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Conceitos fundamentais da psicanálise, Resumos de Psicanálise

Pré-História da psicanálise, conceitos básicos, recalque, pulsão, Édipo, interpretação dos sonhos, inconsciente, narcisismo.

Tipologia: Resumos

2025

À venda por 08/07/2025

carolinarodrigx
carolinarodrigx 🇧🇷

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1. A PRÉ HISTÓRIA DA PSICANÁLISE I
Este capítulo aborda as origens históricas e conceituais que antecederam e
possibilitaram o surgimento da psicanálise. O autor destaca que, embora a psicanálise
represente uma ruptura epistemológica com a psiquiatria, neurologia e psicologia do século
XIX, ela emerge de um conjunto articulado de saberes e práticas que formaram o solo
histórico para sua constituição.
1.1 A consciência da loucura
No século XVII, a razão produziu a loucura como sua antítese, estabelecendo uma
partilha entre racionalidade e desrazão;
A loucura deixou de ser vista como diferença indefinida para se tornar um objeto
específico do saber médico, marcado pela exclusão e controle;
Descartes contribuiu para essa visão, afirmando que a loucura não atingia o
pensamento, mas apenas o homem, reforçando a ideia de que o louco era visto como
um animal;
1.2 O Saber Psiquiátrico:
A psiquiatria do século XVIII produziu a loucura como objeto de conhecimento,
justificando práticas de dominação e controle;
O diagnóstico psiquiátrico era absoluto, não diferencial, e servia para segregar o louco
como uma ameaça à sociedade;
1.3 O Interrogatório e a Confissão:
A psiquiatria buscava substancializar a loucura na hereditariedade familiar, usando o
interrogatório para obter confissões que confirmassem a patologia;
A confissão tinha dupla função: submissão ao médico e catarse para o paciente;
1.4 A Loucura Experimental:
Moreau de Tours, com experimentos com haxixe, propôs que a loucura podia ser
compreendida como um estado análogo ao sonho, rompendo a barreira entre normal e
patológico;
1.5 A Hipnose:
Originada do mesmerismo, a hipnose foi desenvolvida por James Braid como técnica
terapêutica, baseada na sugestão e no controle do paciente pelo médico;
Freud usou a hipnose por um tempo até abandoná-la pela associação livre;
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1. A PRÉ HISTÓRIA DA PSICANÁLISE I

Este capítulo aborda as origens históricas e conceituais que antecederam e possibilitaram o surgimento da psicanálise. O autor destaca que, embora a psicanálise represente uma ruptura epistemológica com a psiquiatria, neurologia e psicologia do século XIX, ela emerge de um conjunto articulado de saberes e práticas que formaram o solo histórico para sua constituição.

1.1 A consciência da loucura ● No século XVII, a razão produziu a loucura como sua antítese, estabelecendo uma partilha entre racionalidade e desrazão; ● A loucura deixou de ser vista como diferença indefinida para se tornar um objeto específico do saber médico, marcado pela exclusão e controle; ● Descartes contribuiu para essa visão, afirmando que a loucura não atingia o pensamento, mas apenas o homem, reforçando a ideia de que o louco era visto como um animal;

1.2 O Saber Psiquiátrico: ● A psiquiatria do século XVIII produziu a loucura como objeto de conhecimento, justificando práticas de dominação e controle; ● O diagnóstico psiquiátrico era absoluto, não diferencial, e servia para segregar o louco como uma ameaça à sociedade;

1.3 O Interrogatório e a Confissão: ● A psiquiatria buscava substancializar a loucura na hereditariedade familiar, usando o interrogatório para obter confissões que confirmassem a patologia; ● A confissão tinha dupla função: submissão ao médico e catarse para o paciente;

1.4 A Loucura Experimental:

● Moreau de Tours, com experimentos com haxixe, propôs que a loucura podia ser compreendida como um estado análogo ao sonho, rompendo a barreira entre normal e patológico;

1.5 A Hipnose: ● Originada do mesmerismo, a hipnose foi desenvolvida por James Braid como técnica terapêutica, baseada na sugestão e no controle do paciente pelo médico; ● Freud usou a hipnose por um tempo até abandoná-la pela associação livre;

1.6 Charcot e a Histeria: ● Charcot estudou a histeria como doença funcional do sistema nervoso, sem lesão anatômica, e usou a hipnose para regularizar seus sintomas, além disso, ele pretendia fazer nosografia, explicação das doenças neurais; ● Suas demonstrações clínicas revelaram o papel do desejo do médico na produção dos sintomas histéricos; ● Em 1885, Freud, que era médico neurologista, conheceu Charcot;

1.7 Trauma e Ab-reação: ● Freud e Breuer desenvolveram a teoria do trauma psíquico, aquilo que não conseguimos simbolizar, associando sintomas histéricos a eventos traumáticos reprimidos; ● O método catártico visava a "ab-reação", ou liberação do afeto retido, através da rememoração sob hipnose. É a liberação de emoções reprimidas, que podem levar a um alívio emocional e a uma melhor compreensão de conflitos internos (limpeza de chaminé);

1.8 Trauma e Defesa Psíquica: ● Freud introduziu a noção de defesa psíquica, mecanismo pelo qual o ego exclui da consciência ideias conflitivas, gerando sintomas por conversão; ● A resistência do paciente sinalizava a ação da defesa, marcando a transição do método catártico para a psicanálise;

1.9 A Sexualidade: ● A sexualidade emergiu como núcleo da etiologia das neuroses, especialmente na histeria, embora Freud não tenha sido o primeiro a destacá-la; ● O rompimento com Breuer ocorreu em parte pela centralidade que Freud atribuiu à sexualidade, superando a teoria do trauma em favor das fantasias infantis e do complexo de Édipo; ● Segundo Freud, toda criança apresenta sexualidade;

1.10 Caso Anna O.

● Primeiro caso discutido no livro ¨Estudos sobre a histeria¨ de 1885; ● O caso começa em 1880, Anna O. era paciente de Breuer, que confidencializou a história para Freud;

2.4 Princípios Reguladores: ● Princípio de Inércia Neurônica: Tendência dos neurônios a descarregar energia (Q) para evitar tensão; ● Princípio de Constância: Busca manter um nível equilibrado de energia, evitando excessos;

2.5 Processos Psíquicos: ● Processo Primário: Associado à energia livre, descarga imediata e alucinações (ex.: sonhos); ● Processo Secundário: Associado à energia ligada, controle e adaptação à realidade (ex.: pensamento consciente);

2.6 Experiência de Satisfação e Formação do Ego: ● A satisfação de necessidades básicas (como fome) cria traços mnêmicos que são reinvestidos, levando a desejos e alucinações; ● O ego surge como uma estrutura inibidora, evitando a confusão entre realidade e alucinação;

2.7 Teoria dos Sonhos: ● Os sonhos são realizações de desejos e exemplos de processos primários; ● Características incluem conteúdo alucinatório, ausência de lógica e falta de descarga motora; ● Freud destaca a importância da interpretação dos sonhos como via de acesso ao inconsciente;

2.8 Transição para a Psicanálise: ● O Projeto marca uma tentativa de Freud de fundar uma psicologia científica, mas sua abordagem neurológica foi posteriormente substituída pela metapsicologia; ● A ênfase na interpretação de sonhos e na linguagem do desejo inaugura a psicanálise propriamente dita;

3. INTRODUÇÃO À PSICANÁLISE 3.1 O início da psicanálise

● O livro ¨interpretação dos sonhos¨ escrito por Freud em 1900, inaugura a psicanálise através da descoberta do inconsciente; ● Livro ¨interpretação dos sonhos¨: Realidade psíquica (fantasias); ● A histeria foi estudada por Freud e Charcot em 1885, com o uso da hipnose (sugestiva e as doenças poderiam ter causas não orgânicas);

3.2 Histeria e neurose ● Histeria → Neurose por ligação com os conflitos psíquicos inconscientes. Ademais, possui origem infantil e sexual; ● Neurose: Defesa contra angústia (desamparo) e a formação de compromisso (sintoma) entre a defesa e a realização do desejo; ● Tipos de neurose são: histeria e neurose obsessiva;

3.3 Linguagem

● O inconsciente é estruturado como linguagem e possui leis simbólicas; ● Representação ligada a linguagem (tem limites); ● A linguagem está em um plano simbólico (representação das coisas através de palavras);

3.4 O outro, o sujeito e a subjetividade

● Das ding: Conceito que se relaciona com a experiência do sujeito com o outro. É o que o sujeito isola inicialmente como estranho, hostil ou exterior; ● Das ding como a coisa kantiana, objeto perdido e inacessível que implica uma constante insatisfação. Objeto que não pode ser representado senão por outra coisa (furo na subjetividade);

3.5 Alienação

● Consequência dos conflitos psíquicos e da necessidade de adaptação às demandas sociais e culturais. Pode ser como estranhamento, como resultado da repressão, pela formação do ego e na relação do outro; ● Alienação ao desejo (de algo que não temos no momento) do outro é necessário;

3.6 Conflito consciente X inconsciente

● Consciente: Dentro da normatização social, onde ocorre o recalque;

relações sexuais, com um caráter traumático, foi recalcado e se tornou um núcleo da neurose; ● Através de novas observações de seus pacientes, Freud chegou a conclusão de que a teoria da sedução não era real, mas sim, fantasias inconscientes infantis que eram expressão de desejos; ● A sexualidade sendo sempre infantil e traumática. O prazer se manifesta nas primeiras relações do bebê com o outro (a mãe é o primeiro sedutor da criança); ● Pacientes histéricos criam cenas na fantasia (realidade psíquica), e essas fantasias destinavam-se a encobrir a atividade autoerótica dos primeiros anos de infância, embelezá-la e elevá-la a um plano mais alto. Detrás das fantasias, toda a gama da vida sexual da criança vinha a luz;

3.10 Outras definições importantes

● Narcisismo: Se refere à libido, energia psíquica ligada ao prazer, direcionada para o próprio ego, podendo ser tanto uma força positiva (autopreservação) quanto negativa (auto absorção negativa), dependendo de como se manifesta; ● Trauma: Aquilo que não conseguimos simbolizar; ● Angústia: Seus efeitos são, distúrbios da atividade cardíaca, respiratórios, acessos de suor, tremores e calafrios, fome devoradora, diarreia, vertigens e parestesias, concomitantes ou não com mal-estar. A angústia possui um papel importante para o processo de recalcamento nas neuroses (angústia de castração); ● A análise é movimento do desejo; ● Outro → sujeito suposto saber → analista (faz a falta aparecer);

3.11 Conceitos fundamentais

● Inconsciente, recalque e pulsão;

4. A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS

O texto aborda o livro ¨A Interpretação dos Sonhos¨ (1900) de Sigmund Freud, destacando sua importância como obra fundadora da psicanálise. Freud considera essa obra sua descoberta mais valiosa, apesar de sua recepção inicial ter sido negativa. O livro marca a transição de uma abordagem neurológica (como no ¨Projeto para uma Psicologia Científica¨) para uma teoria centrada no desejo e na linguagem, estabelecendo os sonhos como a "via real" para o inconsciente.

4.1 Contexto e Importância da Obra ● Publicado em 1900, o livro foi mal recebido inicialmente, mas tornou-se fundamental para a psicanálise; ● Freud abandonou a abordagem neurológica do ¨Projeto¨ em favor de uma teoria baseada na interpretação do desejo e dos sonhos; ● A descoberta do ¨complexo de Édipo¨ (em 1897) foi crucial para essa transição, revelando desejos infantis reprimidos como núcleo das neuroses;

4.2 Os Sonhos como Realizações de Desejos

● O sonho como material do inconsciente (códigos dos sintomas/desejos/fantasias); ● Os sonhos são realizações disfarçadas de desejos inconscientes, muitas vezes ligados a experiências infantis. O sonho como forma de atividade psíquica que opera sob condições específicas, onde a censura e a repressão são relaxadas, permitindo que desejos e pensamentos inconscientes se manifestem de forma simbólica (como uma válvula de escape); ● Conteúdo manifesto vs. conteúdo latente: ➔ Manifesto: O sonho como é lembrado e relatado. (o que é lembrado ao acordar). ➔ Latente: Os pensamentos e desejos inconscientes por trás do sonho, revelados pela interpretação. ( esses desejos e pensamentos geram o sonho). ➔ Conteúdo latente em manifesto → trabalho do sonho. ➔ Função dos sonhos: Proteger o sono ao satisfazer desejos de forma alucinatória, evitando que estímulos psíquicos perturbem o repouso. Segundo Freud, a função do sonho está relacionada à realização de desejos inconscientes e a manutenção do equilíbrio psíquico, protegendo o sono ao permitir que desejos reprimidos sejam expressos de maneira disfarçada.

4.3 Mecanismos da Elaboração Onírica O trabalho do sonho transforma o conteúdo latente em manifesto através de quatro mecanismos: ● Condensação: ➔ Vários pensamentos latentes são fundidos em um único elemento manifesto. ➔ Um único símbolo ou cena do sonho pode conter múltiplos significados; ➔ Ex: Uma pessoa no sonho pode representar características de múltiplas figuras reais.

➔ Contém pensamentos acessíveis à consciência, mas não atualmente conscientes. ➔ Age como filtro entre o inconsciente e o consciente. ● Consciente: ➔ Recebe informações do exterior e do pré-consciente. ➔ Funciona por ¨processos secundários¨ (energia ligada, controle racional).

4.6 Regressão ● Nos sonhos, a excitação psíquica segue um caminho ¨regressivo¨: ➔ Tópica: Do pré-consciente/consciente para o inconsciente. ➔ Temporal: Retorno a desejos infantis. ➔ Formal: Transformação de pensamentos em imagens sensoriais (alucinações). ➔ A regressão explica por que os sonhos parecem absurdos: reproduzem lógicas primitivas do inconsciente.

4.7 Sobredeterminação e Superinterpretação ● Sobredeterminação: Um elemento do sonho pode ter múltiplas causas ou significados no conteúdo latente; ● Superinterpretação: Nenhuma interpretação esgota o sentido do sonho; sempre há camadas adicionais a explorar; ● O "umbigo do sonho": Ponto onde a interpretação encontra um limite, um núcleo de sentido inacessível;

4.8 Recalcamento e Conflito Psíquico ● Recalcamento: Mecanismo que mantém desejos inaceitáveis no inconsciente, evitando desprazer; ● Censura: Mecanismo de defesa que atua durante o sono para evitar desejos reprimidos e inaceitáveis alcancem a consciência. Distorce o conteúdo latente, tornando-o menos ameaçador e mais aceitável (explicação do porque os sonhos parecem confusos ou ilógicos); ● Defesa: Processo mais amplo de evitar conteúdos psíquicos dolorosos; ● O conflito entre desejo (inconsciente) e censura (pré-consciente/consciente) gera sintomas, sonhos e atos falhos.

4.9 Sonhos Desagradáveis e de Punição ● Mesmo sonhos angustiantes são realizações de desejos:

➔ Ansiedade: Surge quando a censura falha parcialmente. ➔ Punição: Realiza o desejo do superego (ainda não nomeado por Freud) de castigar o sujeito por seus desejos proibidos.

4.10 A Evolução do Aparelho Psíquico

● O psiquismo evolui de um estado primitivo (busca de satisfação alucinatória) para um funcionamento mais complexo (controle pela realidade); ● Experiência de satisfação: Base para a formação do desejo, quando a criança associa a satisfação de uma necessidade (ex.: fome) à imagem de quem a sacia (ex.: a mãe);

4.11 Peculiaridades psicológicas do sonho

● O sonho, embora seja um produto de atividade psíquica, parece alheio e estranho a nossa consciência, isso se deve às alterações nos processos psíquicos durante o sono; ● O palco da atividade psíquica no sonho é diferente do da vigília. No sonho, a psiquê opera em um nível diferente, causando, e explicando, a sensação de estranheza; ● Durante o sonho, o pensamento ocorre predominantemente em imagens visuais. O sonho transforma pensamentos em alucinações, criando uma realidade vívida que é aceita como realidade e verdade durante o sono; ● No sonho, a psiquê acredita nas alucinações como se fossem reais, pois não há critérios da realidade externa para contrastar com as imagens internas ( durante o sono, a psiquê está desligada do mundo externo);

4.12 Esquecimento dos sonhos

● Os sonhos são frequentemente esquecidos após o despertar. Segundo Strümpell, o esquecimento dos sonhos se deve a várias causas, incluindo a falta de conexão lógica entre as imagens oníricas, a ausência de vínculos a vida de vigília e a invasão das impressões sensoriais do mundo externo ao despertar; ● A lembrança do sonho sonho é frequentemente distorcida, pois a mente tende a preencher lacunas e organizar os fragmentos de maneira coerente, mesmo que isso não corresponda de ao sonho original (elaboração secundária);

4.13 Afetos no sonho

5.2 O inconsciente

● Segundo Lacan, o inconsciente é linguagem e é composto de significantes, palavras ou pedaços de palavras, que foram recalcados e que estabelecem relações complexas entre si (esses significantes podem se recombinar de maneiras inesperadas); ● O inconsciente não é apenas um lugar de desejos reprimidos, mas um sistema autônomo de significantes que opera de acordo com uma lógica própria; ● O inconsciente está repleto de desejos que não são necessariamente do próprio sujeito, mas que foram interligados de outras pessoas. Além disso, podem influenciar o comportamento do sujeito, mesmo que ele não reconheça como seus, e o inconsciente é o lugar onde o desejo do outro se manifesta;

5.3 Corpos estranhos

● A linguagem não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas algo que molda o sujeito (a criança, ao aprender a linguagem, é alienada nela, pois seus desejos são moldados pelas palavras que ela aprende a usar); ● Essa alienação na linguagem é fundamental para a formação do sujeito, mas também cria uma estranheza, pois a linguagem não é algo que o sujeito controla totalmente; ● A linguagem ¨escreve¨ o corpo ( o corpo ¨escrito¨ com significantes); ● A linguagem não apenas molda os desejos, mas também o próprio corpo, criando zonas de prazer e dor que são socialmente construídas;

6. CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO

6.1 A linguagem

● O sonho como material do inconsciente (códigos dos sintomas/desejos/fantasias). Ademais, o inconsciente só pode ser decodificado pela linguagem (estruturado como linguagem e atemporal); ● Desde que uma criança nasce ela está banhada na linguagem; ● A linguagem permite a organização psíquica; ● Revestir a realidade/experiência com símbolos (organização simbólica/linguística); ● A linguagem é movida pelo desejo de mais significação; ● Nós formamos significantes que possuem sonoridades que ficam armazenados no inconsciente (traços mnêmicos) (damos significados a partir da sonoridade);

● Traços mnêmicos: Resquícios de experiências da infância, que podem ser expressos por meio de sensações, sentimentos, afetos e momentos corporais. Na psicanálise, a apresentação desses traços é uma tentativa de expressar o funcionamento do psiquismo, sem depender de uma organização consciente; ● Signos linguísticos: Elementos representativos que associavam um significado a um significante; ● Campo do real: Visto fora da linguagem, não possui representação, nem elaboração;

6.2 O sujeito, o eu e o outro

● Sujeito → Efeito de linguagem → sujeito do inconsciente → sem substância (não é palpável, é linguagem, vai determinar o sujeito); ● Eu → organização egoica (se refere a uma dos níveis da organização do eu no psiquismo de uma pessoa) → Identificação com o outro; ● Quando nascemos, somos objetos do outro, a medida que crescemos pela linguagem e pelo inconsciente, nos constituímos como sujeito; ● Relação entre o sujeito e o outro, como se tivesse um saber sobre nós (lugar psíquico);

6.3 Narcisismo (constituição do eu)

● Eu ideal: ➔ Ideia do narcisismo primário, constituído pelo desejo dos pais. ➔ O outro como completo e perfeito, e o eu também; ➔ Muito idealizado; ➔ Alienação constitutiva; ● Ideal do eu: ➔ Ideia do narcisismo secundário, ocorre quando a libido, que já havia sido direcionada para objetos externos (pais/parceiros, por exemplo), é retirada desses objetos e reinvestida no ego. Isso pode acontecer em situações como, frustrações/traumas (mecanismo de defesa), patologias(afastamento da realidade externa) e autoabsorção; ● Ferida narcísica: Reação a eventos que abalam a autoestima e o orgulho de uma pessoa, impactando sua relação consigo mesma e com o mundo. Percepção que o outro não é tão perfeito;

6.4 A alienação, o trauma e o recalque

● Para Lacan → signos linguísticos → significante sobre significado (contrario de Saussure);

7. O DESEJO

O capítulo aborda a centralidade do desejo na teoria e prática psicanalíticas, destacando que, para Freud (e posteriormente para Lacan), o desejo é essencialmente inconsciente. A partir da releitura lacaniana da obra freudiana, o autor aproxima a psicanálise da filosofia hegeliana, em especial do conceito de desejo desenvolvido por Hegel na Fenomenologia do Espírito, com mediação da leitura de Kojève.

7.1 O desejo em Hegel (via Kojève)

● O percurso da consciência até a autoconsciência em Hegel ocorre em três etapas: ➔ Consciência (Bewusstsein): percepção passiva do mundo externo; ➔ Autoconsciência (Selbstbewusstsein): reconhecimento de si e do outro como sujeitos; ➔ Razão (Vernunft): síntese entre o sujeito e o objeto, se expressando na arte, religião e Estado; ● O desejo (Begierde) é o motor que leva a Consciência à Autoconsciência. Inicialmente biológico, o desejo torna-se humano quando se dirige não a objetos naturais, mas a outros desejos; ● O Eu humano nasce ao desejar o desejo do outro. O reconhecimento é essencial para a formação da identidade: é na luta entre dois desejos/autoconsciências que um se torna senhor e o outro, escravo, num processo dialético;

7.2 O desejo em Freud (via Lacan)

● Para Lacan, o desejo freudiano não é natural, mas simbólico e estruturado como uma falta. Ele se distingue da necessidade: enquanto a necessidade visa um objeto concreto para sua satisfação, o desejo é permanentemente insatisfeito e realiza-se simbolicamente, não empiricamente; ● O desejo freudiano nasce da experiência de satisfação: o bebê associa a imagem da mãe ao alívio da fome, tentando repetir alucinatoriamente essa satisfação perdida. Isso marca o desejo como um retorno a algo que já não é, ou seja, o desejo é a presença de uma ausência;

● O objeto do desejo não é real, mas simbólico, funcionando como significante de uma cadeia infinita, onde cada objeto apenas remete a uma nova falta. O desejo, portanto, é metonímico – ele desliza de um significante a outro;

7.3 Linguagem, metonímia e estrutura do desejo

● O desejo, segundo Lacan, é estruturado como a linguagem. Ele se articula em dois eixos: ➔ Vertical (metáfora/similaridade); ➔ Horizontal (metonímia/contiguidade). ● A metonímia explica o funcionamento do desejo: ele se move de objeto a objeto, mas nunca encontra satisfação plena, pois o verdadeiro objeto é sempre perdido e inacessível;

7.4 O Eu e o Outro: formação do sujeito

● O Eu (ego) não é uma entidade originária, mas uma construção refletida a partir do outro, como ilustrado na teoria do espelho de Lacan. A criança forma sua identidade a partir da imagem do outro, e o desejo também é aprendido/refletido nessa relação especular; ● “O desejo do homem é o desejo do outro”: o sujeito deseja ser desejado, e isso passa pela alienação no desejo do outro;

7.5 Inconsciente e clivagem do sujeito

● O desejo é inconsciente, e isso implica uma clivagem da subjetividade: ➔ Sujeito do enunciado: consciente, social, manifesta o discurso; ➔ Sujeito da enunciação: inconsciente, recalcado, ligado ao desejo; ● A psicanálise busca tornar explícito o sujeito da enunciação partindo do sujeito do enunciado, revelando o desejo inconsciente que estrutura o discurso;

7.6 Conclusão

● O desejo, na concepção freudiana e lacaniana, é radicalmente diferente de qualquer concepção anterior; ● É estruturalmente inconsciente;

● Ausência de Contradição: Representações opostas coexistem sem exclusão; ● Atemporalidade: Os conteúdos inconscientes não são afetados pelo tempo; ● Determinismo Psíquico: Nada é arbitrário; até os fenômenos aparentemente absurdos têm causas específicas;

8.5 Inconsciente e Linguagem

● Lacan, inspirado em Saussure e Lévi-Strauss, propõe que o inconsciente é estruturado como uma linguagem, operando por significantes (não por significados); ● A barra entre significante e significado (S/s) marca a divisão entre as ordens simbólica (consciente) e inconsciente; ● Exemplo: No sonho, as imagens são significantes que remetem a desejos recalcados, não a conteúdos literais.

8.6 Papel do Recalque

● O recalcamento (primário e secundário) é o mecanismo que funda o inconsciente, excluindo representações pulsionais da consciência; ● O recalque originário ocorre quando a criança ingressa no simbólico (linguagem), criando a clivagem entre inconsciente e pré-consciente/consciente;

8.7 A Clivagem Originária e a Formação do Sujeito

● Clivagem: A primeira divisão ocorre com o nascimento, quando a perda do cordão umbilical simboliza uma falta primordial. A segunda clivagem surge com a linguagem, o sujeito se aliena no significante, separando-se de sua "verdade" inconsciente; ● A clivagem do sujeito é fundadora: o inconsciente emerge como efeito da divisão entre desejo e linguagem;

8.8 Papel do Imaginário

● Antes do simbólico, o imaginário fixa "letras" (significantes elementares ligados a experiências corporais, como o "Fort-Da"). Esses significantes, ao serem recalcados, formam o núcleo do inconsciente;

9. O RECALQUE

O recalcamento (Verdrängung) é considerado por Freud a "pedra angular" da psicanálise. O termo foi inicialmente utilizado por Johann Friedrich Herbart no século XIX, que descreveu o conflito entre representações (ideias) conscientes e inconscientes, onde algumas são "recalcadas" para além do limiar da consciência. Herbart influenciou indiretamente Freud através de Meynert, seu professor. No entanto, Freud expandiu o conceito, vinculando-o à clivagem da psique em sistemas distintos (inconsciente e pré-consciente/consciente) e às leis específicas de cada um.

Freud desenvolveu o conceito de recalcamento ao superar a teoria do trauma, que atribuía as neuroses a eventos infantis não resolvidos. Ele observou que os pacientes resistiam a recordar traumas, o que indicava um mecanismo de defesa (censura do ego) para manter ideias dolorosas fora da consciência. O recalcamento foi então definido como o afastamento de representações da consciência para evitar desprazer, atuando sobre o ¨representante ideativo¨ da pulsão (não sobre a pulsão em si). O recalcamento é um processo dinâmico e essencial para a estruturação psíquica.

9.1 Tipos de Recalcamento

9.1.1 Recalcamento Originário (Urverdrängung):

● Ocorre antes da divisão entre inconsciente e pré-consciente/consciente; ● Fixa representações no inconsciente sem significação inicial; ● Consiste na fixação de representações psíquicas (imagens ou ideias) no inconsciente, sem significação imediata. Exemplo: a cena primária (coito dos pais) no caso do "Homem dos Lobos" foi registrada na infância, mas só ganhou significado traumático anos depois, quando reinterpretada simbolicamente; ● Freud sugere que esse processo pode envolver um "quase-instinto" filogenético, semelhante a um conhecimento arcaico herdado;

9.1.2 Recalcamento Secundário (Verdrängung):

● Pressupõe a divisão dos sistemas psíquicos; ● É um processo ativo de repressão exercido pelo pré-consciente/consciente para manter conteúdos inconscientes afastados. Requer energia constante para evitar o "retorno do recalcado"; ● Mantém essas representações afastadas da consciência;