palavras cruzadas, poemas, contos sem início ou sem final. Líamos muito. Lia-lhes em voz alta e, pouco a pouco, em meio a todas estas brincadeiras, propunha-lhes que escrevêssemos palavras. Não quis que se tornasse uma obrigação. Cuidei para que nunca chegassem a exclamar: “Ah, que preguiça, mais pala-vras!” Devia continuar sendo divertido, nada que parecesse um dever, um hábito. Um jogo dos bons, desses que nunca se cansa de jogar. Passaram-se os anos, o tempo, que, segundo Roger de Jesús Valencia, de 9 anos, “é algo que corre em nós”. E eu levava os cadernos para casa como quem leva um tesouro, e assim o esmiuçava. No meio de muitas palavras sem força expressiva, palavras empobrecidas pelo uso, reluziam joias com todo o poder de origem, palavras carregadas de força primordial, ingênuas palavras costuradas docilmente ao que era nomeado. Poesia pura. Em 1994 enviei à Colcultura (o Ministério da Cultura à época) parte do trabalho desenvolvido. Optei por uma das bolsas que me concederam para continuar o trabalho nas escolas semiurbanas de Chipre e Tres Puertas, em Rionegro. Continuei recolhendo as frases das crianças – brincamos, desfrutamos da libertade que igualmente nos deram – e transcrevia depois o que havia em seus cadernos, seus titubeios, seu modo singular de fazer com que as palavras se encontrassem. O nome do livro surgiu de uma definição dada por um estudante uma vez em que cele brávamos o dia da
(Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)
(Camilo Aramburo, 8 anos)
(Simón Peláez, 11 anos)
(Héctor Barajas, 8 anos)
(Alex Gustavo Palomeque, 7 anos)
(Tatiana Ramírez, 7 anos)
(Nelson Ferney Ramírez, 7 anos)
(Catalina Sanín, 9 anos)
(Catalina Taborda, 7 anos)
(Alex Gustavo Palomeque, 7 anos)
(Juan Felipe Arias, 7 anos)
(Juan Guillermo Henao, 8 anos)
(Yamile Gaviria, 7 anos)
(Juan E. Restrepo, 9 anos)
(Yorlady Rave, 8 anos)
(Jhon Alexander Ríos, 10 anos)
(Camila Mejía, 7 anos)
(Lina Marcela Sánchez, 7 anos)
(Carlos Eduardo Oquendo, 7 anos)
(Héctor Alonso Gallego, 11 anos)
(Nelson Ferney Ramírez, 7 anos)
(Norman David Buitrago, 7 anos)
(Juan Esteban Buitrago, 9 anos)
(Luis Alberto Ortiz, 8 anos)
(Natalia Andrea Valencia, 8 anos)
(Diego Alejandro Giraldo, 8 anos)
(Diana Carolina Quiceno, 7 anos)
(Edwin Alexander Hoyos, 8 anos)
(Julián David García, 11 anos)
(Jennifer Katia Gómez, 9 anos)
(Valentina Nates, 9 anos)
(Diego Alejandro Tabares, 8 anos)
(Ana Cristina Henao, 8 anos)
(Duván Arnulfo Arango, 8 anos)
(Alejandro Mazo, 9 anos)
(Nelson Ferney Ramírez, 7 anos)
(José Gabriel Diosa, 9 anos)
(Simón Peláez, 11 anos)
(Diego Alejandro Giraldo, 8 anos)
(Leydi Stella Arango, 10 anos)
(Jenny Alejandra Baena, 8 anos)
(Mary Yuly Vera, 10 anos)
(Luisa Fernanda Velásquez, 8 anos)