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Artigo onde se faz uma crítica ao modo da escola tratar nossas crianças, cerceando sua liberdade lúdica.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Não perca as partes importantes!
Prof. Me. Manoel Ferreira Santos-Jr Centro Universitário Toledo de Araçatuba-SP PPG – Mestrado em Pedagogia do Movimento Humano FACEF/ UNIMEP –SP santos-jr65@uol.com.br
RESUMO Ao identificar a constante privação da liberdade e das oportunidades lúdicas na escola de Ensino Fundamental, acusamos a situação de estresse sofrida pela criança, ao ingressar no mundo escolar, cercado de um caráter formal e disciplinador, por conta de uma disciplina e ordem dita imperiosa para o aprendizado. Ao condenarmos esta rigidez disciplinar que lhes é imposta e, propor uma reinterpretação do entendimento lúdico, considerando a criança como um ser em constante desenvolvimento, devendo, portanto, ser respeitada em suas vivências anteriores, assim como suas características inerentes à etapa de desenvolvimento atual, vimos reivindicar um tratamento às crianças de modo a respeitar a liberdade, a alegria e as possibilidades de cada uma delas, educando o aluno integralmente, despertando assim, o prazer de estar na escola, descobrindo, relacionando-se e solucionando os problemas propostos para a construção de sua autonomia, sem, contudo, descartar a felicidade e liberdade possível neste processo.
Palavras-Chave: Educação Física Escolar, Infância, Lúdico, Liberdade.
A escola priva suas crianças da liberdade, espontaneidade e alegria que caracterizam as manifestações lúdicas que povoam as atitudes da infância. Qualquer pessoa, com o mínimo conhecimento em educação física escolar poderia endossar tal afirmação. O que proponho, portanto, é discutir as possibilidades de tornar o ambiente escolar um território livre para a presença lúdica, mesmo que de forma orientada. Faz-se necessária uma re-interpretação da concepção de lúdico, enquanto um instrumento do processo educativo ou, ainda, um fim em si mesmo. Lúdico, enquanto meio de educar, entenda-se pela utilização de atividades prazerosas, com alto teor de motivação e inseridas em uma intencionalidade que busca a aquisição de novos conceitos, numa mudança de comportamento do aluno, representando uma aprendizagem associada aos conteúdos pré-estabelecidos pelo professor.
Numa outra visão, mais aceita, o lúdico no processo educativo, deveria ser um fim em si mesmo, ou seja, despretensioso, gratuito e liberto de qualquer obrigatoriedade ‘disciplinar’ 1. Neste contexto, a criança poderia demonstrar, através de atividades espontâneas e não dirigidas, toda sua essência e vigor, inerente à sua faixa etária, respeitadas, ainda, suas experiências anteriores. O dicionário nos ensina que o Lúdico está relacionado a jogos, brinquedos, divertimentos; o que já daria uma idéia clara do que tratamos mas, vamos analisar o lúdico pela definição, poética até, de LUCKESI (1994): “...O lúdico significa a experiência de ‘ir e voltar’, ‘entrar e sair’, ‘expandir e contrair’, ‘contratar e romper contratos’, o lúdico significa a construção criativa da vida enquanto ela é vivida. O lúdico é um ‘fazer o caminho enquanto se caminha’, nem se espera que ele esteja pronto, nem se considera que ele ficou pronto, este caminho criativo foi feito e esta sendo feito com a vida no seu ‘ir e vir’, no seu avançar e recuar. Mais: não há como pisar nas pegadas já feitas, pois que cada caminhante faz e fará novas pegadas. O lúdico é a vida se construindo no seu movimento.” Podemos, parafraseando e complementando o título do livro de GONÇALVES^2 , concluir que o lúdico é tudo que sentimos, pensamos, agimos e que nos proporciona prazer e satisfação, que não nos é imposto contra nossa vontade. Mas concordando com LUCKESI, MARCELLINO (1997) nos alerta para uma situação preocupante: “A vivência do lúdico leva ao entendimento da gratuidade da alegria, da não-relação entre o prazer e o atual ordenamento institucional, que procura entorpecer o corpo, pela organização, disciplina e rotina gerando a incapacidade dos sentidos. Ao negar o componente lúdico da cultura infantil, a Escola contribui para a manutenção dessa situação domesticadora”. Não pretendo, neste trabalho, defender nenhuma das posições ou mesmo indicar qual poderia ser apontada como mais apropriada no processo educacional, até porque tal pretensão seria deveras complicada, uma vez que, por maior que seja o número de publicações ou relatos conceituando, classificando e identificando o “‘lúdico”, olho com certa desconfiança tal iniciativa, por acreditar, assim como Santin (1987) que o lúdico não pode ser conceituado, pois, cada vez que assim fazemos, o tornamos um objeto de utilização sistematizado, como um
(^1) O sentido aplicado permite dupla interpretação. Disciplinar referente à matéria de ensino ou, ainda, manutenção da ordem estabelecida pela instituição. 2 GONÇALVES, Mª Augusta S. – Sentir, pensar, agir – corporeidade e educação.Campinas:Papirus,
saberes-habilidades que, juntos, irão compor o objeto final. Depois de passar por esse processo de acréscimos sucessivos - à semelhança do que acontece com os "objetos originais" na linha de montagem da fábrica - o objeto original que entrou na linha de montagem chamada escola (naquele momento ele chamava "criança") perdeu totalmente a visibilidade e se revela, então, como um simples suporte para os saberes-habilidades que a ele foram acrescentados durante o processo. A criança está, finalmente formada, isso é, transformada num produto igual a milhares de outros. ISO-12.000: está formada, isto é, de acordo com a forma. É mercadoria espiritual que pode entrar no mercado de trabalho”. Ao observar o processo de evolução e adaptação às mudança de comportamento da sociedade em geral, através dos tempos, notamos a estagnação da instituição Escola, que, dentre tantas outras Instituições, estaria entre as que menor numero de inovações sofrera. Não é necessária muita perspicácia para identificar no texto de FOUCAULT^5 (1987), sobre o controle das atividades, situações que, apesar de datarem do século XVII, visando manter a disciplina e, com isto, melhorar a eficácia e a produtividade^6 , são praticadas até hoje em nossas escolas. Foucault identificou cinco itens fundamentais para manter a ordem e o rendimento em escolas, exércitos, fábricas, hospitais e, principalmente, nas ordens religiosas (mestres em disciplinas):
Evidente que, guardadas as devidas proporções, presenciamos situações análogas, ainda hoje, em muitas de nossas escolas, ainda que “travestidas” de um discurso inovador, fundamentados nas concepções da Escola Nova ou Construtivista, sua prática não corresponde à teoria anunciada. Vejamos: “No entanto, é na escola o lugar onde mais se ouve frases do tipo: ‘agora não é hora de brincar!’; ‘estudar não é brincadeira’; ‘essas crianças só pensam em brincar!’ Como se a des-ordem inerente às brincadeiras se opusesse radicalmente à ordem necessária ao aprender e ensinar!” ROSA (1998 p.90). Volto a ressaltar a necessidade de realizar esta “transmutação social” respeitando o histórico de vida destes alunos, suas vivências e suas características próprias, peculiares aos estágios de desenvolvimento atual. Importante lembrar FREIRE (1997) ao observar a criança, que “sua marca característica é a intensidade da atividade motora e a fantasia” , obviamente que, numa análise mais radical, podemos nos reportar à PIAGET (1982) que em sua classificação das fases do desenvolvimento cognitivo da criança, identificou estes alunos (6-7 anos) como estando no início da Fase Operatório Concreto, onde citamos algumas características:
é, sobretudo, um fenômeno humano, envolvendo toda a vivência cultural de cada aluno. “A corporeidade é, existe e por meio da cultura ela possui significado. Daí a constatação de que a relação corpo-educação, por intermédio da aprendizagem, significa aprendizagem de cultura - dando ênfase aos sentidos dos acontecimentos e à aprendizagem da história – ressaltando aqui a relevância das ações humanas. Corpo que se educa é corpo humano que aprende a fazer historia fazendo cultura”. (MOREIRA, 1995). O que clamo, neste momento, é a utilização consciente da educação física como ‘ferramenta’ profícua para a ‘construção’ de adultos, tal qual citado no início deste artigo. O educador (todos) deve estar preparado e atento para não exigir da criança respostas ou ações que ela ainda não esta preparada; ao contrário, o professor deve criar oportunidades que estimulem o desenvolvimento dessas crianças, de forma que consigam pensar, relacionar, refletir e propor soluções a quaisquer situações que lhe sejam apresentadas. “Numa situação de conflito (que deve ser proposta pelo professor), as perturbações geradas podem levar o aluno a se perguntar sobre as ocorrências, especialmente os erros, se quiser corrigi-los, e os acertos, se quiser mantê-los. Essas dúvidas geram a boa pergunta pedagógica, isto é, a pergunta que o aluno faz para si mesmo e que tem o poder de levar para o nível da reflexão aquilo que era ação exterior. No plano da reflexão a ação pode ser percebida no que tem de generalizável, no que tem de coordenação de ações, de forma a chegar ao nível da consciência naquilo que a ação tem de mais geral (por isso generalizável)”.FREIRE (2002). Gostaria, para finalizar, de propor uma reflexão de nossa práxis, buscando as entender que nenhuma proposta faz sentido, sem que tenhamos como foco principal, nossas crianças, que, independente das condições materiais, pedagógicas, didáticas ou mesmo com nossas regras coercivas ou libertadoras, sempre irão aprender, sempre irão sorrir, sempre estarão alegres, pois isso é um patrimônio que lhes pertence e, ninguém poderá priva-las. Então, por que não favorecer para que possam aprender mais, sorrir mais e serem mais felizes? Tenho certeza que isto nos tornará muito mais felizes também.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez, 1991.
___________. A escola da ponte. In: Aprendiz. Disponível em <http:// www.uol.com.br/aprendiz/n_colunas/r_alves/>. Acesso: 10 abr. 2002.
AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo – de Piaget a Emília Ferreiro. 7ed. São Paulo: Ática. 1999.
FOUCAULT, M. vigiar e punir: história das violências das prisões. 11ed. Petrópolis: Vozes, 1994.
FREIRE. João Batista. Educação de corpo inteiro. São Paulo, Scipione, 1989.
___________. Métodos de confinamento e engorda (como fazer render mais porcos, galinhas, crianças...). In MOREIRA, W. W. (org.). Educação física & esportes: perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus, 1993.
___________. Esboço para organização de um currículo em uma escola. In: De corpo inteiro. Disponível em <http://www.decorpointeiro.com.br >. Acesso: 10 abr. 2002.
HARPER, B. et alli. Cuidado, escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas. 35 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
LUCKESI, C. C. O lúdico na prática educativa. Rio de Janeiro: Tecnologia Educacional. p.119-20, 1994.
MARCELLINO, Nelson C. Pedagogia da animação. 2ed. Campinas: Papirus, 1997.
MOREIRA, Wagner Wey. Perspectivas da educação motora na escola. In: De Marco, Ademir (org.). Pensando a educação motora. Campinas: Papirus, 1995.
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
____________. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: José Olympio. 1984._
ROSA, Sanny S. Brincar, conhecer, ensinar. São Paulo: Cortez, 1998.
SANTIN, Silvino. Educação Física: uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí: Unijuí, 1987.
SANTOS-JR, Manoel Ferreira. A festa do lúdico no ensino fundamental – concepções de duas categorias. Piracicaba: 2002. Dissertação (mestrado em educação física). FACEF-UNIMEP
SNYDERS, Georges. Alunos felizes: reflexão sobre a alegria n a escola a partir de textos literários. 2ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. Para citar este artigo:
SANTOS-JR , Manoel Ferreira. Da Liberdade da Infância ao Cárcere Escolar. In: 2º Congresso Científico Latino-Americano da FIEP-UNIMEP. Piracicaba: UNIMEP, 2002. (p. 244-248)