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Guias e Dicas
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Geografia, Território e Tecnologia, Notas de estudo de Geografia

Revista da TERRA LIVRE 9

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 28/04/2010

jose-leonardo-nery-silva-11
jose-leonardo-nery-silva-11 🇧🇷

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Geografia, Território e Tecnologia

TERRA LIVRE 9 ISSN 0102-

TERRA LIVRE é uma publicação semestral da AGB - Associação dos Geógrafos Brasilei- ros. Os artigos expressam a opinião do(s) autor(es), não implicando, necessariamente, na concordância da Diretoria Executiva ou do Editor.

Qualquer correspondência pode ser enviada para: AGB - Nacional (a/c Coordenação de Publicação) Avenida Professor Lineu Prestes, 338 - Edifício Geografia e História - Caixa Postal 64.525 - Cidade Universitária - CEP 05497 - São Paulo - SP - Brasil. Telefone: (011) 210-2122 - ramal 537

Editor responsável: Wagner Costa Ribeiro

Conselho Editorial: Aldo Paviani Ariovaldo Umbelino de Oliveira Armen Mamigonian Aziz Nacib Ab'Saber Beatriz Soares Pontes Carlos Walter P. Gonçalves Gil Sodero de Toledo Heinz Dieter Heidemann Honeste Gomes José Pereira de Queiroz Neto José Bozacchiello da Silva José Willian Vesentini Lylian Coltrinari Manoel F. G. Seabra Manuel Correia de Andrade Maria Lúcia Estrada Marcia Spyer Resende Milton Santos Nelson Rego Pasquale Petrone Ruy Moreira Samuel do Carmo Lima Sílvio Bray Tomoko Iyda Paganelli

Diretoria Executiva Nacional, gestão 90/92: Presidente: Armando Corrêa da Silva - Seção São Paulo Vice-Presidente: Antônio Carlos Neis - Seção Porto Alegre Primeira-Secretária: Delacir A. Ramos Poloni - Seção São Paulo Segundo-Secretário: Eliseu Savério Sposito — Seção Presidente Prudente Primeira-Tesoureira: Sônia Maria Rufino Castelar - Seção São Paulo Segunda-Tesoureira: Maria de Jesus Benjamim da Silva - Seção Belém Coordenação de Publicações: Wagner Costa Ribeiro - Seção São Paulo Suplente da Coordenação de Publicações: Bernardo Marçano Fernandes - Seção Presidente Prudente

Sumário

A Revolução Tecnológica e o Território: Realidades e Perspectivas 7 Milton Santos

Tecnopólo: uma Forma de Produzir na Modernidade Atual 19 Luiz Cruz Lima

A Tecnificação da Prática Médica no Brasil: em Busca de sua Geografização 41 Raul Borges Guimarães

As Metamorfoses Tecnológicas do Capitalismo no Período Atual 57 Hindenburgo Francisco Pires

A Questão da Industrialização no Rio de Janeiro: Algumas Reflexões 91 Márcio de Oliveira

A (des) Ordem Mundial, os Novos Blocos de Poder e o Sentido da Crise 103 Rogério Haesbaert

Ontologia Analítica: Teoria e Método 129 Armando Corrêa da Silva

O Espaço: Une/Separa/Une 135 Eunice Isaias da Silva

Depoimento: 143 A AGB e o Pensamento Geográfico no Brasil Manuel Correia de Andrade

Editorial

Muito se tem escrito acerca da tecnologia, desde os novos fatores de localização espacial das atividades de base tecnológica, até os efeitos sociais que uma inovação tecnológica acarreta. A dimensão geográfica desta discus- são é aqui tratada, reunindo artigos que versam sobre a estruturação do terri- tório e as novas tecnologias, passando pelos arranjos espaciais que se dão no interior dos pólos tecnológicos, indo até o caso da prática médica embasada na tecnologia e suas conseqüências geográficas. Nos demais artigos encontramos uma interpretação da dinâmica dos blocos de países que assistimos no mundo, contribuições teóricas acerca de categoria espaço, e uma análise da AGB e da produção da geografia no Brasil, na seção Depoimento. Procuramos, ao organizar este número, trazer para o interior de TERRA LIVRE o temário da tecnologia. A amplitude da questão certamente ditará a necessidade de pautá-la em novas ocasiões, permitindo a outros geógrafos exporem suas opiniões para a sociedade. TERRA LIVRE está sendo publicada com algum atraso. Este atraso merece uma explicação. Desde o número anterior não contamos com o apoio das agências financiadoras (na precisão de aprontar a revista até a realização do II Encontro Nacional de Ensino de Geografia, autorizamos a impressão do apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP, na expectativa de um parecer positivo, o que não se deu). Tanto o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), quanto a FAPESP, negaram-se a apoiar nossa revista. A justificativa do CNPq foi de ordem estritamente formal. O parecer enviado não aponta nenhuma ressalva quanto ao mérito da publicação, porém, alega a ausência de algumas normas para indeferir o pedido. As alterações que introduzimos neste número respondem às exigências formais. Assim, os leitores passam a contar com o Resumo dos artigos, traduzido em inglês, além das palavras-chave de cada texto (as demais exigências já constavam de nossa prática editorial). Sem dúvida estas informações auxiliam o leitor, que ganha com a incorporação destas medidas. O que causa estranheza é o fato do CNPq ter apoiado nossa publicação ao longo de 5 anos e nunca ter se manifestado com relação ao não enquadramento de TERRA LIVRE nas normas, que, de repente, são sacadas como trunfo para impedir o auxílio. Como o CNPq recebeu todos os números anteriores, era de se esperar que essas exigências fossem indicadas desde o número 1.

No que diz respeito à FAPESP, tivemos outra situação. Neste caso o(a) Sr(a) consultor(a) alegou que os artigos não eram produto de pesquisa,

e, portanto, não merecedores de publicação. Ainda que dois textos tivessem origem em apresentações verbais, isto não significa que os autores, o Prof. Aldo Paviani, reconhecido pesquisador da UNB que dispensa apresentação, e a Profª Sônia Furian, professora do Departamento de Geografia da USP, atualmente doutorando-se na França, não desenvolveram pesquisa. Porém, o que mais nos produziu indignação foi a presença de outros artigos onde, de maneira explícita, os autores indicavam tratar-se de produto de experiência de pesquisa desenvolvida, em alguns casos, com a participação de estudantes dos níveis fundamental e médio, e, em outros casos, do ensino superior. Também tivemos análises de conteúdos programáticos oficiais de ensino da geografia do Estado de São Paulo e da Argentina. Não considerar estas iniciativas científicas é uma postura cerceadora. Afinal, o que é científico? Acreditamos ser dispensável, por falta de espaço e para poupar os leitores, altercar esta questão. O que nos preocupa é a atitude do (a) sr(a) consultoria) da FAPESP. Não podemos viver sob a óti- ca do exclusivismo. Impedir a veiculação de certas posturas junto à ciência, isto sim é uma atitude anti-científica. Pois é do debate democrático e ético que se reforçam e se revêem as posições teóricas, norteadoras da produção acadêmica. Daí ser fundamental a diversidade de abordagens envolvidas na contenda. TERRA LIVRE jamais esteve a cargo de uma interpretação da geo- grafia. Ao contrário, os que nos antecederam estiveram atentos à pluralidade de posições, o que mantivemos nesta gestão, como, inclusive, constava na nossa carta de intenções, quando da eleição em julho de 1990, em Salvador - BA. Por fim cabe um apelo aos associados, assinantes e leitores em geral para se manifestarem junto às agências de apoio citadas, na direção de que reconsiderem seus pareceres, já que as instituições são maiores que as pessoas que por elas passam. É o caso de nossa quase sexagenária entidade, que depois dos esforços de muitos geógrafos conseguiu materializar nossa publicação. Uma revista com circulação e aceitação nacional e internacional, graças à excelência das contribuições que vimos tendo. A AGB é maior que a TERRA LIVRE, mas esta última é uma importante forma de expressar nos- so modo de pensar, buscando contribuir para o debate das questões contem- porâneas. Não podemos deixar que esvaziem este canal de circulação de nos- sas idéias junto à sociedade e à comunidade científica.

Wagner Costa Ribeiro

aparentemente irrecorrível da modernidade atual são, por outro lado, dados que devem permitir uma visão prospectiva.

A REVOLUÇÃO CIENTÍFICO-TÉCNICA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

O Período Técnico-científico

A fase atual da história da Humanidade, marcada pelo que se denomina de revolução científico-tecnica, é freqüentemente chamada de período técnico- científico (ver, por exemplo, RICHTA, R., La Civilisation au Carrefour, Paris, Editions du Seuil, 1974). Em fases anteriores, as atividades humanas dependeram da técnica e da ciência. Recentemente, porém, trata-se da inter- dependência da ciência e da técnica em todos os aspectos da vida social, si- tuação que se verifica em todas as partes do mundo e em todos os países. O próprio espaço geográfico pode ser chamado de meio técnico-científico (tra- tamos do assunto em Espaço e Método, São Paulo, Editora Nobel, 1985). Essa realidade agora se estende a todo o Terceiro Mundo, ainda que em diferente proporção, segundo os países. Na América Latina, não há país em que essas transformações não se dêem, entronizando a ciência e a tecnologia como nexos essenciais ao trabalho e à vida social, ao menos para os respec- tivos setores hegemônicos, mas com repercussão sobre toda a sociedade.

Nesta nova fase histórica, o mundo está marcado por novos signos, como: a multinacionalização das firmas e a internacionalização da produção e do produto; a generalização do fenômeno do crédito, que reforça as características da economização da vida social; os novos papéis do Estado em uma sociedade e uma economia mundializadas; o frenesi de uma circulação tornada fator essencial da acumulação; a grande revolução da informação que liga instantaneamente os lugares, graças aos progressos da informática.

A Percepção da Simultaneidade

O fenômeno da simultaneidade ganha, hoje, novo conteúdo. Desde sempre, a mesma hora do relógio marcava acontecimentos simultâneos, ocorridos em lugares os mais diversos, cada qual, porém, sendo não apenas autônomo como independente dos demais. Hoje, cada momento compreende, em todos os lugares, eventos que são interdependentes, incluídos em um mesmo sistema de relações. Os progressos técnicos que, por intermédio dos satélites, permitem a fotografia do planeta, permitem-nos uma visão

empírica da totalidade dos objetos instalados na face da Terra. Como as fotografias se sucedem em intervalos regulares, obtemos, assim, o retrato da própria evolução do processo de ocupação da crosta terrestre. A simultaneidade retratada é fato verdadeiramente novo e revolucionário, para o conhecimento do real e o correspondente enfoque das ciências do homem, alterando-lhes, assim, os paradigmas.

Unicidade Técnica e da Mais-Valia

O espaço geográfico agora mundializado redefine-se pela combinação desses signos. Seu estudo supõe que se levem em conta esses novos dados revelados pela modernização e pelo capitalismo agrícola, pela especialização regional das atividades, por novas formas e localizações da indústria e da extração mineral, pelas novas modalidades de produção da energia, pela importância da circulação no processo produtivo, pela grandes migrações, pela terciarização e pela urbanização extremamente hierárquicas. O espaço rural e urbano são redefinidos, na sua transformação, pelo uso sistemático das contribuições da ciência e da técnica e por decisões de mudança que levam em conta, no campo e na cidade, os usos a que cada fração do território vai ser destinada. Trata-se de uma geografia completamente nova. Todo esforço de conceituação exige que os novos fatores ao nível mundial (cuja lista certamente não esgotamos) sejam levados em conta, tanto ao nível local, como regional ou nacional. Os estudos empíricos ganham a partir desse enfoque. Para a compreensão de um sem-número de realidades, e particularmente no que se refere ao espaço, o aparecimento de dois novos fenômenos constitui a base de explicação de sua nova realidade. De um lado, o período atual vem marcado por uma verdadeira unicidade técnica, isto é pelo fato de que em todos os lugares (Norte e Sul, Leste e Oeste) os conjuntos técnicos presentes são "grosso modo" os mesmos, apesar do grau diferente de complexidade; e a fragmentação do processo produtivo à escala internacional se realiza em função dessa mesma unicidade técnica. Antes, os sistemas técnicos eram apenas locais, ou regionais, e tão numerosos quantos eram os lugares ou regiões. Quando apresentavam traços semelhantes não havia contemporaneidade entre eles, e muito menos interdependência funcional. Por outro lado, a impulsão que recebem esses conjuntos técnicos atuais (ou suas frações) é única, vinda de uma só fonte, a mais-valia tornada mundial ou mundializada, por intermédio das firmas e dos bancos internacionais. O conhecimento empírico da simultaneidade dos eventos e o entendimento de sua significação interdependente são um fator determinante da realização histórica, ao menos para os setores hegemônicos

que as variáveis que o definem são duráveis, estruturais, dando um novo caráter às realidades que nos cercam.

Solidariedade das Mutações no Plano Mundial

Um outro dado a sublinhar, agora, é o fato de que, mais que em qualquer outro momento da história da humanidade, há uma solidariedade das mutações em plano mundial; e essa solidariedade é, em grande parte, administrada. A administração da solidariedade, seja como colaboração entre países e firmas ou como nova forma de dependência, é um dado fundamental no entendimento do que se passa. Em particular, impõe-se uma mudança epistemológica, às vezes radical, conseqüência das mudanças históricas mencionadas.

Conhecimento do Planeta e Empirização dos Universais

Em terceiro lugar, e pela primeira vez na história, é possível saber em extensão e em profundidade o que se passa na superfície da Terra. Quem conhece, e para que se conhece, é outro assunto. O fato é que apenas algumas poucas potências, alguns poucos grupos têm o conhecimento do filme do mundo, isto é, aquilo que ocorre na face do Planeta. Ao mesmo tempo em que, pela primeira vez na história do homem, os universais tornam-se passíveis de empirização, o processo de totalização pode ser constatado empiricamente. Teríamos, desse modo, penetrado na era de ouro da teorização e do discernimento das perspectivas: era de ouro ou nada, se não pudermos utilizar os instrumentos que estão diante de nós para construir um novo pensamento.

O MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO

A fase atual, chamada também de período científico, do nosso ponto de vista particular, é, em primeiro lugar, a fase na qual se constitui, sobre territórios cada vez mais vastos, o que se chamará de meio científico-técnico, isto é, um momento histórico no qual a construção ou a reconstrução do espaço se dará com um conteúdo de ciência e de técnica.

Nova Composição Orgânica do Espaço

O fato de que o espaço seja chamado a ter cada vez mais um conteúdo em ciência e técnica traz consigo um grande acervo de conseqüências, a primeira das quais, certamente, é uma nova composição orgânica do espaço, pela incorporação mais ampla de capital constante na instrumentalização do espaço (instrumentos de produção, sementes selecionadas, fertilizantes, pesticidas, etc.) ao mesmo tempo em que se dão novas exigências quanto ao capital variável indispensável. Como conseqüência das novas condições trazidas pelo uso da ciência e da técnica na transformação do território, há menos emprego ligado à produção material e uma maior expressão do assalariado em formas diversas (segundo os países e segundo regiões em cada país), uma necessidade maior de capital adiantado, o que vai explicar a enorme expansão do sistema bancário. O mapa respectivo mostra como os territórios se cobrem cada vez mais da presença de bancos, de tal maneira que arriscamos dizer que se nos anos 50 o nexo que explicava, de certa forma, a expansão capitalista, era o consumo, desde os fins dos anos 70 esse nexo é dado pelo crédito. De tal forma que poderíamos falar de uma creditização do território, que dará uma nova qualidade ao espaço.

Formas de Ajustamento

Cabe, igualmente, lembrar que nesta fase se corporifica aquela antevisão de Marx, segundo a qual, ao ser vigente o trabalho universal, isto é, o trabalho intelectual como forma de universalização da produção, teríamos uma maior área da produção com uma menor arena da produção. Isto é, a produção em sentido lato, isto é, em todas as suas instâncias, se daria em áreas maiores do território, enquanto o processo produtivo direto se daria em áreas cada vez menores. Essa é uma tendência facilmente assinalável em muitos países da América Latina. Ela é tornada possível em boa parte pela possibilidade agora aberta à difusão das mensagens e ordens em todo o território, através dos enormes progressos obtidos com as telecomunicações. A creditização do território, a dispersão de uma produção altamente produtiva, não seriam possíveis sem a informatização do espaço. O território é hoje possível de ser usado, com o conhecimento simultâneo das ações empreendidas nos diversos lugares, por mais distantes que eles estejam. Isso permite, também, a implantação de sistemas de cooperação bem mais largos, amplos e profundos, agora associados mais estreitamente a motores econômicos de ordem não apenas nacional, mas também internacional. De fato, os eventos são, hoje, dotados de uma simultaneidade que se distingue das simultaneidades precedentes pelo fato de que são

graças a uma seletividade ainda maior no uso das novas condições de realização da vida social. Com isso, uma nova hierarquia se impõe entre lugares, uma hierarquia com nova qualidade, a partir de uma diferenciação muitas vezes maior do que ontem entre diversos pontos do território. A simultaneidade entre os lugares não é mais apenas a do tempo físico, tempo do relógio, mas do tempo social, dos momentos da vida social. Mas o tempo que está em todos os lugares é o tempo das metrópoles, que transmitem a todo o território o tempo do Estado e o tempo das multinacionais. Em cada outro ponto, nodal ou não, da rede urbana ou do espaço, temos tempos subalternos e diferenciados, marcados por dominâncias específicas. Nenhuma cidade, além da metrópole, "chega" a outra cidade com a mesma celeridade. Nenhuma dispõe da mesma quantidade e qualidade de informação que a metrópole. Informações virtualmente de igual valor em toda a rede urbana não são igualmente disponíveis em termos de tempo. Sua inserção no sistema mais global de informações de que depende o seu próprio significado depende da metrópole, na maior parte das vezes. Está aí o novo princípio da hierarquia, pela hierarquia das informações... e um novo obstáculo a uma interpretação mais frutuosa entre aglomerações do mesmo nível, uma nova realidade do sistema urbano. Os momentos que, no mesmo tempo do relógio, são vividos por cada lugar, sofrem defasagens e se submetem a hierarquias (em relação ao emissor e controlador dos fluxos diversos). Porque há defasagens, cada qual desses lugares é hierarquicamente subordinado. Porque as defasagens são diferentes para os diversos variáveis ou fatores, é que os lugares são diversos. As questões do centro-periferia, como precedentemente colocadas, e a das regiões polarizadas, ficam, assim, ultrapassadas. Hoje, a metrópole está presente em toda parte, no mesmo momento, instantaneamente. Antes a metrópole não apenas não chegava ao mesmo tempo a todos os lugares, como a descentralização era diacrônica: hoje a instantaneidade é socialmente sincrônica. Trata-se assim de verdadeira dissolução da metrópole, condição, aliás, do funcionamento da sociedade econômica e da sociedade política. Ainda uma vez, para que e para quem é o funcionamento dessa sociedade assim constituída é uma outra coisa, um outro problema. O fato é que estamos diante do fenômeno de uma metrópole onipresente, capaz, ao mesmo tempo, pelos seus vetores hegemônicos, de desorganizar e reorganizar, ao seu talante e em seu proveito, as atividades periféricas e impondo novas questões para o processo de desenvolvimento regional.

Entropia e Neg-Entropia no Espaço

Tomemos, de modo figurativo, o exemplo brasileiro. No passado, São Paulo sempre esteve presente no país todo: presente no Rio, um dia depois em Salvador, três dias depois em Belém, dez dias depois em Manaus, trinta dias depois... São Paulo hoje está presente em todos os pontos do território informatizado brasileiro, ao mesmo tempo e imediatamente, o que traz como conseqüência, entre outras coisas, uma espécie de segmentação vertical do mercado enquanto território e uma segmentação vertical do território enquanto mercado, na medida em que os diversos agentes sociais e econômicos não utilizam o território de forma igual. Isso representa um desafio às planificações regionais, na medida em que as grandes firmas que controlam a informação e a redistribuem ao seu talante, têm um papel entrópico em relação às demais áreas e somente elas podem realizar a neg-entropia. O espaço é assim desorganizado e reorganizado a partir dos mesmos pólos dinâmicos. O fato de que a força nova das grandes firmas neste período científico-técnico traga como conseqüência uma segmentação vertical do território, supõe que se redescubram mecanismos capazes de levar a uma nova horizontalização das relações que esteja não apenas ao serviço do econômico, mas também do social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RICHTAR, R. La Civilization au Carrefour. Paris. Editions du Seuil, 1974.

SANTOS, M. Espaço e Método. São Paulo. Editora Nobel, 1985.

Geography in lhe late twentieth century: new role for a threatered discipline. International Social Science Journal. UNESCO 36 (4) número especial sobre "Epistemology of social science". 1984.

SIEGFRIED, A. Aspects du XXème Siècle, s/d.

RESUMO O autor analisa o período técnico científico, ressaltando os aspectos concernentes à unicidade técnica, que faz com que o espaço geográfico recombine- se. Os novos arranjos no espaço vão ter a marca da simultaneidade das ações, devido a articulação dos sistemas tecnológicos. Assim, são redefinidos os espaços urbano e rural, graças à incorporação do uso da ciência e da tecnologia, caracterizando o meio técnico-científico. Neste sentido emerge a metrópole, presente em toda parte e no mesmo momento, dando aos lugares um caráter funcional.

ABSTRACT The author analyses the techno- scientific period, outlining the aspects concerning the technical unicity that rearranges lhe geographical space. The new setling on space will have the sign of simultaneily of actions, due to the arti- culation of technological systems. Thus, the rural and urban spaces are redefined by the incorporating use of science and tecnology that is characteristic of the techno-scientific milieu. In this sense, the metropolis emerges and is presente everywhere, giving to ali places at the some moment, a functional character.

Palavras-chaves: espaço territorial, globalização do mundo, período técnico científico, meio técnico-científico Key-words: Territorial space, globalization, techno-scientific period, techno- scientific milieu

TECNOPÓLO: UMA FORMA DE PRODUZIR NA

MODERNIDADE ATUAL

Luiz Cruz Lima

APRESENTAÇÃO

No último quartel do século XX, e mais intensamente na presente década, nova forma de organização empresarial tem agregado os centros de formação de pessoal de alto nível às unidades de produção e de serviços, utilizando os mais modernos recursos da microeletrônica: surgem as cidades científicas ou pólos tecnológicos. Vários eventos têm sido realizados no mundo, tratando especificamente desse fenômeno, no que diz respeito à sua dinâmica, à sua expansão e, apesar de recente, à sua avaliação. Não só pelos encadeamentos próprios da atividade industrial, mas também pela interação de administrações territoriais, empresas privadas e órgãos acadêmicos, esses novos centros produtivos promovem um padrão de organização, antes inexistente, com tipos de relações espaciais centradas no poder das informações, inserindo-se, portanto, na modernidade atual. Somamos, a esses aspectos, a capacidade de inovação e criatividade que emoldura o quadro em que se situam esses centros de inteligência.

Os Objetivos

Pretendemos traçar um panorama geral da estrutura das atividades econômicas que articula os centros de inteligência - universidades, institutos de pesquisa - com os de produção de bens e serviços, caracterizando-se como uma forma típica do período técnico-científico. Distinguiremos dois tipos de centro: os organizados a partir de investimentos orientados, como ocorre nos países desenvolvidos; e os que

*** Professor da Universidade Estadual do Ceará UEC - Fortaleza e doutorando do Depto. de Geografia da USP - São Paulo.**

TERRA LIVRE-AGB São Paulo pp.^ 19-40^ nº 9 julho-dezembro^91