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GERAL E DO BRASIL
CLÁUDIO VICENTINO GIANPAOLO DORIGO
HISTÓRIA
VOLUME
ENSINO MÉDIO
HISTÓRIA
MANUAL DO PROFESSOR
Diretoria editorial e de conteúdo: Angélica Pizzutto Pozzani Gerência de produção editorial: Hélia de Jesus Gonsaga Editoria de Ciências Humanas e suas Tecnologias: Heloisa Pimentel e Deborah D’Almeida Leanza Editora: Vanessa Gregorut; Mirna Acras Abed M. Imperatore e Priscila Manfrinati (estags.) Supervisão de arte e produção: Sérgio Yutaka Editora de arte: Yong Lee Kim Diagramadores: Walmir Santos e Claudemir Camargo Supervisão de criação: Didier Moraes Design gráfico: A+ Comunicação (miolo e capa) Revisão: Rosângela Muricy (coord.) , Ana Paula Chabaribery Malfa, Heloísa Schiavo e Gabriela Macedo de Andrade (estag.) Supervisão de iconografia: Sílvio Kligin Pesquisadores iconográficos: Josiane Camacho Laurentino Cartografia: Allmaps, Juliana Medeiros de Albuquerque e Márcio Santos de Souza Tratamento de imagem: Cesar Wolf e Fernanda Crevin Foto de capa: f9Photos/Shutterstock/Glow Images Ilustrações: Cassiano Röda, Héctor Gomez, Kazuhiko Yoshikawa e Osnei Roko Direitos desta edição cedidos à Editora Scipione S.A. Av. Otaviano Alves de Lima, 4400 6 o^ andar e andar intermediário ala B Freguesia do Ó – CEP 02909-900 – São Paulo – SP Tel.: 4003- www.scipione.com.br/atendimento@scipione.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Vicentino, Cláudio História geral e do Brasil / Cláudio Vicentino, Gianpaolo Dorigo – 2. ed. – São Paulo: Scipione, 2013. Obra em 3 v.
- História (Ensino médio) I. Dorigo, Gianpaolo. II. Título. 13-02602 CDD- Índice para catálogo sistemático:
- História : Ensino médio 907 2013 ISBN 978 85262 9118 8 (AL) ISBN 978 85262 9119 5 (PR) Código da obra CL 712757
Uma publicação
Versão digital Diretoria de tecnologia de educação: Ana Teresa Ralston Gerência de desenvolvimento digital: Mário Matsukura Gerência de inovação: Guilherme Molina Coordenadores de tecnologia de educação: Daniella Barreto e Luiz Fernando Caprioli Pedroso Editores de tecnologia de educação: Cristiane Buranello e Juliano Reginato Editora de conteúdo digital: Vanessa Gregorut Editores assistentes de tecnologia de educação: Aline Oliveira Bagdanavicius, Drielly Galvão Sales da Silva, José Victor de Abreu e Michelle Yara Urcci Gonçalves Assistentes de produção de tecnologia de educação: Alexandre Marques, Gabriel Kujawski Japiassu, João Daniel Martins Bueno, Paula Pelisson Petri, Rodrigo Ferreira Silva e Saulo André Moura Ladeira Desenvolvimento dos objetos digitais: Agência GR8, Atômica Studio, Cricket Design, Daccord e Mídias Educativas Desenvolvimento do livro digital: Digital Pages
Caros alunos
Queremos que vocês saibam que nós, os autores deste livro, temos as
mãos “sujas de giz”, ou seja, somos professores. isso significa que a presente
obra é fruto não apenas de estudos teóricos, mas, sobretudo, de nossa ex-
periência em sala de aula. nosso principal objetivo foi produzir um livro para
alunos e professores do Ensino Médio que apontasse os diversos caminhos
do saber histórico.
Ao redigir a obra, nossa primeira preocupação como professores, sem
dúvida, foi oferecer a vocês uma ferramenta poderosa para a compreensão
da realidade à sua volta. o mundo nos fala o tempo todo, e a História é um
instrumento importante para conhecer os múltiplos significados desse dizer.
Afinal, cada indivíduo, incluindo vocês, possui condições de vida mais impreg-
nadas pelo passado do que imagina.
Chamamos a atenção também para o fato de que o discurso histó-
rico não é “fechado”, ou seja, não enuncia verdades prontas e acabadas. A
ideia de “conhecer o passado como ele realmente foi” simplesmente não é
praticável. Assim, pretendemos que vocês comecem a entender como o co-
nhecimento histórico é construído e qual o seu significado, observando as
perguntas feitas pelos historiadores e os problemas ou limitações encontra-
dos pelos especialistas. Partindo da constatação de que o discurso histórico
é uma construção, queremos que vocês reflitam sobre a impossibilidade de
um conhecimento neutro. o que sabemos sobre o passado, querendo ou não,
reflete os valores dos historiadores de determinado tempo, projeta seus inte-
resses e suas crenças.
Pensando em auxiliar os alunos do Ensino Médio que pretendem pros-
seguir seus estudos, oferecemos recursos para desenvolver as competências
e habilidades avaliadas pelo Exame nacional do Ensino Médio (Enem), bem
como conteúdos que fazem parte da programação dos grandes vestibulares.
Finalmente, acreditamos que um moderno curso de História envolve
uma conexão permanente com outras áreas do conhecimento e com expe-
riências cotidianas – ao contrário do conhecimento estanque, que se torna
vazio, sem significado, e, por isso mesmo, desinteressante. Assim, nas próxi-
mas páginas vocês vão deparar com textos e atividades vinculadas à literatu-
ra, à arte, à política, à economia, etc.
o livro que vocês têm em mãos agora é uma obra viva, está aberta ao
debate e exige o engajamento de todos, professores, alunos e autores. Bom
estudo!
os autores
aPreseNTaÇÃo
A cultura grega, 133 P Para recordar
(esquema-resumo), 139 ❖ Exercícios de
História, 140
5 A CIVILIZAÇÃO ROMANA 144
Para pensar historicamente: Roma e nós, 144
- As fontes históricas para o estudo de Roma,
145 • Monarquia (da fundação de Roma ao século
VI a.C.), 147 • República (séculos VI a.C.-I a.C.),
149 P Para recordar (esquema-resumo), 154 ❖
Exercícios de História, 155 • O Alto Império
(séculos I a.C.-III d.C.), 157 • O Baixo Império
(séculos III d.C.-V d.C.), 159 • A cultura romana,
161 P Para recordar (esquema-resumo), 163 ❖
Exercícios de História, 164
Questões & testes, 168
UNIDADE 3
A EUROPA, PERIFERIA DO
MUNDO 172
Discutindo a História, 174 • Por que Idade
Média?, 174 • Idade Média — Idade das
Trevas?, 175 • Idade Média — onde?, 176
- Por que estudar a Idade Média?, 176
6 O IMPÉRIO BIZANTINO, O ISLÃ E O
PANORAMA MUNDIAL 177
Para pensar historicamente: Permanências e
mudanças, 177
- O Império Romano com capital em Bizâncio,
178 ❖ Exercícios de História, 181 • E quem não
estava no século V d.C.?, 183 • Na África, 183 •
Os árabes e o islamismo, 186 • Na China, 188 •
Na América, 190 P Para recordar
(esquema-resumo), 193 ❖ Exercícios de História,
7 O SURGIMENTO DA EUROPA 196
Para pensar historicamente: O espaço como
construção social e histórica, 196
- A Alta Idade Média, 197 P Para recordar
(esquema-resumo), 201 ❖ Exercícios de História,
202 • Baixa Idade Média, 204 P Para recordar
(esquema-resumo), 211 ❖ Exercícios de História,
8 ECONOMIA, SOCIEDADE E CULTURA
MEDIEVAL 214
Para pensar historicamente: Subordinação e
dominação, 214
- Islâmicos e bizantinos na contramão da Europa
feudal, 218 • A Igreja medieval, 219 P Para
recordar (esquema-resumo), 221 ❖ Exercícios
de História, 222 • A cultura na época medieval,
224 • Baixa Idade Média: dinamização cultural,
226 • O conhecimento em todo o mundo, 232 P
Para recordar (esquema-resumo), 234 ❖
Exercícios de História, 235
9 O MUNDO ÀS VÉSPERAS DO SÉCULO
XVI 237
Para pensar historicamente: As origens dos
Estados modernos, 237
- Formação das monarquias centralizadas na
Europa, 238 • Uma volta ao mundo antes de
1500..., 245 P Para recordar (esquema -resumo),
250 ❖ Exercícios de História, 251
Questões & testes, 253
SUGESTÕES DE LEITURA
PARA O ALUNO • 258
BIBLIOGRAFIA • 258
RESPOSTAS DOS
TESTES • 260
ÍNDICE REMISSIVO • 262
The Granger Collection/Other Images
CONHEÇA SEU LIVRO
P Leia sumários e resumos, que são importantes auxiliares para perceber como o
texto está organizado e quais são as relações entre suas partes. Procure o objetivo da unidade e a relevância do tema na seção Discutindo a História. Examine o Sumário
e o Esquema-resumo (seção Para recordar ) antes de começar o estudo da unidade
para ter uma ideia geral do assunto. Após a leitura, retome o Esquema-resumo e realize a atividade sugerida.
P Procure pistas sobre a organização do texto e o tratamento do
assunto. Observar o que se destaca na página também é importante para perceber a estrutura geral do capítulo ou da unidade: títulos e subtítulos em letras coloridas, grandes ou pequenas são pistas sobre o que é considerado importante. Uma diferença de tamanho indica relação: o item menor está ligado ao item maior — ou está incluído nele ou é um exemplo dele. As imagens, mapas, esquemas e boxes ilustram aspectos importantes ou complementam informações. Por isso, também podem dar boas pistas sobre a organização do todo e a importância das informações.
P Pergunte! Inicie a leitura com
alguma questão em mente, algo que você queira saber e que acha que o texto responderá. Olhe as imagens e mapas, pois eles podem despertar sua curiosidade e sugerir perguntas. Pense no que já sabe sobre o assunto e no que mais gostaria de conhecer. Caso nenhuma pergunta lhe venha à cabeça, comece a ler refletindo sobre aquelas propostas na seção Para pensar historicamente. Logo você estará formulando as próprias questões, que lhe servirão de guia na sua leitura.
As imagens, mapas, esquemas e boxes ilustram aspectos importantes ou complementam informações. Por isso, também podem dar boas pistas sobre a organização do todo e a importância das informações.
138 Civilizações antigas
Período Helenístico(séculos IV a.C.-II a.C.) pela Macedônia, no século IV a.C., tornou-se conheci-^ O período iniciado com a conquista da Grécia do comoculo II a.C. Inicialmente governados por Felipe II, ven-cedor da Batalha de Queroneia, os macedônios não se^ Período Helenístico^ e estendeu-se até o sé- limitaram à conquista da Grécia, logo partindo para oOriente. O principal responsável por essas grandiosas conquistas foivalores da cultura grega e, após sufocar revoltas inter-Educado por^ Alexandre Aristóteles ,^ o Grande , Alexandre assimilou, filho de Felipe II. nas, partiu para a expansão territorial, tomando a ÁsiaMenor, a Pérsia e chegando até as margens do rio Indo, na Índia. Morreu aos 33 anos (323 a.C.), e o grande im-pério que conquistara não se manteve após sua morte. As divisões políticas e as constantes lutas internas le-varam ao enfraquecimento do Império Macedônico eà sua posterior ocupação pelos romanos. Macedônia, no plano cultural, sobreviveu ao esfa-Entretanto, a grande obra de Alexandre da celamento de seu império territorial. O movimentoexpansionista promovido por Alexandre foi o respon-sável pela difusão da cultura grega pelo Oriente, fun- dando cidades (várias delas batizadas com o nome deAlexandria) que se tornaram verdadeiros centros de difusão dessa cultura.se fundindo com as culturas lo-Elementos gregos acabaram cais, dando origem à chamada cultura helenísticanismo. ou hele-
A cultura helenística O grande feito das conquistas de Alexandre foi favorecer o surgimento de uma nova cultura, herdeirada grega, mas diferente dela pela enorme dosagem de elementos orientais. Alexandria (no Egito), Pérgamo(na Ásia Menor) e a ilha de Rodes (no mar Egeu)constituíram alguns dos principais centros de difusão de seus valores.A cultura helenística caracterizou-se por apre- sentar uma arte mais realista, exprimindo violênciae dor, componentes constantes dos novos temposde guerras. Na arquitetura, predominavam o luxo e a grandiosidade – reflexo da imponência do Impé-rio Macedônico. Na escultura, turbulência e agitação eram traços significativos.mática com Euclides, criador da Geometria; da FísicaNas ciências , vale destacar o avanço da Mate- com Arquimedes de Siracusa; da Geografia com Era-tóstenes; e da Astronomia com Aristarco, Hiparco e Ptolomeu, este último defensor do geocentrismo, teo-ria aceita até o início dos tempos modernos (séculos XV-XVI).losóficas, como:O helenismo originou ainda novas correntes fi-
- estoicismo dade como o equilíbrio interior, o qual oferecia aoser humano a possibilidade de aceitar, com sereni-: fundada por Zenão, defendia a felici- - dade, a dor e o prazer, a sorte e o infortúnio; epicurismo : fundada em Atenas por Epicuro, pre- gava a obtenção do prazer, base da felicidade hu-mana, e defendia o afastamento dos aspectos ne- - gativos da vida; ceticismo fundada por Pirro, esta filosofia caracterizava-se: do grego^ sképtomai, ‘olhar’, ‘investigar’, pela negação da possibilidade de conhecer comcerteza qualquer verdade. O conhecimento depen- de do sujeito e do objeto estudado, sendo, portan-to, relativo. A felicidade consistiria em não julgarcoisa alguma. centou à cultura grega umaO helenismo ainda acres- instituição já presente na cul-tura oriental: o despotismo , segundo o qual a autoridadedo governante era inquestio- nável.
helenismo: ga com a oriental. sendo herdei-ra da cultura grega, a denomina- fusão da cultura gre- ção dessa nova cultura decorriada referência à forma como osgregos chamavam a si mesmos
- era conhecida como Hélade. helenos , já que a grécia antiga
Reprodução/Museu do Vaticano, Cidade do Vaticano, Itália.
∏ a cultura helenística substituiu a concepção clássica de que o “homem éa medida de todas as coisas” pelo monumentalismo, pessimismo, nega-tivismo e relativismo. Observe um dos mais famosos exemplos de escul- tura helenística:^ Laocoonte e seus filhos^ (c. 25 a.C.).
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A VIDA EM CIDADES 67
3 A vida em cidades
CAPÍTULO
Arterra Picture Library/Alamy/Other Images
p Rua da cidade de Jodhpur, no Ra-jastão (Índia), em 2012. Ao fundo,o forte Mehrangarh.^ PARA PENSAR HISTORICAMENTE Cidades na História aproximadamente 85%. Sabemos disso porque essa é a taxa de urbaniza-^ A probabilidade de você estar lendo estas linhas em uma cidade é de ção do Brasil, ou seja, a porcentagem de pessoas que moram em cidades.O índice é superior à média dos países da Europa, que têm 75% de urbani-zação, e está bem acima da média mundial de 52%. dificou ao longo do tempo, em 1800 a taxa mundial de urbanização era dePara que você tenha uma ideia de como esse cenário urbano se mo- cerca de 2%. E houve um tempo em que não existiam cidades tal como asconhecemos hoje.Neste capítulo você conhecerá um pouco mais sobre a formação das cidades e poderá refletir sobre a situação histórica que, em algumas re-giões e em determinadas épocas, favoreceu essa organização dos grupos humanos.
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Discutindo a História
174 A EUROPA, PERIFERIA DO MUNDO
turcos otomanos: turcos corresponde às populações daregião central asiática. No século V, a designação de dos hunos que comandavam a Ásiaoscomo^ chamados^ os^ sucessores^ gokturco^^ daapareceram civilização central. Em um processo de expan-sãoconvertidos ao islamismo (chamados pelo (^) Império Bizantino, turcos XIII. Grupos seminômades se deslo-deda península Ática nos séculos XI e^ selêucidas)^ dominaram^ regiões caram do norte para o oeste da Pér-sia, aliando-se aos selêucidas. Essesgrupos se fixaram em uma região Um dos monarcas foi Osman I (oupróxima ao Império Bizantino e de-senvolveram um estado centralizado. Othman), nome que teria originado adenominação turco otomano.
The Bridgeman Art Library/Keystone/Museu Topkapi, Istambul, Turquia.Keystone ∏ (^) Osman I, representação em tinta efolhas de ouro sobre papel, do sé-culo XVI. Acervo do Museu Topkapi, na Turquia.
p Detalhe de tapeçaria nor-manda do século XII.Noruega/The Bridgeman/Keystone^ Kunstindustrimuseet, Oslo,
POR QUE IDADE MÉDIA? meio, que exprime uma posição intermediária entre um ponto e outro.^ Médio^ é uma palavra que usamos para designar algo que está no Na periodização eurocêntrica estabelecida no século XVIII, a Idade Mé-dia estaria no meio da História, entre a Idade Antiga e a Idade Moder-na. Assim, o período de aproximadamente mil anos, que vai convencio- ocupação pelos hérulos em 476 – até a tomada de Constantinopla pelosnalmente da desagregação do Império Romano do Ocidente – após sua turcos otomanos em 1453, foi chamado de Idade Média. Mas essa indi-cação, sobretudo hoje, para nós que vivemos na Idade Contemporânea,ficou deslocada. val as ideias de atraso, retrocesso,Durante muito tempo, os estudiosos associaram ao período medie- escuridão que a Igreja, ao dominar todas as esferas da vida das pessoas, teria impe-dido o avanço do pensamento, da política e das artes.A construção desse pensamento foi fundamentada na comparação cultural, sob a alegação de do longo período medieval com o considerado “renascimento” das ciên-cias e das artes. Entre os séculos XIV e XVI, generalizou-se na Europa o rompimento com valores do período anterior e a recuperação de ideaisuma série de movimentos artísticos e científicos que tinham em comum e modelos da Grécia e da Roma antigas. Esses movimentos receberam onome decia e as artes ficaram paralisadas. Renascimento , trazendo a ideia de que, na Idade Média, a ciên- tas vezes vistos como os continua-dores dos ideais científicos, artís-Os renascentistas foram mui- ticos e estéticos das civilizaçõesclássicas. Era como se houvesse umgrande intervalo entre os antigos tas de então.gregos e romanos e os renascentis-
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UNIDADE
A Europa, periferia do mundo
CA PÍTULO 6O Império Bizantino, o islã CA PÍTULO 7e o panorama mundial CA PÍTULO 8O surgimento da Europa Economia, sociedadee cultura medieval CA PÍTULO 9O mundo às vésperas p Vista do domo da Igreja de Santa Sofi a construída entre 532 e 537 em Constantinopla, atualIstambul, Turquia. No detalhe, astrolábio do século XIV, de Milão. Foto de 2010. do século XVI
CasteloSforzes c o ,Milão/ErichLessing/Album/Latinstock
Paul Panayiotou/Corbis/Latinstock
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174 A EUROPA, PERIFERIA DO MUNDOA EUROPA, PERIFERIA DO MUNDO
A civilizAção romAnA 163
promove a expansãoterritorial
fim da expansãoterritorial
mão de obrafalta de perseguiçõesaos cristãos êxodo urbano escassezmaterial
religião oficial doliberdade eImpério penetração
concentrapoderes
dImInuIção do númerode escravos crIstIanIsmo BárBaros
Imperador
riqueza/escravos controla e garante osprivilégios das elites apoGeu: alto ImpérIo(I a.c.-III d.c.) crIse: BaIxo ImpérIo(III d.c.-v d.c.)
colapso do ImpérIo
Para recordar: Império romano (séculos I a.c.–V d.c.)
1.aTIVIdadeS orientando-se pelo esquema-resumo, explique de que maneira a política do “pão e circo” funcionava como um
2. mecanismo importante de estabilização da ordem no império.com base no esquema-resumo relacione o fim da expansão territorial romana ao colapso do império.
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112 CIVILIZAÇÕES ANTIGAS
The Art Archive/Other Images/Museu Egípcio, Cairo, Egito.
O reino de Kush Durante os últimos séculos da história indepen- dente do Egito antigo (IX a.C.-VI a.C.), ganhou des-taque o reino de Kush , ao sul, na região mais tarde denominada Núbia, onde atualmente fica o Sudão e oSudão do Sul. Além de aquela ser uma região rica em ouro, sua capital, a cidade de Napata, tinha importan-te atuação como intermediária comercial entre Tebas(Egito) e a África Central. conflitos no vizinho Egito, os núbios de Kush domi-Aproveitando-se das disputas políticas e dos naram o Império Egípcio e estabeleceram um novogoverno sob seu controle, conhecido como ou dos faraós negros , que reinaram por algumas dé- kushita cadas. O poderio kushita no Egitosó desapareceu com a invasão assíria, cujos exércitos possuíamarmas de ferro mais eficientes que as de bronze dos egípciose núbios. Em 653 a.C., os as-sírios foram derrotados pelo egípciope de Sais, que retomou a Psamético, prínci- independência egípcia. Apartir de então os faraósegípcios buscaram apa- gar os vestígios da pre-sença do domínio kushi- ta no Egito. ∏ Escultura de Amenirdis I, sacer-dotisa, fi lha do imperador kushi-ta Kashta (770 a.C.-750 a.C.). Peça localizada no Templo deKarnak e depositada no Museudo Cairo, Egito.
tigas são alvo de estudos arqueológicos e históricos^ Além de Napata, várias das cidades núbias an- atualmente. Dentre elas estão as cidades Pnubs, Naga,Cartum, Dongola, Atbara, Meroe, Farás, Argos, Wad bem Naga, Kawa, Soba. Por meio do estudo de suasruínas e vestígios, estão sendo levantados dados so-bre o histórico do reino de Kush e da importante atu- ação que teve na região egípcia e centro-sul africano.
Pirâmides de Meroe no Su-dão, fotografi a de fevereiro de2010. Meroe foi o centro eco- nômico do Império Kush. P
0 1 240km2 480
0º
SUDÃOSUDÃO DO SUL
EUROPA MarMediterrâneo Mar Vermelho ÁSIA
ATLÂNTICO^ OCEANO Trópico de Capricórnio
Trópico de Câncer OCEANOEquador ÍNDICO 10º L
Allmaps/Arquivo da editora
Adaptado de: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 33. ed. São Paulo: Ática, 2009. p. 53.
Sudão e Sudão do Sul
Ashraf Shazl/Agência France-Presse/Getty Images HGB_v1_PNLD2015_058a115_U2_C3.indd 112 2/28/13 5:15 PM
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P
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Bastidores
da história
8 Bastidores da história
estudAr HistÓriA: VÁrios ViAJANtes, múltiplos cAmiNHos
Esta seção tem por objetivo oferecer a você, aluno, os bastidores
desta disciplina que começaremos a estudar. Acreditamos que isso o aju-
de a entender como a História é construída e modificada ao longo do
tempo. Pretendemos que você compreenda também por que é importan-
te estudá-la hoje.
Não faz tanto tempo assim que se começou a ensinar História como
disciplina autônoma na escola. No século XIX, o saber e o ensino de His-
tória privilegiavam os fatos políticos e os feitos de “grandes homens” e
voltavam-se principalmente para a sustentação e a legitimação das na-
ções que nasciam ou se consolidavam. Grande parte dos relatos históri-
cos baseava-se em documentos oficiais escritos, entendidos como a úni-
ca e verdadeira versão dos acontecimentos.
De lá para cá muita coisa mudou na pesquisa e no ensino de Histó-
ria. A partir das primeiras décadas do século XX, houve uma renovação
e ampliação das abordagens e temáticas de pesquisa, dos documentos
considerados fontes históricas e do próprio papel do historiador, permi-
tindo novos olhares na construção do saber histórico, no estudo e no en-
sino da História. As pesquisas passaram a se interessar por toda atividade
humana, levando à noção de uma História total. Há algumas décadas,
estudar História deixou de significar apenas a memorização de datas, “fa-
tos importantes” ou “personagens ilustres” e passou a compreender uma
leitura do passado com base nas indagações e nos problemas que nos são
postos pelo presente.
No estudo de História, a seleção de temas, períodos e elementos de
pesquisa surge das preocupações e dos anseios de nossa época. Mas pre-
cisamos tomar cuidado para não reduzir outros lugares e outros tempos
à nossa visão de mundo. Isso vale tanto para os historiadores como para
você que estuda História na escola: devemos tentar entender o passado
considerando o ponto de vista de quem viveu em determinada época,
com seus valores e conceitos, e não com os nossos.
Devemos lembrar que os historiadores são pessoas diferentes no
que se refere à origem, formação cultural, classe social e religião. Assim,
também são diversas as suas interpretações sobre a História, embora
bastidores: no teatro, parte do cená- rio ou do palco que não se vê da pla- teia. Metaforicamente, refere-se aos enredos e tramas particulares, que não vêm a público.
p Charge de saul steinberg.
p alunas durante aula de trabalhos manuais na escola técnica rivadávia Corrêa (instituto Profi ssional Femini- no), no rio de Janeiro, 1922. Fotogra- fi a de augusto Malta. Podemos ob- servar que, nesse período, existiam salas de aulas separadas para meni- nos e meninas nas escolas do país.
Reprodução/Fundação Steinberg
Augusto Malta/Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
Bastidores da história 9
muitas das preocupações (por exemplo, os problemas ambientais ou as
desigualdades sociais) possam ser comuns. Por isso, no subtítulo desta
introdução, fizemos uma analogia dos historiadores com os viajantes:
eles são vários, bem como os caminhos que cada um pode seguir.
A definição de passado é a de uma parte do tempo, anterior ao pre-
sente, que inclui tudo o que já aconteceu e, portanto, sem possibilidade
de modificação. Entretanto, nossas formas de olhar para o passado
mudam conforme muda o presente, e é por isso que a História é um co-
nhecimento dinâmico. Não se encerra um assunto depois de um primei-
ro mapeamento. O que sabemos, por exemplo, sobre os antigos romanos
continua sendo constantemente atualizado, opiniões e afirmações são
modificadas de acordo com os recortes temáticos do historiador, com
novas descobertas, pesquisas e abordagens.
Esse dinamismo caracteriza o trabalho do historiador, pesquisador
dedicado a interpretar as experiências da humanidade fundamentado
em diversos tipos de registro (documentos escritos, pinturas, fotografias,
vestígios materiais, etc.).
foNtes HistÓricAs
O que distingue o conhecimento histórico de outras formas de co-
nhecimento sobre o passado (como o discurso religioso ou o senso co-
mum) é o modo como esse conhecimento é produzido. O método histó-
rico pode ser chamado de racional, no sentido de que nele predomina o
melhor argumento, sustentado por evidências e pelo raciocínio lógico.
Essas evidências que sustentam os argumentos históricos são as fontes.
Fonte histórica ou documento histórico é tudo aquilo que de al-
gum modo está marcado pela presença humana. Além dos documentos
escritos, as fontes históricas compreendem uma grande variedade de
vestígios e evidências em objetos e materiais diversos.
Ao mesmo tempo que existe uma pluralidade de pontos de vista
sobre o passado, múltiplas são as “vozes” que nos falam dele. Essas
“vozes”, ou melhor, essas fontes de informações estão nos discursos
orais e escritos, nos monumentos, nas obras literárias, nas pintu-
ras, nas obras de arte, nos objetos cotidianos e mesmo nos corpos
preservados ou esqueletos de pessoas de agrupamentos antigos,
bem como no DNA de seus descendentes. Portanto, para apreen-
der as múltiplas “vozes” do passado, cabe ao historiador definir um
enfoque sem deixar de considerar a existência de outros.
As fontes não falam por si e não trazem a verdade pronta: é pre-
ciso que o pesquisador interrogue o contexto em que foram produzidas,
que grupo ou valores representam e de que maneira abordam e retratam
os diferentes grupos sociais. Essas perguntas são geradas pelos interesses
do historiador e pelas questões de sua época. Por isso, diferentes pergun-
tas revelarão diferentes respostas de um mesmo documento ou, então,
levarão a outros documentos.
p Prato de cerâmica etrusco datado do século iii a.C. Peças como essas po- dem ajudar o historiador a conhecer mais sobre a cultura desse povo.
Rep rod uçã
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R,a mo
It,a aliá .
Bastidores da história 11
Ao analisar uma fonte, o pesquisador co-
meça por se perguntar por que e como aquela
fonte chegou até ele, por quem e por que foi
produzida. Ele precisa definir a verdadeira data
do documento, sua autoria, se ele é autêntico
ou não, a qual série de documentos ele pode
ser relacionado. Ele avalia ainda as informa-
ções e as ideias que constam do documento,
comparando-as com o que já se sabe sobre o
período e com outros documentos. Até docu-
mentos considerados falsificados (de autoria
falsa ou que não são do período que se alega)
podem trazer informações importantes, por-
que testemunham um interesse em jogo no
processo histórico que levou à falsificação.
AvAliAndO fOntes históricAs
Além disso, essa seleção é feita de acordo com o tema, o interesse
e outras variáveis adotadas pelo pesquisador. Assim, diferentes historia-
dores utilizarão diferentes fontes, e isso implicará reflexões e resultados
também diversos. O modo como um historiador aproveita as informa-
ções dos documentos também não é sempre o mesmo, e isso constitui
mais um filtro entre ele e o passado.
Variáveis como essas nos ajudam a compreender que os documen-
tos não nos permitem “ver”, mas sim “ler” o passado. O historiador faz
uma leitura do passado, e leitura significa a produção de uma interpre-
tação específica.
Um exemplo interessante é a famosa Carta de Pero Vaz de Caminha ao
rei de Portugal, dom Manuel. No final do século XIX, ela foi tida como uma
espécie de “certidão de nascimento” do Brasil (considerando-se sob essa
visão que o Brasil “surge” com a chegada dos portugueses). O documento
- que descreve a terra, os habitantes, a fauna e a flora – esteve esquecido
por três séculos em um arquivo português, até ser recuperado e publicado
por historiadores brasileiros. Esses historiadores estavam interessados em
construir uma narrativa que valorizasse o nascimento da nação brasileira.
Nessa interpretação, destacavam a exuberância da natureza e os aspectos
exóticos dos povos que aqui estavam. Apenas no século XX esse docu-
mento foi submetido a outra análise, mais crítica. Os historiadores passa-
ram a enxergar na carta de Caminha uma importante fonte a respeito da
mentalidade dos navegantes europeus – que julgavam o que viam com a
superioridade do conquistador – analisando a maneira como descreviam
as populações indígenas que encontraram, entre outros aspectos.
p Capa do filme O descobrimento do Brasil , do cineasta humberto Mauro, de 1937. Considerado o pai do Ci- nema Novo (movimento voltado es- pecialmente para a realidade social e econômica brasileira), o cineasta humberto Mauro realizou uma su- perprodução baseada na carta de Pero Vaz de Caminha e em outras fontes históricas, como o quadro A primeira missa no Brasil (reproduzido ao lado), pintado em 1860 por Victor Meireles. ele foi responsável pela fotografia de diversos filmes oficiais do governo Getúlio Vargas e realizou uma obra de valorização da nação brasileira. o próprio filme é, assim, um documento revelando uma inter- pretação da história do país.
Jaime Acioli/Museu Nacional de Belas Artes - Iphan/MinC, Rio de Janeiro, RJ.
Divulgação/Arquivo da editora
12 Bastidores da história
Evidentemente, nenhum historiador faz a leitura que bem entender
sobre os documentos. Os conhecimentos são discutidos por outros estu-
diosos. Se algum historiador for arbitrário ou mesmo desonesto no uso das
fontes, seu trabalho será desvalorizado e desacreditado entre os colegas.
O importante é ter claro que a História não é uma narrativa úni-
ca e definitiva de tudo o que aconteceu. Ela é construída com base em
vestígios, fontes e documentos, e grande parte dessas informações tem
autores e intenções.
As múltiplAs formAs de exercitAr o poder
É preciso considerar que, ao longo da História, muitas vezes deter-
minados grupos sociais se apoderaram dos destinos de uma coletividade.
Passaram a escrever a História por meio da construção de um discurso
quase uniforme da realidade social, encobrindo diversidades, conflitos,
desigualdades e contradições. Entretanto também existiram – e existem
- outros tipos de discurso: as memórias de idosos e os relatos de suas vi-
vências e modos de vida; os discursos criminais sob a ótica dos réus e das
testemunhas; os registros materiais de intervenção no espaço geográfico;
enfim, existem muitas vozes e muitos suportes por meio dos quais elas se
manifestam e podem ser estudadas.
De modo geral, podemos dizer que a escrita da História é o resultado
de uma série de disputas entre grupos sociais e suas formas de compreen-
der e explicar o mundo. Quando um grupo chega ao poder e coloca seu
projeto em prática, uma de suas primeiras atitudes é procurar justificar,
no campo das ideias, sua força e as estratégias de sua atuação. Para isso
recorre ao passado e encontra uma maneira que lhe pareça adequada de
contar e explicar os eventos ocorridos.
Estar no poder implica ter acesso à maior parte dos recursos huma-
nos e técnicos com que a sociedade conta (intelectuais; funcionários; a
estrutura policial, educacional, religiosa e de comunicação) e a possibili-
dade de influenciar – incentivando, desestimulando e até proibindo – o
que as pessoas falam, leem e escrevem.
Isso não quer dizer que os outros grupos, que não estão no poder,
não possam contar o passado do seu ponto de vista. Ainda que não re-
gistrados pelo discurso oficial, esses grupos podem se manifestar, atuar
politicamente, registrar e escrever sua
própria história, mesmo que utili-
zando caminhos alternativos. Ocorre
que, em contextos governamentais
não democráticos, esses registros não
oficiais são encobertos, adulterados,
invalidados e até destruídos. Se não
houver meios de se perpetuar (pela
criação e pela preservação dos do-
cumentos escritos, orais ou visuais),
as memórias e os registros de certos
grupos podem ser silenciados, provo-
cando uma lacuna nas formas de re-
presentar o passado.
Agência France-Presse/Arquivo da editora
Fotomontagem unindo as faces do suposto terrorista hussain osman e do brasileiro Jean Charles Menezes, morto em operação policial no dia 22 de julho de 2005 no metrô de Londres, duas semanas após a ocorrência de atentados terroristas de homens- -bomba no sistema de transporte lon- drino. a polícia britânica apresentou a fotomontagem justificando a morte do brasileiro como resultado de uma sé- rie de eventos imprevisíveis e trágicos, sendo um deles a sua suposta seme- lhança com hussain osman. a família alega que a foto utilizada do suposto terrorista não era a mesma a que os policiais tinham acesso no dia da ope- ração policial. eles dizem que Jean Charles estava diferente da imagem utilizada e que a fotomontagem cons- trói uma semelhança inexistente. o caso foi concluído com um acordo ex- trajudicial, mas levantou-se a dúvida sobre a interferência das autoridades policiais na produção das fotos. P
14 Bastidores da história
agrária e a preservação cultural. É visível na documentação produzida
pelos colonos, por exemplo, a incorporação de práticas indígenas agrí-
colas e alimentares em seu modo de vida, demonstrando que, embora
a cultura europeia tenha predominado, o processo de conquista não foi
apenas impositivo e destruidor, mas houve um intenso contato cultural.
Assim, a história das populações nativas – e do processo de dominação,
aculturação, resistência e permanência cultural – está, aos poucos, sendo
recuperada e reelaborada.
Hoje as informações estão por toda parte, vindas simultaneamen-
te das mais diversas fontes e representando muitas “vozes”. Isso signifi-
ca múltiplas possibilidades de apreender o presente. Ao mesmo tempo,
contudo, em razão do caráter fragmentário dessas informações, torna-se
difícil a elaboração de um quadro geral, articulado, da realidade em que
vivemos.
A História pode nos servir de referencial para esse processo de com-
preensão do mundo, para o exercício da cidadania e para a busca de uma
vida pessoal mais satisfatória, permitindo compreender melhor o mundo
em que vamos atuar e realizar nossos projetos, apoiados na reflexão so-
bre nossas identidades pessoais.
Em síntese, o historiador e o estudante, ao pesquisarem o passa-
do – motivados por preocupações do presente –, não podem deixar de
considerar que tudo o que lhes chega é apenas uma das versões possíveis
de um tempo e de um lugar. E eles próprios, em suas reflexões e análises,
também produzirão apenas uma das versões possíveis nesse trabalho di-
nâmico de interpretar a História.
Vale observar que a relação presente-passado exige cuidados: como
já dissemos no início desta seção, é preciso fazer sempre as necessárias
distinções entre os tempos. Por exemplo, cometemos equívoco histórico,
denominado anacronismo , se julgamos determinados eventos do pas-
sado, de outras culturas, com outras regras morais, com base na cultura
e nos valores de nossa sociedade. Em outras palavras, entre o atual e o
antigo sempre se impõem atenção, cuidado, reflexões, relativizações e
discussões, mas nunca censura ou juízos de valor.
A ideia de relativismo cultural nos foi legada pela Antropologia. O
antropólogo norte-americano Franz Boas (1858-1942) dizia: “A humani-
dade é uma. As civilizações, muitas”. A moralidade, as práticas e as cren-
ças funcionam de formas diferentes em culturas diferentes; por isso não
é possível julgar uma cultura de acordo com os pontos de vista de outra.
o conceito de relatividade cultural afirma que os padrões do certo e
do errado (valores) e dos usos e das atividades (costumes) são relativos à
cultura da qual fazem parte. Na sua forma extrema, esse conceito afirma
que cada costume é válido em termos de seu próprio ambiente cultural.
hoeBeL, edward adamson; Frost, everett. Antropologia cultural e social. rio de Janeiro: Cultrix, 1996. p. 22.
Antes dessa contribuição da Antropologia, predominava na cultura
ocidental a ideia de que as sociedades evoluíam das mais simples para as
mais complexas, e assim existiriam grupos “atrasados” ou “adiantados”.
Contudo, sociedades que se organizavam de formas diferentes das que
hoje predominam, por exemplo, não podem ser consideradas “atrasadas”
ou inferiores por não dominarem tecnologias amplamente difundidas.
aculturação: refere-se ao processo de absorção de uma cultura pela ou- tra, resultando em uma nova cultura que conserva aspectos da inicial e da absorvida. Pode acontecer quando um grupo impõe seus traços culturais aos grupos dominados ou como con- sequência dos contatos e interações entre diferentes culturas. No entanto, os colonizadores europeus também adotaram práticas das populações nativas do continente americano.
Antropologia: do grego anthropos , ‘homem’, e logos , ‘razão’, ‘pensamen- to’. Ciência que estuda a humanida- de de maneira abrangente, desde os aspectos físicos (ou biológicos) aos aspectos culturais, que incluem cren- ças, costumes, rituais, linguagem, re- lações de parentesco, etc.
Bastidores da história 15
Chegou-se à conclusão de que nenhuma cultura pode medir a quali-
dade das outras com base em sua própria cultura, pois cada uma tem um
sistema de valores próprio que não pode ser imposto às outras. O texto
a seguir aborda o impacto e a importância dos estudos do antropólogo
Bronislaw Malinowski.
Com Malinowski, a antropologia se torna uma “ciência” da alteri-
dade, que vira as costas ao empreendimento evolucionista de reconsti-
tuição das origens da civilização e se dedica ao estudo de lógicas parti-
culares das características de cada cultura. o que o leitor aprende ao ler
Os argonautas é que os costumes dos trobriandeses, tão profundamente
diferentes dos nossos, têm uma significação e uma coerência. Não são
puerilidades que testemunham de alguns vestígios de humanidade, e
sim de sistemas lógicos perfeitamente elaborados. hoje, todos os etnó-
logos estão convencidos de que as sociedades diferentes da nossa são
sociedades humanas tanto quanto a nossa, que os homens que nelas
vivem são adultos que se comportam diferentemente de nós, e não ”pri-
mitivos”, autômatos atrasados [...] que pararam numa época distante e
vivem presos a tradições estúpidas. Mas nos anos 20 isso era propria-
mente revolucionário.
LaPLaNtiNe, François. Aprender Antropologia. são Paulo: Brasiliense, 1988. p. 81.
leiturAs do tempo
A História é o estudo das ações humanas ao longo do tem-
po e em determinado espaço geográfico. As diferentes formas de
organização, constituição e ocupação do espaço fazem parte do
campo de estudo da Geografia, uma das ciências com a qual os
estudos historiográficos dialogam. Mas como definir o tempo?
Santo Agostinho, um dos grandes filósofos do cristianismo,
dizia que, se não lhe perguntassem, sabia o que era o tempo; mas,
se tivesse de defini-lo, não saberia. Existem muitas temporalida-
des possíveis e diversas maneiras de explicar e sentir a passagem
do tempo.
Todos nós convivemos com
fenômenos temporais: dia, noite,
estações do ano, crescimento, en-
velhecimento. Várias civilizações
estabeleceram uma divisão do
tempo adotando como base a ob-
servação dos ciclos da natureza: o
movimento da Terra, do Sol e da
Lua. Além da Lua e do Sol, o ca-
lendário maia, por exemplo, basea-
va-se na observação do planeta
Vênus. Muitos calendários surgi-
ram da análise dos astros, por sua
influência sobre as plantações e a
necessidade de definir os tempos
de plantio, poda e colheita.
alteridade: condição do que é outro, do que é distinto. Colocar-se na con- dição do outro, perceber o outro. Os argonautas : a obra Os argonautas do Pacífico Ocidental , de Malinowski, foi publicada em 1922 como resulta- do dos estudos desenvolvidos durante três expedições aos arquipélagos da Melanésia da Nova Guiné, principal- mente nas ilhas trobriand. os tro- briandeses são os nativos, descritos como povos pescadores, comercian- tes e navegadores. etnólogos: estudiosos de povos e suas culturas.
p retrato de família inglesa em 1910.
p Cartão-postal que mostra o Palácio da Liber- dade, localizado na Praça da Liberdade, em Minas Gerais, inaugurado em 1898. Bob Thomas/Popperfoto/Getty Images
Reprodução/Coleção particular
Buyenlarge/Getty Images
Calendário norte-americano de cerca de 1900, distribuído pela empresa de colheita- deiras Mc Cormick.
P
Bastidores da história 17
É lógico que esses períodos só existem mentalmente, pois a vida das
pessoas não muda de modo inesperado na passagem de um período para
outro. Datas, períodos, eras e outras formas de demarcar o tempo histó-
rico são convenções e orientam a leitura do passado, mas não represen-
tam mudanças definitivas e rupturas em todos os aspectos da sociedade.
Após uma revolução, por exemplo, algumas condições de vida ou o siste-
ma de governo podem ser modificados de maneira brusca, mas o modo
de pensar, as práticas e atitudes diante dos acontecimentos mudam mais
lentamente, em ritmos diversos. Entretanto, estudando os períodos his-
tóricos podemos compreender a História de uma forma mais ampla e
realizar divisões de acordo com alguns critérios, como organização so-
cial, relações de trabalho e sistemas de governo.
O tempo histórico, portanto, não é regular, contínuo e linear como
o tempo físico ou cronológico, porém composto de diferentes durações ,
já que está vinculado às ações de grupos humanos e aos conjuntos de
fenômenos – mentais, econômicos, sociais e políticos – que resultam
dessas ações. Podem existir tantas divisões quantos forem os recortes ou
pontos de vista: cultural, político, ideológico, etc. Por exemplo, para al-
guns historiadores, o século XIX começa não em 1801, mas em 1789 (iní-
cio da Revolução Francesa), e termina não em 1900, mas em 1914 (início
da Primeira Guerra Mundial). Já o século XX teria se iniciado em 1914 e
encerrado em 1991, com o fim da União Soviética. Isso porque essas datas
- início da Revolução Francesa e início da Primeira Guerra Mundial – de-
limitam um período em que os eventos seguem algumas linhas mestras.
Evidentemente não se trata de séculos no sentido de tempo cronológico,
mas de tempo histórico.
Com base nessa ideia – de que o tempo das ações humanas não se-
gue exatamente os relógios e os calendários –, outros historiadores argu-
mentam que o tempo histórico pode ser de longa , de média ou de curta
duração. Nas relações do ser humano com o meio natural que o cerca e
nas modificações climáticas e geográficas, por exemplo, essas mudanças
se dariam de maneira bastante lenta. Nas formas de organizar a produção,
a distribuição e o consumo dos bens materiais (economia) e nas relações
políticas, as mudanças seriam, em uma conjuntura de tempo médio, mar-
cadas por rupturas e permanências; por fim, o tempo de curta duração é o
tempo do evento, do fato, aquele que tradicionalmente era valorizado na
História que se escrevia no século XIX, como vimos no início.
p tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos (1453). detalhe de afresco do Monastério Moldovita, na Moldávia, romênia, feito em 1537.
p Manifestantes contrários à monarquia no Bahrein pro- testam na capital do país, Manama, em março de 2011.
Alfredo Dagli Orti/The Art Archive/Other Images/
Monastério Moldovita, Romênia.
Ammar A.rasool/ZUMA Press/Corbis/Latinstock
18 Bastidores da história
nascimento de Jesus Cristo
século XXI a.C.
2100 a.C. a 2001 a.C.
2000 a.C. a 1901 a.C. …
400 a.C. a 301 a.C.
300 a.C. a 201 a.C.
200 a.C. a 101 a.C.
100 a.C. a 1 a.C.
1 a 100
101 a 200
201 a 300
301 a 400 …
1901 a 2000
2001 a 2100
século XX a.C. …^
século IV a.C.
século III a.C.
século II a.C.
século I a.C.
século I
século II
século III
século IV (^) …
século XX
século XXI
a.C. (^) d.C. 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
…
… …
…
p Como a história lida com longos períodos de tempo, costuma-se usar uma unidade de tempo denominada século , equivalente a cem anos. o mecanismo de contagem dos séculos é similar ao dos anos. Por exemplo: o século XX vai de 1901 a 2000; o século XV, de 1401 a 1500; o século XXi, de 2001 a 2100; e o século iX a.C, de 801 a 900.
Concluindo: embora muitos no Ocidente não sejam cristãos, nossa
periodização baseia-se na ideia de que o surgimento histórico de Cristo
é tão importante para a humanidade que o tempo deve ser dividido em
dois períodos: antes de Cristo (a.C.) e depois de Cristo (d.C.) (ver esquema
a seguir). Também por isso as sociedades cuja religião majoritária segue
essa crença (como as das Américas pós-ocupação europeia e as da Euro-
pa) são chamadas, em conjunto, de civilizações cristãs ocidentais.
Logo no começo do cristianismo ainda não se contava o tempo a partir do nascimento
de Cristo. Isso só viria a ocorrer algumas décadas depois do fim do Império Romano do
Ocidente, em 525 d.C., quando Dionísio, o Exíguo (na época, abade de Roma), fundamentado
na informação sobre a idade de Roma e em detalhes históricos do período do nascimento
de Cristo, estabeleceu o ano em que Jesus teria nascido. Com esses dados, Dionísio definiu
o ano 1 do calendário cristão como o ano 754 da fundação de Roma. Em 1582, o papa Gre-
gório XIII reformou o calendário, motivo pelo qual o calendário cristão ocidental é chamado
de gregoriano.
O surgimentO dO cAlendáriO cristãO
Medir o tempo histórico e dividi-lo em períodos (ou seja, periodi-
zá-lo ) é igualmente um ato arbitrário, pois a escolha do ponto inicial da
contagem e dos eventos mais importantes é feita por algumas pessoas,
segundo sua compreensão do mundo e da existência humana, e seguida
por outros, sem que necessariamente exista uma concordância de todos.
As periodizações também são expressões da cultura e evidenciam os
principais valores de uma sociedade ou civilização.
Vejamos um exemplo. Há pouco mais de uma década chegamos no
ano 2000, mas os judeus já passaram dessa data há muito tempo (seu
calendário está sempre 3 761 anos à frente do cristão). Já os que seguem
o islamismo ainda não chegaram no ano 2000 (a contagem de seu calen-
dário inicia-se no ano 622 do calendário cristão). Afirmar que “chegamos
no ano 2000” significa que, para nós, o tempo começa a ser contado a
partir de um evento ocorrido há 2 mil anos, aproximadamente – no caso,
o nascimento de Jesus de Nazaré, chamado de Cristo.
A cOntAgem dOs séculOs