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Henri Lefebrve - A produção do espaço, Manuais, Projetos, Pesquisas de Sociologia Urbana

Livro que contém artigos escritos por Lefebrve sobre a produção do espaço

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2020

Compartilhado em 21/10/2020

pedro-faleiro-1
pedro-faleiro-1 🇧🇷

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Baixe Henri Lefebrve - A produção do espaço e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Sociologia Urbana, somente na Docsity!

HHHHHHHHEEEEEEEENNNNNNNNRRRRRRRRIIIIIIII LLLLLLLLEEEEEEEEFFFFFFFFEEEEEEEEBBBBBBBBVVVVVVVVRRRRRRRREEEEEEEE

AAAA AAAA PPPPPPPPRRRRRRRROOOOOOOODDDDDDDDUUUUUUUUÇÇÇÇÇÇÇÇÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOO DDDDDDDDOOOOOOOO EEEEEEEESSSSSSSSPPPPPPPPAAAAAAAAÇÇÇÇÇÇÇÇOOOOOOOO

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DDDDDD DDOOOOOOOORRRRRRRRAAAAAAAALLLLLLLLIIIIIIIICCCCCCCCEEEEEEEE^ BBBBBBBBAAAAAAAARRRRRRRRRRRRRRRROOOOOOOOSSSSSSSS^ PPPPPPPPEEEEEEEERRRRRRRREEEEEEEEIIIIIIIIRRRRRRRRAAAAAAAA^ EEEEEEEE^ SSSSSSSSÉÉÉÉÉÉÉÉRRRRRRRRGGGGGGGGIIIIIIIIOOOOOOOO^ MMMMMMMMAAAAAAAARRRRRRRRTTTTTTTTIIIIIIIINNNNNNNNSSSSSSSS

SSSSUMÁRIOUMÁRIOUMÁRIOUMÁRIO

PrefácioPrefácioPrefácioPrefácio

I. Propósito da obraI. Propósito da obraI. Propósito da obraI. Propósito da obra

II. OII. OII. OII. O espaçoespaçoespaçoespaço socialsocialsocialsocial

III. Arquitetônica espacialIII. Arquitetônica espacialIII. Arquitetônica espacialIII. Arquitetônica espacial

IV. Do espaço absoluto ao espaço abstratoIV. Do espaço absoluto ao espaço abstratoIV. Do espaço absoluto ao espaço abstratoIV. Do espaço absoluto ao espaço abstrato

V. O espaço contraditórioV. O espaço contraditórioV. O espaço contraditórioV. O espaço contraditório

VI. Das conVI. Das conVI. Das conVI. Das contradições do espaço ao espaço diferencialtradições do espaço ao espaço diferencialtradições do espaço ao espaço diferencialtradições do espaço ao espaço diferencial

VII. Aberturas e conclusõesVII. Aberturas e conclusõesVII. Aberturas e conclusõesVII. Aberturas e conclusões

Se “espaços” eram admitidos, eram reunidos num conceito cujo alcance

permanecia mal determinado. A noção de relatividade, mal assimilada, se

estabelecia à margem do conceito, das representações e, sobretudo, do cotidiano, devotados à tradição (o tri-dimensional, a separação do espaço e do tempo, do metro e do relógio etc.).

  1. Paradoxalmente, ou seja, com uma contradição (diabólica) inexprimida, inconfessada, inexplicitada, a prática – na sociedade e no modo de produção existentes – ia num outro sentido que o das representações e dos saberes

fragmentários. Se (os políticos? Não; antes seus colaboradores e auxiliares

tecnocratas, dotados de um poder e de uma autoridade consideráveis) se

inventava a planificação espacial - e isso na França, principalmente - não se propunha nada menos que formar, modelar racionalmente o espaço francês, do qual se considerava (não sem argumento) que ele tomava, “inexoravelmente”, um mau aspecto e disposições deploráveis: aqui desertificação, alhures aglomeração etc. Notadamente, o eixo “espontâneo”, indo do Mediterrâneo aos mares do Norte pelos vales do Reno, da Saône, do Sena, já colocava alguns problemas. Projetava-se a construção de “metrópoles de equilíbrio” em torno de Paris e nalgumas regiões. Não faltavam meios, nem ambições, à delegação ao ordenamento do território e das regiões,

organização potente e centralizada: produzir um espaço nacional harmonioso,

pôr um pouco de ordenação na urbanização “selvagem”, apenas obedecendo à procura de lucros.

  1. Atualmente, ninguém ignora que essa tentativa original de planificação (que não coincidia nem com os planos por balanços-matérias, nem com o controle estatista do emprego de capitais, ou seja, a planificação pela via

financeira) foi rompida, reduzida a quase nada pelo neo-liberalismo, mal reconstituída depois.

  1. De onde uma contradição notável e, entretanto, pouco notada entre as teorias do espaço e da prática espacial. Contradição coberta – pode-se dizer sufocada – pelas ideologias que misturavam as discussões sobre o espaço, saltando do cosmológico ao humano, do macro ao micro, das funções às estruturas, sem precauções conceituais, nem metodológicas. A ideologia da espacialidade, muito confusa, interpenetrava o saber racional, a planificação efetiva, mas autoritária, as representações triviais e correntes.

  2. De onde o esforço para sair da confusão considerando o espaço (social), assim como o tempo (social), não mais como fatos da “natureza” mais ou

menos modificada, nem como simples fatos de “cultura”, mas como produtos.

O que acarretava uma modificação no emprego e no sentido desse último termo. A produção do espaço (e do tempo) não os considerava como “objetos” e “coisas” insignificantes, saindo das mãos ou das máquinas, mas como os

aspectos principais da segunda natureza, efeito da ação das sociedades sobre

a “primeira natureza”; sobre os dados sensíveis, a matéria e as energias. Produtos? Sim, num sentido específico, notadamente por um caráter de

globalidade (não de “totalidade”) que os produtos não têm na acepção

ordinária e trivial, objetos e coisas, mercadorias (ainda que justamente o espaço e o tempo produzidos, mas “loteados”, são trocados, são vendidos, são comprados, como “coisas” e objetos!)

  1. Brevemente, é preciso sublinhar que naquele tempo (ao redor de 1970) já se colocavam, com uma evidência (cegante para muitos, que preferiam olhar
  1. A concepção do espaço como produto social não avançava sem dificuldades. Dito de outra maneira, sem uma problemática em parte nova e imprevista.

  2. Não designando um “produto” insignificante, coisa ou objeto, mas um conjunto de relações, esse conceito exigia um aprofundamento das noções de

produção, de produto, de suas relações. Como dizia Hegel, um conceito só

aparece quando designa, anuncia, aproxima-se de seu fim – e de sua transformação. O espaço não pode mais ser concebido como passivo, vazio, ou então, como os “produtos”, não tendo outro sentido senão o de ser trocado, o de ser consumido, o de desaparecer. Enquanto produto, por interação ou retroação, o espaço intervém na própria produção: organização do trabalho produtivo, transportes, fluxos de matérias-primas e de energias, redes de repartição de produtos. À sua maneira produtivo e produtor, o espaço (mal ou bem organizado) entra nas relações de produção e nas forças produtivas. Seu conceito não pode, portanto, ser isolado e permanecer estático. Ele se dialetiza: produto-produtor, suporte de relações econômicas e

sociais. Ele não entra também na reprodução, a do aparelho produtivo, da

reprodução ampliada, das relações que ele realiza praticamente, “no terreno”?

  1. Desde que formulada, essa noção não se esclarece e não esclarece muitos fatos? Ela não atingiria a evidência: a realização “no terreno”, portanto num

espaço social produzido, de relações sociais de produção e de reprodução?

Elas podem permanecer “no ar”, abstrações pelo e para o saber? Ademais,

essa teorização permite compreender a originalidade do projeto

(permanecendo no quadro limitado do modo de produção existente), o da planificação espacial. Para compreendê-lo, mas também para modificá-lo,

completá-lo, em função de outras demandas e de outros projetos; mas considerando sua qualidade, e notadamente o fato que ele se preocupava da urbanização. Portanto, a retomar.

  1. Em segundo lugar, e sem menos dificuldade: na estrita tradição marxista, o espaço social podia ser considerado como uma superestrutura. Como resultado de forças produtivas e de estruturas, de relações de propriedade entre outras. Ora, o espaço entra nas forças produtivas, na divisão do trabalho; ele tem relações com a propriedade, isso é claro. Com as trocas, com as instituições, a cultura, o saber. Ele se vende, se compra; ele tem valor de troca e valor de uso. Portanto, ele não se situa a tal ou tais “níveis”, “planos” classicamente distinguidos e hierarquizados. O conceito do espaço (social) e o próprio espaço escapam, portanto, à classificação “base- estrutura-superestrutura”. Como o tempo? Talvez. Como a linguagem? É o que veremos. Seria preciso, por isso, abandonar a análise e a orientação marxistas? De todos os lados surge esse convite, essa sugestão. E não apenas a propósito do espaço. Mas não se poderia, ao contrário, retornar às fontes, aprofundar a análise aportando-lhe novos conceitos, aprimorando e

experimentando renovar as démarches? É o que se tenta nesta obra. Ela supõe

que o espaço aparece, se forma, intervém ora a alguns “níveis” ora a outros. Ora no trabalho e nas relações de dominação (de propriedade), ora no funcionamento das superestruturas (instituições). Portanto, desigualmente, mas por toda parte. A produção do espaço não seria “dominante” no modo de produção, mas religaria os aspectos da prática coordenando-os, reunindo-os, precisamente, numa “prática”.

novo espaço, o perspectivo, não se separa de uma transformação econômica: crescimento da produção e das trocas, ascensão de uma nova classe, importância das cidades etc. Mas o que efetivamente se passou não teve a simplicidade de um encadeamento causal. O espaço novo foi concebido, engendrado, produzido para e pelos príncipes? Por ricos mercadores? Por um compromisso? Ou pela cidade enquanto tal? Mais de um ponto permanece obscuro. A história do espaço (como a do tempo social) está longe de ser esgotada.

  1. Outro caso, ainda mais surpreendente, igualmente evocado e mal

elucidado nesta obra: a Bauhaus; mais Le Corbusier. Os integrantes da

Bauhaus, Gropius e seus amigos, considerados revolucionários, na Alemanha,

entre 1920 e 1930; considerados Bolcheviques! Perseguidos, foram para os

EUA, onde revelaram-se práticos (arquitetos e urbanistas) e até teóricos do

espaço dito moderno, aquele do capitalismo “avançado”. Eles contribuíram para a sua construção: para a sua realização “no terreno”, através de suas obras e de seu ensino. Desventura e destino trágico para Le Corbusier! E, em seguida, novamente, para os que consideraram os grandes conjuntos e os “bairros” como o habitat específico da classe operária. Eles negligenciaram o

conceito de modo de produção, produzindo também seu espaço e assim se

terminando. Em nome da modernidade. O espaço da “modernidade” tem características precisas: homogeneidade-fragmentação-hierarquização. Ele tende para o homogêneo por diversas razões: fabricação de elementos e materiais - exigências análogas intervenientes -, métodos de gestão e de controle, de vigilância e de comunicação. Homogeneidade, mas não de plano, nem de projetos. De falsos “conjuntos”, de fato, isolados. Pois

paradoxalmente (ainda) esse espaço homogêneo se fragmenta: lotes, parcelas. Em pedaços! O que produz guetos, isolados, grupos pavilhonares^1 e pseudoconjuntos mal ligados aos arredores e aos centros. Com uma hierarquização estrita: espaços residenciais, espaços comerciais, espaços de lazer, espaços para os marginais etc. Uma curiosa lógica desse espaço predomina: que ele se vincula ilusoriamente à informatização e oculta, sob sua homogeneidade, as relações “reais” e os conflitos. Além disso, parece que essa lei ou esse esquema do espaço com sua lógica (homogeneidade- fragmentação-hierarquização) tomou um alcance maior e atingiu uma espécie de generalidade, com efeitos análogos, no saber e na cultura, no funcionamento da sociedade inteira.

  1. Esta obra procura, portanto, não apenas caracterizar o espaço em que vivemos e sua gênese, mas reencontrá-la, através do e pelo espaço produzido, da sociedade atual. Ambição que o título não anuncia

abertamente. Resumamos esse propósito, inerente à démarche perseguida:

um estudo “para trás” do espaço social na sua história e sua gênese, a partir do presente, remontando para essa gênese – em seguida, retorno sobre o atual, o que permite entrever, senão prever o possível e o futuro. Essa

démarche permite estudos locais a diversas escalas, inserindo-os na análise

geral, na teoria global. As implicações e imbricações lógicas se compreendem como tais, mas sabendo-se que essa compreensão não exclui (ao contrário) os conflitos, as lutas, as contradições. Nem, inversamente, os acordos, entendimentos, alianças. Se o local, o regional, o nacional, o mundial se

(^1) Fazer nota explicativa.

  1. Tese central sobre a qual é preciso retornar antes de concluir. O modo de

produção organiza – produz – ao mesmo tempo que certas relações sociais,

seu espaço (e seu tempo). É assim que ele se realiza. Seja dito, en passant: o

socialismo engendrou um espaço? Se não, é que o modo de produção socialista ainda não tem existência concreta. O modo de produção projeta essas relações no terreno, o qual reage sobre elas. Sem que haja correspondência exata, definida de antemão, entre as relações sociais e as relações espaciais (ou espaço-temporais). Não se pode afirmar que o modo de produção capitalista tenha, desde o início, “ordenado”, por inspiração ou inteligência, sua extensão espacial, destinada a se entender em nosso tempo ao planeta inteiro! De início, houve utilização do espaço existente, por exemplo, das vias aquáticas (canais, rios, mares), depois das estradas; na seqüência, construção de estradas de ferro, para continuar pelas auto- estradas e pelos aeroportos. Nenhum meio de transporte no espaço desapareceu inteiramente, nem a caminhada, nem o cavalo, nem a bicicleta etc. Contudo, um espaço novo se constituiu no século XX, à escala mundial; sua produção, não terminada, continua. O novo modo de produção (a sociedade nova) se apropria, ou seja, organiza para seus fins, o espaço preexistente, modelado anteriormente. Modificações lentas penetram uma espacialidade já consolidada, mas às vezes a subvertem com brutalidade (caso dos campos e paisagens rurais no século XIX).

  1. Incontestavelmente, as estradas de ferro desempenharam um papel primordial no capitalismo industrial, na organização de seu espaço nacional (e internacional). Senão, ao mesmo tempo, à escala urbana: os bondes, metrôs, ônibus. Em seguida, à escala mundial, os transportes aéreos. A organização

anterior se desintegra e o modo de produção integra para si os resultados. Processo duplo, visível nos campos e cidades desde algumas dezenas de anos, com a ajuda de técnicas recentes, mas se estendendo dos centros às periferias longínquas.

  1. A organização do espaço centralizado e concentrado serve ao mesmo tempo ao poder político e à produção material, otimizando os benefícios. Na hierarquia dos espaços ocupados as classes sociais se investem e se travestem.

22) À escala mundial, contudo, um novo espaço tende a se formar, integrando

e desintegrando o nacional, o local. Processo cheio de contradições, ligado ao conflito entre uma divisão do trabalho à escala planetária, no modo de produção capitalista, e o esforço em direção a uma outra ordem mundial mais racional. Essa penetração do e no espaço teve tanta importância histórica quanto a conquista da hegemonia pela penetração no institucional. Ponto capital, senão final dessa penetração: a militarização do espaço, ausente (e com razão) desta obra, mas que culmina a demonstração à escala ao mesmo tempo planetária e cósmica.

  1. Essa tese, como a de um espaço ao mesmo tempo homogêneo e fragmentado (como o tempo!), suscita muitas objeções há uma dezena de anos. Como um espaço poderia ao mesmo tempo obedecer a regras de conjunto, constituir um “objeto” social, e se espedaçar?

24) Não se trata de afirmar que a recente e já célebre teoria do objeto fractal

(B. Mandelbrot) teve uma relação com a tese do espaço fragmentado, aqui sustentada. Contudo, pode-se indicar ao mesmo tempo a quase

29) Segundo tempo: as oposições paradigmáticas evidenciadas: público e

privado - troca e uso - estatista e íntimo – frontal e espontâneo - espaço e tempo...

30) Terceiro tempo: dialetização desse quadro estático: as relações de força,

de aliança - os conflitos, os ritmos sociais e os tempos produzidos no e por esse espaço...

  1. Essa leitura deveria evitar a este trabalho a dupla acusação de u-topia (construção fictícia, no vazio verbal) e também de a-topia (eliminação do espaço concreto, para só deixar o vazio social).

Henri LEFEBVRE

Paris, 4 de dezembro de 1985.

Dedicatória

Encerrado entre quatro paredes (ao norte, o cristal do não-saber, paisagem a inventar ao sul, a memória reflexiva a leste, o espelho a oeste, a pedra e o canto do silêncio) escrevo mensagens sem resposta. Octavio PAZ (trad. J. C. Lambert)

Atributo divino? Ordem imanente à totalidade dos existentes? Segundo Descartes, assim se punha a questão do espaço para os filósofos: Spinoza, Leibniz, os newtonianos. Até que Kant retoma, modificando-a, a antiga noção

de categoria. O espaço, relativo, instrumento de conhecimento, classificação

de fenômenos, não se separa menos (com o tempo) do empírico; segundo Kant, ele se vincula, a priori, à consciência (ao “sujeito”), à sua estrutura interna e ideal, portanto, transcendental, portanto, inapreensível em si.

  1. Essas longas controvérsias marcaram a passagem da filosofia à ciência do espaço. Elas teriam prescrito? Não. Elas têm uma outra importância que a de momentos e de etapas no curso do Logos ocidental. Elas se desenrolariam na abstração que seu declínio atribui à filosofia dita “pura”? Não. Elas se vinculam a questões precisas e concretas, entre outras as das simetrias e dissimetrias,

dos objetos simétricos, de efeitos objetivos de reflexão e de espelho.

Questões que serão retomadas no curso da presente obra e repercutirão na análise do espaço social.

4) I.2 Então chegaram os matemáticos, no sentido moderno, paladinos de

uma ciência (e de uma cientificidade) afastada da filosofia, considerada necessária e suficiente. Os matemáticos apoderaram-se do espaço (e do tempo); tornaram-no seu domínio, mas de uma forma paradoxal. Eles inventaram espaços, uma infinidade: espaços não-euclidianos, espaços de

curvaturas, espaços a x dimensões e até a uma infinidade de dimensões,

espaços de configuração, espaços abstratos, espaços definidos por uma deformação ou transformação, topologia etc. A linguagem matemática, muito geral e muito especializada, discerne e classifica com precisão esses inumeráveis espaços (o conjunto ou espaço de espaços não se concebem,

parece, sem algumas dificuldades). A relação entre a matemática e o real (físico, social) não era evidente, um abismo se cavava entre eles. Os matemáticos, que faziam surgir essa “problemática”, a deixavam para os filósofos, que encontravam uma maneira de restabelecer sua situação de compromisso. Desse fato, o espaço tornava, ou melhor, retornava àquilo que uma tradição filosófica, a do platonismo, tinha oposto à doutrina das categorias: uma “coisa mental” (Leonardo da Vinci). A proliferação de teorias (topologias) matemáticas agravava o velho problema dito “do conhecimento”. Como passar de espaços matemáticos, ou seja, de capacidades mentais da espécie humana, da lógica, à natureza, à prática, de início e em seguida à teoria da vida social que se desenrola também no espaço?

5) I.3 Dessa filiação (a filosofia do espaço revista e corrigida pelos

matemáticos), uma pesquisa moderna, a epistemologia, recebeu e aceitou um certo estatuto do espaço como “coisa mental” ou o “lugar mental”. Visto que a teoria dos conjuntos, apresentada como lógica desse lugar, fascinou não apenas os filósofos, mas os escritores, os lingüistas. De todos os lados

proliferaram “conjuntos” (às vezes práticos^4 ou históricos^5 ) e “lógicas”

associadas seguindo um cenário que tende a se repetir, conjuntos e “lógicas” que não têm mais nada em comum com a teoria cartesiana.

  1. Mal explicitado, misturando segundo os autores a coerência lógica, a coesão prática, a auto-regulação e as relações das partes com o todo, o engendramento do semelhante pelo semelhante num conjunto de lugares, a

lógica do recipiente e a do conteúdo, o conceito de espaço mental se

(^4) J. P. Sartre. Critique de la raison dialectique, I, Théorie des ensembles pratiques, Gallimard, 1960.