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Se é verdade que os avanços conceituais obtidos com o desenvolvimento da biologia molecular geraram na clínica médica progressos que ainda são limitados a procedimentos diagnósticos e a técnicas de melhor aferição prognósticas, o mesmo não pode ser dito das conseqüências práticas ocasionadas pelo maior conhecimento do sistema imune. No campo da imunidade celular, por exemplo, o reconhecimento das sub-populações linfocitárias e a identificação de citoquinas e interleuquinas responsáveis por
Tipologia: Notas de estudo
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Dr. Jorge Sabbaga Se é verdade que os avanços conceituais obtidos com o desenvolvimento da biologia molecular geraram na clínica médica progressos que ainda são limitados a procedimentos diagnósticos e a técnicas de melhor aferição prognósticas, o mesmo não pode ser dito das conseqüências práticas ocasionadas pelo maior conhecimento do sistema imune. No campo da imunidade celular, por exemplo, o reconhecimento das sub-populações linfocitárias e a identificação de citoquinas e interleuquinas responsáveis por suas ativações específicas acabaram por possibilitar a síntese de fármacos que mudaram a história dos imunossupressores. Por outro lado, a descrição da técnica de obtenção de imunoglobulinas monoclonais em meados da década de 70, e o posterior entendimento dos mecanismos que governam a geração da diversidade dos anticorpos, propiciaram a fabricação de importantes ferramentas não só para o diagnóstico mas também para a terapêutica de inúmeras doenças, incluindo as neoplasias. O lançamento comercial recente de duas drogas anti-neoplásicas ilustra claramente o acima mencionado. Rituxan e Herceptin são dois imuno-agentes com grande potencial de utilização na prática médica oncológica. O primeiro é um anticorpo monoclonal quimérico, direcionado contra um heterodímero da superfície linfocitária (CD20), de função ainda pouco conhecida, mas presente na maioria dos linfócitos B. O segundo é um anticorpo monoclonal recombinante humanizado que reconhece o produto do oncogene HER-2/neo. Esse gene codifica para uma proteína transmembrânica com atividade tirosina-quinase, que guarda extensa homologia com o receptor do fator de crescimento epidermal. Tanto Rituxan quanto Herceptin já têm lugar no arsenal terapêutico dos linfomas não Hodgkin de baixo grau, e nas neoplasias epiteliais de mama respectivamente. A possibilidade de manipulação do sistema imunológico, com a utilização artificial de células e moléculas normalmente sintetizadas pelo próprio sistema, reacende uma antiga discussão sobre a real participação deste no desenvolvimento do câncer. Inicialmente descrita, na metade do século, pelo imunologista australiano MacFarland Burnet, a teoria da "vigilância imunológica" postula que o sistema imune, ao longo de toda a nossa vida, reconhece continuamente como estranhas todas as células que apresentem antígenos tumorais. Não fosse assim, a teoria prossegue, todos os vertebrados morreriam precocemente de tumor. Evidências clínicas que suportavam a idéia não faltavam. Afinal, os tumores malignos incidem com enorme predominância em pessoas idosas e, portanto, com algum grau de imunodeficiência. Além disso, os testes de avaliação de sensibilidade tardia, já descritos mas pouco entendidos na época, demonstravam uma inconteste hiporreatividade nos pacientes portadores de neoplasias. Mais importante, porém, para a aceitação científica da tese da vigilância imunológica, foi o fato de que a teoria serviu como sustentação para a função da imunidade celular. Até então entendido como direcionado apenas contra enxertos artificialmente introduzidos, o sistema imune celular encontrava agora uma clara razão para a sua conservação evolutiva nos organismos vertebrados. Assim, os componentes desse sistema combateriam primariamente as células cancerosas reconhecidas como não próprias, em função de determinantes antigênicos adquiridos durante a transformação neoplásica. Com o advento da biologia molecular e conseqüentemente com um melhor entendimento do processo carcinogenético, a crença na vigilância imunológica a tumores começou a perder força. Experimentos ainda antigos já demostravam que camundongos geneticamente desprovidos de linfócitos T (Camundongos Nude) não apresentavam uma maior incidência de tumores espontâneos e não desenvolviam tumores quimicamente induzidos de maneira mais rápida da que ocorria com animais imunocompetentes. Observações clínicas em humanos confirmavam essa constatação evidenciando que pacientes imunodeprimidos (transplantados inicialmente, e depois
aidéticos) apresentavam risco maior de acometimento neoplásico apenas para alguns tumores específicos, enquanto que se igualavam à população geral no que se refere a incidência da quase totalidade das neoplasias epiteliais, e principalmente daquelas mais freqüentemente diagnosticadas. Porém, se o argumento evolutivo serviu para inicialmente legitimar a hipótese de que o sistema imune T tem como função primária o combate a tumores, vem servindo também para, à luz dos novos conhecimentos moleculares, enfraquecê-lo logicamente. A noção cada vez mais clara de que o fenótipo neoplásico é produto de múltiplas alterações genômicas que se acumulam ao longo da existência de um único clone celular, explica a absoluta predominância do aparecimento do câncer em pessoas idosas e desmonta a idéia de que a evolução teria selecionado um sistema biológico, especificamente voltado para combatê-lo. Se o câncer é doença de aparecimento tardio, por ser o produto da degeneração progressiva do genoma, o seu desenvolvimento está necessariamente imune aos fenômenos gerados pela seleção natural, pois sempre acometeu seres que já haviam passado o período reprodutivo e portanto já deixado descendentes. É logicamente impossível conceber a atuação de um processo seletivo na evolução que interfira em fenótipos adquiridos após a geração dos descendentes. O melhor conhecimento dos mecanismos de citotoxicidade fez com que a imunidade celular encontrasse no combate aos vírus uma função muito mais compatível com os distúrbios observados em animais ou homens que a tem perturbada. Também, os tumores mais freqüentemente encontrados em pacientes imunossupremidos têm pouco a pouco decifrados seus processos carcinogenéticos que invariavelmente incluem uma infecção viral pregressa. São sempre bem vindas as tentativas de utilizar o sistema imune no sentido de convertê-lo em arma com adequada eficiência para o combate ao câncer. Rituxan e Herceptin são exemplos bastante promissores. Resultados positivos de outros, utilizando o sistema imune celular, também são aguardados com ansiedade. Dados preliminares com esquemas de vacinação de antígenos de melanoma e transferência passiva de células direcionadas a antígenos tumorais trazem justificada expectativa. A clareza, porém, de que essas estratégias objetivam apenas a manipulação artificial de um sistema, para que ele possa atuar em uma área para a qual ele não está necessariamente preparado, precisa sempre ser mantida.