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MAYER, A-A Força da Tradição-A Persistencia do Antigo Regime -1848à1914 -Texto, Notas de estudo de História

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Tipologia: Notas de estudo

2015

Compartilhado em 24/06/2015

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antonio-bezerra-moraes-9 🇧🇷

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ARNO J, MAYER A FORÇA | DA TRADIÇÃO A PERSISTÊNCIA DO ANTIGO REGIME (1848-1914) Tradução: DENISE BOTTMANN Consultor desta edição: FRANCISCO FOOT HARDMAN [Rio BIBLIOTECA BISTÓRIA - FFLCE USP (em PAHO pre ComraNHIA DAS LETRAS INTRODUÇÃO Mesmo com o decorrer do tempo, a primeira metade do sê- culo XX se destaca por ter testemunhado um cataclismo sem prece dentes e um divisor de águas fundamental na história da Europa, Não é provável que a crescente distância temporai e psicológica di- minua ou faça parecer normaf, de modo significativo, à enormidade do horror da Grande Guerra e do Ossuário de Verdun, a desmedida ca Segunda Guerra Mundial e de Auschwitz. Mas, devido à arrai- gada ignomínia e atrocidade deste auto-sacrHício e holocausto — incluindo Hiroshima —, os historiadores sempre continuarão à in- vestigar suas causas subjacentes. Também continuarão a lentar pe- netrar os sofrimentos e a ferocidade da revolução e do regime bal- cheviques, que constituíram o principal raio de esperança numa das noites mais negras da Europa. A Rússia foi envolvída fatalmente por essa colossal turbulência, sacrificando mais sangue e bens do que qualquer outra nação. Paradoxalmente, ainda que periférica em re- iução à civilização ocidental, a Rússia esteve, todavia, entre seus maiores desestabilizadores e últimos salvadores. A intenção deste livro é contribuir para a discussão sobre à cuusa causans é à natureza interna do recente “mar de problemas” geraldo século; XX: A segunda premissa é a de que a Grande Guerra de 1914, ou a fase primeira e protogênica dessa crise geral, foi uma consegiiência 43 terior dos anciens régimes que dominavam o cenário histórico eu: ropeu. Não existem categorias isentas de valores para se abordar essa realidade. Por um lado, falar da Europa da época como marcada- mente pré-moderna, pré-industrial e pré-burguesa: à endossar, pelo menos de modo implícito, a idéia de que as forças do progresso es- tavam prestes a herdar o mundo. Por outro lado, referir-se à Europa como urna sociedade ancien régime ou semifeudal é ratificar o pres- suposto de que as forças e instituições da permanência estavam à beira do colapso. É óbvio que tais rótulos e imagens representam uma inferência retrospectiva, c a opção por um desses conjuntos é, em si mesma, um juízo histórico. Porém, um livro que se propõe a investigar e reavaliar as dimensões da “antigiidade” na Europa, entre 1848 e 1914, não pode evitar a aplicação e o refinamento de noções como ancien régime e feudalidade. Os velhos regimes da Europa eram sociedades civis e políticas com poderes, tradições, costumes e convenções diferentes. Precisa- mente por tonstituírem sistemas sociais, econômicos e culturais coerentes c integrais, dispunham de excepcional elasticidade, Mesmo na França,.onde o.ancien-régime foi. dectarado-legalmenite morto entre. 1789 e 1793, ele continuou a ressurgir. de Jórma violenta e a sobreviver sob várias formas por mais de um século. Evidentemente a Europa não era uma entidade única, Havia enormes variações na- cionais e regionais na economia, estrutura social, tradição jurídica e perspecliva mentai, e essas singularidades históricas não podem ser ignoradas ou minimizadas. Não obstante, em seus primórdios, bem como em sua duradoura extensão até os tempos modernos, 9 ancien régime foi um fenômeno nitidamente pan-enropeu, A sociedade civil da ordem antiga consistia, sobretudo, em uma economia camponesa e uma sociedade rural dominadas por nobrezas hereditárias e privilegiadas. À exceção dé uns poucos ban- queiros, negociantes e armadores, as grandes fortunas e rendas se baseavam na terra. Portoda.a:Europa, as.nobrezas, fundiárias ocu-. pavam o-primeiroptang não.só,em.. termos. econômico: sociais :e, culturais-mas'tâmbémpóliticos.. ; NR . De fato, a sociedade política era o sustentáculo dessa socie- dade agrária de ordens. Em todas as partes, ela assumiu a forma de sistemas absolutistas de autoridade com graus diversos de esclare- cimento, encabeçados por monarcas hereditários: Às coroas reina- 16 vam e governavam com o apoio de amplas famílias reais e partidos da corte, além de ministros, generaís e burocratas obedientes. A Igreja era outro componente e pilar do ancien regime. Inti- mamente ligada tanto à coroa como à nobreza, estava, como elas, arraigada à terra, que constituía sua principal fonte de renda. O alto clero era de proveniência social elevada, exercia uma vasta iniluên- cia e desfrutava de importantes isenções fiscais e legais. Como uma grande instituição corporativa, a Igreja dispunha de considerável autoridade, através do quase-monopólio dos serviços educativos e sociais e do controle exclusivo sobre os ritos sagrados de nascimento. casamento e morte. “Todo o regime estava-impregnado pelaherança-do feudalismo “que, se pressupunha, havia expirado com-a-Idade:Média e-fora afi- nal declarado. “totalmente-abolido!!sna-França.em.-aposto.de 1789: Como o termo “teudalidade” se mantém controverso nas discussões sobre a história da Idade Média e início da Idade Moderna, está fadado a ser ainda mais polêmico ros estudos de história moderna e contemporânea. Segundo Marc Bloch, nenhuma região na Europa jamais teve uma sociedade feudal “completa”, e diversas partes da Europa loram feudalizadas em vários graus e a diferentes velocida- des. Mas Blach também ressaltou que, apesar de grandes diferenças na forma, intensidade, espaço e tempo, as sociedades feudais euro- pêias partilhavam de importantes traços comuns: o-tracionamento do Estado central em-feudos;:os-laços.de dependência .pessoal, pro teção e hereditariedade implantados-na propriedades e exploração da terra, 8 “obrigação honrosa de empunhar armas'";-reservada às or- dens.ou vassalos.superíores e-a-extrema-desigualdade social e poli- tica, favorável.a uma pequena oligarquia de proprietários de-terras, “guerreiros e eclesiásticos. Predecessor do ancien régime, o regime feudal sé caracterizava por uma forma particular de propriedade, frequentemente pela servidão, e sempre pelo pagamento de obriga- ções fendais e senhoniais. Esse sistema de produção, que se baseava sobre a sujeição legal e a exploração econômica de uma imensa sub- classe, vinha embutido numa complexa estrutura de instituições so- ciais e políticas. Com o renascimento do Estado territorial e o desenvolvimento da idéia de soberania política, a autoridade monêrquica pôs fim ao feudalismo político e militar. Reivindicando o monopólio sobre a coerção, as dinastias presidiam à expansão de exércitos permanentes e burocracias centralizadas leaís à coroa. Também asseguravam a 17 Igrejas: cujos membri independência fiscaf necessária para financiar esse grande c cres- cente aparelho de Estado sem se dobrarem excessivamente à no- breza. Na medida em que o poder político, jurídico e militar estava intimamente associado à propriedade da terra, ele declinou de modo muito mais rápido e extenso do que ela. O duradouro -sistema-se- nhoriaí deixou uma-prolunida marca:no;antigoitegime!tao- perpetuar: osinobres;privilegiados-que exaltavam-esseiarrogavam-o-espírito da: jealdade pessoal, » prática das.virtudes.marciais e:o dever do.serviço: umas »diminuição:política::Mesmo;; gesua- 1 posição. quanto propriedade: da: erra, enquanto elabgráva: um niodusvivendi com E coroa; nobréza: ide espada impregnou 1 jodaanobrezaida sefviço público; civire milita: com:seus preceitos iradicivfais:/De fato, os próprios reis se imbuí- ram desse estilo nobiliárquico. Vendo-seus-prôprios tronos-ligados:à. sociedade hierárquica- de ordens;. sustentaram. sogial-e economica-, menle-essa sociedade-civil.. Ao mesmo tempo, embora os-moriárcas absolutos «despojassem-os-nobres:e-senhores-de:sua"autoridade-poli- tica e militar soberana, assimilavam-nos-em:seu-apárelho.de.Bistadi Daí resultou que, ao permearem o aparelho de Estado e, em parti- cular, os seus Funcionários de origem não-nobre com seus próprios preceitos, e ao ocuparem posições-chave nos novos exércitos e buro- cracias, os nobres compensaram sua perda de poder político pri- vado. Aiobrezas taritbénio erbeneficion: de AntimAs:ligações.com: “undiária. im;-o-feudalismo -nitidamente-datou a-antiga-ordem-euro- «péia, com muito.mais-que-um-mero-»revestimento:de-tradições;+cos- tumes.e.mentalidades.de classe-superiar:*Ele-penttrou-nos-anciens rêgimes:atravês:de-nobiliarquias, posicionadas de-múdo"a“mónopo= tizar.postos-econômicos, militares;-burocráticos-eiculturais-estraté- -gicos; Esses nobres pós-leudais adaptaram seus laços de dependên- cia, hereditariedade e enobrecimento, de forma a refletir e reafçar sua posição privilegiada entre as classes dirigentes é governantes dos 18 .e renda -das.classes ; novos Estados territoriais. Evidentemente, a configuração € o cará- ter repressivo desse -prolongamento da feudalidade variaram .con- forme o lugar.e a.região::As diferenças enire asEuropasasleste-e a ceste doElbase tornaram mais notáveis. Em particular na Rússia e ma Prússia, mas também na Hungria e no sul da Iáliaxso-sistema, de-prestação-de:tarefa e a:servidao:legal:realmente:se intensificaram em,yez-de desaparecer-aos:poucost Por toda a maior parte do resto da Europa, os nobres fundiários se tornaram pós-feudais, em termos econômicas, ao adotarem métodos capitalistas de produção agricola e exploração da terra. Mi r desse crescimento do capitalismo ntoúa Impregnar as alas esferas da-sor “ida-cuturar da política com seespinto leúdal. As economias européias forneceram a sustentação material para a continuidade desse predomínio das nobrezas fundiárias e do serviço público. Aterra-continuow-asera principaljorma-.derriqueza irigentes-e-governantessaté-1914. Não menos significativamente, a manufatura de bens de consumo continuou a superar a produção de bens de capita! em sua participação na ri- queza, produção e emprego nacionais. Essa afirmação ê válida mesmo para a inglaterra, onde a importância econômica da agricui- tura sc reduzira drasticamente, e para a Álemanha, que viveu um surto espetacular de desenvolvimento industrial entre 1871 e 1914. Através da Europa, pequenas e médias empresas de propriedade, financiamento e direção familiares dominavam os setores industriais e comerciais.das economias nacionais. Essc capitalismo empresarial úiguesia qué; no máximo, era profonacional.; Cómo partilhava;interesses:econômicos,:mas:con- tava; apenas eoiir umarestrita:coesão. social 1 Essa bisrgiie- «politica. ia mariufatureira é mercantil não poderia se comparar à nobreza fnidiaria emiilermosde-clâsse/sratus ou poder: É certo que. na «última:trintena-do-século: KT; a crescimento de indústrias de bens de produção com capita! intensívo deu origem a uma burguesia in- dustrial. Mas, independentemente de terem permanecido com uma importância econômica limitada até 1914, esses magnatas da indús- tria e seus associados nas corporações financeiras e nas profissões liberais estavam muito mais dispostos a colaborar com os agraristas e as classes governantes estabelecidas do que com a burguesia mais antiga de manufatureiros, negociantes e banqueiros, Assim como não existiu nenhuma sociedade feudal completa ou exemplar, não heuve nenhum ancien régime pós-feudai ou prê- 19 e-dos interesses agrários; que-com toda a razão consideravam a | estrutura-de.aço do ancien régime como a-armadura que protegeria / suas posições privilegiadas, mas expostas: Alein-dissó; os Sondutores / do Estado obtiveram:a lealdade:da-búrguesia ao favorecer ou salva-/ guardar ;scus;inierósses econômicos: através de :coritratos:governad * mentais, 'tarifasprotetorasé concessões coloniais! Se os elementos feudais nas sociedades civil: é política perpe-, tuaraim, sen predomínio-de ;moódo:tão:eficiente,(isso“se deveu em grande-parte:ão fato de-saberem.como: adaptar .é Tenovar à si mes-| mos: Às.nobrezas do serviço público, tanto civis como militares, re- ceberam novos rebentos qualificados e ambíciosos das profissões li- berais e dos negócios, embora fossem cuidadosos ao controlar de perto essa infusão de talento e sangue novos. Osirecéin-chegados tinham-de passar por escolas de elite; ingerir 'ó!espírito corporativo;e demonstrar fidelidade aanitiga Order como: pré-requisitos:para-seu avanço. Ademais, os escalões mais altos da burocracia estatal e dos serviços militares continuavam reservados a homens de elevado nas- cimento e assimilação comprovada. Os magnatasfundiário: foram menos-eficientes-ao se ajus- tárem-ãós tempos'si.transfórmação: Agima de túdo;:absorverâm é puseram em.prática os princípios: do capitalismo-e da política de interesses sem; contudo, abdicar de sua concepção de mundo, pos: tura e relações aristocráticas; Alguns proprietários nobres se torna- ram prósperos patrões. Outros combinaram a exploração racionali- zada da terra e da mão-de-obra rural com a produção de.laticínios, a moagem, a destilação e a fermentação em grande escala Qiitros -Aainda:-se voltaram para'a-extração-demadeira-carvão:e minérios de - suas. terras.e-investiram-em-especulaçõeszindustriais: Além disso, todos igualmente aprenderam a recorrer à prática de lobbies e de assistência politica mútua, e ainda à política partidária e de pressão, para proteger ou promover seus interesses. O estâmento agrário as» sumiu de modo crescente os atributos de classe é a consciência de classe, e agiu segundo eles. EssW'adaptaçãoextensa'émultilaters'usúálinenie ê tida:como: evidência de:desenobrecimento edesaristocratização dacantigaror- outro:modo de encarar:essa adaptação. Assim como a :industriali- zação-se enxériou sobre estruturas societárias e políticas preestabe- lecidas; da mesma formã ós-elemernitos:jeudais conciliaram/seu com- 22 J| portamento burocrático e econômico racionalizado com sua práxis e mentalidade sociais é culturais preexistentes..Em outras palavras, as velhas elites Primaram por: ingérir; adaptar e: assiinitar; ide ma- neira seletiva; nnyas-IdeéiaS e práticas; sem ameaçar seriaménte seu stetus;temperamento e perspectiva: tradicionais.-Qualquer.que-te- do e: diluição .e :depreciação.-.danobreza; vela. foi.gradual.e «circunscrita-foifacilitada;pela.avi-. :erao engbrecimento::En-. aptação;'a"burpuesia:primava pela quanto.anohrezarerashábil'na: emutação;sÃo longo de todo o-século-XUX e do início do:século XX, os grands bourgeois se negaram a si mesmos, ao imitarem e se aproi priarem dos mados-da nobreza;-na esperança-de ascender a:ela. Os grandes-financistas e-homens-de-negócios compraram-propriedades rurais, construíram. casas-de-campo; enviaram-sens-filhos-para-e: colas superiores de-elite.e assumiram poses e estilos de vida aristo- Í h eresforçavam pará penetrar nos. círculos aristo- | cráticos ercortesãos €-5e-Bagar dentro dacnobreza ttulada::Porále | timo;;masiiião:de menor importância, sólicitayam condecorações e, | sobretudos cartas patentes “de nobreza: Esses: barões aristocrati- zantes da indústria.e do comércio.não eram simples parvenus ou arrivistas ignorantes que fizessem mesuras e reverências em troca de honras vazias da-parte da classe ociosa-parasitária de uma velha ordem-decadente, Pela;contrário;isiralobsequiosidade era.extrema- ihente-prática-e conseguente.:Os-burgueses visavam à ascensão so- cial,por. razões de proveito: material; status sociál.e gratilicação:ps quica; Ademais, e não menos relevante, ao renegarem a si mesmos a fim de tentar participar como simples membros do antigo esta- blishment, os burgueses aristocratizantes debilitaram sua própria formação de classe e consciência de classe, e aceitaram c prolonga- ram sua posição subordinada na “simbiose ativa entre os dois es- tratos sociais”. «SMas-houve-tambéri-um=outro-resultado::Como-parie-de-seu «empenho:emescalar: irâmide-socialve:demonstrar. sua. lealdade» política;os-burgueses-abraçaram-a-alta:cultora-historicista'e'patros — cinaram;asjnsiituições'hegemônicas-que:eram:dominadas-pelas-an- tigaselites Oresultado foio fortalecimenito-das"hiriguagens,.conven- ções.e simbólos-clássicos.e acadêmicos-nas artes e. letras, em, vez.do estímulo-aos.impulsos-modernistas.-Os:burgueses, se permititâm-Ser envolvidos.por um sistema cultural e educacional que. defendia e ; t 23 reproduzia o ancier régime. Neste.processo;: minaram.seu:próprio potencial capaz de inspirar-a-concepção.de uma nova estética eum novo entendimento. Na:verdade,-os- burgueses auto-renegados estavam .entre..os paladinos:maisentis sticos-da, arquitetura, escultura, -pintu artescênicas tradicionais. Essa alta cultura clássica contava com um enorme apoio estatal, Academias, conservatórios e museus propor- cionavam treinamento, acesso à carreira e prêmios oficiais. Os go- vernos financiavam a maioria dessas instituições, faziam encomen- das e patrocinavam atividades artísticas coletivas e individuais. As igrejas e universidades faziam parte desse elevado edifício hege- mênico. «Mas: afirmara “ques “as: convenções: linguagen «mantinha e semidarNa medida em que » Europa era uma antiga ordem, “sua alta cultura oficial lhs era congruente, Pode-se até dizer que algu- mas das realizações culturais mais refinadas da Europa eram e con- tinuaram a ser “inseparáveis do ambiente do absolutismo, da ex- trema injustiça social, e até da violência crassa, em que Horesce- rum”. Sem dúvida, a julgar pela tendência para à repetição forma- lista, excessiva ornamentação e momumentalização, algumas das artes vinham se esclerosando e se arrastando na retaguarda de seu tempo. Mas. por serem pomposas € especiasas, nem por isso as pro- duções culturais foram menos efetivas. Certamente as culturas ofi- ciais não estavam prestes a ser subvertidas ou derrubadas pelas vanguardas modernistas, que continuaram a ser assimiladas, diluí- das e afastadas. As mentalidades das elites européias provavelmente se arras- tavam ainda mais atrás dos desenvolvimentos econômicos que sua vida social e cultural. De qualquer forma, seu arcabouço mental se transformou muito lentamente e foi talvez o mais revelador de seu enraizamento contínuo e afiança com o antigo regime. As classes governantes, em que o elemento feudal se manteve particularmente evidente, estavam de todo imbuidas de valores e atitudes nobiliár- quicas. Sua concepção de mundo era consoante côm uma socitdade antoritária e hierárquica em vez de liberal e democrática. Nos anos 1780, uma reação aristocrática em defesa de privilé- aios fiscais, sociais e burocráticos se tornara uma importante. possi- velmente decisiva, causa subjacente e imediata da Revolução Fran- cesa, o primeiro ato da desintegração do ancien régime da Europa. 24 ontcusas va ubana o Na época, as nobiliarquias iaicas e ciericais resistiram a qualquer perda adicional do controle sobre a sociedade política, que se tor- nara um escudo cada vez mais essencial para seu status privilegiado. De forma semelhante, entre 1905 e 1914 as antigas elites passaram a reafirmar e reforçar sua influência política, a fim de defender seu predomínio material, social e cnitural. Nesse processo, intensifica- ram as tensões nacionais e internacionais que produziram a Grande Guerra, abertura do ato final da dissolução do antigo regime na Europ 25