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Guias e Dicas
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Importância de Entender Conteúdo e Evitar Conflitos em Publicações Científicas, Manuais, Projetos, Pesquisas de Metodologia

Este texto discute a importância de entender os conteúdos de publicações científicas e evitar conflitos. O autor enfatiza que ler e aceitar publicações sem entendê-las pode levar a erros e dificuldades. Ele também destaca a importância de se manter atualizado em sua área de estudo e de se aproveitar de recursos como resumos e revisões para melhorar a compreensão. O texto aborda também a importância de se manter crítico e de verificar fontes confiáveis.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

Antes de 2010

Compartilhado em 19/06/2009

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ricardo-alex-de-sousa-8 🇧🇷

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bg1
Pesqui Odontol Bras
2003;17(Supl 1):49-56
De sa fi os na pu bli ca ção ci en tí fi ca
Chal lenge in sci en tific pub li ca tion
Gilson Luiz Volpato*
Eliane Gonçalves de Freitas**
RESUMO: Dis cu ti mos os prin ci pa is pro ble mas que fa zem com que um tex to ci en tí fi co não seja en con tra do, lido ou acei to
pe los le i to res. Um tex to ci en tí fi co é con si de ra do um ar gu men to gi co. Por tan to, mé to dos, re sul ta dos e da dos da li te ra -
tu ra são con si de ra dos pre mis sas que su por tam as con clu sões do tra ba lho; e na ses sãoIntro du ção”, as jus ti fi ca ti vas
cor ro bo ram o ob je ti vo do es tu do. Esta con cep ção tor na o tex to uma es tru tu ra her me t i ca men te co e ren te onde so men te
da dos ne ces sá ri os de vem ser in clu í dos (al gu mas con tro vér si as são per ti nen tes). Num se gun do pas so, mos tra mos
equí vo cos for ma is na re da ção ci en tí fi ca, os qua is tor nam os tex tos me nos atra ti vos. Assim, da mos exem plos de er ros e
ina de qua ções for ma is na apre sen ta ção de tí tu los, re su mos, re sul ta dos (fi gu ras e ta be las) e er ros gra ma ti ca is em por -
tu guês (tam bém li dos para a gra má ti ca in gle sa). Pos te ri or men te, en fa ti za mos a ne ces si da de para re da ções em lín -
gua in ter na ci o nal (in glês) e pu bli ca ção em pe rió di cos com im pac to na co mu ni da de ci en tí fi ca in ter na ci o nal. Fi nal men -
te, con si de ra mos as pec tos para me lho ra dos pe rió di cos bra si le i ros na área bi o ló gi ca.
DESCRITORES: Di vul ga ção ci en tí fi ca; Pu bli ca ção; Re da ção; Ciên cia.
ABSTRACT: We dis cuss the main pro blems which make a sci en ti fic text dif fi cult to find, to be read or to be ac cep ted by
re a ders. A sci en ti fic text is con si de red a lo gi cal ar gu ment. The re fo re, met hods, re sults and data from li te ra tu re are pre -
mi ses sup por ting the con clu si ons of the work; and in the “Intro duc ti on” ses si on, the jus ti fi ca ti on cor ro bo ra tes the ob -
jec ti ve of the study. This con cep ti on ma kes the text a her me ti cally co he rent struc tu re whe re only the ne ces sary data
should be in clu ded (some con tro versy is still per ti nent). In a se cond step, we show for mal mis ta kes in sci en ti fic wri ting
which make texts less at trac ti ve. Thus, we give exam ples of er rors or ina de quacy of for mal as pects of pre sen ting ti tles,
abs tracts, re sults (fi gu res and ta bles), and gram mar mis ta kes in Por tu gue se (but also va lid for English gram mar). After
that, we emp ha si ze the need for wri ting in in ter na ti o nal lan gua ge (English) and for pu b li ca ti on in pe ri o di cals with in -
ter na ti o nal im pact on the sci en ti fic com mu nity. Fi nally, con si de ra ti ons to im pro v e the Bra zi li an pe ri o di cals in the bi o -
lo gi cal area are pre sen ted.
DESCRIPTORS: Sci en tific divulgation; Pub li ca tion; Re dac tion; Sci en ce.
A ORIGEM DO PROBLEMA
Good sci en ti fic wri ting is not a mat ter of life
and de ath; it is much more se ri ous than that.
(Day3, 1998)
As pu bli ca ções ci en tí fi cas de pes qui sa do res
bra si le i ros têm au men ta do ver ti gi no sa men te nos
úl ti mos anos (Sou za12, 2002). Esse au men to não é
ape nas nu mé ri co ab so lu to, mas tam bém uma ele -
va ção per cen tu al em re la ção a ou tros pa í ses (Izi -
que6, 2002; Sou za12, 2002), como con fir ma do por
da dos do ISI (Insti tu te for Sci en ti fic Infor ma ti on) e
SciELO (Sci en ti fic Elec tro nic Li brary On-line).
Mais im por tan te: pa re ce tam bém sig ni fi car um au -
men to qua li ta ti vo. Isso sem le var em con ta as pes -
qui sas de boa qua li da de pu bli ca das em ve í cu los
não al can ça dos pelo ISI e SciELO. Embo ra esse
qua dro seja ani ma dor, acre di ta mos que há ain da
um lon go ca mi nho pela fren te para uma me lho ra
efe ti va na di vul ga ção da pes qui sa bra si le i ra.
O prin ci pal res pon sá vel por esse au men to da
pro du ção ci en tí fi ca na ci o nal é o sis te ma de pós-
graduação (Sou za12, 2002) que, por meio da
CAPES, pri o ri za o nú me ro de ar ti gos pu bli ca dos
para con ce i tu ar os pro gra mas na ci o na is. Ape sar
dis so e da qua li da de des se sis te ma, há ain da mu i -
to o que me lho rar. Algu mas de suas nor mas di fun -
di das em vá ri os pro gra mas de pós-gra du a ção (in -
clu si ve na que les con si de ra dos de bom ní vel pela
CAPES) re pre sen tam en tra ves para um avan ço
qua li ta ti vo mais sig ni fi ca ti vo e têm con tri bu í do
para a for ma ção de ul tra-es pe ci a lis tas que ain da
ca re cem de uma abor da gem mais ge ral da ciên cia
(vide Vol pa to13, 2001). Se isso não for cor ri gi do,
mu i to em bre ve es ses ul tra-es pe ci a lis tas es ta rão
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*Re se arch Cen ter on Ani mal Wel fa re – RECAW; La bo ra tó rio de Fi si o lo gia e Com por ta men to, De par ta men to de Fi si o lo gia, IBB,
UNESP.
**Re se arch Cen ter on Ani mal Wel fa re – RECAW; La bo ra tó rio de Com por ta men to Ani mal, De p ar ta men to de Zo o lo gia e Bo tâ ni ca,
IBILCE, UNESP.
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Pesqui Odontol Bras 2003;17(Supl 1):49-

Desafios na publicação científica

Challenge in scientific publication

Gilson Luiz Volpato* Eliane Gonçalves de Freitas**

RESUMO: Discutimos os principais problemas que fazem com que um texto científico não seja encontrado, lido ou aceito pelos leitores. Um texto científico é considerado um argumento lógico. Portanto, métodos, resultados e dados da litera- tura são considerados premissas que suportam as conclusões do trabalho; e na sessão “Introdução”, as justificativas corroboram o objetivo do estudo. Esta concepção torna o texto uma estrutura hermeticamente coerente onde somente dados necessários devem ser incluídos (algumas controvérsias são pertinentes). Num segundo passo, mostramos equívocos formais na redação científica, os quais tornam os textos menos atrativos. Assim, damos exemplos de erros e inadequações formais na apresentação de títulos, resumos, resultados (figuras e tabelas) e erros gramaticais em por- tuguês (também válidos para a gramática inglesa). Posteriormente, enfatizamos a necessidade para redações em lín- gua internacional (inglês) e publicação em periódicos com impacto na comunidade científica internacional. Finalmen- te, consideramos aspectos para melhora dos periódicos brasileiros na área biológica. DESCRITORES: Divulgação científica; Publicação; Redação; Ciência.

ABSTRACT: We discuss the main problems which make a scientific text difficult to find, to be read or to be accepted by readers. A scientific text is considered a logical argument. Therefore, methods, results and data from literature are pre- mises supporting the conclusions of the work; and in the “Introduction” session, the jus tification corroborates the ob- jective of the study. This conception makes the text a hermetically coherent structure where only the necessary data should be included (some controversy is still pertinent). In a second step, we show formal mistakes in scientific writing which make texts less attractive. Thus, we give examples of errors or inadequacy of formal aspects of presenting titles, abstracts, results (figures and tables), and grammar mistakes in Portuguese (but also valid for English grammar). After that, we emphasize the need for writing in international language (English) and for publication in periodicals with in- ternational impact on the scientific community. Finally, considerations to improve the Brazilian periodicals in the bio- logical area are presented. DESCRIPTORS: Scientific divulgation; Publication; Redaction; Science.

A ORIGEM DO PROBLEMA

Good scientific writing is not a matter of life and death; it is much more serious than that. ” (Day^3 , 1998) As publicações científicas de pesquisadores brasileiros têm aumentado vertiginosamente nos últimos anos (Souza^12 , 2002). Esse aumento não é apenas numérico absoluto, mas também uma ele- vação percentual em relação a outros países (Izi - que^6 , 2002; Souza^12 , 2002), como confirmado por dados do ISI (Institute for Scientific Information) e SciELO (Scientific Electronic Library On-line). Mais importante: parece também significar um au- mento qualitativo. Isso sem levar em conta as pes- quisas de boa qualidade publicadas em veículos não alcançados pelo ISI e SciELO. Embora esse quadro seja animador, acreditamos que há ainda

um longo caminho pela frente para uma melhora efetiva na divulgação da pesquisa brasileira. O principal responsável por esse aumento da produção científica nacional é o sistema de pós- graduação (Souza^12 , 2002) que, por meio da CAPES, prioriza o número de artigos publicados para conceituar os programas nacionais. Apesar disso e da qualidade desse sistema, há ainda mui- to o que melhorar. Algumas de suas normas difun- didas em vários programas de pós-graduação (in- clusive naqueles considerados de bom nível pela CAPES) representam entraves para um avanço qualitativo mais significativo e têm contribuído para a formação de ultra-especialistas que ainda carecem de uma abordagem mais geral da ciência (vide Volpato^13 , 2001). Se isso não for corrigido, muito em breve esses ultra-especialistas estarão

  • Research Center on Animal Welfare – RECAW; Laboratório de Fisiologia e Comportamento, Departamento de Fisiologia, IBB, UNESP. ** Research Center on Animal Welfare – RECAW; Laboratório de Comportamento Animal, Departamento de Zoologia e Botânica, IBILCE, UNESP.

definindo normas macros da ciência no País, o que pode levar a significativos lapsos qualitativos na ciência nacional.

Apesar da divulgação informal da ciência (via congressos, palestras, visitas etc.) permitir uma rápida veiculação da informação recente (Pobla - ción, Duarte^10 , 1989), é apenas a divulgação formal (publicação) que dá credibilidade suficiente para que a informação seja aceita como suporte para outros trabalhos. Mesmo assim, não há consenso internacional sobre como avaliar a produção cien- tífica (Souza^12 , 2002), o que torna essa atividade árdua, controversa e problemática; mas, ainda as- sim, necessária. Embora no Brasil muitos pesqui- sadores ainda lutem para aumentar suas modes- tas taxas de publicações anuais, no quadro internacional a divulgação científica não tem se re- sumido ao número de artigos publicados. A corri- da, já há vários anos, é pelo número de citações do que é publicado.

Enquanto alguns autores têm seus artigos no completo anonimato após a publicação, mesmo em periódicos de reconhecido nome internacional, outros conseguem taxas de centenas ou até milha- res de citações. Com as facilidades na comunica- ção global, essa pressão chegou ao Brasil há al- guns anos e dominará em breve nos trâmites da ciência nacional.

Citando um exemplo, em 1996, durante visita ao Institute of Freshwater Ecology, Ambleside, na Inglaterra, percebemos que um dos critérios ado- tados pelo chefe da equipe para a escolha de arti- gos a serem citados era o número de citação que o artigo já havia recebido. Ou seja, dentre os artigos possíveis para a citação, priorizava os já consagra- dos pela literatura internacional. Por estranho que possa parecer, isso tem razões lógicas e científicas. Num texto científico, a citação bibliográfica valida a informação perante a comunidade científica. Portanto, nada melhor que escolher aquelas já aceitas pela comunidade como sendo boa base para a informação. Evidentemente, não é só isso que ocorre. Artigos dos chamados países desenvol- vidos acabam sendo priorizados e, nesses casos, pode se tratar exclusivamente de preconceito.

Segundo Day^3 (1998), e possivelmente muitos outros pesquisadores, um experimento científico estará concluído apenas se publicado. No entanto, entendemos que isso é apenas parte do problema. No quadro que esboçamos, a publicação se torna o meio, mas não o fim. Ela é o passo óbvio para que se tenha a possibilidade de que o conhecimento ge-

rado adentre pela comunidade científica de interesse (geralmente em nível internacional). Se- gundo Volpato^13 (2001), o conhecimento científico é aquele que é gerado pelo método científico (seja como for concebido) e aceito por parcela significati- va da comunidade científica. Esse autor argumen- ta que as respostas científicas às questões são da- das pelos cientistas com base nos textos que conhecem e aceitam. As publicações que ficam es- quecidas em es tantes de bibliotecas não adentram a ciência, e podem ou não adentrá-la no futuro, mas isso será sempre incerto. Portanto, conclui Volpato13,14^ (2001, 2002), não basta publicar, é pre- ciso que o texto seja encontrado, lido e aceito. Esse é o grande desafio da publicação científica nos dias de hoje e muda radicalmente vários conceitos na publicação científica. Day^3 (1998) compara a publicação científica ao seguinte fato. Quando uma árvore cai no meio de uma floresta, não podemos dizer que sua queda produziu um som, a menos que tenha alguém para ouvi-lo. Caso contrário, ocorrem apenas ondas de pressão. Para que haja som é necessário um recep- tor para captar esse sinal. Se um trabalho científi- co não for lido, entendido e aceito, será apenas uma árvore caindo silenciosamente no meio da flo- resta. No seguimento deste texto abordaremos ques - tões lógicas e estruturais do trabalho científico, procurando fornecer caminhos que facilitem a di- vulgação da idéia. É nesse ambiente que questões éticas não devem ser esquecidas, sendo a autoria uma delas. Dentre as várias publicações sobre esse tema, uma merece distinção. É a proposta de Maddox^8 (1994), que sintetiza dizendo que o autor (seja ou não o primeiro autor) deve ter participado da história do trabalho e ser apto a defendê-lo, em sua estrutura básica, perante a comunidade cien- tífica. É o respeito a isso e à qualidade dos dados obtidos e análises encetadas que garante a valida- de do que se segue neste texto. Na divulgação científica, três aspectos estrutu- rais são prioritários: a lógica e consistência interna do estudo; a forma adequada e convincente de apresentação; e a adequação do veículo e idioma de publicação. São esses os aspectos discutidos a seguir.

LÓGICA E CONSISTÊNCIA INTERNA

DO ESTUDO

Volpato^14 (2002) compara o artigo científico (ou tese e dissertação) a um argumento lógico. Um ar-

um texto científico elegante. Mas há equívocos for- mais que podem comprometer essa elegância (ra- ramente a consistência lógica). São equívocos que raramente encontramos em revistas de boa quali- dade internacional. A seguir, resumimos os princi- pais deles e que influem diretamente no processo de escolha do artigo pelo lei tor. Lembre-se que não basta publicar, é necessário ser lido e aceito.

Uma forma simples de avaliar quais são as chances de seu texto ser lido é compará-lo aos tex- tos que gostamos de ler, que são simples, claros, bem apresentados, bonitos. Por exemplo, não gos- tamos de títulos imensos que, de tão longos, nem conseguimos memorizá-los. Nem de textos proli- xos, tabelas imensas, gráficos complicados. A re - gra é mais de bom senso do que normativa. Atual- mente, a velocidade com que as informações nos chegam é avassaladora. O problema não é mais conseguir a informação, mas sim triá-la. É nesse contexto que nossos artigos vão ser escolhidos, ou não.

O primeiro contato do leitor com o artigo é pelo Título , ainda na fase de revisão da literatura nos indexadores. Se seu trabalho for rejeitado aí, já não será lido. A segunda fase é a leitura do Resu - mo. Passadas essas duas barreiras, o leitor pode selecionar seu texto. Nessa terceira fase ele poderá ler seu artigo, mas apenas se sentir-se atraído com a folheada que dará na separata. E nessa folheada observará principalmente Figuras e Tabelas. Se elas dão informações relevantes e interessantes, certamente se em penhará na leitura do texto. Caso contrário, poderá ser mais um daqueles artigos que nunca serão lidos, só arquivados.

A seguir são apresentadas características nor- teadoras para elaboração desses três tópicos do trabalho científico, cujos princípios foram extraí- dos de Volpato13,14^ (2001; 2002).

Título

O título deve expressar a essência do trabalho: conclusão ou objetivo. Deve ser sintético, pois atualmente o leitor se depara com uma avalanche de títulos de artigos, podendo rejeitar alguns sim- plesmente por não serem lidos na íntegra. O título pode ser uma frase completa, com sujeito, verbo e complemento, ou descrever apenas o conjunto de variáveis investigadas. Não há uma regra geral, pois a criatividade deve imperar. Só não se esque- ça de que ele não pode ser enganoso, referindo-se a aspectos marginais do estudo. O uso de termos

muito específicos também reduz o número de leito- res que o compreendem.

Resumo

Como o nome diz, contém uma síntese do traba- lho. Para isso, é fundamental que o autor tenha uma noção muito clara da estrutura lógica e argu- mentativa de seu trabalho. Fundamentalmente, um resumo pode conter: jus tificativas, objetivos, estratégia experimental, principais resultados e conclusões. Se formos excluir alguns desses tópi- cos, a última informação a ser retirada é a conclu- são, pois é a essência do argumento. A primeira delas são as justificativas, podendo-se iniciar o re- sumo diretamente com o objetivo da pesquisa. Mas se ainda for necessário excluir mais algum tópico, geralmente é mais apropriado excluir os resulta- dos e não o delineamento. Fica difícil entender os resultados se a estratégia da pesquisa é omitida. Afinal, o resumo é considerado uma carta de inten- ções (Volpato^14 , 2002). Nesse sentido, ele informa onde o autor pretendeu chegar, e onde acha que chegou, mas é necessário ler o artigo na íntegra. Mesmo assim, como em qualquer outro tópico de um texto científico, lembramos que redação é arte e regras rígidas não ajudam muito. Muitas vezes uma associação entre título e objetivo já esclare- cem a estratégia da pesquisa, de forma que os re- sultados podem ser incluídos e o delineamento ex- cluído sem prejuízos.

Figuras e Tabelas

Devem ser claras e sintéticas. Evite incluir vá- rias informações num mesmo gráfico, embora uma figura possa conter alguns gráficos. Cada linha ou símbolo inserido num gráfico ajudará ou atrapa- lhará o lei tor. Pense criticamente nisso. Alguns equívocos comuns são listados abaixo.

  1. Uso de erro padrão da média (EPM): em dados com alta variabilidade, é comum que alguns pesquisadores sintam-se compelidos a usar o EPM ao invés do tradicional desvio-padrão. De fato, o EPM é calculado como o desvio-padrão dividido pela raiz quadrada do número de répli- cas amostrado. Assim, o parâmetro fica bem reduzido. Mas isso é fonte de equívocos (vide também Cleveland, McGill^2 , 1985). Primeira- mente, o que se pretende mostrar? É a variabili- dade dos dados ao redor da média? Então, deve-se usar o desvio-padrão. Mais que isso, se o número de réplicas não é o mesmo entre as amostras comparadas, então o desvio-padrão é

necessário para não enganar ou prejudicar o entendimento do lei tor. O EPM é uma medida estatística e não pode ser considerado um cos- tume dentro de uma área de pesquisa. Erro gri- tante ocorre também quando valores de tendên- cia central (por ex., média) são apresentados sem as respectivas variabilidades. Dados médi- os sem os respectivos desvios-padrões não têm significado biológico e comprometem a aceita- ção do trabalho pela comunidade científica.

  1. Escalas com muitas divisões: lembre-se que o gráfico mostra valores por meio de escalas. Isso basta. Não precisa encher a escala com núme- ros. Apenas alguns são suficientes para nortear o leitor e tornar a apresentação clara. O valor específico da média ou da freqüência apresen- tada raramente é requerido num trabalho cien- tífico. A ciência busca generalizações a partir de dados (Chalmers^1 , 1993) e a repetição de uma pesquisa não implica que encontremos os mes- mos dados, mas sim as mesmas generalizações (conclusões). Outro erro de representação gráfi- ca que expressa a mesma ignorância em termos de ciência é a apresentação de gráficos com va- lores expressos em barras e, acima delas, os va- lores médios expressos numericamente.
  2. Gráficos em pizza: forma geralmente não reco- mendada. Ela não enfatiza as diferenças entre os valores (a espécie humana percebe melhor as diferenças visuais de comprimento do que as de área). Além disso, no caso de medidas de média ou mediana, não permite a inclusão de indica- dores da variabilidade (desvio-padrão, quartil, amplitude etc.).
  3. Uso equivocado da estatística: o pesquisador mostra seus dados, com diferença de cerca de 20% entre as médias, mas cujos desvios impe- dem aceitá-las como estatisticamente diferen- tes entre si. Ou seja, não ocorreu diferença es- tatisticamente significativa, mas o autor pode ficar motivado a dizer que a diferença é real e deve ser considerada. Por exemplo, faz isso usando o equivocado argumento de que, em ter- mos de produção, a di ferença percentual é im- portante, mesmo não tendo sido detectada ao nível estatístico. Grave erro! Se a diferença é es- tatisticamente não significativa, implica que, ao repetir a situação, os dados possam ter suas médias até invertidas (se A era maior que B, na repetição B pode ser maior que A). Isso pode ge- rar recomendações de condutas completamente equivocadas, levando a tratamentos ineficazes

ou até prejudiciais. Se o recurso estatístico foi considerado apropriado, então o assuma até o final. Use a estatística, mas use-a corretamen- te.

  1. Símbolos vazios: para resumir conceitos, é co - mum os autores usarem abreviaturas (por ex., UG, SNC, A, III etc.). Mas muitas vezes usam símbolos não necessários, ou mesmo simbolo- gia inapropriada. O símbolo deve ser simples e de fácil memorização pelo leitor. Portanto, deve haver alguma ligação lógica entre ele e seu sig- nificado. Por exemplo, abreviar grupos experi- mentais por G-I, G-II, G-III e G-IV é completa- mente falho nesse aspecto, pois fica difícil lembrar o que representam. Mais elucidativo seria ISO para representar situação de isola- mento e G5, G10 e G15 para os casos de agru- pamento nas diferentes densidades (5, 10 e 15 animais por espaço). O mesmo acontece na re- ferência a gráficos. Uma figura pode conter, por ex., dois gráficos (A e B). Na legenda da figura o leitor encontrará que A = machos e B = fêmeas. Experimente substituir no gráfico as letras A e B pelo que representam (machos e fêmeas) e verá que a apreensão da informação é muito mais rápida e fácil.

Redação

De nada vale um texto bem estruturado em seu conteúdo e formas gráficas, se a redação das frases é precária. A gramática de nosso idioma é comple- xa e os textos científicos em revistas nacionais ge- ralmente apresentam erros. Mas há alguns que são mais gritantes e comuns e devem ser necessa- riamente eliminados. Listamos abaixo equívocos de redação que são muito freqüentes em artigos publicados em periódicos nacionais. Alguns deles extrapolam nossa gramática e são também válidos na gramática inglesa.

  1. Vírgula: a colocação de vírgula entre sujeito e verbo é um erro comum (da pré-escola à univer- sidade). A vírgula não pode interromper uma ação. Esqueça o conselho de que a vírgula apa- rece quan do você pára para respirar. A regra é lógica e não biológica. Sujeito, verbo e comple- mento não podem ser separados por vírgula, mas se houver algum elemento entre eles, então esse elemento será isolado por pontuação (pa - rênteses, vírgula etc.). Na frase “ Os principais carboidratos provenientes de alimento de origem animal, são de difícil avaliação ”, a colocação de vírgula entre animal e são representa um erro

Assim, o comum nas publicações científicas é atingir a comunidade nacional e internacional, o que requer um idioma compatível. Segundo Garfi- eld^4 (1983), o idioma inglês é a língua franca da ciência. Já em 1981, ele constatou que 88% dos 605.000 artigos indexados eram escritos em in- glês. Sem dúvida, nas áreas Biológicas e Exatas, o idioma é o inglês! No caso de vários temas de Hu- manidades, ainda se admite uma conversação mais restrita, de alcance na América Latina para os brasileiros. Um caso raro é a Revista de Literatu- ra Comparada , cujo idioma oficial é o português, mesmo para os autores estrangeiros que nela pu- blicam. Mesmo assim, em 1982 Roche, Freitas^11 afirmaram que a ciência naquela época já não fala- va espanhol e nem tampouco português.

O periódico

Ele deve ter penetração e res peitabilidade na comunidade científica (geralmente a internacio- nal). É um sério equívoco enviar textos a periódicos de baixo escalão, com o que se consegue apenas uma linha a mais no currículo do pesquisador, mas nada em termos de ciência (Volpato^13 , 2001). Os periódicos de bom nível têm amplo alcance, le- vando suas idéias a pessoas de várias partes do mundo. Além disso, o crivo crítico aos manuscritos é muito maior, reduzindo muito os erros formais e lógico-estruturais. Em análises em disciplinas de pós-graduação, temos constatado numericamente essas diferenças que refletem toda uma história do manuscrito à publicação. Além disso, refletem também acertos conceituais do corpo editorial des- sas revistas de boa qualidade. Assim, é um sério equívoco iniciar a vida cientí- fica enviando manuscritos a revistas de baixa qua- lidade, com a esperança de melhorar a qualidade de suas publicações no futuro (Volpato^13 , 2001). Quando o autor publica, imagina que seu texto está correto. O problema é que editores e assesso- res desses periódicos podem ter equívocos concei- tuais que são passados ao autor. Com isso, no pe- riódico de baixa qualidade o iniciante aprende coisas que terá que esquecer ao pretender publicar nos veículos de repercussão internacional.

A procura de solução

Ao enviarmos nossos manuscritos para as re - vistas de bom nível internacional, o que acontecerá com aquelas que ainda não atingiram esse pata- mar? Temos no Brasil cerca de 15 periódicos de ex- celente nível, catalogados no ISI. Nos arriscamos a pontuar o Brazilian Journal of Medical and Biologi- cal Research e Memórias do Instituto Oswaldo Cruz , como as duas revistas mais bem conceitua- das do Brasil na área biológica. Como melho- rá-las? Como melhorar as outras revistas? A estratégia é, sem dúvida, o envio de artigos de excelente qualidade e interesse internacional para essas revistas. Mesmo assim, lidamos sempre com o preconceito dos países desenvolvidos, como bem apontado por Gibbs^5 (1995). Nosso canal de comu- nicação tem que ser mediado por revistas de exce- lente qualidade, mas não podemos deixar de in- cluir nesse rol o que temos de bom em nosso País. Isso não significa dizer que qualquer revista de res- peitabilidade nacional esteja no mesmo patamar. Cabe aos editores dessas revistas estabelecerem políticas agressivas e urgentes para a conquista do mercado internacional (começando por adotar o idioma inglês). O trabalho é árduo, mas as duas re- vistas que citamos acima mostram que é viável. E só assim estaremos ajudando a ciência nacional, mais do que o nosso próprio currículo. Se o au mento da produção científica nacional no panorama internacional é algo que nos alegra, deve agora ser usado para fortalecer ainda mais nossas revistas no cenário internacional. Com isso estaremos sendo nacionalistas e mostrando que no Brasil também se produz ciência de qualidade. Mas para isso é preciso mais que número de publi- cações. Nossa pós-graduação tem que ser direcio- nada para garantir ensino desta arte difícil e fun- damental, que é a redação científica. Enquanto ela for suposta como inerente e natural em qualquer pesquisador, nunca teremos o salto qualitativo ne- cessário. É uma habilidade a ser aprendida. Esse é apenas um dos aspectos que a pós-graduação na- cional ainda tem que zelar, já que a maioria dos equívocos apontados neste artigo é ainda freqüen- te nas teses e dissertações arquivadas mesmo nas bibliotecas de nossas melhores universidades.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Fernanda Moreno San- chez por críticas a aspectos estéticos do texto.

REFERÊNCIAS

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