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Resumos Acadêmicos: Sintese e Planejamento de Trabalho, Manuais, Projetos, Pesquisas de Cultura

Este documento discute os gêneros de resumos acadêmicos, focando na sintese e no planejamento de trabalho. O autor aponta a importância de ensinar esses gêneros no ensino superior e analisa exemplos de resumos coletados em anais de congressos científicos e manuais de ensino de escrita na graduação. Além disso, o texto aborda as relações entre gêneros e textos, intertextualidade e interdiscursividade na produção de resumos.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

usuário desconhecido
usuário desconhecido 🇧🇷

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“Fazer um resumo, mas como?”
Elisa Cristina Amorim Ferreira1
Universidade Federal de Campina Grande
Resumo: O resumo é um dos gêneros mais solicitados na academia,
apresentando-se em dois tipos: síntese e planejamento de trabalho acadêmico. A
partir dessa constatação, objetivamos com este trabalho comparar os dois tipos
do gênero. Os fundamentos teóricos apoiam-se em Bronckart (1997), Guimarães
Silva e Da Mata (2002), Machado (2004 e 2010), Medeiros (2003), Motta-Roth e
Hendges (2010). A metodologia de base qualitativa segue os procedimentos dos
trabalhos documentais de comparação. Os resultados apontam que os resumos,
embora apresentem semelhanças, exibem diferenças relevantes, em relação à
situação de produção, objetivos, posicionamento dos interlocutores, entre outras.
Consideramos importante ensinar esse gênero no ensino superior, focalizando
as funções desses dois tipos de resumo.
Palavras-chave: Gêneros textuais acadêmicos; Resumo síntese; Resumo de
planejamento de trabalho acadêmico.
Abstract: The abstract is one of the most requested genres in the academy,
being presented in two different types: synthesis and academic working plan. Due
to this fact, in this paper we aim at comparing the two types of genre previously
mentioned. The theoretical framework is based on Bronckart (1997), Guimarães
Silva & Da Mata (2002), Machado (2004, 2010), Medeiros (2003), Motta-Roth
& Hendges (2010). The qualitative methodology follows the procedures of
documentary works of comparison. The results indicate that although the
1. Este trabalho materializa as discussões realizadas no âmbito do PET Letras, durante a preparação do
curso de extensão Do resumo à exposição oral: funcionamento linguístico, textual e discursivo de gêneros acadêmicos, ofe-
recido aos petianos da UFCG em 2010. Agradecemos à professora Elizabeth Maria da Silva, colaboradora
do curso, às petianas Nayara Araujo Duarte e Anna Raphaella de Lima, que, juntamente com a autora, mi-
nistraram, sob a supervisão da Professora Denise Lino de Araújo, as aulas do curso citado. Este trabalho
também decorre dos trabalhos realizados no grupo de pesquisa Teorias da Linguagem e Ensino.
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“Fazer um resumo, mas como?”

Elisa Cristina Amorim Ferreira^1 Universidade Federal de Campina Grande Resumo: O resumo é um dos gêneros mais solicitados na academia, apresentando-se em dois tipos: síntese e planejamento de trabalho acadêmico. A partir dessa constatação, objetivamos com este trabalho comparar os dois tipos do gênero. Os fundamentos teóricos apoiam-se em Bronckart (1997), Guimarães Silva e Da Mata (2002), Machado (2004 e 2010), Medeiros (2003), Motta-Roth e Hendges (2010). A metodologia de base qualitativa segue os procedimentos dos trabalhos documentais de comparação. Os resultados apontam que os resumos, embora apresentem semelhanças, exibem diferenças relevantes, em relação à situação de produção, objetivos, posicionamento dos interlocutores, entre outras. Consideramos importante ensinar esse gênero no ensino superior, focalizando as funções desses dois tipos de resumo. Palavras-chave: Gêneros textuais acadêmicos; Resumo síntese; Resumo de planejamento de trabalho acadêmico. Abstract: The abstract is one of the most requested genres in the academy, being presented in two different types: synthesis and academic working plan. Due to this fact, in this paper we aim at comparing the two types of genre previously mentioned. The theoretical framework is based on Bronckart (1997), Guimarães Silva & Da Mata (2002), Machado (2004, 2010), Medeiros (2003), Motta-Roth & Hendges (2010). The qualitative methodology follows the procedures of documentary works of comparison. The results indicate that although the

  1. Este trabalho materializa as discussões realizadas no âmbito do PET Letras, durante a preparação do curso de extensão Do resumo à exposição oral: funcionamento linguístico, textual e discursivo de gêneros acadêmicos, ofe- recido aos petianos da UFCG em 2010_._ Agradecemos à professora Elizabeth Maria da Silva, colaboradora do curso, às petianas Nayara Araujo Duarte e Anna Raphaella de Lima, que, juntamente com a autora, mi- nistraram, sob a supervisão da Professora Denise Lino de Araújo, as aulas do curso citado. Este trabalho também decorre dos trabalhos realizados no grupo de pesquisa Teorias da Linguagem e Ensino.

62 l Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 abstracts have similarities, they also show relevant differences regarding their production, objectives, the theorist’s point of view, among others. We consider important to teach this kind of genre inhigher education, focusing on the functions of these two types of abstract. Keywords: Academic text genres; Synthesis abstract; Academic working plan abstract. Introdução Os gêneros textuais são materializações linguísticas que apresentam características sociocomunicativas demonstradas por conteúdos, funções, composições, esferas, estilos e interlocutores específicos. Na esfera acadêmica, um dos gêneros mais solicitados, tanto por professores quanto por membros de comunidades científicas, é o resumo , que se apresenta em dois tipos distintos com características peculiares a cada um deles, a saber: resumo síntese e resumo de planejamento de trabalho acadêmico. Em contraponto, contudo, à necessidade e cobrança de produção, verificamos a falta de ensino mais sistemático dos resumos acadêmicos, devido a poucos modelos descritivos do segundo tipo de resumo que apresentem procedimentos didáticos que possam orientar o graduando no processo de escritura. Com isso, os graduandos são levados a desenvolverem um trabalho quase intuitivo de aprendizado do gênero. A partir dessas observações, objetivamos comparar os dois tipos do gênero resumo acadêmico, apresentando suas semelhanças e diferenças tendo em vista contribuir para o estudo do gênero e para a posterior construção de modelo didático de referência que possa orientar o graduando a produzir ambas as versões com competência. Os fundamentos teóricos utilizados recuperam os estudos de Bronckart (1997), Guimarães Silva e Da Mata (2002), Schneuwly e Dolz (2004), Machado (2004 e 2010), Medeiros (2003), Motta-Roth e Hendges (2010), entre outros.

64 l Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 O resumo, tido como gênero, é exemplo de práticas de linguagem com particularidades no que diz respeito à esfera comunicativa de circulação, funções, objetivos, estilos, entre outras, podendo ser definido, de acordo como Machado (2004), como um dos gêneros mais importantes no meio escolar e acadêmico, devido a sua constante solicitação pelos professores aos alunos. Além do mais, as capacidades necessárias para a produção desse gênero são necessárias, também, para a produção de outros gêneros de igual importância na academia: resenha e artigos científicos, por exemplo. Isso porque envolve habilidades não só relativas à escrita, mas também à leitura compreensiva. Numa perspectiva mais cognitiva, resumir seria depreender as sequências maiores do tema global de um texto-base e realizar o processo mental de sumarização das informações, através do uso de macrorregras: apagamento, substituição, generalização e construção. Assim, na produção de um resumo, o autor realiza, mesmo que intuitivamente, estratégias/regras de redução de informação semântica, de apagamento e substituição que levam em consideração uma série de fatores contextuais. As primeiras seriam seletivas e as segundas seriam construtivas podendo dar-se por meio de táticas de generalização e/ou construção. O processo de resumir, ou seja, implica um trabalho complexo sobre os textos com vistas a um objetivo e a um destinatário. Além das ações de relacionadas à leitura e às macrorregras do resumir, a produção do resumo envolve também uma retextualização, isto é, a produção de “um novo texto a partir de um texto-base, pressupondo-se que essa atividade envolve tanto relações entre gêneros e textos – o fenômeno da intertextualidade – quanto relações entre discursos – a interdiscursividade.” (Matencio, 2002:111). Especificamente quando ao resumo acadêmico de síntese (também denominado escolar) temos, segundo Schneuwly e Dolz (2004), um trabalho de injunção semanticamente paradoxal, no qual o autor precisa

Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 l 65 “dizer em poucas palavras, mas do mesmo ponto de vista enunciativo, o que o autor do texto a resumir quis dizer” (op.cit.:88), seguido por uma atividade complexa de paráfrase, “por meio da qual o ‘resumidor’ revive, em seu resumo, a ‘dramatização discursiva’ construída no texto a resumir, a partir de uma compreensão das diferentes vozes enunciativas que nele agem”. (op.cit.:88). Em relação ao resumo acadêmico de planejamento de trabalho, poucos são os estudos que o abordam, no entanto, podemos nos referir à pesquisa de Guimarães Silva e Da Mata (2002). De acordo com as autoras, esse resumo ou abstract é um gênero produzido e consumido na comunidade acadêmica e tem por finalidade apresentar brevemente aspectos de uma pesquisa, ou seja, informações de cunho teórico- metodológico, objetivo, por exemplo. Postas essas breves considerações, salientamos ainda que, devido à relativa (e não completa) estabilidade dos gêneros textuais, é importante definir, não só para o aluno, mas também para o professor, “as características do gênero resumo, determinadas pelo seu contexto de produção, fornecendo, assim, subsídios teórico-metodologicos para a construção de intervenções didático-pedagogicas mais eficientes” (Guimarães Silva, Da Mata, 2002:124). Uma das formas de defini-las, independente do tipo de resumo acadêmico de que tratamos, é a partir de modelos didáticos de referência do gênero que são construídos a partir da análise de um conjunto de textos pertencentes ao gênero. Isso porque nessa análise observam-se as características da situação de produção, os conteúdos típicos do gênero, as diferentes formas de mobilização desses conteúdos, a construção composicional característica do gênero e o seu estilo particular. O que permite “a visualização das dimensões constitutivas do gênero” (Machado e Cristovão, 2009:135).

Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 l 67 O resumo síntese pertencente ao domínio da comunidade acadêmica resulta, como dissemos, de uma atividade de retextualização de um outro gênero, os mais comuns são: artigos científicos, artigos de opinião, monografias, livros e capítulos. Isso é, o resumo síntese é um gênero produzido a partir da sumarização das ideias de um texto-base, correspondendo a uma atividade que vincula leitura e escrita, já que atesta a compreensão do escritor do resumo sobre o texto lido. Em outras palavras, é uma apresentação concisa dos conteúdos/ideias mais importantes de outro texto, com o objetivo de informar ao leitor sobre esses conteúdos. Assim, no caso de uma artigo de opinião (“A cultura da paz”), o resumo apresentará seus aspectos mais essenciais, a saber: tese do autor do texto base e os respectivos argumentos que a sustentam, além da conclusão a qual esse mesmo autor chegou. Ainda quanto ao conteúdo, notamos a ausência de detalhes presentes no texto base, assim como a falta de cópias de trechos. Não há, ainda, marcas de opinião do autor do resumo, fato que nos remete a outro aspecto interessante e caracterizador desse tipo de resumo: o gerenciamento de vozes. Conforme Machado (2010), no resumo síntese, temos um enunciador que não corresponde ao autor do texto original, ou seja, como podemos observar no exemplo analisado, há uma distinção entre o autor do resumo e do texto resumido. Enquanto ao primeiro não se faz referência no resumo, ao segundo se faz menção em diferentes partes do texto e de diferentes formas, além de indicações de suas ações marcadas linguisticamente. Temos, portanto, o que Matencio (2002) denomina de gerenciamento de vozes, este realidado a partir de estratégias com multifunções, já que pode articular as proposições e macroestruturas do texto-base e do resumo, manifestar o ponto de vista do autor do texto-base no resumo, estabelecer a interlocução com o leitor do resumo, velar a presença, opiniões e ações do autor do resumo.

68 l Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 Nota-se ainda que esse tipo de resumo apresenta mensões à propria obra resumida, como título e, por vezes, ano e veículo/suporte de publicação. Voltando ao texto podemos demarcar algumas dessas especificações: Entre os alunos, o resumo síntese se sobressai como o mais conhecido e realizado. Todavia, muitos discentes, ao produzirem esse tipo resumo, de maneira às vezes intuitiva, negligenciam algumas dessas

70 l Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NAS ARRITMIAS CARDÍACAS SILVA, Aline Rodrigues da RESUMO: As arritmias cardíacas são decorrentes de um funcionamento anormal do sistema elétrico e da automaticidade do coração, refletindo distúrbios na freqüência e/ou ritmo cardíaco regular. Assim, o objetivo deste artigo é demonstrar que as finalidades da assistência de enfermagem consistem no cuidado cardíaco, regulação hemodinâmica, manejo de medicamento, oxigenioterapia, monitorização respiratória e monitorização dos sinais vitais. Uma vez que, quando for necessária a utilização de dispositivos como, os desfibriladores automáticos implantáveis (DAÍ) e os cardioversores-desfibriladores implantáveis (CDI) deve-se explicar ao paciente e a família a razão do implante, fornecendo apoio e segurança quanto ao procedimento cirúrgico e enquanto estiver realizando avaliações e administrando o tratamento. O método utilizado foi uma revisão bibliográfica, chegando-se a conclusão de que apesar de algumas arritmias serem benignas e assintomáticas outras impõem sério risco de vida exigindo do enfermeiro total dedicação e precisão da sua assistência. PALAVRAS-CHAVE: Arritmias cardíacas, cardioversão / desfibrilação, cuidados de enfermagem. Fonte: SILVA, Aline Rodrigues da. Assistência de enfermagem nas arritmias cardíacas. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/3451/1/ ASSISTÊNCIA-DE-ENFERMAGEM-NAS-ARRITMIAS-CARDIACAS/>. Acesso em: 30 mai. 2010. Nesse segundo caso, temos o resumo que se apresenta como planejamento de um trabalho acadêmico, sendo atividade de escrita presente na iniciação científica. Esse tipo de resumo, também denominado abstract ou ainda resumo acadêmico-científico, originalmente se constituiu como parte inicial de um texto maior (artigos científicos, monografias, teses etc), entretanto, “começa a se fixar como gênero autônomo, uma vez que aparecem desligados dos gêneros a que pertenciam originalmente” (Machado, 2010:160). Independente de estar ligado ou não ao gênero

Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 l 71 base, observamos que o resumo de planejamento de trabalho acadêmico é produzido pelo próprio autor do texto resumido, isto é, há apenas um autor: o que produziu o resumo é o mesmo que produziu o texto-base ou que irá produzi-lo posteriormente, em primeira ou terceira pessoa. Esse autor, em ambos os textos, desempenha um papel social de especialista que aborda um determinado tema e tem como interlocutores outros membros da comunidade acadêmica-científica, ou seja, é um texto previsto para circular na área de conhecimento específica. De acordo com Guimarães Silva e Da Mata (2002), entretanto, esse circuito comunicativo de produção e difusão é mais amplo que o do resumo síntese, visto que vai além das relações de sala de aula (professor/aluno(s)), difundindo-se entre leitores membros da academia e outros leitores que apenas consultam periódicos, livros ou sites, à procura de material bibliográfico que atenda aos seus interesses. Sua função é resumir “as informações do texto mais longo, permitindo que os leitores tenham acesso mais rápido ao conteúdo desse texto” (Motta-Roth e Hendges, 2010:152), apresentando, de forma breve, informações de cunho teórico e metodológico, sobre o objeto em discussão no texto-fonte. Assim, geralmente, segue a mesma estruturação do texto resumido (objetivo, indicação dos fundamentos teóricos e metodológicos, resultados e conclusões). Ainda quanto à estrutura, salientamos que esse tipo de resumo é rigidamente subordinado a normas acadêmicas-científicas delineadas por uma banca que o examinará e dará o parecer de apto à apresentação/publicação ou não. Recorrendo mais uma vez ao exemplo dado, podemos observar as particularidades destacadas a seguir:

Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 l 73 É importante salientar também que o resumo em foco proporciona duas utilizações com funcionalidades distintas: a de resumo produzido após a elaboração de um texto maior e a de resumo produzido antes, tendo a função de esquema ou plano de texto. Essa segunda utilização foi verificada a partir de conversas informais com pesquisadores em diversos níveis de maturidade científica imersos em pesquisas, os quais relataram ser comum tal prática, pois essa modalidade de resumo, além de permitir um planejamento da escrita do texto maior, garante economia de tempo já que o pesquisador não produzirá um artigo científico para um evento, por exemplo, sem saber de antemão se terá sua pesquisa aceita pela banca de avaliadores. Essa funcionalidade pode também ser verificada entre alunos/ pesquisadores iniciantes de programas acadêmicos de pesquisa como PIBIC e PET que constantemente escrevem o resumo como plano de texto. Considerações finais Com base no que foi exposto e na análise do corpus , os resultados demonstram que os resumos, embora apresentem semelhanças, exibem diferenças relevantes, em relação à situação de produção, objetivos, posicionamento dos interlocutores, entre outras. A principal diferença parece estar relacionada à marcação linguística do autor, pois, no resumo síntese , o autor deve fazer menção ao autor do texto fonte, colocando-se como uma terceira pessoa, ou seja, aquela que fala sobre o referente. No resumo de planejamento de trabalho acadêmico , o autor é o próprio autor do texto fonte (artigo científico ou monografia, por exemplo), portanto, ele fala sobre o que foi por ele (e sua equipe, quando for o caso) pesquisado. Outro aspecto distintivo interessante é a presença de elementos composicionais mais delimitados no resumo de planejamento de trabalho acadêmico estipulados por uma comissão acadêmico-científica, sendo eles: objetivo(s), indicação do suporte teóricos e dos fundamentos

74 l Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 metodológicos, resultados e conclusões. Os dados ainda apresentam indícios de que a situação de produção está entrelaçada com uma função específica: esse resumo pode ser produzido depois da produção de um texto maior, ou pode ser escrito antes, apresentando, nesse caso, a função de um esquema ou plano de texto, como foi exposto na seção anterior. Como implicações didáticas, podemos afirmar que, em ambas as modalidades de resumo, as capacidades subjacentes à produção formam base para outros gêneros acadêmicos tais como a resenha e o artigo científico, e que o ensino de resumos deve ser visto como um ensino de gênero, trabalhando com as chamadas estratégias de redução de informação semântica (apagamento e substituição) mais propriamente no resumo síntese. Especificamente para o resumo de planejamento de trabalho acadêmico, devem-se trabalhar estratégias que desenvolvam a objetividade, a clareza e o reconhecimento de elementos centrais de uma pesquisa a fim de convencer a banca avaliadora e o público da relevância do trabalho. Os resultados aqui brevemente apresentados servem de embasamento teórico para a construção de material didático para o ensino do resumo de planejamento de trabalho acadêmico no nível superior levado a efeito pelas autoras e suas colaboradoras (ver nota de rodapé) no âmbito do trabalho do PET Letras/UFCG. Referências bibliográficas BORTONI-RICARDO, Stella Maris (2008). O professor pesquisador: introdução à pesquisa quantitativa. São Paulo: Parábola Editorial. BRONCKART, Jean-Paul (1997). Atividade de Linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. Trad. De Anna Rachel Machado e Péricles Cunha. (1ª. ed.) São Paulo: EDUC.

76 l Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 Anexo Anexo 1: A CULTURA DA PAZ (Leonardo Boff) A cultura dominante, hoje mundializada, se estrutura ao redor da vontade de poder que se traduz por vontade de dominação da natureza, do outro, dos povos e dos mercados. Essa é a lógica dos dinossauros que criou a cultura do medo e da guerra. Praticamente em todos os países as festas nacionais e seus heróis são ligados a feitos de guerra e de violência. Os meios de comunicação levam ao paroxismo a magnificação de todo tipo de violência, bem simbolizado nos filmes de Schwarzenegger como o “Exterminador do Futuro”. Nessa cultura o militar, o banqueiro e o especulador valem mais do que o poeta, o filósofo e o santo. Nos processos de socialização formal e informal, ela não cria mediações para uma cultura da paz. E sempre de novo faz suscitar a pergunta que, de forma dramática, Einstein colocou a Freud nos idos de 1932: é possível superar ou controlar a violência? Freud, realisticamente, responde: “É impossível aos homens controlar totalmente o instinto de morte… Esfaimados pensamos no moinho que tão lentamente mói que poderíamos morrer de fome antes de receber a farinha”. Sem detalhar a questão, diríamos que por detrás da violência funcionam poderosas estruturas. A primeira delas é o caos sempre presente no processo cosmogênico. Viemos de uma imensa explosão, o big bang. E a evolução comporta violência em todas as suas fases. São conhecidas cerca de 5 grandes dizimações em massa, ocorridas há milhões de anos atrás. Na última, há cerca de 65 milhões de anos, pereceram todos os dinossauros após reinarem, soberanos, 133 milhões de anos. A expansão do universo possui também o significado de ordenar o caos através de ordens cada vez mais complexas e, por isso também, mais harmônicas e menos violentas. Possivelmente a própria inteligência nos foi dada para pormos limites à violência e conferir-lhe um sentido construtivo. Em segundo lugar, somos herdeiros da cultura patriarcal que instaurou a dominação do homem sobre a mulher e criou as instituições do patriarcado assentadas sobre mecanismos de violência como o Estado, as classes, o projeto

Revista Ao pé da Letra – Volume 13.1 - 2011 l 77 da tecno-ciência, os processos de produção como objetivação da natureza e sua sistemática depredação. Em terceiro lugar, essa cultura patriarcal gestou a guerra como forma de resolução dos conflitos. Sobre esta vasta base se formou a cultura do capital, hoje globalizada; sua lógica é a competição e não a cooperação, por isso, gera guerras econômicas e políticas e com isso desigualdades, injustiças e violências. Todas estas forças se articulam estruturalmente para consolidar a cultura da violência que nos desumaniza a todos. A essa cultura da violência há que se opôr a cultura da paz. Hoje ela é imperativa. É imperativa, porque as forças de destruição estão ameaçando, por todas as partes, o pacto social mínimo sem o qual regredimos a níveis de barbárie. É imperativa porque o potencial destrutivo já montado pode ameaçar toda a biosfera e impossibilitar a continuidade do projeto humano. Ou limitamos a violência e fazemos prevalecer o projeto da paz ou conheceremos, no limite, o destino dos dinossauros. Onde buscar as inspirações para cultura da paz? Mais que imperativos voluntarísticos, é o próprio processo antroprogênico a nos fornecer indicações objetivas e seguras. A singularidade do 1% de carga genética que nos separa dos primatas superiores reside no fato de que nós, à distinção deles, somos seres sociais e cooperativos. Ao lado de estruturas de agressividade, temos capacidades de afetividade, com-paixão, solidariedade e amorização. Hoje é urgente que desentranhemos tais forças para conferir rumo mais benfazejo à história. Toda protelação é insensata. O ser humano é o único ser que pode intervir nos processos da natureza e co-pilotar a marcha da evolução. Ele foi criado criador. Dispõe de recursos de re-engenharia da violência mediante processos civilizatórios de contenção e uso de racionalidade. A competitividade continua a valer mas no sentido do melhor e não de destruição do outro. Assim todos ganham e não apenas um. Há muito que filósofos da estatura de Martin Heidegger, resgatando uma antiga tradição que remonta aos tempos de César Augusto, vêem no cuidado a essência do ser humano. Sem cuidado ele não vive nem sobrevive. Tudo precisa de cuidado para continuar a existir. Cuidado representa uma relação amorosa