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Imunoderivados e Imunologia do Câncer, Notas de estudo de Enfermagem

Se é verdade que os avanços conceituais obtidos com o desenvolvimento da biologia molecular geraram na clínica médica progressos que ainda são limitados a procedimentos diagnósticos e a técnicas de melhor aferição prognósticas, o mesmo não pode ser dito das conseqüências práticas ocasionadas pelo maior conhecimento do sistema imune. No campo da imunidade celular, por exemplo, o reconhecimento das sub-populações linfocitárias e a identificação de citoquinas e interleuquinas responsáveis por

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 24/07/2009

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Imunoderivados e Imunologia do Câncer
Dr. Jorge Sabbaga
Se é verdade que os avanços conceituais obtidos com o desenvolvimento da biologia
molecular geraram na clínica médica progressos que ainda são limitados a
procedimentos diagnósticos e a técnicas de melhor aferição prognósticas, o mesmo
não pode ser dito das conseqüências práticas ocasionadas pelo maior conhecimento do
sistema imune. No campo da imunidade celular, por exemplo, o reconhecimento das
sub-populações linfocitárias e a identificação de citoquinas e interleuquinas
responsáveis por suas ativações específicas acabaram por possibilitar a síntese de
fármacos que mudaram a história dos imunossupressores. Por outro lado, a descrição
da técnica de obtenção de imunoglobulinas monoclonais em meados da década de 70,
e o posterior entendimento dos mecanismos que governam a geração da diversidade
dos anticorpos, propiciaram a fabricação de importantes ferramentas não para o
diagnóstico mas também para a terapêutica de inúmeras doenças, incluindo as
neoplasias. O lançamento comercial recente de duas drogas anti-neoplásicas ilustra
claramente o acima mencionado. Rituxan e Herceptin são dois imuno-agentes com
grande potencial de utilização na prática médica oncológica. O primeiro é um anticorpo
monoclonal quimérico, direcionado contra um heterodímero da superfície linfocitária
(CD20), de função ainda pouco conhecida, mas presente na maioria dos linfócitos B. O
segundo é um anticorpo monoclonal recombinante humanizado que reconhece o
produto do oncogene HER-2/neo. Esse gene codifica para uma proteína
transmembrânica com atividade tirosina-quinase, que guarda extensa homologia com
o receptor do fator de crescimento epidermal. Tanto Rituxan quanto Herceptin já têm
lugar no arsenal terapêutico dos linfomas não Hodgkin de baixo grau, e nas neoplasias
epiteliais de mama respectivamente.
A possibilidade de manipulação do sistema imunológico, com a utilização artificial de
células e moléculas normalmente sintetizadas pelo próprio sistema, reacende uma
antiga discussão sobre a real participação deste no desenvolvimento do câncer.
Inicialmente descrita, na metade do século, pelo imunologista australiano MacFarland
Burnet, a teoria da "vigilância imunológica" postula que o sistema imune, ao longo de
toda a nossa vida, reconhece continuamente como estranhas todas as lulas que
apresentem antígenos tumorais. Não fosse assim, a teoria prossegue, todos os
vertebrados morreriam precocemente de tumor. Evidências clínicas que suportavam a
idéia não faltavam. Afinal, os tumores malignos incidem com enorme predominância
em pessoas idosas e, portanto, com algum grau de imunodeficiência. Além disso, os
testes de avaliação de sensibilidade tardia, descritos mas pouco entendidos na
época, demonstravam uma inconteste hiporreatividade nos pacientes portadores de
neoplasias. Mais importante, porém, para a aceitação científica da tese da vigilância
imunológica, foi o fato de que a teoria serviu como sustentação para a função da
imunidade celular. Até então entendido como direcionado apenas contra enxertos
artificialmente introduzidos, o sistema imune celular encontrava agora uma clara razão
para a sua conservação evolutiva nos organismos vertebrados. Assim, os componentes
desse sistema combateriam primariamente as células cancerosas reconhecidas como
não próprias, em função de determinantes antigênicos adquiridos durante a
transformação neoplásica.
Com o advento da biologia molecular e conseqüentemente com um melhor
entendimento do processo carcinogenético, a crença na vigilância imunológica a
tumores começou a perder força. Experimentos ainda antigos demostravam que
camundongos geneticamente desprovidos de linfócitos T (Camundongos Nude) não
apresentavam uma maior incidência de tumores espontâneos e não desenvolviam
tumores quimicamente induzidos de maneira mais rápida da que ocorria com animais
imunocompetentes. Observações clínicas em humanos confirmavam essa constatação
evidenciando que pacientes imunodeprimidos (transplantados inicialmente, e depois
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Imunoderivados e Imunologia do Câncer

Dr. Jorge Sabbaga Se é verdade que os avanços conceituais obtidos com o desenvolvimento da biologia molecular geraram na clínica médica progressos que ainda são limitados a procedimentos diagnósticos e a técnicas de melhor aferição prognósticas, o mesmo não pode ser dito das conseqüências práticas ocasionadas pelo maior conhecimento do sistema imune. No campo da imunidade celular, por exemplo, o reconhecimento das sub-populações linfocitárias e a identificação de citoquinas e interleuquinas responsáveis por suas ativações específicas acabaram por possibilitar a síntese de fármacos que mudaram a história dos imunossupressores. Por outro lado, a descrição da técnica de obtenção de imunoglobulinas monoclonais em meados da década de 70, e o posterior entendimento dos mecanismos que governam a geração da diversidade dos anticorpos, propiciaram a fabricação de importantes ferramentas não só para o diagnóstico mas também para a terapêutica de inúmeras doenças, incluindo as neoplasias. O lançamento comercial recente de duas drogas anti-neoplásicas ilustra claramente o acima mencionado. Rituxan e Herceptin são dois imuno-agentes com grande potencial de utilização na prática médica oncológica. O primeiro é um anticorpo monoclonal quimérico, direcionado contra um heterodímero da superfície linfocitária (CD20), de função ainda pouco conhecida, mas presente na maioria dos linfócitos B. O segundo é um anticorpo monoclonal recombinante humanizado que reconhece o produto do oncogene HER-2/neo. Esse gene codifica para uma proteína transmembrânica com atividade tirosina-quinase, que guarda extensa homologia com o receptor do fator de crescimento epidermal. Tanto Rituxan quanto Herceptin já têm lugar no arsenal terapêutico dos linfomas não Hodgkin de baixo grau, e nas neoplasias epiteliais de mama respectivamente. A possibilidade de manipulação do sistema imunológico, com a utilização artificial de células e moléculas normalmente sintetizadas pelo próprio sistema, reacende uma antiga discussão sobre a real participação deste no desenvolvimento do câncer. Inicialmente descrita, na metade do século, pelo imunologista australiano MacFarland Burnet, a teoria da "vigilância imunológica" postula que o sistema imune, ao longo de toda a nossa vida, reconhece continuamente como estranhas todas as células que apresentem antígenos tumorais. Não fosse assim, a teoria prossegue, todos os vertebrados morreriam precocemente de tumor. Evidências clínicas que suportavam a idéia não faltavam. Afinal, os tumores malignos incidem com enorme predominância em pessoas idosas e, portanto, com algum grau de imunodeficiência. Além disso, os testes de avaliação de sensibilidade tardia, já descritos mas pouco entendidos na época, demonstravam uma inconteste hiporreatividade nos pacientes portadores de neoplasias. Mais importante, porém, para a aceitação científica da tese da vigilância imunológica, foi o fato de que a teoria serviu como sustentação para a função da imunidade celular. Até então entendido como direcionado apenas contra enxertos artificialmente introduzidos, o sistema imune celular encontrava agora uma clara razão para a sua conservação evolutiva nos organismos vertebrados. Assim, os componentes desse sistema combateriam primariamente as células cancerosas reconhecidas como não próprias, em função de determinantes antigênicos adquiridos durante a transformação neoplásica. Com o advento da biologia molecular e conseqüentemente com um melhor entendimento do processo carcinogenético, a crença na vigilância imunológica a tumores começou a perder força. Experimentos ainda antigos já demostravam que camundongos geneticamente desprovidos de linfócitos T (Camundongos Nude) não apresentavam uma maior incidência de tumores espontâneos e não desenvolviam tumores quimicamente induzidos de maneira mais rápida da que ocorria com animais imunocompetentes. Observações clínicas em humanos confirmavam essa constatação evidenciando que pacientes imunodeprimidos (transplantados inicialmente, e depois

aidéticos) apresentavam risco maior de acometimento neoplásico apenas para alguns tumores específicos, enquanto que se igualavam à população geral no que se refere a incidência da quase totalidade das neoplasias epiteliais, e principalmente daquelas mais freqüentemente diagnosticadas. Porém, se o argumento evolutivo serviu para inicialmente legitimar a hipótese de que o sistema imune T tem como função primária o combate a tumores, vem servindo também para, à luz dos novos conhecimentos moleculares, enfraquecê-lo logicamente. A noção cada vez mais clara de que o fenótipo neoplásico é produto de múltiplas alterações genômicas que se acumulam ao longo da existência de um único clone celular, explica a absoluta predominância do aparecimento do câncer em pessoas idosas e desmonta a idéia de que a evolução teria selecionado um sistema biológico, especificamente voltado para combatê-lo. Se o câncer é doença de aparecimento tardio, por ser o produto da degeneração progressiva do genoma, o seu desenvolvimento está necessariamente imune aos fenômenos gerados pela seleção natural, pois sempre acometeu seres que já haviam passado o período reprodutivo e portanto já deixado descendentes. É logicamente impossível conceber a atuação de um processo seletivo na evolução que interfira em fenótipos adquiridos após a geração dos descendentes. O melhor conhecimento dos mecanismos de citotoxicidade fez com que a imunidade celular encontrasse no combate aos vírus uma função muito mais compatível com os distúrbios observados em animais ou homens que a tem perturbada. Também, os tumores mais freqüentemente encontrados em pacientes imunossupremidos têm pouco a pouco decifrados seus processos carcinogenéticos que invariavelmente incluem uma infecção viral pregressa. São sempre bem vindas as tentativas de utilizar o sistema imune no sentido de convertê-lo em arma com adequada eficiência para o combate ao câncer. Rituxan e Herceptin são exemplos bastante promissores. Resultados positivos de outros, utilizando o sistema imune celular, também são aguardados com ansiedade. Dados preliminares com esquemas de vacinação de antígenos de melanoma e transferência passiva de células direcionadas a antígenos tumorais trazem justificada expectativa. A clareza, porém, de que essas estratégias objetivam apenas a manipulação artificial de um sistema, para que ele possa atuar em uma área para a qual ele não está necessariamente preparado, precisa sempre ser mantida.