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É E E & - 2 E 5 [o] a ê < Z ANO | - Nº 1 - NOVEMBRO 2003 www -historiaviva.com.br O medo persegue 4 o RIO DE JANEIRO. | Desde 1555 O laboratório de Hitler: um milhão de mortos na GUERRA CIVIlga” ição JUDAS, o apóstolo maldito ANO 1 - Nº 1 - NOV 2003 - R$ 8,90 Polêmica: a P COZINHA MINEIRA, quem a “diria, é paulista E MAIS: à História em Cartaz, Gandhi, Guerra de Secessão, a Revolução do www. historiaviva.com.br COQUETEL Arte COLEÇÃO LIVROS DE/OURO H O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO Guerra de Secessão: modelos antagônicos de economia nas raízes do conflito entre o Norte e o Sul dos EUA DOSSIÊ: NAPOLEÃO O general francês alargou fronteiras e impôs divisões territoriais arbitrárias na construção de uma nova Europa AS RAZÕES DE JUDAS O mais fiel seguidor dos apóstolos acreditava que Jesus ressuscitaria para liderar os judeus contra à dominação romana O TCHECO QUE DEU SAMBA Ao criar a primeira gravadora brasileira, o SIQÂNTONTH tcheco Frederico Figner iniciava o estabelecimento da música popular brasileira como indústria cultural NA TERRA, AS RAÍZES DO ATRASO Análise dos modelos de distribuição de terra 34 A a À e : de UM CAMPOJDE PROVAS PARA HITLERA fa, E er nos Estados Unidos e no Brasil mostra as e a razões do anacronismo fundiário nacional O RIO DE JANEIRO E O MEDO A população carioca convive com o medo de invasões e agressões desde os A coleção que é indispensável para a sua casa aumentou. À Ediouro está lançando tempos coloniais O Livro de Ouro da Evolução e O Livro de Ouro das Revoluções. COZINHA MINEIRA, Para saber mais sobre esses livros e sobre a coleção ricamente ilustrada que é PATRIMÔNIO PAULISTA refe rência em temas como Os pratos típicos de Minas Gerais são, na verdade, oriundos de São Paulo MIGUELISTAS E PEDRISTAS e muito mais, visite [0] site www.ediouro.com.br. Os irmãos lutaram entre si na guerra civil que 8) dividiu Portugal de 1832 a 1834. Até hoje as duas correntes estão presentes na política do país A venda nas principais livrarias de todo o Brasil. Ediouro PR PEA, CITE DE LANÇAMENTO DE PONTE Um dos problemas da sociedade con- temporânea é a difusão do conhe mento. À produção historiográfica formal, por exemplo, costuma estar restrita aos muros acadêmicos, muito mais altos e herméticos do que a maio- ria consegue supor. Quando há esfor- ços de difusão para um público maior, a qualidade nem sempre acompanha a boa intenção. Toda ponte entre o dis- curso acadêmico e o crescente interes- se de um público mais amplo por co- nhecimento histórico sólido e crítico deve ser incentivada. Espero que a re- vista História Viva seja esta ponte e que possa dar a sua parcela no esforço da construção da cidadania maisativa, tão demandada neste momento. LEANDRO KARNAL Chefe do Departamento de História da Unicamp — SP viva www.historiaviva.com.br Luis Fernando Ayerbe Professor da Unesp, Unicamp e PLICISP. Foi pesquisador da Universidade de Harvard DIFUSÃO DE CONHECIMENTO imprimentar a T s em História. RITA DE CÁSSIA BARBOSA DE ARAÚJO Diretora do Instituto de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco = Recife = PE DE HISTÓRIA it Viva será um meio cional do que se realiza ponto de vi una no campo da História. ARNO ALVAREZ KERN Coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da PUC-RS, Pós-doutor pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (Paris, França) GRANDE PÚBLICO L » principalm ad MET E compreender e a dos outros MARIA DO SOCORRO FERRAZ BARBOSA Coordenadora do Programa de Pós- Graduação em História da UFPE — Recife — PE LACUNA já que a qualidade da revista é bastante reconhecida na Franç REGINA GADELHA Professora do Depto. de Economia da FEA e PUCISE PhD em História pela Universi- dade Paris-X (Sorbonne, França) PAIXÃO POR HISTÓRIA umas am pensa emacs maio mes, FULL JAZT Já está na hora de você parar P receber informação sem conteúdo. www primeiraleitura.com.br Por dentro dos fatos, à frente da história. Arte da África desvendada A África marca o Brasil em formas plurais — o carnaval, a dança, os costumes, a mestiçagem ca música. O público brasileiro poderá conhe- cer melhor a rica e variada cultura africana na mostra Arte da África, o maior evento sobre o continente negro já realizado na América Lati- z no Centro Cultural F Brasil, no Rio de Janeiro. na, em ca anco do Durante quase três meses exposição apre: sentará cerca de HM) peças do acervo do Museu Ernológico de Berlim. São obras de arte e obje- tos de 31 países da Áfri a subsaariana produzi- dos entre os séculos XV e XX — esculturas de madeira e bronze, máscaras, tronos, objetos de uso pessoal, fig; 1s de ritual e poder, instrumen- tos musicais, entre Outros. Em oposição a muitas mostras ee arte africa- ne, ester não se Pestrenge et escuultianas fegurativas e amelscareas, tivas tuiegra teembém obras importantes da cultura cotidiana, como jóias de ouro é muir- fim, pentes com deconições fegurativas, encostas pana «a nuca, afirma Peter Junge, curador da mostra é curador-chefe do departamento de África do museu berlinense. A mostra está dividida em três temas: escul- tura figurativa, máscaras e instrumentos musi- cais e objetos de uso cotidiano. À maioria das peças é das regiões do Congo, República de Camarões e Angola. De acordo com Junge, primeira parte da exposição reúne objetos v culados ao poder político, como retratos de reis e tronos, € outros c uja função cor siste em man- ter o equilíbrio do universo, como figuras de antepassados e bonecas de fecundidade. O módulo dedicado às máscaras e aos ins- trumentos musicais retrata as múltiplas capaci- dades artísticas do africano, além de sua habili- dade es at € manual, expressa nos adomos das máscaras e nos tambores e nas marimbas. HISTÓRIA VIVA + NOM 2003 Por último, são apresentados os objetos do cotidiano. É importante observar nos pentes, o talento dos nas colheres, nos vasos e nas jói africanos para o desenho. E sua influência nos movimentos estéticos curopeus, como o cubis- mo de Picasso e o expressionismo alemão. Além disso, um passeio pela mostra permi- te perceber como a África avançou suas fror ras em direção ao Brasil, nação com o maior número de afro-descendentes do mundo. A África está no camaval, no samba e nos terrei- ros de candomblé. O reencontro com a arte africana é acima de mudo, um momento de memária, diz o ministro da Cultura, Gilberto Gil, no texto de apresen- tação do livro que acompanha a mostra. Arte da África segue para Brasília no dia 19 de janeiro de 2004 e, para São Paulo, no dia 28 do mesmo mês. Arte na África — Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Rio de Janeiro, De | 4 de outubro de 2003 a 4 de janeiro de 2004. Horário: terça a domingo, das | lh às 20h, quinta, das | lh às 22h. Entrada franca. Rua Primeiro de Março, 66 Centro — RJ — Tel: (21) 3808-2020 e-mail: ccbbrio(Dbb.com.br AV (HIS TORIAN TVA COM BR Tiradentes na visão de Portinari (0) que se passou na cabeça de Cân- dido Portinari du- rante a criação do ç Painel Tiradentes, obra que narra a trajetória de um dos maiores heróis do país? Todo o proces- ção da pintura, com répli- so de elabora cas dos estudos de E Aa g Pc rtinari, pode ser O Painel conferido no Me- Tiradentes, de Portinari morial da América Latina até 30 de dezembro, quando será comemorado o centenário de nascimento do pintor. [0] painel, de 17,70 por 3,09 metros, foi criado a pedido do ar- quitero Oscar Niemeyer na década de 40. Para sua execução, Portinari aprofundou-se em leituras sobre a Inconfidência Mineira, movimento emancipacionista do final do sécu- lo XVIII que resultou na execução de Tiradentes, e pesquisou a indu- mentária da época. O resultado desse mergulho de Portin na época do Brasil Colôn é apresentado na mostra Portinari e Painel Tiradentes: o processo de cri- ação, Estão expostas 18 réplicas dos desenhos do pintor, além de fotogra- fias do artista realizando a obra e có- pias de cartas trocadas com Niemeyer discutindo a pintura. O Painel Tinadentestambém en- contra-se exposto no Memorial da América Latina (Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Fun- São Paulo). As vi feitas de terça-feira a domingo, di d is podem ser 9h às 18h. A entrada é franca. E NINA VII Gangues de Nova York Aqueles que a tiram a alguns filmes por causa de seu conteúdo histórico geralmente se desapontaram. Produções como Apocalipse, Boi- nas Verdese O Mais Longo dos Dias não aprofun- dam nosso conhecimento sobrea história das guer- ras que retratam, O fato de os temas bélicos, por si só, possuírem enorme apelo de pú ricos em episódios interessantes, talvez justifique o porquê de essas produções se limitarem ao maniqueismo do Bem contra o Mal, O que os produtores americanos teriam feito sem as le; nães e japone- OCS de renegados a ses 5€' mpre presentes em suas ficções? O pano de fundo para Giangues de Nova Fork, de Mar- tin Scorsese, está no horizonte da janela de meu aparta- mento, À majestosa Manhattan, agora sem as Torres Gê- alguns quilômetros do Brooklyn e do airros onde os atu migrantes lutam pelo que restou de suas mesquinhas f; as masculinas de poder. Nova York é uma cidade violenta, qualidade que certa- mente corre em suas velas e artérias. O filme narra a história da cidade entre 1840 e 1863, com roteiro centrado no epi- sódio da Draft Rior, revolt causada pela in- satisfação do povo americano com a convo- cação militar obrigatória para a Guerra de Secessão. Subornos e corrupção, até mesmo tai as reais e co- o noscírculos judi eram práti muns, tanto no governo como na políci al Fatos. filme não ignora esses Martin Scorcese retrata fielmente as san- guinárias contendas entre as gangues de Bow- ery e Five Points, a última controlando a par- te baixa de Manhart — hoje uma área comple mente recuperada e transformada em zona turi: A história republicana brasileira O portal do Centro de Referência da História Repu- blicana Brasileira fornece um painel significativo da His- tória do Brasil desde a Proclamação da República até o fim do governo Juscelino Kubitschek. Fruto de uma parceria entre o Museu da República, a Perrobras e universidades brasileiras, o portal divide-se em duas partes: o site do museu e o República online. À primeira apresenta as coleções do museu referentes aos lico, e serem — Daniel Day-Lewis e Leonardo DiCaprio em cena do filme de Scorcese ão contra os imigrantes irlandeses na época é bem do- cumentada e explorada pelo filme, Além disso, parece ter sido fiel ao texto original de Herbert Asbury, escrito em 1928. Obviamente, cor tográficas, o tempo histórico é resumido para permitir o O Em outras produções € desenrolar da trama, cujos personagens são fictícios. Não acredito que Amsterdan Vallon (Leonardo DiCaprio) ti- vesse vida longa numa gangue do século XIX. » histórica em Gangues ele Nove York reside A prec inteiramente baseada nas fotografias de Points, então uma região pobre, com paisagem ur; nacenogra predominantemente composta por favelas. Hoje, abriga Chinatown e prédios de repartições públicas. A obra de Scorsese tem o sabor e o deleite próprios da História. Afinal, o diretor é íntimo de Nova York. O filme ecoou em sua imaginação por décadas, e é fiel aos relatos históricos. À violência daquela época realmente foi experimentada pelos irlandeses. Eu sou um imigran- te irlandês de um tempo posterior ao do filme, mas a memória coleciva de minha família registra o horror e a esperança de Nova York, assim como Gangues ee Nova Vorko faz. Não é um livro de História, mas também não é uma visão histórica distorcida. Charles McCullagh, morador de Manhattan (Nova York), é jornalista e PAD em Filosofia e Psicologia. ==] presidentes que dirigiram a o país de 1889a 1961 ca Es segunda aborda a história. wrerw republicaontine.orgbr brasileira sob diferentes as- pectos — cultural, econômico, administrativo, social, dentre outros. O material apresentado no portal inclui registros e relatos produzidos por estadistas, jornalistas, HISTÓRIA VIVA, + ND 2003 Maravilhas da arquitetura de todos os tempos O National Geographic Channel, exi- bido pela TVA, Net e Sky, estreou no dia 1º de novembro a série Construções Monn- mentais, que apresenta algumas maravilhas da arquitetura de todos os tempos, das pi- râmides do Egito ao € O primeiro programa, Pirâmides do Egito: Segredos Revelados (1, às 18 h e 22 h), acompanha as escavações mais re- nal do Panamá. centes no Egito, e procura desvendar dois érios d História: quem e como cons- A história do ca- truiu a pirâmide de Gi nal do Panamá será contada no dia 15 de Pirâmides do Egito, as novas descobertas dos arqueólogos na terra dos faraós Sátira à Rússia comunista O canal Fox exibe, em novembro, o filme A Revolução elos Bichos( Animal! Farm, EUA, 1999), Eibula sobre corrupção e trai- ção que recorre a figuras de à iso comunista” proposto pela Rússia na época de Stalin. O filme, adaptação do romance clás- sico de George Orwell, narra a história da revolta dos animais de Manor Farm con- tra 05 humanos. Liderados pelos porcos Snowball e Napoleon, os animais tentam pica. Mas Napo- leon é seduzido pelo poder, afasta Snow- criar uma sociedade u ball de seu caminho e estabelece uma di- tadura tão corrupta quanto a sociedade de humanos. Neste filme, a história ga- Wi HISTORIAVIVALCOM, BR novembro (19 he 23 h). O documentário narrão trabalho de mais de 100 mil operá- rios e técnicos envolvidos na construção do canal, empreitada que durou quase 50 anos a um custo total de US$ 600 milhões. O Enigma da Torre de Pisa (29/11, às 19he 23h) enfoca uma equipe internaci- onal de cientistas preocupada em evitar a queda aparentemente inevitável da Torre de Pis engenheiros c arquitetos que h O programa revela as teorias de anos estu- dam o prédio. À torre não foi projetada para ser inclinada. Outros documentários: Pirâmides do Egito: Segredos Revelados = Hll,às 18h e 22 h; Grandes Obras: Cú- pulas -BilI,às IBhe 22 h; Os Mistérios de Stonehenge = 8/1 |,às 19he 23 h;Gran- des Obras:Túneis - 15ll |,às [8h e 22. h; O Canal do Panamá - 15/11 ,ás |9he 23 h; Grandes Obros: Barragens = 221 |,às 18h e 22 h; Grandes Obras: Pontes - 2H1|,às I9he 23 h;Grandes Obras:Arranho-céus = 291 t,às |8he 22 h;O Enigma do Torre de Pisa = 291 1,às |9he 23h. Animais representam as fraquezas humanas em A revolução dos bichos, exibido na Fox nha a primeira versão com atores e ani- mais, O responsável pela façanha é o tor John Stephenson, que misturou ani- mais treinados e tecnologia. O filme será apresentado nos dias 15 e 30 de novembro, ás 22 h, pelo canal Fox, exibido pela TVA, Net e Sky, “o | EDWARD KLEIN A Maldição dos * XENNEDY ó Segredos dos Kennedy do O ano do quadragésimo anive do: ato do presidente John Ken- nedy foi escolhido para o lançamento, nos Estados Unidos, de The Kennedy Curse, do jornalista Edward Klein, tra- duzido pela Ediouro com o título de À Maldição elos Kennedy (268 págs.). Klein, ex-editor de The New York Times Maga- zine e da Nemstecek, cobriu a campanha eleitoral de Kennedy, em 1960. Neste livro, ele analisa o comportamento da família a partir de Patrick Kennedy, imi- grante irlandês que chegou ao Novo Mundo em 1849, e mostra como a ex- periência da pobreza e da humilhação gerou no clã o desejo obsessivo de poder eriqueza. Para Klein, a personalidade dos Kennedy possui um padrão psicológico subjacente, produto de várias in Aluências, responsável pelo seu comportamento arrogante e temerário. A partir desse pres- suposto, o autor examina todas as tra- gédias que se abareram sobre os Kennedy, revelando como o sentimento de onipo- tência contribuiu para colocá-los em rota de colisão com a realidade. Segundo o autor, a família sempre se sentiu acima do comum dos mortais, imune às leis e, de certo modo, pre xegida por Deus. E, espe- cialmente, digna de ser venerada. LM, 13 Ruinas da igreja de São Miguel Arcanjo: monumento nacional de inspiração barroca que merece ser visto Uma viagem pelas missões jesuíticas Quem quiser apreciar Fu as tão importantes quanto as do Coliseu e da Acrópole deve visitar a pequena e simpática cidade de São Miguel das Mis- sões, no Rio Grande do Sul. A avaliação é do con- sultor da Unesco Roberto Di Stefano, que considera os remanescentes da igreja de São Miguel o testemn- nho mais imponente e bem preservado da arquitetura Jesuítica misstoneira. A cidade, a 500 km de Porto Alegre, abriga o sí- tio arqueológico de São Miguel Arcanjo, declarado patrimônio mundial |! longo do século XVII em terras que hoje pertencem à humanidade pela Unesco, é uma dos 30 missões jesuíticas formadas ao r ao Brasil, Paraguai e à Argentina. Eram povoados fundados por padres espanhóis cuja missão era evangelizar os índios guaranis, nativos da região. A principal atração do sítio arqueológico de São Miguel é a igreja, com sua monumental fachada de 30 metros de altura. À construção, de inspiração barroca, ne com seus blocos de mais de mil impressiona o vis quilos e suas paredes com espessura de até três metros. Da planta do povoado original, chamado de re- dução, restaram vestígios do colégio, da casa dos pa- dres e do cemitério. Além disso, parte da história da igreja está preservada nas imagens sacras expostas no las Mi maior coleção pública missioneira, com cerca de cem Museu ões, fundado em 1940, Trata-se da esculturas de santos de madeira confeccionadas Cruz Missioneira: vestigio jesuítico do séc, XVII pelos índios e jesuítas que habitavam a redução, Todas as noites, é apresentado nas ruínas de ao Miguel o espetáculo Som e Luz, que, em cerca de 45 minutos, mostra aspectos da política, da arte e da fé da sociedade missioneira. As apresentações têm iní- cio às 21 horas durante o verão, e às 20 horas no inverno, O ingresso custa R$ 5,00, Quem tiver a oportunidade deve visitar também as ruínas de outras três reduções próximas de São Miguel 3 Nicolau, São Lourenço e São João Bs HISTÓRIA VIVA, + NOM 2003 [GASTRONOMIA Vol-au-vent, o pastelzinho socialista Charles Fourier (1772-1837), com suas propostas de construção de comuni- dades fraternas que levariam à Unidade Universal igualitária, não foi apenas um dos principais doutrinários do chamado “socialismo utópico” francês do início da era industrial. Ele sonhou com toda uma revolução gastronômica. Nela, um con- ibios dosaria os melhores e mais selho de saborosos pratos para cada organismo. Eles eram juízes de um “combate” entre igua- rias, em que a vitória final da comida racional do futuro socialista seria capita- neada pelo típico pastelzinho francês vol ste-vent, muito apreciado pelo filósofo. TEATRO O choque da greve geral de 1917 O grupo Companhia do La pre- senta ao público paulistano a peça O mer- calo do gozo. De autoria de Sérgic ide Car- valho e Márcio Marciano, o texto narr a história de um jovem obrigado a assumir a Fibrica de tecidos do pai às vésperas da gre- ve geral ocorrida em São Paulo em junho de 1917, levando-o à um dilema e à rejei- ção de sua condição de dl VV HIS TORA TVA COM BR =YOL-AU-VENT Tome 500 g de massa folhada amanteigada. Divida-a ao meio e depois abra cada parte em dois discos de 20 cm de diâmetro. Coloque um deles numa assadeira. Retire do centro do segundo disco outro de 15 cm de diâmetro. Umedeça o circulo de massa que sobrou e pressione-o levemente sobre o disco da assadeira. Fure todo o centro da massa com um garfo. Coloque o disco menor em outra assadeira. Pincele com um ovo batido o circulo de massa é o disco menor. Asse em forno pré-aquecido à temperatura de 230º C por 20 a 25 minutos. Recheie o vol-au-vent com o molho de sua preferência e cubra-o com o disco menor. Sirva imediatamente. O pastelzinho também pode ser esfriado e recheado com ingredientes doces ou salgados. Leitura contemporânea da tragédia de Antígona A comp: teatral Os Satyros apresenta uma leitura inovadora do texto Antígona, de Sófocles, centran- do-se na oposição entre o direito do cidadão e o direito do Estado. Antígona é à terceira peça da trilo- gia tebana escrita por Sófocles (Édipo Rei, Édipo em Colono, Antígona). Nes- se clássico da dramaturgia grega, a jo- vem princesa Antígona desobedece a um decreto de seu tio, o rei Creonte, e enterra O corpo do irmão, condena- do a apodrecer em via pública por ter sido considerado traidor na guerra de Tebas, Ao defender seu direito indi- vidual, Antigona entra em confronto com o direito do Estado, representa- do por Creonte, Antigona Foi traduzida e adapta- da por Rodolfo Garcia Vázquez, um dos fundadores dos Satyros, a par- tir da obra do poeta francês Lecon- te de Lisle. Para dar dimensão uni- versal à montagem, Vázquez utiliza alguns recursos tecnológicos. Assim, uma gravação, com o timbre merá- lico dos rádios instalados em carros policiais anuncia o início da tragé- dia, cuja narrativa é permeada por projeção de slides, Uma visita ao Museu do Homem do Nor- deste permite conhecer a cultura “desse homem nacionalmente brasileiro, regionalmente nor- desi ropólogo o”, nas palavras do escritor e Gilberto Freyre. No museu, o visitante percebe o homem do Nordeste tanto em seus aspectos eruditos como em seus espontâneos, popula- res, anônimos e cotidianos. Criado em 1979, a partir das id s do autor de Casa Grande E ológ; o museu, ligado à Fundação Joaquim Nabu- co, reúne cerca de 14 mil peças, heranças cul- turais do índio, do português e do africano na formação do nordestino brasileiro. O acervo caracteriza-se pela variedade e heterogene de, com peças requintadas — geralmente per- tencentes às Famílias dos senhores de engenho —ao lado de objetos muito simples, de uso co- tidiano ainda hoje entre as classes mais pobres, Cerca de 3.500 peças do acervo encon- tram-se cm exposição perm CNTE NO MASC, divididas em quatro módulos. A primeira parte revela o Nordeste anterior ao Descobrimento e mostra a cultura dos primeiros habitantes da região. Peças de palha produzidas pelos in- dios fulniós, de Pernambuco, e objetos plu- mários dos kaapores, do Maranhão, são apre- sentados ao visitante, sempre do ponto de vis- ta arqueológico e antropológico, Em seguida, o museu revela os principais aspectos da vida colonial da região. As obras de fundamen- abordam a cultura canav talimportância na formação da povo nordes- tino, pois, como já dizia Gilberto Freyre, sem r não se compreende o homem do Nor- deste. Aos olhos do visitante, vão passando moendas, utensílios para cultivo da cana e fa- bricação de açúcar « uma coleção de aguar- dente. Na mesma seção são retratados o uni- verso luso-afro-brasileiro e o Brasil holandês. HISTÓRIA VIVA + INDY 2003 O de Casa! é a terceira etapa da viagem e, por intermédio dela, o visitante conhece a in- timidade doméstica nordestina, Além de co- leções de porcelanas de famílias tradicionais da região, estão expostas as formas típicas de ar- quitetura local, desde a casa-grande do senhor de engenho até casas simples de taipa. Finalmente, no último módulo, Legado, ão representadas as manifestações socio- culturais ainda presentes no Nordeste. Utensi- lios de vendedores ambulantes - como carri- nhos de sorvete —, peças de artesanato que re- prese mam cultos religiosos, com todo o séu sincretismo; a festa camavalesca e a arte po- pular de mestres cei as, como Vitalino e Zé Caboclo, ganham destaque. No momento, o museu passa por refor- mas no piso superior, onde se encontra o Le- gado. Mas o conjunto da exposição não foi prejudicado, já que parte do acervo desse módulo foi transferida para o piso térreo. HISTORIOGRAFICO ANÍBAL O BRILHANTE ESTRATEGISTA QUE OUSOU DERROTAR O IMPÉRIO ROMANO Por Pietra Diwan O general cartaginês Anibal figura entre os maiores estrategistas de guerra da História. Co- mandadas por ele, suas tropas impuseram a pri- meira derrota ao até então invencivel exército do Império Romano. A morte de seu pai, Amilcar, assassinado pelas forças de Roma durante a Pri- meira Guerra Púnica, o faz jurar vingança. Ciente de que seria um erro tentar atingir o território inimi- go por via maritima dada a sua | ouperioriiato nos equipamen- tos navais, Anibal planeja a tra- dos Pirineus e dos Alpes, do de surpreender as legiões de Roma, Ao final da travessia,apenas |/3 asobrevive às pés- ndições climáti- ersidades das altitudes. assim, segue seu périplo em ter- ra inimiga impondo 2 a Roma sucessivas “ derrotas militares. Durante I6 anos, os cartagineses ocuparam diversos territórios na ade península itálica. A respos- 1 , ta romana foi a invasão do ; ' território cartagin ;coman- Busto de Anibal Barca dados por Cipião. O exército esculpido em pedra no de Anibal retorna à África, século 2 a.C. a q mas é definitivamente derro-. tado na batalha de Zama, dando po à à Segunda. , Guerra Púnica. |. y Desmoralizado, Anibal ES! na Bitínia, ter- ritório prussiano, onde permanece até come- ter suicídio em 182 a.C. o mn Á Após cruzar todo o território francês, em cinco meses, o exército de Anibal chegou aos Alpes. À travessia duram |E dias. O frio fez com que animais e soldados perdessem os pés por congelamento. ELEFANTES, UMA ARMA DE GUERRA r 2741 Anibal considerava os elefantes excelentes para os combates militares, embora os animais não apresentassem resistência ao frio. Os elefantes de guerra chegaram 20 Ocidente através de Alexandre, o Grande, em 325 a.C. O EXÉRCITO EM NÚMEROS 100 rm A dm Pi lda 38 FARRA Anibal e seu exército partem para o território romano com o objetivo de diminuir a potência das alianças inimigas na região. Anibal sofreu sua primeira é definitiva derrota contra o exército romano comandado por Cipiãe, Vinte mil homens do exército cartaginês morreram nessa AS BATALHAS DA SEGUNDA GUERRA PÚNICA LOCALIANO VITÓRIA TRÉBIA — 218 2.€. as “Y sa TRASIMENO — 217 a.C. e Yy E. CANAS - 216 4€. e Y TARENTO — 210 2.€. Ls * CÁPUA — 208 2. e METAURO — 207 2... La ZAMA = MR a.C, a t Com a iminência da chegada dos cartagineses, as tropas romanas preparam o ataque, quando são surpreendidas pela cavalaria de Anibal em terra firme. Quase 30 mil romanos morreram. Nesta batalha, Anibal acabou com a invencibilidade do exército romano. África em 202 2.€. [== Romanos BE Caragness Com a iminência da chegada dos cartagineses, as tropas romanas preparam o ataque. Anibal sitia o exército romano, impondo-lhe a maior derrota da história: 50 mil romanos foram mortos. ad CMUNTO ANÍBAL: ALMARÚNITETOME; ALFETE MARC GARAMGTRÍCORBISSETOCK PHOTOS; DAMAS BETTMANMÍCORBIS-STOCH PHESTO; ARTE: RICA A infância de Mohandas passará assim, coberta de ale- gorias piedosas e de sacrifícios legendários, entre maravilhas e fervor, entre curiosidade e fobia das noites indianas, que assustam sua natureza medrosa, Passado o medo, ele se en- trega aos sonhos e sobe de galho em galho “para fazer cura- tivos nas mangas”. No entanto, a tradição vem terminar com o tempo das des- preocupações. Na puberdade, o príncipe-mercador, seguindo o hábito das uniões precoces e arranjadas, casa-se com uma menina que nunca encontrara: Kasturbai Makanji. “Oh, esta primeira noite. Duas crianças inocentes que mergulhana sem saber ne oceano da vida. [..) A mulher de mete irmão havia cuidadosa- mente me explicado como agir. [..] Não sei quem explico à mi- nha mulher”, comen tará, amargo. Entregue a uma sensualida- de exacerbada, Mohandas se dedica com mais vontade às obri- gações de marido do que às de estudante, das quais o casamen- to não o dispensava. Na juventude, um aluno mediocre Na escola de Rajkor — cidade onde Karamchand Gandhi ocupa novas funções — Mohandas utiliza sua timidez como álibi, enquanto se deixa levar por sonhos concupiscentes que aprende a camuflar. “Na aula, pensava sempre em [Kasturbai) e a idéia de encontrá-la no final do dia não me abandonava”. Bem longe dos primeiros da classe, suas notas são medíocres. Ele soma ao jugo da tradição a tutela da Família e se rebela. Tendo como cúmplice um amigo muçulmano (Cheikh Mehtab), Mohandas afronta as proibições de forma desespera- da: rouba, fregiienta prostitutas baratas e, mesmo prestes a vo- mitar Chen cabra viva gemia dentro de min), come muita car- ne. E, bruscamente, tudo volta ao seu lugar, Abatido por uma doença que o deixa de cama, redescobre as atenções do filho preferido, abandona os desatinos e se torna massagista, enfer- meiro e confessor improvisado. No entanto, uma noite, Mohandas deixa a cabeceira de seu pai para, indomável, tomado pelo desejo, ocupar o leito de Kas- turbai, Enquanto o casal se entrega aos embates amorosos, o patriarca morre. Aterrado pelo remorso, Mohandas nunca se perdoará pela concessão ao instinto gonha e infeliz. [...] Se a paixão bestial não me tivesse cegado [..], à morte o teria encontrado em meus braços. [..] À vergonha LJ éter cerlido ao desejo mesmo nesta hora crítica. [..] É uma mancha que eu nunca pude apagar ou esquecer", escreve muito tempo depois, preso à contrição. O adolescente se sente ainda mais culpado, pois, logo após, Kasturbai dá a luz a uma criança que morrerá. Os sinais são evidentes e Mohandas sustenta que o castigo duplo confirma a reprovação celeste. À seus ol hos, o prazer mun- ca mais poderá ser inocente. A morte de Karamchad abala os recursos do clã Gandhi. Enfraquecer está fora de questão para o estudante. Uma incur- he ne sentia coberto de Der 24 RUSKIN,THOREAU ETOLSTOI, OS MESTRES Primeiramente marcado pelos princípios da filosofia jainista ensinados pela mãe Putlibai, o pensamento po- lítico de Gandhi também re- tira da Biblia as bases dou- trinais de sua ação, mais precisamente do Sermão da Montanha, ou do Bhagavad- y Gita, seu dicionário espiri- Rs Es obraEdE tual, Mas é em Londres que inglês, Gandhi assimila a ele descobre os mestres | glorificação do trabalho que iluminarão os passos do “faquir nu”: John Ruskin, Henry Thoreau e, principal- mente, Leon Tolstoi. Da sociólogo britânico ele retém sobretudo a glori- ficação do trabalho; do escri- tor americano, o dever de desobediência cívica; de seu irmão russo admira a sabe- — Thoreau:o “mentor da doria cristã. A leitura de O desobediência civil Reino de Deus está em vós o leva a acreditar que “quando” a Índia for livre, e a Rússia espiritualizada, não haverá mais diferenças entre elas. Então, em 1909 o estudante escreve ao conde Tolstoi e pede autorização para publicar a Carta para um amigo hin- du, escrita pelo russo e des- tinada a um revolucionário. Tolstoi concorda. Desde en- tão uma relação epistolar se estabelece entre os dois que, apesar da estima reciproca, nunca se encontram. Gandhi só podia ser conquistado pelo ideal filosófico de Tols- - * toi:“Um cristão [...] sofre sem Enoteca resistir em vez de atacar ou sabedoria cristã usar a violência. [...] Através de sua atitude em relação ao mal [..] ele ajuda o mundo a se liberar de toda autorida- de exterior”, Da simplicidade ao horror... à Torre Eiffel (“um monumento à loucura”), os dois paci- fistas se reconhecem em todos os temas. Para homenagear seu amigo, Gandhi batiza de Fazenda Tolstoi o seu segundo ashram na África do Sul, onde mora de 1910 a |913. HISTÓRIA VIVA + INDY 2003 são na Universidade de Bhavnagar revela sua falta de cultura. Um brâmane próximo da família sugere enviá-lo a Londres para estudar Direito. Ao voltar, mesmo sem o seu privilégio de casta, facilmente encontrará um emprego lucrativo, Mohandas fica exultante: “Ver e Inglaterna, a terra dos filósofos e dos poetas, o coração da civilização... Dia e noite, comendo, beben- do, andiameto, correndo, tendo, eu sonho, penso na Inglaterra e no aque farei lê”. Isso sem levar em conta a ortodoxia bramáânica. Os antigos da casta desaprovam duramente o projeto — onde se viu um deles deixar a Índia para se desgarrar nessa distante Europa? Mohandas enfrenta seu sheth (chefe) e, não sem dificuldade, obrém o consentimento de sua mãe, que, na presença de um monge, o compromete a fazer três votos: nem carne, nem vinho, nem mulher. No dia 4 de setembro de 1888, deixa a esposa e o filho recém-nascido, Harilal, sob a confiança do irmão e embar- ca para Southampton. Na Inglaterra, a catarse Assim que chega a Londres, Mohandas é mordido pela elegância e decide “se transformar em um gentleman”: colari- nho duro, cabelos gomados, chapéu de seda, aulas de dança, música e dicção. Mas, curiosamente, é nas margens do Tâmi- sa que, rapidamente, esse desgarrado encontra... a Índia. De um dia para o outro, Mohandas se afasta das vãs aparências e, longe de sua terra, torna-se o incorruptível representante dos valores que pretendia mudar. Entusiasmado pela dietética, dedica-se a propagar o vegetarianismo e fregiienta os restau- OS DISCÍPULOS vas correntes políticas do país. A doutrina da não-violência inspirou a luta contra a segregação racial nos Estados Unidos, conduzida por Rosa Parks e Martin Luther King (acima) e,na África do Sul, por Nelson Mandela (à direita) O Mahatma Gandhi sonhava com uma Índia fraterna, livre da perversa divisão em castas sociais, e aberta a todas as formas de pensamento. Guerreiro sem armas, mostrou a eficácia da não-violência, na luta contra o colonizador britânico.A dou- trina pacifista divulgada por Gandhi teve forte influência em inúmeros movimentos do século XX, principalmente no Ocidente. Na Índia, fundamenta as mais expressi- rantes locais. Em paralelo, mergulha em si mesmo, e busca no Bhagavad-Gita, o livro santo dos hindus, as primeiras li- ções de renúncia às mesquinharias do mundo. Esta busca colabora com o sucesso nos estudos. Em junho de 1891, registra-se na Ordem dos Advogados de Londres, mas decide retomar o “caminho das Índias” o mais cedo possível. O retorno é doloroso. Também Putlibai morrera, e Mohandas, uma vez mais, estava longe. Às tristezas de órfão, somam-se as desilu- sões do jovem advogado que não consegue entrar para a pretoria de Bombaim, impedido pela exasperante timidez. Pouco a pou- co, todas as portas se fecham diante dele. Com a morte na alma, Gandhi volta a Rajkor, onde nasce seu segundo filho, Manilal, Esse nascimento reacende a esperança de uma reviravolta profissional que ocorre efetivamente, Ele ingressa numa com- panhia de comércio muçulmana, a Dada Addoulla, que lhe propõe um ano de trabalho na África do Sul. Gandhi não discute. Em abril de 1893, fecha as malas e embarca. Nesse navio que vai em direção a Natal, endividado e sem futuro, reflete sobre os seus fracassos à custa dos sacrifícios dos pai deplora as decepções passadas. Apesar da falta de expectativa, a África do Sul o fará escolher um engajamento, do qual ain- da desconhece as dificuldades. Na estação de Maritzburg, na áfrica do Sul, passa por uma experiência de discriminação racial. Apesar de possuir um bilhe- te de primeira classe, um empregado o manda embarcar no va- gão destinado às bagagens. Como se recusa a obedecer, a polícia joga bagagem e passageiro de volta à plataforma, Naquela noite, VAN HIS TIRA TVA COMBA, 25 UMTIRANO EM CASA Kasturbai foi a principal vítima da tirania do marido. Alternando rebel- dia, conciliação e resignação, ela vai de capitulação em capitulação até es- quecer de si própria, Recém-casado, Mohandas quer “afirmar sua autorida- de” ea proibe de brincar, ou qualquer outra liberdade, e a persegue com suas insaciáveis assiduidades sexuais. Kasturbai sufoca. Os esposos-mirins brigam e as familias decidem separá-los em intervalos recorrentes. Depois de Harilal e Manilal, nascem dois outros filhos: Ramdas, em 1897 e Deva- das, em 1900. Agora que a descendência está garantida Gandhi faz voto de castidade, conforme a tradição religiosa indiana. No entanto, Kasturbai não é consultada, apenas informada. Ele mesmo confessa que ela“não apresen- tanenhuma objeção”. Para ele,a questão está arquivada. Será que ele ouviu sua mulher? Pouco provável. Em seguida, ela deve acompanhá-lo à África do Sul nas suas experiências de vida comunal, e lhe é ordenado limpar as latrinas da Fazenda Tólstoi. Kasturbai se recusa, pela primeira vez em nome de seu status social. O primeiro reflexo de Gandhi é repudiá-la e uma vez mais ela se curva às exigências. Em 1943,05 dois ficam retidos em Poona, no palácio de Agha Khan. Ela adoece com bronquite aguda e, até o fim, seu marido déspota não permite o uso de penicilina. Em 22 de fevereiro de 1944, ela falece. “Ela se apagou sobre meus joelhos. Poderia haver melhor mor= te?” ele resume. Depois da morte de Kasturbai, obtém o consentimento de Manu, a sobrinha-neta que ele criou, para compartilhar sua cama... e EMLTEM-COUTICH COLLNCNICNÍCORRE-ETOCE MaDros Kasturbai Gandhi, esposa submissa durante os anos de matrimônio com o Mahatma o trem partirá sem ele. Então, Gandhi, humilhado, lança as lba- ses da ação política e moral que defenderá de corpo e alma. Ele não cessará de reconciliar os indianos com o amor-próprio e o respeito cívico que lhes são dignos. Na África do Sul, Gandhi se levanta contra o projeto de lei que visa privar seus correligionários do direito de eleger seus re- presentantes na Câmara Legislativa e, para isso, funda o Con- gresso de Natal (1894). Fica indignado com a lei “Transvaal, a lei negra, que obriga a população indiana a se regis- trar oficialmente de forma infamante, Ele se insurge contra a anulação dos casamentos não-cristãos. Gandhi ataca, enfim, a taxa de 3 libras — seis meses de salário — que são pagas pelos indianos que querem comprar a própria liberdade. Um ano ape- nas não seria suficiente para organizar tais defesas. Assim, Gan- dhi inaugura uma ação política no mínimo original, a satya- graha (força da verdade), que apóia a contestação nos princípios de não violência (ahimsa). A resistência se enriquece com a asce- se moral que terá o ashram (local de meditação) de Phoenix e a Fazenda Tolstoi como templos de doutrina. Em 30 de junho de 1914, o general Jan Smuts, futuro chefe do governo sul-africano, anula as medidas impopulares. Gandhi vai trocar seu terno por um uniforme que inventa e, nem monge, nem soldado, volta para a Índia, desta vez como reformador. a província do 26 provar sua triunfante castidade! NEHRU,A OUTRA VIDA Com frequência, colocamos Mahatma Gandhi (1869-1948) € Jawaharlal Nehru (1889-1964) numa oposição partidária. No entanto, este último adere muito cedo à ação patriótica do Mahatma, por uma razão: conhece a masmorra, Conduzido à presidência do Partido do Congresso, desde 1929, ele exalta os fundamentos da não-violência... mesmo que não possa impedir os terríveis excessos ligados à partilha da Índia e Paquistão. A diferença entre os dois dirigentes é bem mais sutil Um é definitivamente ateu. O outro, profundamente, crente. O pri- meiro se projeta com em- penho no mundo moderno, O segundo está voltado para um modo de vida mais arcaico. No fundo, nós pas- samos, sem renegar os ca- minhos da revolta, de um hinduismo social a um hin- duismo laico/Os deuses aca- bam sempre retornando à Terra. Sócrates e Platão já disseram tudo. Nehru: seguidor leal de Gandhi na busca pela independência nacional HISTÓRIA VIVA + CV 2003 Bombaim( hoje Mumbai) o acolhe como o “herói puro”. Agora Gandhi se interessa pela massa popular, Seu amigo Gokhale, tentando uma moderação mais elitista, o aconselha a afastar-se um ano da política, Impensável, Mohandas aprovel- ta para percorrer a Índia, com discursos simples, que enter- ram a diferença de castas. Como primeira causa à servir, à partir de 1916 escolhe a dos camponeses de Bihar, que culti- vam índigo para lucro apenas dos exploradores ingleses. O peregrino descalço sobe à tribuna, O governo local prefere ceder — os trabalhadores receberão uma parte das somas que haviam sido pagas aos patrões indevidamente. À “mancha de indigo” é lavada. O clamor pela desobediência civil Rabindranarh Tagore, o poeta bengali, chama Gandhi de Mahatma (Grande Alma). Nome que ressoa em toda a Índia. Entre duas peregrinações, ele se recolhe em seu ashram de Sa- barmati, onde, para o espanto de todos, recebe uma família de párias. Por necessidade, se afasta de seu ashram para apoiar os tecelões de Ahmedabad. “Idealista prático”, inaugura nessa oca- sião o jejum político (greve de fome). Em 1918, graças a uma reviravolta que continua em mis- tério, Gandhi recruta soldados para o Império. Porém a pro- mulgação da lei de Rowlatt vai levá-lo à luta pela emancipa- ção nacional (lei que anula o estado de exceção na Índia, decretado após a Primeira Guerra Mundial e o massacre de 13 de abril de 1919, a Amritsar, quando o general Dyer ati- rou contra a multidão causando 400 mortes.) Gandhi prega a desobediência civil e boicota o Império, (“Vocês mão devem construir os muros da prisão que nos retém.” Em vários lo- cais queimam-se fogueiras de roupas fabricadas na Inglaterra com algodão indiano. “Bapuji” (avó) impõe um novo simbo- lo: a roca. Rapidamente, todo mundo recomeça a tecer, À ruptura está consumada entre a Coroa britânica e os naciona- listas indianos. À guerra cristaliza as oposições. Gandhi não se alia mais com Londres. Em 13 de abril de 1942, entre duas prisões, toma um caminho sem equivoco: Quit India (Dei- xem a Índia) e leva seu povo à insurreição. Para evitar a guerra civil entre hindus e muçulmanos, o último vice-rei, Lord Mountbatten, anuncia a divisão do país em duas nações soberanas, a Índia e o Paquistão. O Pai da Nação nunca foi favorável à medida mas, em 15 de agosto de 1947, carregado pelos membros do Partido do Congresso, o símbolo do imperador Ashoka Autua sobre uma nação livre. Livre para ver o “Sócrates indiano” cair pelas balas de um Faná- tico, Nathuram Godse, que sussurrava o nome de Deus. Livre para assassinar aquele que a liberou da pluralidade e da majes- tade, e restituir-lhe sua singularidade. Uma singularidade con- quistada com um cajado de peregrino em uma mão e um pu- nhado de sal na outra. [nt] APV HIS TO RLAN IVA OOMBR, Milhares de indianos acompanham Gandhi em sua peregrinação rumo à corte da Índia. É o fim da lei do sal, A MARCHA DO SAL Em 12 de março de 1930, Ghandi deixa seu ashram de Sabarmati acompanhado por seu cajado de peregrino e mais de 70 fiéis. Única informação: "Voltarei com o que eu quero ou meu cadáver flutuará no oceano”. Depois, ele marcha. Marcha sutilmente para desafiar a Coroa britânica. Quando pára, conversa longamente ou tece com uma roca. Em todo lugar, ele prega o amor pelos párias (os harijan ou Filhos de Deus), fustiga os casamentos de crianças (ele conhece bem o as- sunto!), condena o consumo de álcool, e defende o khadi (algodão). Parte novamente. Em cada aldeia, seu cortejo au- menta. Essa marcha pacífica mantém em suspense a impren- sa internacional, e o Mahatma comanda a intensidade dra- mática do fato. Na noite de 25 de abril após 24 dias de peregrinação, milhares de pessoas alcançam a praia de Dan- di,a 200 km do ponto de partida. É ali que Gandhi efetua o gesto mais significativo de sua epopéia: ele se abaixa e apa- nha um punhado de sal que a Inglaterra proibe explorar, Os outros imitam seu gesto. À porta está aberta para o comér- cio ilegal. Enquanto os atos de contrabando tomam toda a Índia, o rebelde acampa e espera que venham prendê-lo. Isso acontece em 5 de maio. No entanto, a opinião pública inter- nacional obriga o vice-rei, Lord Mountbatten, a soltá-lo. A lei sobre o sal é revogada e o apóstolo militante é convidado para ir à Inglaterra. Uma atenção que atrai a fúria de Chur- chill, colérico ante “o humilhante e asqueroso espetáculo deste velho bacharelzinho formado em Londres e transfor- mado em faquir rebelde, subindo a escada real, seminu, para negociar em pé de igualdade com o representante do rei!”. Com esse ato altamente simbólico, Gandhi “varreu todo o prestígio moral que o Império tinha na Ásia”, segundo Ra- bindranath Tagore.A partir de então, aceleram-se os rumos da descolonização e o mundo está mudando. 27 rença de mentalidade: os fazendeiros sulistas, estabelecidos de longa data em suas terras, profundamente arraigados à região, a sua cultura e a seus privilégios, olhavam com des- dém aquele Norte majoritariamente povoado por um prolera- riado urbano formado por imigrantes recentes, Lincoln não era abolicionista Situações semelhantes podem ser encontradas em muitos outros países, sem por isso degenerar em banho de sangue. Teria sido, sem dúvida, o mesmo nos Estados Unidos se, em novem- bro de 1860, o republicano Abraão Lincoln não fosse eleito pre- sidente da República — tão respeitoso à Constituição quanto aos decretos da Corte Suprema, Lincoln não era abolicionista, nem ameaçava os interesses sulistas. Mas, no dia 20 de dezembro de 1860, antes mesmo da investidura do novo presiden te no cargo e do anúncio de seu programa, a Carolina do Sul declara secessão: ao longo das semanas que se seguem, é imitada pela Geórgia, Flórida, Ala- bama, Mississipi e Louisiana, e, no dia 18 de fevereiro de 1861, o senador pelo Mississipi e antigo ministro da Guerra, Jeffer- son Davis, é proclamado presidente da nova Confederação de Estados secesstonistas. Os dados, porém, ainda não estavam lançados: o presidente Lincoln, que acaba de tomar posse, de- fende a integridade da União, mas não está disposto a atacar os estados do Sul para reconstituí-la, Será preciso, portanto, um segundo, e gravíssimo, erro dos sulistas para precipitar o desas- tre. Assim, no dia 12 de abril de 1861, do porto de Charleston, na Carolina do Sul, os confederados, comandados pelo general ercole Pierre Gustave Toutant Beauregard — o “Napoleão dos bayous (nome indigena usado na Louisiana para designar os braços de rio do Mississipi e, por extensão, epíteto para “sulis- ta”) - bombardeiam o forte federal de Sumter, Depois de 37 horas de resistência, a guarnição esquelética do forte rende-se sem sofrer nenhuma baixa, mas, à partir dessa rendição, tem início a guerra civil, e nada mais poderá detê-la. Um conflito espantoso. Depois do bombardeio, é a vez da Virgínia, do Arkansas, do Tennesses e da Carolina do Norte de- clararem sua secessão. À capital da Confederação é transferida para Richmond, na Virgínia, e, assim, as sedes das duas facções em guerra distarão uma da outra apenas 150 km em linha reta. A abolição da escravidão, motivo do conflito? Ora, três estados escravistas, Kentucky, Maryland e Missouri, permanecerão na União; o presidente Lincoln recusa-se, de início, a proclamar a libertação dos escravos do Sul; e, no Norte, a segregação conti nua solidamente estabelecida... O próprio exército americano será curiosamente cindido: homens que participaram juntos da Guerra do México, se encontram, agora, em campos opostos; oficiais saídos das mesmas academias enfrentam-se em luta mor- taljo general sulista Beauregard não é outro senão o antigo aluno em West Point do general Anderson, comandante do forte 30 Às armas: os confederados do Sul acreditavam que Lincoln era uma ameaça aos seus interesses Sumter. E Anderson, como o general Sherman ou o almirante Farragur, éum homem do Sul que preferiu manter-se fiel à União. Já o general Robert E. Lee, herói da Guerra do México, um opositor da secessão que libertara seus próprios escravos muito antes do início dos conflitos, a quem foi proposto o comando dos exércitos federais, preferiu aliar-se aos confederados para de- fender a Virginia, seu estado de origem... No verão de 1861, parecia não haver dúvida quanto ao desenrolar da guerra, O Norte contava com 22 milhões de habitantes, reunia todos os grandes centros industriais e os principais portos, possuía uma possante marinha, uma rede ferroviária bastante desenvolvida e conside- ráveis recursos financeiros, Frente às forças nortistas, a Confede- ração não tinha mais que 9 milhões de habitantes, dos quais 4 milhões eram escravos negros, À capacidade industrial sulista era insignificante e só podia contar com as importações para renovar seus ESTOQUES de armas € equi pameéntos, en uanto suas costas serão rapidamente submetidas ao bloqueio da marinha federal, No entanto, os soldados confederados, conscientes de defenderem seus lares e sua terra, têm um moral bem mais eleva- do que os conscritos federais, e os oficiais sulistas, herdeiros de longa tradição militar, são notoriamente mais competentes que seus colegas do Norte. Não tardará que a disparidade fique clara: no dia 21 de julho de 1861, perto de Bull Run —a menos de 40 km de Washington =37 mil nortistas indisciplinados são derrotados por 22 mil con- federados, comandados pelos generais Beauregard, Johnson e Thomas Stonewal! Jackson. Logo depois do desastre, o presi- HISTÓRIA VIVA + NON 2003 Goscaço meroacar soceTT Voluntários do exército federalista em missão ma Virginia dente Abraão Lincoln nomeia para o comando das tropas fede- rais o jovem general MeClellan (34 anos), que saberá forjar um exército disciplinado e combativo — mas não ousará utilizá-lo! Impelido por Washington a tomar Richmond, McClellan diri- ge-se ao Sul, acompanhando o rio Potomac na primavera de 1862, Ali, enfrentará o general Robert E, Lee, até então não mais que conselheiro militar do presidente Davis, mas agora lideran- do o exército confederado da Virgínia. Lee detém MeClellan às portas de Richmond, e envia Stoneiwal! Jackson para o Norte, ao longo do vale de Shenandoah, onde se baterá contra os exércitos federais, ameaçando Washington, Lincoln, então, destitui Me- Clellan, e o substitui pelo general John Pope. Novo desastre: no dia 30 de agosto de 1862, na segunda batalha de Bull Run, Jackson e Lee desmantelam os exércitos de Pope. McClellan é reconvocado e, em 16 de setembro, em Antietam, detém as tropas confederadas que tinham adentrado o Maryland. O general Lee, em consegiiência, é obrigado a atra- vessar novamente o Potomac, depois de ter perdido um terço de seu exército. Lee, no entanto, terá seu revide: pois Lincoln, que Os soldados confederados e os oficiais sulistas, herdeiros de longa tradição militar, são notoriamente mais preparados que os nortistas Batalha de Gettysburg, óleo sobre tela de M. de Thulstrup. Mais de 3.500 mortos e cerca de 40 mil feridos 32 COM LINCOLN, NASCEM OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Nascido no Kentucky, em 1809, Abraão Lincoln, filho de colonos de origem inglesa, leva no Indiana à rude existência de um filho da “fronteira”, Chegado a New Salem, Illinois,aos 22 anos, será caixeiro de armazém, carteiro, lenhador, bar- queiro,agrimensor e miliciano. Depois de terminar, em 1837, a faculdade de direito, trabalha como advogado em seu es- eritório de Springfield. Eleito deputado do Illinois em 1846, apresenta-se como candidato republicano ao Senado em 1858.Lincoln será derrotado, mas seu talento oratório con- tra O candidato democrata Stephen A. Douglas tornou-o célebre, e será eleito presidente em 1860. A eleição desenca- deará o processo da se- cessão e a sangrenta guerra civil posterior. No entanto, Lincoln é um dos mais moderados do Partido Republicano no que diz respeito à questão escravista. Con- trário ao princípio da es- cravidão, considera, po- rém, que o problema é da competência de cada estado, e não se decidi- rá pela guerra a não ser para preservar a União, De resto, recusa por longo tempo proclamar ” a emancipação dos ne- Lincoln: sua eleição desencadeia a guerra civil nos Estados Unidos. gros, até que a medida torna-se indispensável depois da batalha de Antietam, em setembro de 1862. Mui- tos de seus discursos durante a guerra, em especial o pro- nunciado em Gettysburg, em novembro de 1863, terão con- siderável impacto, pelos altos ideais exprimidos. Chefe supremo do exército até 1864, Lincoln terá enor- mes dificuldades para encontrar generais competentes. Fará. finalmente, uma escolha feliz designando o general Ulysses 5. Grant como comandante-em-chefe, no início de março de 1864. Extremamente magnânimo na vitória, Abraão Lincoln teria sido, certamente, um artífice da reconciliação entre o Norte e o Sul nos dias que se seguiram a AppomattoxViverá. porém, apenas cinco dias depois do término das hostilidades. Na noite do |4 de abril de 1865, é assassinado no camarote do FordTheater pelo fanático John Wilkes Booth. Na véspe- ra, ouvira em sonho um soldado dizer a uma multidão aos prantos: O presidente... foi morto por um assassino! quer a todo custo retomar a ofensiva sobre Richmond, destituiu mais uma vez o general McClellan, substituindo-o pelo general Ambrose E. Burnside. Incompetente e nefasto, Burmside con- duzirá as tropas ao desastre na metade de dezembro, ao lançar seus homens contra as posições bem guarnecidas de Lee acima de Frederiksburg: 12 mil soldados federais pagarão a conta, No início de 1863, Burnside é trocado pelo general Joseph Fighting Joe Hooker, que sofrerá nova derrota em maio, atacado pelas forças conjuntas de Lee e de Jackson, em Chancellorsville, Mas foi uma vitória de Pirro. Stonenal! Jackson foi ferido, uma catástrofe para as forças sulistas: Ele perdeu o braço esquerdo e eu, dirá Lee, perdi o braço direito! Três dias depois, Jackson perderá a vida, e Lee seu alter ego. Além disso, depois da tomada de Nova Orleans e de Norfolk pelos navios do almirante Ferra- gut, intensifica-se o bloqueio contra o Sul. No Oeste, no Ten- nessee, um certo coronel Ulysses S. Grant, subindo os rios Cum- berland, Tennessee e Mississípi, dominara no ano anterior o For- te Donelson, Nashville, Shiloh « Holy Springs. No início de 1863, Grant, nomeado general, tenta, por cinco vezes, forçar a passagem do Mississipi para tomar Vicksburg. Vencerá, final- mente, em 4 de julho, depois de um cerco de seis semanas. À partir de então, todo o Mississipi está nas mãos dos federais, e a Confederação isola-se dos estados do Oeste. É justamente para tentar aliviar a frente de batalha de Vicksburg que o general Lee lançara uma nova ofensiva ao Norte na primavera de 1863. No fim de junho, suas tropas chegam até a Pensilvânia e, em 1º de julho, toparão com os exércitos federais do general Meade em Gettysburg, Depois de três dias de combate, que resultam em cerca de 3.500 mortos e mais de 20 mil feridos em cada campo, o general Lee deve retirar; perdera mais de um terço de seus efetivos e não tem como substituí-los. Depois de Vicksburg, no Oeste, e Gettys- burg, no Leste, os confederados ainda não perderam a parti- da... mas não podem mais ganhá-la. No oeste, a derrota dos confederados Em março de 1864, Lincoln convoca Grant a Washington, nomeia-o tenem te-general e confia-l he o comando supremo do exército federal, (Não posso ficar sem este homem; ele vai à letal É exatamente o que fará o general Grant — tomando a ofensiva no início de mato, trava, em Wilderness, uma batalha indecisa e terrivelmente sangrenta. Mas, em vez de recuar, continua di- rigindo-se ao Sul, « ataca novamente em Spotsylvania, perto de Frederiksburg — mais um desastre, perde 18 mil homens. Grant contorna o campo de batalha e avança novamente em direção ao Sul, Ultrapassando sem batalhas as posições solidamente fortificadas dos confederados em North Anna, empunha as armas quando está perto de Richmond, em Cold Harbor. Mais uma carnificina. No 3 de junho, os federais perderão 7 mil homens em 20 minutos! Mas Grant prossegue inexorável em HISTÓRIA VIVA + NO 2003 Em Nova York, manifestação popular contra a Guerra de Secessão é reprimida pela polícia em 16 de julho de 1863 Quando os soldados federais lançam gritos de vitória, o general vencedor imediatamente os interrompe: Sem vivas! os rebeldes tornaram-se nossos compatriotas sua rota, contorna Richmond e, pegando Lee de surpresa, cai sobre os confederados em Petersburg. McClellan recuava mes- mo quando era vencedor. Grant avança, mesmo quando é ven- cido! É a conhecida estratégia militar do cerco e da persistên- cia, terrivelmente custosa, mas assustadoramente eficaz — des- de que se possa contar com reservas abundantes. Enquanto isso, Petersburg continuará sitiada durante dez meses, de ju- nho de 1864 a abril de 1865. No meio tempo, é no Oeste que se prepara a derrota dos confederados: O sucessor de Grant na frente de batalha do Ten- nessee, William T. Sherman, vindo de Chartanooga, tomou Adan- ta no dia 2 de setembro de 1864. Em novembro, suas “colunas infernais” empreendem uma marcha ao mar numa frente de 90 km, destruindo vudo que encontram no caminho. Quando atin- gem o porto de Savannah, em dezembro, a Confederação é, efe- tivamente, dividida em duas. Quatro meses antes, o almirante Farragur tomara Mobile, último porto rebelde no golfo do Mé- xico. O isolamento do Sul agora é completo. No início de 1865, os exércitos de Sherman atravessam à Carolina do Norte e do Sul, atingem Raleigh no 12 de abril, e estão a ponto de marchar sobre Richmond. Mas não será neces- sário, À 200 quilômetros mais ao Norte, os exércitos de Grant põem a pique as linhas confederadas perto de Petersburg, No dia APV HIS TO RLAN IVA OOMBR, 13 de abril, a cidade sitiada se rende e Richmond cai no dia seguinte. Com os destroços de seu exército, Lee foge para o Otes- te, mas sua retirada é cortada pela cavalaria nortista do general Sheridan. No dia 9 de abril, em Appomattox, é obrigado a se tender. À altivez do vencido impressionará até mesmo os oficiais nortistas, e quando os soldados federais lançam gritos de vitória, Grant imediatamente os interrompe: Sex vivas! Os rebeldes tor- nanam-se nossos compatriotas... Para isso, foram precisos quatro anos de guerra, uma terrível devastação e 600 mil mortos — a mais aterradora sangria de toda a história americana. Os gene- rais, dos dois campos, continuavam a aplicar as estratégias napo- leônicas de ataques em massa, O armamento, agora, era muito mais mortífero que o do tempo do Império. Com a utilização de artilharia « de fuzis de repetição, com os primeiros encouraçados, com as estradas de ferro, o telégrafo « os balões de observação, assim como a mobilização de 3,5 milhões de homens e de todos os recursos civis, econômicos e militares do país, esta será a primeira guerra moderna. Os Estados Unidos precisarão de mais de meio século para reerguer-se. Sob certos aspectos, nunca o fizeram. FRANÇOIS KERSAUDY, professor em Paris | - Panthéon Sorbonne, é especialista em história diplomácica e militar contempo- rânea, Publicou Winston Churchill Je poervoir de Fimaginaton (2000 33 8 arfcoas-r seu 034 pLecS gadas internacionais, lutando ao lado dos republicanos — a im- pressão predominante é a de “reviver Verdun”. Lembrança re- corrente em especial no momento da defesa de Madri, quando o slogan das tropas republicanas, No Pasantn, é a tradução exata de “eles não passarão” de Verdun. Igualmente para os oficiais do exército espanhol, qualquer que seja o lado pelo qual tenham optado, a referência tática é o exército francês da Grande Guer- ra, no qual foram formados. Embora a Guerra Civil Espanhola tenha sido um formidável “laboratório de teste” para alguns exér- citos, as suas possíveis lições continuam ambíguas. É, antes de tudo, no campo da aviação que a guerra da Espanha serviria de teste, E desde os primeiros dias. Quando a maioria das forças dos levantes organizados encontrava-se no Marrocos espanhol e os republica- nos controlavam o essencial da marinha, Franco — cujo golpe de Estado devia ser rápido para embargar os principais pontos- chave do pais — pede e obtém, em sigilo, antes do desencadeamen- to das operações, o apoio aéreo da Alemanha e da Itália. Apare- lhos de transporte alemães e italianos agrups se em acroportos ao norte do Marrocos, com o objetivo de embarcar os soldados 36 AJUDAS MILITARES ESTRANGEIRAS FORNECIDAS AOS BELIGERANTES AOS NACIONALISTAS Alemanha: centenas de carros de com- bate e de aviões, artilharia, armamento individual e leve, aproximadamente 5 mil especialistas (pilotos e, em particular, condutores de blindados) reunidos na Legião Condor. Itália: centenas de carros de combate, aviões, artilharia, caminhões, armamen- tos diversos, quatro divisões de cami- sas negras fascistas e de tropas do exér- civo regular italiano, reunidos em um corpo expedicionário de dezenas de mi- lhares de homens. Portugal: a “Legião Portuguesa”, bri- gada de milhares de voluntários com armamentos. Às marinhas italiana e alemã ajudaram cons- tantemente os franquistas torpedeando ou interceptando navios que transportavam armas destinadas aos republicanos. AOS REPUBLICANOS URSS: centenas de carros de combate, aviões, artilharia, caminhões, armamentos individuais e leves, milhares de especialistas (aviadores, condu- tores de blindados, generais, ofi- Ciais de estado-maior etc.) Todo o material foi pago com as re- servas de ouro do governo re- publicano. Não podemos nos esquecer da presença de várias centenas de especialistas da po- lícia política soviética, a sinistra NKVD. Tratava-se verdadeira- mente de ajuda? França: dezenas de aviões, quase todos obsoletos e nem sempre em bom estado de funcionamento. Tchecoslováquia:armamentos indi- viduais e leves, artilharia. Finlândia: centenas de pistolas-me- tralhadoras. México: armamentos individuais. Brigadas internacionais: aproxi- madamente 40 mil voluntários desar- mados de 56 países diferentes. Entre eles, alguns especialistas, principal- mente aviadores. f Ê 5 Em Hamburgo, soldados alemães desfilam triunfantes após ajudar Franco a derrotar os republicanos (1939) Além disso, o governo republicano pre- eisou, nos anos bons e nos ruins, abaste- cer-se com os traficantes de armas in- ternacionais. Procedendo dessa manei- ra, o governo foi roubado várias vezes. Assinalemos que nenhum desses mate- riais foi fornecido à Republica espanho- la gratuitamente. Os Estados Unidos forneceram alguns aviões de transporte e armamento indi- vidual para os dois lados, e grandes quan- tidades de petróleo aos nacionalistas. HISTÓRIA VIVA + NOM 2003 Avião Junkers 52, utilizado pela Luftwaffe — Força Aérea Alemã, que, pela primeira vez, coordena ação terrestre com aviação tática franquistas. Essa é a primeira ponte aérea militar maciça da História, a mais utilizada em situação de guerra. Tod nem a marinha nem a aviação republicana opõem-se a essa trans- ferência de tropas e tampouco tentam impedi-la. À idéia — nova e repentina — parece jamais ter ocorrido aos dirigentes de Madri. Às tragédias dos bombardeios E, portanto, impunemente, que 20 Junkers 52 e algumas dezenas de Savora-Marchetti 81! — todos trimotores, com capaci- dade para transportar cerca de 20 homens cada um — assegur o transporte, na Espanha, de 14 mil homens e 300 toneladas de munição, nos meses de agosto e setembro de 1936. Saídos da região de Tânger, aterrissam em Sevilha, cobrindo um percurso de aproximadamente 150 quilômetros. Desde a Grande Guerra, numerosos teóricos militares ha- viam proferizado que, nos conflitos futuros, reinariam os bom- bardeios estratégicos pesados com grande raio de ação. Os avia- dores alemães e italianos colocam em prática essas teorias, mas os resultados não correspom às expectativas. Assim, o bomba le Guernica, em abril de 1937, deio da pequena cidade basc por aviões alemães, ou o de Barcelona, em março de 1938, por aparelhos vindos diretamente da Itália — operação decidida por Mussolini sem ao menos prevenir Franco—, provocou uma crise diplomática entre os dois aliados, sem falar dos numerosos ata- ques sobre Madri sitiada. Em todos os casos, esses bombardeios, destinados a aterrorizar as populações civis, têm resultado para- doxal: produzem milhares de vítimas inocentes e não possuem quase nenhum efeito estratégico real. Em contrapartida, exaltam o espírito de resis ncia e de vingança de populações cujo moral estava a ponto de ir à bancarrota. À propaganda Contra v situação de É ar a opinião pública mundial, explorar ess ncia moral com o objetivo — atingi- do — de escandal Os carregamentos de bombas e o número de aparelhos uti- lizados são, efetivamente, frágeis para arrasar e demolir cida- des, ou atingir objetivos estratégicos significativos. Os dirigen- tes da Luftwaffe (força aérea alemã) retiram do episódio as li- des adequadas: o bombardeio estratégico é mais dificil de ser q ] 8 VV HIS TORA VA COM BR, implementado do que podem fazer crer os teóricos militares em escritos dos anos 1920; : y dos bombardeios constitui um grave proble à, O que impulsiona engenheiros alemães a desenvolver novos sistemas de nav ação (o A-Geriir co Anichebein). E finalmente, que é necessário desenvolver ma doutrina global de guerra aérea mais equilibrada, destina- da a manter as tropas em terra. É no dominio da guerra aérea que o conflico esp: , mais uma adores a a uma real transformação. E são os ã VEZ, que tiram proveito da mudança e melhor a colocam em prática. Como paliativo à falta crônica de artilharia pesada, a festa! nazista leve aprende a coorden ar sua ação com a das for- s fornece apoio e confere ágil poder de fogo. Se, até então, os aviadores alemães apenas desenvolviam e colo- cavam em prática os conceitos elaborados desde 1918, eles po- dem, enfim, aperfeiçoá-los após vários anos de impossibilidades devidas às proibições do Tratado de Versalhes. Assim, aderem à tática do bombardeamento em mergulho, que causará muitas perdas — ao menos psicológicas —, nos combates na Polônia, em 1939, e na França e na Bé técnica é posta em prática principalmente pelos célebres fikbers , em maio-junho de 1940, Essa 87 Stubas que, posteriormente, revelam falhas: frágeis no com- bate aéreo — o que se confirmará na batalha da Inglaterra —, n de lentos e vulneráveis ao fogo antiaéreo, embora precisos is importante: os aviadores da Le- em posição de mergulho. M gião Condor aprendem a utilizar controladores avançados, isto é, oficiais de aviação distribuídos nas unidades terrestres que ori- entam a ação de Seus camaradas. Do lado republicano, em 193 ão de apoio tático durante a Batalha de Guadal ta, literalmente, as li- nhas logísticas « as colunas de transporte do contingente italia- no, que avançam em colunas regulares! Desta forma, duas divi- sões italianas são aniquiladas. Entre os soviéticos, os ensinamen- tos da guerra da Espanha contribuem para colocar no solo o temido avião de ataque Stormovik, do engenheiro Ilyuchin. Na Segunda Guerra Mundial, fortemente equipados aos tiros vindos do solo, devasta os veículos blindados alemães. Na França, a aeronáutica estuda a guerra espanhol a aten- tamente, com apoio do ministro da Aviação da Frente Popu- lar, Pierre Cor. Os aviadores franceses adotam, então, uma doutrina ofensiva da guerra aérea. Em 1938, no entanto, Cor deixa o ministério e o novo titular do cargo, Guy La Cham- bre, empenha-se em voltar atrás, e recolocar a utilização ope- racional da aviação sob controle do exército terrestre, em pe- quenas formações distintas. A Real Força Aérea (RAE) britânica manifesta pouco interes- se pelo conflito. Somente o bombardeio estratégico parece mere- [us a atenção dos dirigentes da aviação de Sua Majestade. Assim, durante todo o periodo da Guerra Civil Espanhola, o jornal da RAF não publica nenhuma análise sobre o tema. À mesma situ- 37 Em Madri, rebeldes civis utilizam um cavalo morto como barricada (1936) ação é observada na aviação americana. À força aérea dos Esta- dos Unidos, nessa época, e até 1947, constitui um serviço de exército de terra, e não uma arma independente. Em contrapar- tida, as outras ramificações do exército de terra americano (in- ruilharia, cavalaria, erc.) manifestam forte interesse pelo emprego da aviação tática durante a guerra da Espanha. Os alemães, em relação às táti ção de caça, são os primeiros a compreender que é necessário romper com os méto- Fang s de dos individuais utilizados durante a Primeira Guerra Mundial, Ose momento, para uma formaç de quatro aparelhos, com dois pares, cada um contando com eiro. Esta formação, implantada pelo às da s evoluirão, a partir des nd) um líder e um poi Werner Mólders, e batizada “Schwarm” aviação de caça ale (emanme), É denominada “Finger Four” (quatro detos) pelos bri- tânicos e americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Os aviadores italianos, ao contrário, continuam com as táricas de combate da guerra de 1914-1918 — mostram-se temíveis acro- baras aéreos, particularmente hábeis nos combates de giro, so- bretudo no comando de seus biplanos Fiat CR 42. Nos últimos anos da guerra, a aviação nacionalista espanhola acabou por do- minar quase totalmente o céu, Vantagem que não havia conse- guido no início do conflito, frente aos caças republicanos, mui- tas vezes superiormente equipados com os temíveis Polikarpar [- 16, sem dúvida um dos melhores caças dos anos 1930, intretanto, o principal proveito tirado pela Luftwaffe de sua cipação na Guerr: te esquecido: a força institui um sistema de rodízio para seus aviadores, naveg; par 1] Espanhola é o mais frequentemen- adquiriram esta cânicos. Aqueles qu insubstituível experiência — a participação efetiva no combate € nas operações —, retornam rapidamente para a Alemanha para formar seus jovens colegas, enquanto outros vão aprender no “laboratório espanhol”. Em 1939 e em 1940, frente às aviações polonesas, depois britânicas, francesas, belgas e dos Países Bai- xos, os pilotos alemães são quase os únicos a dispor de tal grade de competências. À aviação e a marinha americanas fazem a mesma coisa desde os primeiros dias da guerra no Pacífico. A ESQUERDA CONTRA FRANCO No campo nacionalista ou “rebelde”, encontrávamos au- tênticos fascistas, os falangistas, mas também carlistas (monar- quistas) e, principalmente, todos os componentes da direita tradicional, autoritária e católica. uh ki | BE Nj UM CAMPEZINOS [E No campo republicano ou governamental, encontrávamos tanto partidos liberais e de centro-direita, como socialistas, comunistas, anarquistas e anarco-sindicalistas. Mencionemos o caso particular do POUM — Partido Operário da Unificação Marxista —, composto por comunistas anti- stalinistas que tinham rompido com Moscou e se declaravam próximos das posições do dirigente bolchevique Leon Trotski, asilado no México. Assim como os anarquistas, na Espa- nha, em 1937, os militantes do POUM serão massacrados pelos comunistas stalinistas e pela polícia secreta soviética. Convém, enfim, assinalar que o movimento operário na Espa- — Astropas comandadas por Franco invadem as ruas de Barcelona com seus tanques italianos CW33 (1938) Inovações nas batalhas em terra As inovações militares são marcantes também no campo da guerra terrestre mecanizada — participantes ou observadores che- garam a conclusões às vezes radicalmente opostas a partir das mesmas táticas. Polêmicas são travadas principalmente sobre a zação e operação dos tanques de combate. Alemães e sovié- ticos igualmente discordam sobre o tema, Para os ale tanques são eficazes em formações agrupadas as formações devem ser dispersas, auxiliadas pela infantaria. Em 1941, os soviéticos vão pagar caro por essa Falha durante os pri- dra OS S0V] meiros meses do ataque alemão contra a URSS. A seu favor, é cos e fran- preciso assinalar que especialistas americanos, bri ceses tiraram conclusões semelhantes. E é verdade que as mágui- nas blindadas utilizadas na Espanha são frágeis em comparação às utilizadas durante a Segunda Guerra. Na guerra espanhola, foram empregados velhos carros de combate franceses Renault FT17, de 1918, Panzers |, alemães, tanques Fiar-Ansaldo, nos, todos levemente blindados e armados somente de metra- a- nha e a esquerda espanhola, de modo geral, possuem apenas poucas tradições comunistas. Em 1936, 0 Partido Comunis- ta era tão-somente um pequeno partido forte. As grandes correntes ideológicas da esquerda operária espanhola eram socialistas, anarquistas e anarco-sindica- listas. Nesse quadro, o PC só terá impor- tância no decorrer do conflito graças ao prestígio da ajuda militar soviética... e à eliminação física de seus rivais! Cartazes republicanos: intenção i de colocar os diversos setores k da sociedade espanhola a lutar E contra os nacionalistas Ê err maes ] lhadoras. Apenas os carros de guerra soviéticos, entregues aos republicanos, fizeram boa figura do ponto de vista estritamente técnico, em se tratando de carros de combate leves T-26, de 6 toneladas, ou médios, R'T-5, de 11 toneladas. Será preciso espe- rar a metade final do segundo conflito mundial para que os mi litares das diferentes nações compree mn, enfim, como ut ili r oscarros de combate de forma efic 1 formações compactas € móveis, acompanhadas pela infantaria de proteção e agindo em cooperação com a artilharia e a aviação de apoio tático. Opera- se, então, a sintese entre as “escolas” opostas do entre-guerras. Mas é verdade que, durante a Guerra Civil Espanhola, nenhum dos dois lados dispunha de quantidades suficientes de carros de combate para conduzir manobras maciças de blindados, Em con- trapartida, as armas anticarros de combate provam sua eficiên- cia, notadamente o canhão de 88 mm, uma das armas mais célebres da guerra que estava por vir. O canhão era, originalmen- te, uma arma que os artilheiros tiveram a idéia de utilizar em tiros contra os blindados, também eficaz contra aviões. No campo do combate de infantaria, as ações confirmam as lições da guerra de 1914 quanto ao poder sanguinário das armas automáticas, de rápida cadência de tiro. As tropas devem, mais do que nunca, avançar em ordem dispersa, fazer prova de exten- so deslocamento, e provar o senso de iniciativa de seus oficiais subalternos. Durante os 20 anos precedentes, no Rif marroqui- no, contra os rebeldes de Abd el-Krim, os oficiais nacionalistas — Franco era o melhor dentre eles —, fortalecidos com a experiência da guerrilha, sabem provar melhor essas qualidades que os repu- blicanos. Os defensores da República, freqiientemente imobili- zados pelas concepções táticas francesas da Grande Guerra, e confrontados com problemas de indisciplina em suas tropas, pe- cam cruelmente no que se refere ao senso de iniciativa e de mo- bilidade. E o que é pior, tentam compensar a fraqueza com a extrema rigidez de seu comando. O ressurgimento das guerras urbanas A verdadeira modemidade da guerra da Espanha res menos esperávamos: durante décadas, ou mesmo séculos, os com- bates não ocorreram nas cidades. Quando aconteci onde mn, eram ape- nas de forma excepcional. O combate em meio urbano torna-se uma fase essencial da guerra a partir dos combates de Teruel, Bar- celona, Toledo e, sobretudo, Madri. À disputa agora se dá com granada ou faca, mas, também, com pistola-metralhadora, arma ideal para esse tipo de luta, possuidora de rápido poder de tiro. Os combates na cidade universitária de Madri, para citar apenas os mais célebres, anunciam os de Stalingrado e os de Berlim. Os de Beirute ou Sarajevo estavam por vir... Doravante, a guerra urbana será tão importante « decisiva quanto nos campos. [| LAURENT HENNINGER, do Centro de Estudos de História da Defesa, responsável pelo seminário Nouvelle Histoire Botoile 39