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Dissertação de Mestrado, aborda a resiliência aplicada à Educação com recorte étnico racial afrodescendente.
Tipologia: Notas de estudo
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Ribeirão Preto
2009
Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Educação do Centro Universitário Moura Lacerda, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. Área de concentração: Educação Escolar. Orientador: Profª. Drª. Carmen Campoy Scriptori
Ribeirão Preto 2009
Aos meus pais: Elza e Jair, que me trouxeram à vida.
Aos meus filhos: Juliana, Marília, Ananda, Nycollas e Victor, que são a razão da minha vida.
À minha esposa: Milena e meus amigos e companheiros de luta que me apoiaram e colaboraram para a realização deste sonho.
A Deus, em primeiro lugar, pois sem a força e a energia que sinto receber d’Ele, não seria possível nem o início deste trabalho.
Esta investigação não seria possível sem o trabalho da Equipe do Mestrado em Educação do Centro Universitário Moura Lacerda, em especial dos professores Dr. Julio César Torres, Drª. Tárcia Regina da Silveira Dias, Drª. Marlene Fagundes Carvalho Gonçalves, Drª. Maria Cristina Galan Fernandes, Drª. Natalina Laguna de Sicca, da secretaria do PPGE e principalmente da minha orientadora Drª. Carmen Campoy Scriptori, pois nunca desistiu de mim, sempre me incentivando e apoiando nos momentos de maior dificuldade.
Também a colaboração e apoio das companheiras do grupo de estudos: Letícia, Marciana, Cláudia, Thelma, Lilia, Elaine e Deborah bem como a turma de mestrandos 2007 desta Instituição.
Agradeço a colaboração especial, o carinho e a paciência da minha esposa Milena.
Ao meu “Sujeito ímpar de pesquisa”, pela presteza em fornecer os dados para a realização da investigação.
Do fundo do meu coração a estes e aos demais, acima de tudo, amigos, o meu “Muito Obrigado”.
BORGES JUNIOR. J. F. Resiliência e Sucesso Escolar: um estudo de caso com afrodescendente no ensino público. Ribeirão Preto, SP: CUML, 2007. 88p. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro Universitário Moura Lacerda.
A relação entre sucesso e fracasso escolar tem sido tema de discurso acadêmico, político e popular, mas ainda assim apresenta-se distante de apontar uma ou mais soluções para este problema que parece ser crescente, deixando vítimas ao longo do caminho. Com este trabalho buscamos refletir sobre fatores que interferem na construção da intencionalidade, especificamente a promoção de resiliência no sujeito, dentro de um recorte étnico-racial afrodescendente. Para tanto procuramos estabelecer as possíveis relações entre fatores de resiliência, ação docente e sucesso escolar, dentro de um sistema educacional que, em larga escala, reproduz o preconceito racial, já tão estigmatizado pela sociedade brasileira. Utilizamos como metodologia a pesquisa qualitativa exploratória, de tipo ex post facto, com estudo de caso, por meio de entrevista aberta, com base no Método Clínico Crítico de Piaget. Realizamos pesquisa bibliográfica para confirmar a existência de preconceito racial no sistema público de ensino e fundamentar teoricamente alguns conceitos nesse sentido. Observamos que a literatura, no Brasil, sobre Resiliência na Educação ainda é escassa e não encontramos nenhum trabalho relacionado especificamente à resiliência em alunos afrodescendentes. A análise dos dados permitiu-nos inferir que quando um sujeito é enormemente prejudicado pelas circunstâncias do meio pode transcender a tais prejuízos, desde que receba acolhimento e ajuda efetiva de outro(s) ser(es) humano(s), inclusive de seus professores. O sujeito de pesquisa indicou através de seus relatos de vida ter vivenciado em sua infância e adolescência situações adversas e traumáticas ao extremo. Entretanto, com o auxílio de alguns de seus professores foi capaz de superar os fatores de risco aos quais foi submetido, e utilizá-los como degrau para sua ascensão pessoal. Pudemos então, após a análise dos dados obtidos em nossa entrevista, inferir que o sujeito desenvolveu uma adaptação resiliente. Nesse sentido, fatores de resiliência podem ser usados como ferramenta docente.
Palavras-chaves : Resiliência, Preconceito Racial, Afrodescendente, Superação, Sucesso Escolar.
BORGES JÚNIOR. J.F. Resilience and School achievement: a study of case with afro descendent in public education. Ribeirão Preto, SP: CUML, 2007. 88p. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro Universitário Moura Lacerda.
The relation between school achievement and school failure has been subject of academic, popular and political speech, even though it is far from pointing out one or more solutions with respect to this problem that seems to be increasing and leaving victims throughout the way. With this study we intended to reflect on factors that interfere with the intencionality construction, especially with the person resilience promotion within an afro descendent ethnic-racial outline. For this, we looked for to establish the possible relations between resilience factors, teaching action and school achievement, inside of an educational system that, on a large scale, reproduces the racial prejudice, already so stigmatized by the Brazilian society. We used as methodology the exploratory qualitative research, of the type ex post facto , with study of case, by opened interview, on the basis of the Critical Clinical Method of Piaget. We carry through bibliographical research to confirm the existence of racial prejudice in the educational public system and to base some concepts theoretically. We observed that in Brazil the literature on Resilience in Education is still scarce and specially the one related to the afro descendents student’s resilience we did not find any study. Data analysis allowed us to infer that when a person is enormously damaged by the environment circumstances s/he can overcome such damages since s/he receives shelter and aid accomplishes from another human being, including his/her teacher. The research participant indicated through his life history that he lived deeply adverse and traumatic situations in his childhood and adolescence, however, with the aid of some of his teachers he was capable to overcome the risk factors he suffered, and, he used them as step for his personal ascension. We could then, after the data analysis, to infer that the person developed a resilient adaptation. In this direction, resilience factors can be used as teaching tool.
Keywords : Resilience, Racial Prejudice, Afro descendent, Overcoming, School Achievement.
regras durante as atividades ludo-recreativas, lembrando que a maior parte dos alunos aos quais me refiro estão no ciclo um do ensino fundamental.
O vínculo com minha orientadora por meio dos estudos e pesquisas propostos por ela despertou-me a curiosidade para ampliar meu conhecimento sobre o que vem a ser resiliência, como funciona, de onde vem, a quem se destina, quem faz uso, entre tantas outras indagações, motivando-me fortemente para o estudo desse fenômeno. Sua aplicabilidade na educação possibilita fazer interface com a questão étnico-racial, por tratar-se também de um tema de meu interesse e campo militância; passei então a pesquisar, dando-me conta de que quanto mais pesquiso mais me interesso.
O direcionamento para o grupo étnico-racial afrodescendente, grupo ao qual pertenço, ocorre por conta de que acredito ser esta uma forma de acirrar o debate em torno da questão do racismo e preconceito racial na escola pública, tais fatos comprovados pelas estatísticas de institutos renomados ou de autores como Kabengele Munanga, Petronilia Gonçalves, Valter Silvério, entre outros, mas que muitos ainda insistem em afirmar com discursos vazios e sem nenhuma fundamentação teórica que são coisas de um passado que deve ser esquecido.
O interesse nas questões de combate ao preconceito e discriminação racial, aliado ao interesse por algo que possa elevar a qualidade de ensino na escola pública mantendo o foco da minha militância, me levaram-me a dar início a esta investigação.
O tempo tem se mostrado nosso maior oponente, aliado à falta de maiores recursos financeiros. Uma pesquisa elaborada por professores da rede pública de ensino provavelmente sempre trará consigo essas dificuldades. Isto ocorre devido às atividades profissionais não pararem durante a realização da pesquisa e termos, assim, que dar conta de preparar e ministrar aulas, geralmente, em mais de um estabelecimento de ensino. Isto implica em não sermos professores pesquisadores, mas sim professores e pesquisadores, desenvolvendo duas tarefas que deveriam estar integradas e não justapostas, isto é, estar contida uma na outra.
O professor apenas tenta repassar aos seus alunos o conhecimento que julga ter adquirido em sua graduação, reproduzindo coisas em que ele mesmo às vezes não acredita, o pesquisador busca a produção científica, porém grande parte dessa produção fica esquecida na academia e não é utilizada pelo professor. O professor pesquisador aprimora seu ofício
docente produzindo conhecimento e compartilhando esse conhecimento com seus alunos, proporciona uma relação de qualidade no processo ensino/aprendizagem. Acredito que esse assunto poderia gerar uma nova pesquisa, mas não vamos nos ater a ele nesse momento.
Mas todo esse trabalho, todas essas dificuldades serviram de combustível para que pudéssemos prosseguir e, sem dúvida alguma, acaba por tornar-se fator de transformação na vida dos pesquisadores. Pudemos verificar que durante esses trabalhos nossa atuação profissional vem apresentando melhoras significativas, e também nossa militância apresenta um salto de qualidade, uma vez que hoje podemos nos colocar com mais segurança nos debates tendo em vista que, progressivamente, vimos ampliando nosso cabedal de conhecimentos, por meio de fundamentação teórica com base em autores bastante respeitados no meio acadêmico.
Justificativa do trabalho
Desde há alguns anos ouvimos falar das dificuldades pelas quais passa a diversidade de alunos em sala de aula, particularmente no ensino público. Dentre elas, nosso foco volta-se para questões étnico-raciais dos afrodescendentes e para o enfrentamento do preconceito sofrido por essa parcela da população dentro do sistema público de ensino, em relação à questão da Resiliência na Educação Escolar.
Deve haver, sem nenhuma sombra de dúvida, uma relação muito estreita entre a chamada Escola Inclusiva e o sucesso escolar das camadas sociais menos favorecidas. O aluno afrodescendente está na escola, porém continua excluído a partir do momento em que não depara com sua identidade no currículo escolar. O fato de ter sua presença ignorada é tão cruel quanto ter seu acesso ao ensino negado.
Bourdieu (1998) aponta o sistema de ensino como sendo um fiel reprodutor da estrutura social. No Brasil, isso não é diferente, pois nosso país enfatiza a cultura eurocêntrica com uma pseudo supremacia, que atropela e obstaculiza outras formas de cultura e conhecimentos, desconsiderando os valores multiculturais que se constituem nas diferentes sociedades como sendo necessários e próprios a estas. Segundo Morin (2003), nenhuma sociedade é arcaica ou moderna, e esta afirmação levou-nos a inferir que a cultura européia, por ter sido colonizadora por excelência, não deveria ser superior diante de outras culturas.
No capítulo IV apresentaremos a análise dos dados da entrevista em duas categorias para posterior discussão dos resultados, para confirmar ou não nossa hipótese inicial de trabalho.
No capítulo V, que será o último do presente trabalho, apresentaremos nossas considerações finais levando em conta todos os resultados obtidos com a análise dos dados da entrevista e sua relação com os itens do capítulo III.
Na revisão da literatura que fizemos não encontramos estudos específicos sobre a resiliência na educação voltado para a população escolar afrodescendente. Desta forma, lançamos mão de estudos acerca do racismo na educação escolar e também sobre resiliência nas áreas da psicologia e educação, sendo que esta última ainda é tema escasso em nossa literatura. Também pesquisamos o sucesso escolar do aluno afrodescendente e não obtivemos êxito, mas pudemos formular algumas considerações.
1.1 Preconceito e Discriminação
Dentre as pesquisas acerca da discriminação e preconceito racial no ensino público, fazemos alusão à tese de Godoy (2001), que trata das relações étnico-raciais, julgamento moral e noção de justiça entre crianças escolarizadas.
Os estereótipos e estigmas ora atribuídos aos indivíduos, dão margem a diversos conflitos sociais e dificultam a convivência social com base em valores de justiça e igualdade. A partir daí a autora definiu como problema de pesquisa a seguinte questão: existe uma relação entre idéias estereotipadas e o nível de elaboração da noção de justiça dos sujeitos, quanto a situações que apresentam conflitos interindividuais e intergrupos étnico-raciais?
Através de entrevista clínica foi possível identificar informações que subsidiaram a análise das características quantitativas e qualitativas dos sujeitos, bem como compreender a organização do pensamento do sujeito no que diz respeito à auto-identificação, estereotipia étnico-racial e suas crenças sobre pessoas de diferentes origens, bem como seu grau de evolução de noção de justiça.
Foram sujeitos dessa pesquisa alunos de uma escola da rede pública situada na região periférica da cidade de Amparo, interior paulista. A amostra foi composta por 32 crianças pobres sendo elas brancas e não brancas com idade entre 07 e 10 anos, sendo 16 meninas e 16 meninos que compuseram dois grupos distintos.
maioria, entre brancos e não brancos foi pela representação das figuras loiras de olhos azuis, sob a alegação de que eram mais bonitas.
Com relação à atribuição de estereótipos concluiu-se que a representação negativa é maior ente os grupos não brancos e que a variação com o aumento da idade não é significativa, reproduzindo assim a sociedade em que vivem, em que dão preferência ao segmento favorecido na estrutura social em que estão inseridos. Aos sujeitos brancos são atribuídos fatores positivos, enquanto aos sujeitos não brancos e principalmente aos negros são atribuídos fatores negativos e pejorativos.
Num contexto geral, acerca dos estereótipos raciais esse estudo confirmou a hipótese de que há uma caracterização negativa por parte do grupo branco com relação ao não branco, e ainda uma autodesvalorização por parte do grupo não branco.
No que tange ao tipo de raciocínio moral apresentados pelos sujeitos diante de situações problemas com e sem estereotipia, onde não houve estereótipos raciais, o tipo de raciocínio entre as crianças brancas de 07 anos não difere quantitativamente das situações com estereótipos. Apresenta menor nível de autonomia quando comparado aos resultados apresentados pelas crianças de 10 anos, como já se esperava.
Considerando a possível correlação entre estereotipia racial e o tipo de justiça ou raciocínio moral observado nos sujeitos de estudo, verificou-se uma relação inversa apenas entre os sujeitos brancos, que apontava para o aumento dos estereótipos em relação inversa ao tipo de raciocínio moral.
A hipótese que se refere à forma de como a situação-problema é considerada e compreendida pelo sujeito, ou à maneira como os dados se tornam mais ou menos significativos para eles, influindo em sua forma de raciocinar, confirmou-se através desses resultados.
E, por fim, a hipótese inicial referente à possibilidade da noção de justiça se mostrar crescente em face de uma tendência contrária à da estereotipia racial por parte dos sujeitos, ou em contrário, respondendo a julgamento de situações-problema, segundo os dados apresentados, não se confirmou plenamente, porém é possível que novas pesquisas venham contribuir na busca de novos subsídios que possam esclarecer essa contenda.
Não encontramos trabalhos realizados em nossa busca para revisão do sucesso escolar de alunos negros. Os trabalhos que tratam do sucesso escolar são bastante genéricos no que diz respeito a um recorte racial específico. Se a pesquisa de revisão muda o tema para fracasso escolar obtemos resultados significativos, de forma que faremos adiante uma pequena discussão acerca do contraponto entre sucesso e fracasso escolar.
Da mesma forma que a psicologia adotou uma nova tendência, a Psicologia Positiva que aborda o ser humano numa perspectiva de valorização de seus potenciais, ao contrário da psicologia tradicional com ênfase nos tratamentos de patologia (YUNES, 2002) entendemos que a abordagem a ser pesquisada deva ser fundamentada em processos que nos levem à promoção do sucesso escolar, e não do seu fracasso.
Dessa forma, buscaremos relacionar o fenômeno da resiliência como uma possível ferramenta que possa vir a ser adotada no cotidiano docente para alavancar um desempenho exitoso do alunado afrodescendente, tornando-os mais fortes e capazes de intervir positivamente na transformação da sociedade contemporânea, fazendo do mundo um lugar melhor (TAVARES, 2002).
1.2 Resiliência
A revisão de literatura que se refere a resiliência na educação, como já observamos, é ainda bastante escassa, inclusive no que se refere a um recorte étnico-racial. Encontramos algumas dissertações sobre o assunto na área da psicologia, porém fizemos opção por uma tese de doutoramento também em psicologia defendida por Alessandra M. Cecconello no ano de 2003 pelo Programa de Pós Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com o tema, “Resiliência e vulnerabilidade em famílias em situação de risco”.
Esta tese foi elaborada a partir de dois estudos qualitativos que investigaram os processos de resiliência e vulnerabilidade em três famílias, cada qual com suas peculiaridades, a fim de se verificar a possível existência de influências desses aspectos para os processos de resiliência e vulnerabilidade. Foram analisados fatores de risco e de proteção tanto a nível intra-familiar quanto extra-familiar.
Determinou-se risco partindo-se da situação de pobreza das famílias e da violência presente na comunidade onde estão inseridas.