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Estudo sobre o Movimento Manguebit e uso da teoria de Josué de Castro na compreensão da realidade recifense , não se limitando ao mero entretimento, mas dando sentido social a esta produção artísticas.
Tipologia: Notas de estudo
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Relatório de pesquisa (TCC) na forma de artigo acadêmico exigido para a conclusão do curso de licenciatura plena em História orientada pelo professor Dr. Henri de Carvalho.
O que me levou a pensar também a forma como se deu a globalização nos anos 80 do séc.XX e para quê ela se deu atendendo interesses exclusivamente econômicos e como atos regionais de pensadores tal como Josué de Castro foi útil na construção de uma reação rítmica que apesar de ser abrasileirado, ainda continha forte influência internacional muito semelhante à tropicália, porém com contextos diferentes, mostrando na arte como deveria ser de fato o processo de globalização que ao invés de solapar culturas menores com culturas dominantes deveria ter sido uma troca cultural e um aprendizado mútuo entre os povos. Diante disso me dispus a pesquisar o movimento cultural e a influência teórica do médico e geógrafo Josué de Castro, ambos cidadãos do mundo, Porém crentes de que seu lugar era tão importante quanto o mundo que eles conquistaram, por isso, cantam com mazelas regionais que os rodeiam. A preocupação dessa análise está relacionada à forma como os precursores do movimento musical conhecido como manguebit tem suas produções influenciadas pelo médico e geógrafo Josué de castro, pois ambos adentram no cenário do mangue e identificaram uma gente que vivia aquém do mundo oficial que ficou conhecida como “sociedade do mangue”, e assim demonstrar porque o mangue chamou a atenção de um intelectual há décadas atrás e passados mais de trinta anos, desde seu exílio ao inicio do movimento manguebit, novamente chama a atenção desse movimento cultural recifense, e hoje 20 anos após o movimento ter se erguido na cidade do Recife percebe-se ainda a atualidade das criticas de J. De Castro e como o movimento soube fazer essa interlocução temporal entre ciência e arte.
Mediante a isso, tive como base o “Manifesto Mangue” datado de 1992 elaborado por Fred Zero Quatro, Jornalista e um dos fundadores do movimento Manguebit, manifesto esse que expressa à preocupação da arte que esses jovens gostariam de fazer e qual a intenção dessa produção cultural na cidade do Recife, e como ainda hoje, vinte anos após a formação desse gênero musical que sacudiu a indústria cultural que ainda se faz presente à realidade da sociedade recifense que ainda faz uso do mangue para sobreviver, certamente que existem muitas outras particularidades na composição da arte
manguebit, entretanto vamos nos deter na interlocução teórica de Josué de Castro sobre os Mangueboys.
Mangue o início
Nos anos 80 dois amigos de classe média circulam pela cidade do Recife, todos de coturnos e outros apetrechos típicos de jovens que curtiam “Punk ” , ambos estudantes de jornalismo, Fred Montenegro, sobrenome esse que seria alterado para “Zero Quatro” (Últimos números de seu registro Geral) e Renato Lins (conhecido como Renato.L), seriam os primeiros moldadores desse movimento que despontaria nos anos 1990, os pais daquilo que seria o manguebit, diga-se de passagem que outro nome foi dado ao movimento pelos veículo de imprensa os deixando conhecido como: Manguebeat, porém como no inicio se chamava manguebit, optei por chamar como os percussores desse movimento cultural o chamaram no inicio. Influenciados pelo movimento Punk, “O punk chegou aos espaços periféricos do País, como a região do ABCD paulista, por meio de shows e festivais que influenciaram uma parte da juventude brasileira com seu discurso de rebeldia.”, esses dois jovens fundam já em 1984 a banda “Mundo Livre SA” vinculadas a um programa da universidade federal de Pernambuco conhecido como “Décadas” já mostravam uma sonoridade singular, oriunda de duas bandas punk, “Trapaça, serviço sujo e 101 ” A banda também continha em si a iniciativa rebelde do movimento punk. (PICCHI, 2008, p. 10), Francisco de Assis França, conhecido como “Chico Science” cresceu num bairro pobre da periferia de Olinda, e desde cedo já frequentava os bailes “Funk ” da cidade que tocavam além do Funk, “Soul e Rip Hop ” em 1984 juntou- se a uma banda de “ Break ” chamada “legião Rip Hop” já em 1989 ele deixa de dançar para ser cantor e compositor com amigos de influencias do Rock e Lúcio Maia e Alexandre Dengue levam-no a Banda “Loustal” absorvendo também influência dos ritmos afro-americanos dos anos 60. Nos anos 1990 esses jovens, Fred Montenegro, Renato Lins e Francisco França, se reúnem e montam um festival conhecido como “ Viagem ao centro do mangue ” o festival tinha por intenção mesclar esses ritmos com os ritmos regionais e desse festival nasce o que ficou conhecido como “Manguebit” que seria batizado mais tarde de pela mídia como “manguebeat”.
antropologia física, no ano de 1938 seus estudos o levam para o Instituto bioquímico de Roma e a cursos na Universidade de Roma, Nápoles e Gênova, o resultado da experiência foi a publicação, em 1939, o estudo “Alimentazione e Acclimatazione Umana neitropici”. Voltando ao Brasil ele é, em 1942, eleito presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição; criou o Serviço de Alimentação da previdência Social (Saps); foi chefe do departamento técnico de Alimentação da Coordenação da Mobilização Econômica e membro, entre sua formação e o fim da II grande Guerra, emergem obras tais como: O Problema da Alimentação no Brasil, Alimentação e Raça, Documentário do Nordeste, A Alimentação Brasileira à Luz da Geografia Humana “sendo esta publicação a primeira na qual Josué de Castro se posiciona claramente em favor do ‘método geográfico’ Em 1946”, Fisiologia dos Tabus e obras que serviram de base e que laçaria o autor no cenário internacional com suas principais obras, Geografia da Fome (1946) e a Geopolítica da Fome (1951) livros que teve forte impacto no cenário internacional, sendo traduzido em 24 idiomas (MARCCHI, Apud PICCHI, 2011, p. 45). Em 1955 a 1963 foi eleito deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) por Pernambuco, Ao qual renunciou, para ocupar a posição de embaixador brasileiro, “Junto aos organismos internacionais das Nações Unidas em Genebra (1936-1964)”, porém se demitiu em consequência do golpe de 31 de março 1964 que ocorreu no Brasil, os golpistas no mesmo ano lhe cassou os direitos políticos no dia 09 de Abril, porém esses percalços na vida política e nacional não o impediu na sua militância contra a fome, (LINHARES, 2007, p. 23). A atuação de Castro na luta contra o fenômeno da fome criou a “Associação de Luta contra a Fome”, ao lado de Abbé Pierre e do Padre Joseph Lebret e ainda coordenou, até sua morte, a Associação Internacional das Condições de Vida e Saúde. Além de ser membro de associações científicas da Europa, EUA e na antiga União Soviética. Foi premiado por onde passou tanto prêmios científicos quanto prêmios de ordem acadêmica e atuando em favor dos povos do terceiro mundo, realizando conferencias por países do mundo inteiro, foi professeur associé a cadeira de Geografia Humana na Universidade de Paris-Vincennes.
Os últimos anos de Castro, 1964 a 1973, foram ativos mostrando que sua militância não dependia de cargos políticos, este ser social publicou muitas obras em formas de artigos e livros e entre essas obras está um romance chamado de “Homens e Caranguejos”, que é fruto de sua saudade, afinal ele estava exilado, e relembra sua infância no Recife, entre as muitas obras podemos destacar também O drama do terceiro Mundo (Publicado pela Dom Quixote,1970), A China e o Ocidente (Cadernos do Século XXI,1971), América Latina y lós problemas Del Desarrolho (Monte Avila Editores,1974). Castro faleceu de infarto no dia 24 de Setembro de 1973, mas como ele disse “Não se morre apenas de infarto ou doença crônica morre-se de saudade”, uma semana antes ele tinha solicitado seu retorno ao Brasil, foi negado, mas quis o destino que ele voltasse a sua terra morto, Sendo enterrado no cemitério são João Batista no Rio de Janeiro, nunca um morto foi tão vigiado ou tão censurado no Brasil, os jornais em pequenas notas publicavam sua morte, porém sem fotos, Tendler ainda diz que Castro morreu de Exílio, morreu de saudade, Darcy Ribeiro e Betinho também observam que isso foi um dos maiores crimes do regime militar foi permitir a morte daquele, segundo Ribeiro ”Era o mais proeminente intelectual brasileiro fora do pais”, morrer fora de sua terra, morrer no exílio, parece que o embaixador, o General Aurélio Lima Tavares, permitiu que um velho conterrâneo não revisse sua terra (TENDLER,1995). Darcy Ribeiro fala que ao voltar do exílio, percebeu que as Universidades não liam os intelectuais nacionais, mostrando como os militares assassinaram a intelectualidade brasileira, e apagaram da memória sobre Josué de Castro e sua luta ao mostrar a fome como consequência de uma elite política e econômica, por isso, o movimento manguebit merece a devida atenção por perceber a importância teórica de Castro para Pernambuco e para o Brasil, levando ele na sua arte e no seu protesto (TENDLER,1995).
Caranguejos com cérebro (1992)
É o nome do manifesto cultural datado de 1991 elaborado pelo jornalista, músico e também um dos pioneiros no movimento manguebit, Fred Zero
O manifesto se coloca de maneira critica quando salienta que: “O desvario irresistível de uma cínica noção de ‘progresso’, que elevou a cidade ao posto de ‘metrópole’ do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade”. (ZERO QUATRO, 14/03/2012). Para finalizar o ultimo parágrafo do subtítulo de “Manguetwon, a cidade” se evidencia que os movimentos da história mostraram a desigualdade na forma de “esclerose econômica” e isso se acentua na década de setenta do século XX, os anos que se deram foram de “estagnação” e a ilusória ideia de “metrólope” só tem levado ao aumento substancial das desigualdades sociais na ocupação urbana, conforme demonstra o texto: Bastaram pequenas mudanças nos ventos da história, para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem, no início dos anos setenta. Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada a permanência do mito da metrópole só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano. ( ZERO QUATRO, 14/03/2012). Após expor o conceito do mangue e a cidade do mangue ele Trás o cenário do mangue no subtítulo “Mangue, a cena”, no qual ele chama atenção para a morte da cidade e diz: “ Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto!” e explicando que alguém morre quando têm suas veias obstruídas e para perceber isso não precisar ser especialista no assunto ele coloca “Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias”. Em seguida ele trás essa analogia de veias entupidas que leva ao infarto para com a cidade e seus rios dizendo: “O modo mais rápido de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é Matar os seus rios e aterrar seus estuários” no prosseguir ele questiona “O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos?” E repetindo a indagação ele diz “ Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade?” as indagações acerca da paralisia social são acompanhadas de uma solução no qual ele diz: “Simples! Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.” (ZERO QUATRO, 14/03/2012).
No que se segue o segundo parágrafo do ultimo subtítulo do manifesto ele afirma que em “Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de ideias pop.” que tinha “O objetivo era engendrar um circuito energético, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop” e seu símbolo seria uma: “Antena parabólica enfiada na lama”. (ZERO QUATRO, 14/03/2012). No que se segue eles colocam que os “Manguegrils” e os “mangueboys” São “Indivíduos” ligados a vários ritmos, ideias, pensadores, séries de TV, assim como os métodos científicos que trabalhem com desenvolvimento da mente no que concerne a “Expansão” da consciência, como o texto evidencia: Hoje, Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.”( ZERO QUATRO, 14/03/2012). Para finalizar o manifesto, o ultimo parágrafo afirma que “Bastaram poucos anos para os produtos da fábrica mangue invadirem o Recife e começarem a se espalhar pelos quatro cantos do mundo.” O autor ainda coloca que as ações de “descarga inicial de energia gerou uma cena musical com mais de cem bandas .” seguindo a tendência cultural “surgiram programas de rádio, desfiles de moda, vídeo clipes, filmes e muito mais ” , e com isso as veias da cidade foram “Desbloqueadas, as artérias vão sendo desbloqueadas e o sangue volta a circular pelas veias da Manguetown.” (QUATRO, Fred Zero,14/03/2012). Conforme a análise documental do manifesto de 1992 percebe-se que mesmo em fins do séc. XX a situação econômica da cidade do Recife expõe uma realidade de quase inexistência de mobilidade social, isso se explica pela maneira como o Brasil sempre colocou no mundo.
daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileira. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura social, bem como as atividades do país. Virá o branco europeu para especular, realizar um negócio; inverterá seus cabedais e recrutará a mão-de-obra de que precisa: indígenas ou negros importados. Com tais elementos, articulados numa organização puramente produtora, mercantil, constituir-se-á a colônia brasileira. Este início, cujo caráter manter-se-á dominante através dos séculos da formação brasileira, gravar-se-á profunda e totalmente nas feições e na vida do país. Particularmente na sua estrutura econômica. E prolongar- se-á até nossos dias, em que apenas começamos a livrar-nos deste longo passado colonial. Tê-lo em vista é compreender o essencial da evolução econômica do Brasil, que passo agora a analisar. (PRADO JUNIOR, 1977, p. 23) Chasin, também irá demonstrar corroborando com Caio Prado Junior que o Brasil por ter tido traços coloniais nas estruturas econômicas de sua produção traria características semelhantes ao Caminho Prussiano de introdução no capitalismo: Assim irrecusavelmente, tanto no Brasil quanto na Alemanha a grande propriedade rural é presença decisiva; de igual modo, o reformismo pelo “alto” caracterizou os processos de Modernização de ambos, impondo-se, desde logo, uma solução conciliadora no plano político imediato, que exclui as rupturas superadoras, nas quais as classes subordinadas influiriam, fazendo valer seu peso especifico, o que abriria a possibilidade de alterações mais harmônicas entre as distintas partes do social. Também nos dois casos o desenvolvimento das forças produtivas é mais lento, e a implantação e a progressão da indústria, isto é, do “verdadeiro capitalismo”, do modo de produção especificamente capitalista, é retardatária, tardia, sofrendo obstaculizações e refreamentos decorrentes da
resistência de forças contrária e adversas. Em síntese, num e noutro casos, verifica-se, para usar novamente uma fórmula muito feliz, nesta sumaríssima indicação do problema, que o novo para alto tributo ao velho. (CHASIN, 2000, P. 43-44). Entendido o cenário econômico brasileiro no sistema mundo, e como Recife, fazendo parte do Brasil, sente socialmente as consequências dessas conciliações entre as elites, Josué de Castro cresce no meio dessa sociedade que segundo ele “Vegeta nas margens ou bordas de duas estruturas econômicas” o teórico percebeu que esses homens fugiam para a cidade do Recife como maneira de obter oportunidades, mas ao chegar aqui eram engolidos pelo mangue, vivendo do mangue e morrendo no mangue surgia aí à sociedade do mangue, fruto de uma ocupação desordenada (CASTRO, 2007, p. 11). O Recife, a cidade dos rios, das pontes e das antigas residências palacianas é também a cidade dos mocambos: das Choças, dos casebres de barro batido a sopapo, cobertos de capim, de palha de coqueiro e de folha-de-flandres. (CASTRO, 2007, P. 25) Mediante este fato, onde destorcia a bela visão da cidade do recife como a Veneza brasileira, Josué desnuda o Recife, o possibilista acreditava que: Só a Geografia, que considera a Terra como um todo, e que ensina a saber ver os fenômenos que se passam em sua superfície, a observa-los, agrupa-los e classifica-los, tendo em vista a sua localização, extensão, coordenação e causalidade, - pode orientar o espírito humano na analise do vasto problema da alimentação, como um fenômeno ligado, através de influências recíprocas, à ação do 47 homem, do solo, do clima, da vegetação e do horizonte de trabalho (CASTRO, Apud PICCHI, 2011, p. 46-47). Por isso, compreender o problema da fome, da ocupação desordenada nas grandes metrópoles, seria necessário introduzir-se adentro dos problemas sociais da sociedade brasileira e não atacar o problema de maneira leviana ao ponto de colocar quando lida com o assunto das ações governamentais que
Campo das Princesas, sede do Governo do Estado de Pernambuco (PICCHI, 2011, P. 25) A Recife de Josué de castro se estendeu até os anos 90, mas esses jovens trouxeram o Geógrafo de novo à briga para “deslobotomizar” a cidade do Recife, Josué coloca que a história dos “homens do Nordeste me entrou muito mais pelos olhos do que pelos ouvidos” esses jovens que começaram na intenção de fazer uma nova arte, acabaram tropeçando na cidade encravada na Lama. Eu fui mandado embora de um emprego que atuava em cobertura jornalística em campo, e recebi três ou quatro meses de fundo de garantia. Nesse mesmo período peguei um trabalho free lancer relacionado com livros didáticos de biologia e foi com esse material que me aprofundei na questão do meio ambiente do mangue. Então escrevi o manifesto com esses termos específicos. O ócio virou o manifesto Caranguejos com Cérebro. (ZERO QAUTRO, Apud PICCHI, 2011, p. 25-26) E o manifesto que se divide em três partes, o Mangue, a cidade e a cena foi o ponta pé desse grupo, que soube mesclar o moderno com o tradicional, não abrindo mão nem de um nem de outro, rompendo com a visão folclórica, mas mantendo o tradicional, e se introduzindo no novo sem perder o contato com velho, a arte manguebit soube manter duas coisas importantes, manteve o contato social com a questão do mangue, mas ao mesmo tempo foi mágico, como observa Fischer: “A arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessária em virtude da magia que lhe é inerente.” (Fischer, 1959, p.20) É possível ver na arte do Manguebit traços do conceito de Josué de Castro tais como “O ciclo do caranguejo” e “Sociedade da Lama” tanto nas letras quanto no manifesto mangue, um exemplo é o termo mangueboy e manguegirl que além de hibrido por se chamar meninos do mangue alude ainda com o inglês, ainda fica evidente haja vista que esses garotos mesmo sendo de classes econômicas diferente sentiram na obra de Josué talvez a mesma sensação de indignação que o autor de Homens e caranguejos sentiu e, por isso, o clamor de Science ao cantar. Ô Josué eu nunca vi tamanha desgraça
Quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça. (Science. Da lama ao Caos). Esse clamor emerge do encontro desses jovens na constatação do cientista que retratou a realidade recifense e que em plenos anos 90 ainda conviviam na cidade atolada na lama, mas ao contrário da visão científica de J. de Castro, esses jovens trouxeram esta vitima da lama à força para se antenar com a modernidade, tanto que, como observou Bruno Picchi, o homem caranguejo se torna caranguejo com cérebro. A evolução deste “novo ser” ao longo do século passado fez com que duas novas leituras, ambas na década de 191990, emergissem diante das mudanças de ordem econômica e social no mundo contemporâneo: na primeira, este homem-caranguejo é expulso de sua moradia, ganha o asfalto e é descoberto pela mídia, causando comoção nacional, pois a pobreza transformou- no em um homem-rato, o homem-gabiru ; na segunda, é utilizado o mesmo mangue para se conectar ao mundo, via o símbolo de uma antena parabólica incrustada na lama de seus manguezais capaz de captar as novas influências e ritmos de um mundo globalizado. Denominados caranguejos-com-cérebro , é a referência ao Manguebit. (PICHI, 2011, P. 47) Essa transformação desse ser que até então dava a sensação de estar atolando como J. De Castro coloca “a impressão que eu tinha era que os habitantes dos mangues - Homens Caranguejos nascidos à beira do Rio -, à medida que iam crescendo, iam cada vez se atolando mais na lama.” mudou, esse Caranguejo sai para captar o mundo ao seu redor, por isso caranguejos com cérebro, como muito bem colocou Zero Quatro (CASTRO, 2007, p.11). Moises Neto se equivoca ao expressar tal afirmação: “Enquanto Josué opta por uma visão pessimista, e o trabalho de Science, de certa forma, quixotesco.” o que há são perspectivas diferentes sobre o mesmo objeto, neto não percebe que Science e os mangueboys são artistas e tal classe é imbuída da licença poética, enquanto que Josué Castro é um cientista logo atrelado ao método e a realidade tal como ela é, Fisher, ao falar de Brecht coloca assim :
seja sua plasmação, sua objetivação nela- é sempre uma ponte, um traço de união, entre o criador outro membros da sociedade; terceiro, dado que a obra afeta aos demais, contribui para elevar ou desvalorizar neles certas finalidades, ideias ou valores; ou seja, é uma força social que, com sua carga emocional ou ideológica, sacode ou comove aos demais. Ninguém continua a ser exatamente como era depois de ter sido abalado por uma verdadeira obra de arte (Vàzquez, 2011, p.107).
Diante disso, podemos afirmar que as obras de Josué de Castro foi o espírito teórico que se fez presente na estrutura do movimento manguebit, não apenas contido no manifesto mangue de 1992, mas também nas letras das músicas, na forma como esses artistas se mostraram ao seu público, ao se transvestirem de lama, nos termos usados para definir os adeptos desse ritmo tais como: Mangueboy e mangeugirls, com isso a produção de Josué serviu para que os primeiros mangueboys inconformados com a situação econômica e cultural da cidade do Recife se colocassem diante do mundo. A cidade que sempre teve orgulho de suas pontes e de seus casarões coloniais se viu impelida por uma arte que trouxe a tona uma face esquecida pelas classes dominantes, uma cidade feita de mocambos e atolada na lama que sempre foi ignorada pelos cartões postais da cidade maurícia, os mangueboys foram os responsáveis pela guinada cultural que colocou o problema social que solapava a cidade em pauta, problema esse que dantes foi alvo da teoria e critica de Josué de Castro que mesmo tendo suas análises feitas décadas atrás em um período que vai dos anos 1930 até os anos 1970, viu-se resultado por um problema ainda presente na realidade recifense dos anos 1990 do séc.XX. E vinte anos após a emissão do manifesto a realidade pernambucana por mais modificada que tenha sido ao longo das ultimas décadas ainda é desigual e excludente, mostrando a atualidade dessas criticas tanto científicas quanto artísticas aos problemas da cidade, claro que o cenário cultural da cidade mudou e hoje a região portuária do Recife é um polo cultural e centro de indústrias de softwares e games, porém a arte que vinte anos antes esteve
preocupada em enfiar uma parabólica na lama e conectar a cidade com mundo, ainda se preocupa com futuro incerto do mundo caótico da modernidade afinal para esses artistas a vida foi feita para ser vivida e socializada. Diante disso podemos colocar que Recife acordou há vinte anos para seus problemas sociais através da arte juvenil do Manguebit e com a ajuda teórica de J. De Castro que registrou com preocupação os dilemas de sua cidade, eles puderam fazer uso da licença poética que é próprio da arte para trazer para a cidade a atenção da imprensa e da indústria cultural, sem perder a preocupação com meio no qual eles estavam inseridos, afinal o propósito de sua arte sempre foi deslobotomizar as veias culturais do Recife para que seus habitantes possam se conscientizar e se conectar com mundo, hoje percebe-se que a parabólica enfiada na lama de fato surtiu efeito sobre as veias da cidade.