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Gânglios da Base: Funções e Componentes, Trabalhos de Patologia

Informações sobre os gânglios da base do encéfalo, seus principais componentes e suas funções no controle da motricidade e de funções cognitivas e comportamentais. Localizamos os principais núcleos, como o caudado, putâmen, globo pálido, núcleo subtalâmico e substância nigra, e descrevemos suas conexões e funções.

Tipologia: Trabalhos

2021

Compartilhado em 27/03/2021

henrique-both-rodrigues
henrique-both-rodrigues 🇧🇷

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FISIOPATOLOGIA DOS GÂNGLIOS DA BASE
Prof. Dr. Vitor Tumas
Departamento de Neurociências e Ciências do
Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto -USP
Aspectos anatômicos
O termo gânglios da base é utilizado para designar um grupo
de núcleos de substância cinzenta localizados na região profunda do
encéfalo, ou mais especificamente, na região subcortical-basal do
encéfalo. Esses núcleos estão interconectados e formam um sistema
funcional que foi originalmente denominado como “sistema
extrapiramidal”. Havia um motivo para a escolha desse nome: as
lesões estruturais que acometiam esses cleos geralmente
produziam sintomas motores, assim, era razoável supor que esse
sistema funcionasse de maneira paralela ao “sistema piramidal” no
controle da motricidade.
O tempo e o avanço no conhecimento confirmaram que uma
das principais funções dos “gânglios da base” seria participar do
controle da motricidade, mas também revelaram que esse sistema
também participaria ativamente do controle de funções cognitivas e
comportamentais.
São 5 os principais núcleos que compõem esse sistema (Figura
1):
1. o núcleo caudado,
2. o putâmen,
3. o globo pálido, que é dividido em 2 porções: interna ou medial e
externa ou lateral,
4. a substância nigra, que é dividida em 2 partes: “pars compacta”
e “pars reticulata”,
5. e o núcleo subtalâmico.
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FISIOPATOLOGIA DOS GÂNGLIOS DA BASE

Prof. Dr. Vitor Tumas

Departamento de Neurociências e Ciências do

Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão

Preto -USP

Aspectos anatômicos O termo “gânglios da base” é utilizado para designar um grupo de núcleos de substância cinzenta localizados na região profunda do encéfalo, ou mais especificamente, na região subcortical-basal do encéfalo. Esses núcleos estão interconectados e formam um sistema funcional que foi originalmente denominado como “sistema extrapiramidal”. Havia um motivo para a escolha desse nome: as lesões estruturais que acometiam esses núcleos geralmente produziam sintomas motores, assim, era razoável supor que esse sistema funcionasse de maneira paralela ao “sistema piramidal” no controle da motricidade. O tempo e o avanço no conhecimento confirmaram que uma das principais funções dos “gânglios da base” seria participar do controle da motricidade, mas também revelaram que esse sistema também participaria ativamente do controle de funções cognitivas e comportamentais. São 5 os principais núcleos que compõem esse sistema (Figura 1):

  1. o núcleo caudado ,
  2. o putâmen ,
  3. o globo pálido , que é dividido em 2 porções: interna ou medial e externa ou lateral,
  4. a substância nigra , que é dividida em 2 partes: “pars compacta” e “pars reticulata”,
  5. e o núcleo subtalâmico.

Figura 1. Localize na figura acima em um corte coronal do encéfalo os principais componentes dos gânglios da base.

A esses 5 núcleos principais alguns autores incluem o “nucleus accumbens” e o tubérculo olfatório, que teriam conexões importantes com o sistema límbico. Os três maiores núcleos dos gânglios basais são: o caudado, o putâmen e o globo pálido. Eles estão localizados lateralmente ao tálamo, e separados dele pela cápsula interna. O globo pálido (GP) é filogeneticamente o mais antigo desses núcleos, e recebeu essa denominação pelo seu aspecto em cortes à fresco, mais pálido que os outros 2 núcleos. O GP é dividido pela lâmina interna em duas porções: o globo pálido medial ou interno (GPi) e globo pálido lateral ou externo (GPe). Embora as duas porções do globo pálido pareçam muito similares elas têm conexões muito distintas.

Aspectos funcionais Como dissemos acima, desde há muito tempo, a observação clínica revelou que a maioria das lesões que acometiam os “gânglios da base” produziam sintomas motores. Esses sintomas podiam ser classificados como distúrbios do movimento sem paralisia. Dependendo da parte do sistema que é afetada, as lesões nos gânglios da base podem produzir basicamente dois tipos de manifestação clínica, denominadas: as hipercinesias e as hipocinesias. As hipercinesias são caracterizadas pelo aparecimento de movimentos involuntários anormais que podem ser classificados em diferentes formas de apresentação clínica, como:

  • coréia
  • balismo
  • distonia
  • tremor
  • mioclonia
  • tique Esses movimentos involuntários podem acometer qualquer parte corporal, mas são em geral mais evidentes nos membros superiores ou inferiores. A hipocinesia é uma condição diferente, caracterizada pela redução global e involuntária dos movimentos. O indivíduo desenvolve lentidão para executar os movimentos (bradicinesia), dificuldade para iniciar os movimentos (acinesia), e os movimentos espontâneos e automáticos do corpo ficam bastante diminuidos. Ocorrem também mudanças no controle postural e há um aumento no tônus muscular. O protótipo do quadro de hipocinesia é a “síndrome de Parkinson” ou “parkinsonismo”. Essa forma paradoxal de expressar as suas disfunções, antecipa as dificuldades que encontramos para decifrar os mecanismos básicos de funcionamento desse sistema. Até há pouco tempo, alguns

pesquisadores ainda se referiam aos gânglios da base como os “porões escuros do cérebro”, pelas dificuldades em estudar suas funções.

Os circuitos Embora o conhecimento sobre a fisiologia desse sistema ainda seja bastante precário, já é possível estabelecer hipóteses acerca do seu funcionamento. Essas hipóteses para o funcionamento dos gânglios da base resultam da síntese de inúmeras pesquisas, e foram formuladas por volta dos anos 1980. A seguir, descreveremos os conceitos fundamentais sobre a hipótese básica de funcionamento dos gânglios da base. Para melhor compreensão, utilizaremos um esquema que representará os núcleos e desenharemos paulatinamente os circuitos. Vamos também apontar se a conexão neuronal teria ação excitatória ou inibitória. Cada via nesse esquema será representada por uma “seta” que indicará a conexão entre 2 núcleos. A cauda da seta representará o local onde está o corpo celular dos neurônios que originam as eferências que se projetam para outra estrutura. A ponta da seta representará o núcleo para onde o axônio se projeta e compõe uma sinapse, para liberar o seu neurotransmissor. As setas brancas indicarão que a via é excitatória, enquanto que as setas pretas indicarão que a via é inibitória. No início, desenharemos as setas com a mesma dimensão ou largura, sem representar sua atividade relativa. Mais adiante, as setas serão representadas em maior ou menor dimensão segundo sua atividade relativa. Agora nessa primeira parte, procure desenhar o seu esquema com setas de dimensão semelhante, ou seja, com a mesma largura. No final do texto modificaremos a largura das setas para representar vias hiperativas (mais largas) ou hipoativas (mais estreitas) nas diferentes condições patológicas.

CONCEITOS FUNDAMENTAIS

1. “OS GÂNGLIOS DA BASE NÃO TÊM CONEXÕES DIRETAS

COM O NEURÔNIO MOTOR INFERIOR”.

Do ponto de vista do controle motor, os gânglios da base não têm conexões diretas com a medula espinhal, portanto, eles não se conectam diretamente com os motoneurônios. Na verdade, os gânglios da base estão estreitamente ligados ao córtex cerebral com quem interagem funcionalmente através de alças de retro- alimentação. Assim, com relação ao controle dos movimentos, os gânglios da base na verdade influenciam as áreas motoras corticais. Os gânglios da base recebem projeções (aferências) provenientes de várias regiões do córtex cerebral. Essas informações transitam através desses núcleos e depois são tramsmitidas ao tálamo que as reenvia de volta ao córtex cerebral. O detalhe é que as aferências que entram nos gânglios da base são provenientes de diferentes áreas corticais, enquanto que as eferências que retornam ao córtex através do tálamo, depois de processadas, se dirigem a uma região específica cortical relacionada à função modulada. Por exemplo, a alça que controla o movimento voluntário (alça motora) se inicia em diferentes partes do córtex, transita pelos gânglios da base e através do tálamo se projeta de volta ao córtex, especificamente para a área motora suplementar (AMS) e para a área pré-frontal (APF). Essas 2 áreas-alvo da alça estão ligadas ao processamento de funções superiores no controle do movimento e estão localizadas ao lado do córtex motor primário (figura 2).

Figura 2. Esquema representando as alças de processamento que envolvem os gânglios da base

Dessa forma, os gânglios da base influenciam o movimento interferindo sobre as áreas corticais que diretamente controlam os neurônios motores superiores. Assim como a alça motora descrita acima, existem outras alças semelhantes nesse sistema e que estão ligadas a outras funções. A principal diferença entre elas é a projeção cortical final das eferências que partem dos gânglios da base. Como vimos, no caso da alça motora, as áreas de projeção são a AMS e APF, no caso da alça cognitiva a projeção é para o córtex frontal, etc.. É por isso que lesões que afetam os gânglios da base também podem causar sintomas cognitivos, comprometento funções especialmente relacionadas ao córtex frontal.

Córtex cerebral

Gânglios da base

Tálamo

3. “É DO GLOBO PÁLIDO INTERNO (GPi) E DA PARS RETICULATA DA SUBSTÂNCIA NIGRA (SNr) QUE PARTEM AS PRINCIPAIS EFERÊNCIAS QUE SE DIRIGEM AO TÁLAMO, OU SEJA, O GPi E A SNr SÃO OS NÚCLEOS DE SAÍDA DAS INFORMAÇÕES QUE TRANSITARAM PELOS GÂNGLIOS DA BASE”.

As eferências que partem dos gânglios da base passam pelo tálamo e depois voltam ao córtex cerebral formando as alças córtico- gânglios-da-base-tálamo-corticais. No caso dos circuitos que controlam o movimento, as eferências partem dos núcleos de saída dos gânglios da base em direção ao tálamo. O tálamo então, as projeta para áreas específicas do córtex cerebral que estão ligadas ao controle do movimento e que são denominadas áreas motoras secundárias, a área pré-motora (APM) e a área motora suplementar (AMS). Dessa maneira, agindo sobre as áreas motoras secundárias, os gânglios da base vão influenciar indiretamente o sistema piramidal e o controle motor (Figura 3).

Figura 3. Esquema das alças córtico-gânglios-da-base-tálamo- corticais.

Área sensorial primária

Área motora primária Sulco central Área motora suplementar Área pré-motora

Gânglios da base

tálamo

Via piramidal

Identifique no seu esquema os núcleos de saída dos gânglios da base. O GPi e a SNr serão representados de forma simplificada em um retângulo, como um só núcleo na figura para facilitar sua compreensão do sistema. O GPi/SNr enviam eferências inibitórias ao tálamo, por isso a seta que representa a via está representada em preto. O principal neurotransmissor inibitório nesse sistema é o ácido gama-aminobutírico (GABA). Por outro lado, o tálamo envia eferências excitatórias (glutamato) ao córtex cerebral, mais especificamente à APM e AMS, fechando a alça motora. As células no GPi/SNr que originam as vias eferentes (de saída) têm uma atividade espontânea praticamente contínua, e portanto, inibem continuamente o tálamo. Para que o tálamo possa exercer um efeito facilitador sobre o movimento ele precisa estimular a AMS e a APM. Sendo assim, o tálamo apenas exercerá esse efeito facilitador ao movimento, quando a atividade dos núcleos de saída diminuir, e o tálamo estiver consequentemente desinibido.

5. “A VIA DIRETA CONECTA DIRETAMENTE O ESTRIADO

AOS NÚLEOS DE SAÍDA (GPi/SNr), E AGE FACILITANDO O MOVIMENTO PELA DESINIBIÇÃO DO TÁLAMO”

No esquema abaixo verificamos que a via direta é uma via GABA érgica, ou seja, inibitória. Assim, a ativação dos neurônios estriatais de projeção que formam a via direta vai produzir um efeito inibitório sobre as células do Gpi/SNr. Dessa forma, a ativação da via direta inibe os núcleos de saída, que reduzem a sua ação inibitória sobre o tálamo, que desinibido, estimula as áreas corticais e facilita o movimento. A ativação da via direta desinibe o tálamo e por isso facilita o movimento.

tálamo

ESTRIADO

CÓRTEX

CEREBRAL (^) AMS /APM APM

GPi/SNr

6. “A VIA INDIRETA COMEÇA NA PROJEÇÃO QUE VAI DO

ESTRIADO AO GLOBO PÁLIDO EXTERNO (GPe), SEGUE ENTÃO AO NÚCLEO SUBTALÂMICO (NST) E SÓ DEPOIS TERMINA NOS NÚLEOS DE SAÍDA (GPi/SNr). A VIA INDIRETA INIBE O MOVIMENTO, INIBINDO O TÁLAMO.”

Observe na figura abaixo que as projeções estriado-GPe e GPe- NST são inibitórias, gabaérgicas. Entretanto, a projeção do NST aos núcleos de saída (GPi/SNr) é excitatória, glutamatérgica. De maneira similar ao que acontece com o tálamo. o GPe está continuamente inibindo as células do NST. Quando a via indireta é ativada, as projeções estriado-GPe vão inibir o GPe, que então reduz sua inibição ao NST, permitindo que esse último núcleo ative os núcleos de saída. Quando o GPi/SNr estão ativados, eles inibem o tálamo e assim impedem que o tálamo facilite o movimento. Portanto, a via indireta, ao contrário da direta, inibe o movimento.

tálamo

NST

GPe

ESTRIADO

CÓRTEX

CEREBRAL (^) AMS /APM APM

GPi/SNr

Dessa forma completamos o esquema simplificado do circuito motor. Você encontrará com freqüência representações muito semelhantes ao esquema acima em vários textos sobre o assunto. Em alguns deles, esse esquema é reproduzido sobre o desenho anatômico dos gânglios da base, mas a essência é a mesma. Vamos então tentar entender, ou explicar, o que ocorre nesses núcleos quando uma anormalidade afeta o sistema. Ou seja, vamos tentar compreender as hipóteses que tentam explicar o que produz os distúrbios do movimento. Use o mesmo esquema padrão para desenhar as vias, desta vez representaremos a atividade das vias proporcionalmente à sua largura.

SNc

tálamo

NST

GPe

ESTRIADO

CÓRTEX

CEREBRAL (^) AMS /APM APM

GPi/SNr

A FISIOPATOLOGIA DAS HIPOCINESIAS

A doença de Parkinson é o protótipo da doença que envolve os gânglios da base e produz a síndrome hipocinética clássica. Nessa doença ocorre a degeneração das células dopaminérgicas que formam a via nigro-estriatal. O efeito dessa degeneração é a redução na concentração de dopamina no estriado. O resultado fisiológico da perda de dopamina será uma redução na atividade dos neurônios estriatais de projeção que formam a via direta e um aumento na atividade dos que formam a via indireta. Tente desenhar essas alterações no seu esquema, representando as vias hiperativas com setas largas e as vias hipoativas com setas finas. Tente imaginar o resultado final da perda de dopamina sem olhar para o esquema a seguir, o que ocorrerá com as atividades dos núcleos de saída, tálamo e córtex?

esses núcleos através de lesões ou da colocação de marca-passos que inativam fisiologicamente os núcleos. A palitodomia (inativação do GPe) e a subtalamotomia (inativação do NST) produzem efeitos clínicos positivos significativos sobre os sintomas dos pacientes, e hoje são indicadas naqueles em que o controle da doença com as drogas é insatisfatório.

A FISIOPATOLOGIA DAS HIPERCINESIAS

A doença de Huntington é o protótipo da doença que envolve os gânglios da base e produz uma síndrome hipercinética caracterizada pela presença de movimentos involuntários do tipo corêico. Nessa doença ocorre preferencialmente a degeneração das células estriatais que vão formar a via indireta. Tente desenhar essas alterações no seu esquema, representando a via indireta como hipoativa usando uma seta fina. Tente imaginar o resultado final dessa anormalidade, o que ocorrerá com as atividades dos núcleos de saída, tálamo e córtex?

SNc

tálamo

NST

GPe

ESTRIADO

CÓRTEX

CEREBRAL (^) AMS /APM APM

GPi/SNr

Esse é o resultado final da hipoatividade da via indireta que resultará na hipoatividade nos núcleos de saída (Gpi/SNr). Isso iria produzir uma desinibição do córtex, facilitando de tal forma o movimento, que produziria o aparecimento dos movimentos involuntários. Com esses exemplos você pode ter uma idéia muito grosseira e genérica sobre o funcionamento dos gânglios da base.