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OLIVEIRA, Roberto Cardoso de (org.). MAUSS. São Paulo: Ática, 1979.
Tipologia: Notas de estudo
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Compartilhado em 15/09/2010
4.3
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velmente um rito que não sirva de alguma maneira ao crente. Quando se reza espera-se geralmente algum resultado da prece, para al~u~~ coisa, ou para alguém, ainda que apenas para si ~esmo. ~as, a~ e somente uma repercussão que não encerra o mecam~~o em, SI do .nto. Este é inteiramente dirigido para as autoridades religiosas as quais se destina, e é secundariamente, por intermédio delas, q~e l?~ acontece afetar os seres do profano. Às vezes até, todo o seu efeito utll. ~e reduz ao simples conforto que ela traz ao qu~ reza,. é o mundo divino que absorve quase toda sua eficácia. Todavia, a diferença entre a prece. e os outros ritos religiosos orais não .é absolutamente de tal maneira fixada que se possa dizer com precisã~ onde uma começa e as outras acabam. Uma prece pode servir de Juramento; uma .promessa pode assumir a forma de uma prece. Uma súplica pode se Intercalar, numa bênção. Pode-se consagrar alguma coisa a um deus ~or um~ .formu!a nitidamente precatória. Mas, se as duas :egiões da vIda. religiosa sao separadas por fronteiras indecisas, não deIxa~ de ser ~lS~Intas, e _era importante ressaltar esta distinção para prevenir as possíveis confusoes.
religioso, oral, diretamente relacionada com as coisas sagradas.
H Deste ponto de vista é inútil distinguir entre o enca~to e a prece, como o fazem MARRETT e FARNELL. Não só em toda a prece existe, mesmo adotan~o-se a terminologia deles, um encanto, mas também é inexato excluir toda teurgia de toda religião.
4. A EXPRESSÃO OBRIGATÓRIA DE **SENTIMENTOS (1921) ***
Esta comunicação se relaciona com o trabalho de M. G. Dumas sobre as Lágrimas, 1 e com a nota que lhe enviei a este respeito. Nela fazia-lhe observar a extrema generalidade do emprego obrigatório e moral das lágrimas, que são particularmente uma forma de saudação. É um hábito muito difundido entre as populações comumente chama- das primitivas, sobretudo na Austrália, na Polinésia. Foi estudado nas Américas do Norte e do Sul, por M. Friederici, que propôs dar-lhe o nome de Thriinengruss, a saudação pelas lágrimas. 2 É meu propósito mostrar, através do estudo do ritual oral dos cultos funerários australianos, que, num considerável grupo de popula-
palavra, as indicações que M. Dumas e eu temos dado para as lágrimas, valem também para outras numerosas expressões de sentimentos. Não só o choro, mas toda uma série de ex ressões orais de sentimentos não são fenômenos exclusivamente psicológicos ou fisiológicos, mas sim fe- nômenos sociais marcados po]" manifestações n~-es ontâneas e da mais erfeita obri a ão. Vamo-nos limitar ao ritual oral funerário, que inclui gritos, discursos e cantos. Mas poderíamos estender nossas pes- quisas a muitos outros ritos, particularmente ritos manuais, nos mesmos cultos funerários e entre os mesmos australianos. Para terminar, algu- mas indicações serão suficientes para permitir o estudo da questão num campo mais largo.
trou (^) ,vamos extrair tuas vísceras e ver." Em particular, é com este
3 "Representação coletiva da morte." Année Sociologique. X, p. 18 et seqs. 4 Formes élémerüaires de Ia vie relig.ie.use. p. 567 et sesqs·Sir J G. FRAZER. The s tniroduction 10 lhe History 01 RellglO.n. p. 46 et seqd· 1913· 147 vê bem
como estes fitos estao regu a os pe o , mente animista, intelectualista afinal. 6 Ci. FAUCONNET. La Responsabililé. 1920, p. 236 et seqs.
Magic, and Medicine." Bulletin 3. p. 26, n.? 99 et seqs.
8 A palavra koi indica seja um espírito, seja o conjunto de espíritos maus, incluindo os feiticeiros e os demônios. 9 Ex.: uma magnífica descrição de uma dessas sessões na parte ocidental de Victoria. DAWSON. Aborigines oi South Auslr. p. 663; Yuin (Nova Gales do Sul). HOWITT. Soutli Eastern Tribes. 422, para citar só fatos antigos, atestados anti- gamente.
Na maioria das vezes os cantos, gritos e choros acompanham os maceramentos cruéis que estas mulheres, ou uma ou algumas delas, se infligem, precisamente para entreter a dor e os gritos. Mas não são somente as mulheres e determinadas mulheres que gritam e cantam assim, elas têm também que emitir um determinado
"quantidade convencional de choros e gritos". Não mais que nos nossos próprios usos funerários. Tudo isso é ao mesmo tempo social e obriga- tório mas a esar de tudo violento e natural: a busca e a expressão da dor andam ·untas.:. Vejamos por quê. Mas antes podemos tirar outra prova da natureza social dos gritos e sentimentos, estudando sua natureza e conteúdo. Em primeiro lugar, por inarticulados que sejam, gritos e uivos são sempre de certo modo musicais, a maioria das vezes. ritmados, cantados em uníssono pelas mulheres. Estereotipia, ritmo, unissonância, são ma- nifestações ao mesmo tempo fisiológicas e sociológicas. Um uivo meló- dico, rítmico e modulado pode ficar muito primitivo. Pelo menos no centro, no este e no oeste australiano é uma .longa ejeção estética e consagrada, que passa a ser social por estes dois caracteres, Tudo isso pode ir bastante longe e evoluir: os gritos rítmicos podem tornar-se estribilhos, interjeições do tipo das de Ésquilo, que cortam e ritmam cantos mais desenvolvidos. Às vezes formam coros alternados, às vezes de homens com mulheres. Mesmo quando não são cantados, os gritos, pelo simples fato de serem emitidos juntos, têm uma significação bem diferente da de uma pura interjeição sem sentido. Têm sua eficácia. Sabemos agora que o grito baàbàu que as choronas dos aruntas e do loritja emitem em uníssono sobre duas notas graves, têm valor de
Restam os cantos; são da mesma natureza. Inútil notar que são ritmados, cantados, - de outro modo não seriam o que são - e conseqüentemente fortemente moldados numa forma coletiva. Mas mes- mo o conteúdo o é. Os australianos, ou melhor, as australianas, têm
luto e a morte; que injuriam, amaldiçoam ou encantam o inimigo, cau- sador da morte sempre mágica. Temos vários textos de seus cantos. Uns são muito primitivos, não indo além da exclamação, afirmação, interrogação: "Onde está meu sobrinho, o único que tenho." Eis um tipo bastante comum: "Por que me abandonaste?" - em seguida a mulher acrescenta: "Meu esposo (ou meu filho) morreu!" Vêem-se
aqui d~is temas: .uma espéci: de interrogação e uma simples afirmação. ~ste ge~ero de lIteratura nao ultrapassou dois limites: de um lado a mvocaçao do morto ou ao morto, e do outro a história referente ao
podem ser reduzidos a essa conversa e a essa espécie de epopéia infantil. Nada de elegíaco ou de lírico: só uma vez um toque de sentimento na descrição .do país _dos ~?r.tos. Em geral trata-se de simples injúrias vulgares, Imprecaçoes triviais contra os feiticeiros, ou maneiras de exi- mir o grupo de qualquer responsabilidade. Afinal o sentimento não é excl~d~ mas sobrepujado, mesmo nos cantos mais desenvolvidos, pela descnçao dos fatos e pelos temas rituais jurídicos.
. D~as ,p~lavras p~ra concluir de um ponto de vista psicológico ou mterpsIcologIco, se quisermos.
_ Ac~bamos de. demonstrá-I o : um considerável número de expres- soes orais de sen.tImentos e emoções, em muitas povoações espalhadas em todo um ,contl1~ente, :êm. unicamente caráter coletivo. Digamos logo qu~ este carater ~~o prejudica em nada a intensidade dos sentimentos, muito pelo contrário. Lembremos as listas sobre o morto feitas pelos Warramunga, os Kaitish, os Arunta.
Mas todas as express~es coletivas, simultâneas, de valor moral e de força obrig~tória dos sentimentos do indivíduQ. e do gr.ER 0 são mais .9ue meras mamfestações, são sinais de expressões entendidas uer dizer
aos outros, por conta dos outros. É essencialmente uma a ão simbólica. Aqui chegamos às beIíssimas e curiosas teorias que M. Head M. Mourgue e os psicólogos mais prevenidos nos propõem das funções naturalmente simbólicas do espírito. Temos um terreno e fatos sobre os quais psicólogos, fisiólogos e sociólogos podem e devem concordar.