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Ministério do Planejamento e Orçamento Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE Diretoria de Geociências - DGC Cadernos de Gecciências ISSN 0103-1597 Cad. Geoc., Rio de Janeiro, n. 12, p. 1-179, out/dez. 1994 FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE DIRETORIA DE GEOCIÊNCIAS Av, Brasil, 15671 - Bloco HI B - “Térreo - Parada dé Lucas - Rio de Janeiro - RJ Tel.: (021) 391-1420 ramal 223 - CEP 21.241-051 Presidente da República Fernando Henrique Cardoso Ministro de Estado do Planejamento e Orçamento José Serra FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE Presidente Simon Schwartzman Diretor de Planejamento e Coordenação Rosa Maria Esteves Nogueira ÓRGÃOS TÉCNICOS SETORIAIS Diretoria de Pesquisas Tereza Cristina Nascimento Araújo Diretoria de Geociências Sergio Bruni Diretoria de Informática Paulo Roberto B. e Mello Centro de Documentação e Disseminação de Informações Angelo José Pavan DIRETORIA DE GEOCIÊNCIAS Diretor Sergio Bruni Diretor Adjunto Ney Alves Ferreira Departamento de Cartografia Isabel de Fátima Teixeira Silva Departamento de Geografia César Ajara Departamento de Geodésia FemmandoAugusto de A. Brandão Filho Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais Ricardo Forin Lisboa Braga O IBGE ISSN 0103-1597 Departamento de Estudos Territoriais Fernando Rodrigues de Carvalho Departamento de Documentação e Informação Joil Rafael Portella Divisão de Planejamento e Organização Cláudia Cotrin Corrêa da Costa Divisão de Suporte Administrativo Mauro Henrique da Silva CADERNOS DE GEOCIÊNCIAS Cademos de Geociências, publica- ção trimestral da Diretoria de Geociências do IBGE, possui cir- culação nacional e internacional e tem por objetivo, a divulgação de trabalhosna área das Geociências, elaborados por autores nacionaise estrangeiros. Editor Joii Rafael Portella Co-Editor Roberto Sehimidt de Almeida Coordenação Carlos Alberto Passos Cabral Letícia M, A. de L. Figueiredo Comissão Editorial Carlos Alberto Lopes Ferreira Edson Pereira Ribeiro Nilo Cesar Coelho da Silva Paulo R. Peranzetta Ferreira Helena Maria M. Balassiano Dora Rodrigues Hees Jaime de Souza Pires Neves Jaime Franklin Vidal Araújo Carmem Zagari Machado Ely de Souza Ferreira Mauro Preisler da Rocha Correspondente na Frariça - Gelson Rangel Lima Normatização Editorial Ceni Maria de Paula de Souza Helena de Mello Pereira Controle de Textos/Arquivo Fernando Motta Lima Cascon Sandra Elena da Fonseca Copidesque e Revisão Robson Waldhelm Carmem Diva N. G. Vilarinho Cremilda Carneiro Lucas Edição de texto Zuleica da Costa Veiga Diagramação e Arte André Luís da Silva Almeida, José Augusto Barreiros Sampaio Impressão Manoel Barreiro Capae Programação Visual Carlos Alberto Passos Cabral Publicação editorada e elaborada pelo sistema de editoração eletrô- nica na Divisão de Documentação e Processos Gráficos - DGC/DE- PIN/DIPRO-SES, em dezembro de 1994 Cadernos de Geociências não se responsabiliza pelas informações, conceitos e opiniões contidos em artigos assinados. Cadernos de Geociências / Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Diretoria de Goociêi cias - n. 1 (1988) - Rio de Janeiro : IBGE, 1988. ISSN 0103-1597 1. Geociências - Periódico. I. IBGE, Di- retoria de Geociências. II, Título IBGE/CDDI, Departamento de Docu- mentação e Biblioteca RJ-JBGE/88-08 CDUS5(05) Impresso no Brasil'Printed in Brasil Editorial Estudo abrangente sobre a Biogeografia do Bioma Cerrado inaugura “Artigo Especial” Cadernos de Geociências apresenta neste número “ Artigo Especial. É mais uma novidade para os leitores que terão a oportunidade de conhecer estudos mais complexos e abrangen- tes, fruto de resultados de pesquisas, projetos ou de teses de mestrado. . Esses trabalhos eram, anteriormente, publicados em Cadernos Especiais, com tiragem limitada e distribuição dirigida. Agora, todos os leitores terão acesso a esses importantes estudos. Na estréia, apresentamos o Relatório do Projeto Biogeogra- fia do Bioma Cerrado - Vegetação e Solos, que significa para o Brasil a primeira tentativa de um projeto integrado na área de recursos bióticos, com o envolvimento de mais de 40 cientistas de quatro diferentes instituições que se uniram com vistas a um esforço de análise conjunta. Em Opinião, Cadernos de Geociências mostra a entrevista da botânica Graziela Maciel Barroso que, na lucidez dos seus 82 anos, critica a falta de apoio governamental às pesquisas e reclama dos crimes ecológicos perpetuados por esse Brasil afora, afirmando que a nossa flora é uma das mais ricas do mundo, mas que. a ambição e o desleixo estão destruindo nossos ecossistemas. Neste número, o leitor encontrará excelentes artigos sobre cli- matologia: Efeitos de vulcões no clima, Considerações sobre o clima e solo da Floresta da Tijuca e Búzios e Climaiologia do litoral Sul-Sudeste. Além disso, artigo sobre geografia humana: Interfe- rência de Brasília no ambiente rural: um registro histórico-geográ- fico obtido por geoprocessamento; sobre sensoriamento remoto: Painel de amostras de áreas para pesquisa agropecuária do Estado de São Paulo; e sobre vegetação: Caminhamento - Um método expedito para levantamentos florísticos qualitativos. O Editor Botânica Graziela Maciel Barroso “ Falta apoio à pesquisa no Brasil” Opinião “O importante não é descobrir, mas sim redescobrir espécies”, diz entusiasmada, na entrevista para Cadernos em seu“retiro” na Pedra de Guaratiba, no Rio, a botânica Graziela Maciel Barroso, 82 anos bem vividos e dedicados à pesquisa e ao estudo da flora dos ecossistemas brasileiros. Ao longo do tempo, Graziela participou de inúmeros projetos de botânica e até hoje vem orientando estagiários de algumas universidades brasileiras. * Muitos deles, nos tempos atuais, estão seguindo um caminho mais tranquilo do que o meu”, afirma a Dra. Graziela que se disse muito discriminada quando começou seus estudos na década de 40, O respeito e a admiração da comunidade científica nacional e estrangeira pelo trabalho desenvolvido por ela são reflexos da dedicação em que se entrega aos crientandos e à atividade realizada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro e diversas entidades por quase meio século de trabalho. Ela critica a falta de apoio do Governo às pesquisas e o descaso com que são tratadas as pessoas envolvidas no estudo da taxonomia vegetal. * A nossa flora é uma das mais ricas do mundo, mas a ambição e o desleixo estão destruindo nossos ecossistemas”, reclama a Dra. Graziela ao constatar in loco por diversas vezes, alguns crimes ecológicos perpetuados por esse Brasil afora. Recebeu homenagens e condecorações de várias entidades e foi agraciada com o título de " Primeira Dama da Botânica Brasileira”, num livro feito pelo botânico e técnico do IBGE, Tarciso S, Filgueiras. Cadernos- Como a senho- ra ingressou na área de Botânica? Graziela - É uma história longa mas, graças a Deus, vitoriosa. Fui muito comba- tida e criticada pela audácia com que enfrentava as situa- ções de uma época (década de Entrevista a Robson Waldheim muito discriminadas. Casei cedo com um agrônomo — Dr. Liberato Joaquim Barro- so — que gostava de Botâni- ; ca Sistemática. Andamos pelo Brasil todo e eu sempre cuidando da família mas sem trabalhar fora. Quando os meus filhos estavam cresci- dos, eu comecei a estudar. a me ensinar Sistemática. Era rigoroso e com ele atua- va uma turma de agrônomos : conhecidos. Eu gostava do assunto e logo me sobressaí nos estudos. Depois de al- gum tempo consegui empre- go como herborizadora, no | Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Jáidentificava mui- to material. Trabalhava com 40)em que as mulheres eram E Cadernos de Geociências projetos desenvolvidos em níveis de formação, como por exemplo os da Mata Atlânti- ca. Cadernos - Falando-se em levantamento florísti- co, a senhora acha que o estudo deve ser ampliado para vários ecossistemas brasileiros? Graziela - Claro. Para to- dos eles. Agora está se fazen- do este levantamento com- pleto na Mata Atlântica e também nas restingas, prin- cipalmente em relação às Mirtáceas de restingas, do sudeste e do nordeste. Eu mesma tenho cento e poucas espécies fichadas. É preciso fazer também o Cerrado, pois todo mundo sabe que ele é muito rico. Porém, com as queimadas todos os dias se perde muita coisa. Ninguém sabe ao certo a quantidade exata de espécies. Portanto, é preciso trabalhar correta- mente o Cerrado. Na Mata Atlântica o levantamento tem que continuar... é traba- lho para mais de 20 anos. Cadernos - Apesar dos desmatamentos e quei- madas, ainda se descobre muitas espécies? - Claro. Na Bahia ainda se encontra um número muito grande de espécies novas. Aqui no Rio tem pouco mate- rial novo descoberto. Cadernos - Os trabalhos de pesquisa têm incenti- vos governamentais ou de empresas particula- res? O Governo atua nes- sa área? Graziela - Há algumas Fundações que estão ajudan- do e empresas particulares também. O governo propria- mente dito muito pouco aju- da e atua nesta área. O Jar- dim Botânico é exceção. As empresas particulares é que colaboram muito mais. Cadernos - Elas (as em- presas privadas) colabo- ram simplesmente pela ciência ou querendo al- gum retorno? Graziela - Colaboram pelo desenvolvimento da ciência. Mas é claro que to- das elas pensam em algum tipo de retorno, principal- mente através da mídia. Vide o caso da Shell que fi- nancia muitas pesquisas e tem um bom retorno comer- As empresas privadas até que colaboram pelo desenvolvimento da ciência. Mas, é claro, querem ter um retorno através da mídia, seja de que forma for. O lucro também faz parte do marketing cultural. Algumas multinacionais têm um bom retorno nessa área. cial, Tem a Fundação McArt- hur que também ajuda, mas ela é uma instituição mais científica. Na Bahia, existe um projeto de pesquisa sen- do financiado pelo Jardim Botânico de Nova York. Cadernos - De um modo geral, a senhora acha que o País está desenvolven- do bem esse tipo detraba- | muito dos ingleses. Eles são lho? Graziela - Apesar dos pe- sares, acho que sim. Se esses projetos de levantamentos florísticos não forem desati- vados, eu acredito que todos os ecossistemas serão con- templados pelo Governo, na medida do possível. Repito que todo este trabalho deve ser estendido a todos os ecos- sistemas brasileiros. O Mi- nistério do Meio Ambiente poderia fomentar esse traba- ho, mas por razões óbvias não faz grande coisa. Cadernos- Quais os crité- rios utilizados para dar nome a espécies novas não conhecidas? Graziela - À gente identi- fica, classifica e determina as características da espécie. Dá-se o nome e o local onde EN) Sá foi encontrada a espécie. Eu mesma dou o nome, ou um sobrenome da pessoa que en- controu a espécie, ou ainda o nome de alguma família. Se a espécie ainda não foi des- crita em nenhuma revista científica, você está classifi- cando, e dá-se o nome ligado aalguma característica mor- fológica e peculiar daquela planta ou do local onde a es- pécie foi coletada. Neste caso, publica-se na revista científica o nome acompa- nhado por uma descrição em latim e um desenho. Cadernos - Os pesquisa- dores encontram dificul- dades e obstáculos em re- lação à literatura sobre o assunto? Graziela - Sim, a literatu- ra, em geral, é estrangeira e por isso temos que manter o intercâmbio com várias ins- tituições. Normalmente existe um bom nível de coo- peração entre as entidades. Eu, particularmente, gosto muito receptivos no contato entre as entidades. Atendem todos os meus pedidos e cola- boram muito com as minhas pesquisas. Cadernos - À senhora tem um leque maior de conhe- cimento, mas o pesquisa- dor comum tem dificulda- de de relacionamento? Graziela - Tem. Mas quando um pesquisador gos- ta do trabalho que realiza e pede apoio às entidades es- trangeiras, elas ajudam no que é possível, Eu funciono como intermediária desse contato entre os pesquisa- dores e as entidades. Com o meu conhecimento muitas arestas e dificuldades são sanada neste tipo de traba- o. J0 IBGE - Diretoria de Geociências AN) SE Cadernos - É verdade que a Inglaterra ou outro país tem um conhecimento maior sobre a fauna e a flora brasileira do que o nosso próprio País? : Graziela - Não. Eles não têm um maior conhecimento. Possuem, isto sim, o nossos tipos de espécies. Os explora- dores já estudavam a nossa flora e fauna desde a época da colonização portuguesa. Eles levaram um número considerável de amostras, Têm toda documentação de inaterial “científico e biblio- grafia das espécies coletadas no Brasil, Cadernos - Não existe um acordo científico entre as entidades estrangeiras e brasileiras de cooperação inútua? * Graziela - Agora existe, Eu consegui muito material e bibliografia quase comple- ta através dessa cooperação. Mas meus trabalhos são fei- tos em Português. Disso eu faço questão, nada de idioma estrangeiro. Se o trabalho é bom, os estrangeiros arran- jam uma forma de entender o português, À prova disso é que recebi indicação de um pesquisador, na Alemanha, que consultou omeu livro es- crito em português. Fiquei muito contente. Se a gente respeita nossa lingua, tudo é mais fácil. O povo que não respeita a sua própria lingua é um povo que deve desapa- recer, Está prestes ao aniqui- nilamento. Cadernos - Hoje em dia, não lhe parece que esta- mos atravessando um pe- ríodo difícil para publica- ção de trabalhos? ! Graziela - Isto é verdade, Muitas vezes alguns artigos | científicos produzidos pelos pesquisadores acabam no es- quecimento. Eles mesmos jo- gam fora toda uma produção. Isto já ocorreu comigo algu- mas vezes. A dificuldade é muito grande para a publica- ção de artigos científicos. Pesquisador brasileiro tra- O descaso pelas pesquisas e pelos próprios pesquisadores é tanto que eu fui vitima disso. O Ministro me homenageou pelo meu “trabalho realizado junto às crianças”. Ele nem sabia quem eneracoqueeu . realmente fazia ao cerio, balha porque é obstinado, e gosta do que faz. Na verdade, ninguém dá muito valor. Um exemplo do descaso aconte- ceu comigo mesma. Recebi medalha de honra ao mérito de um determinado Minis- tro, em Brasília. Ele me dis- se: “obrigado pelo trabalho que a senhora faz com as crianças”. O ministro nem sabia quem eu era e o que eu fazia ao certo. Cadernos - Pelo menos a senhora tem o seu traba- lho reconhecido no exte- rior, não é verdade? Graziela - Sim. Em parte, o meu trabalho é mais apro- veitado no exterior. Gosto do que faço e sou feliz com a minha atividade. Cada alu- no que eu orientei é hoje um Botânico. Isso me gratifica muito, eu me identifico mui- to com eles. Cadernos - Falando em amor pelas plantas, a se- nhora conheceu e teve contato com Burle Marx? Graziela - E claro que sim. Ele era muito meu amigo e tinha por ele uma estima muito grande. Foi uma perda irreparável no estudo e pre- servação da flora brasileira. Cadernos - Como a se- nhora vê essa idéia do Go- verno, em relação ao Cer- rado, de produzir soja nesta área? Graziela - A idéia faz par- te de um projeto que inclui o Cerrado do Mato Grosso. Urge que sefaça um levanta- mento do Cerrado para de- tectar as áreas mais cultivá- veis. O Cerrado está muito devastado... Quando a EM- BRAFA se interessou pelo Cerrado, mostrei a eles que não ia dar certo, Tem que se fazer um diagnóstico com- pleto das áreas de Brasília, Goiás e Minas Gerais. Falta fazer também um levanta- mento florísticono Pantanal, Ele não é rico em espécies, mas vale a pena estudá-lo. Todos os projetos dependem das pessoas que realmente saibam o que estão fazendo, a importância do trabalho. Tem que ser pessoal da área do estudo. A própria floresta da Tijuca, no Rio, foi pouco estudada. A gente não sabe o que foi que se conseguiu re- cuperar ah, pois essa área era uma grande fazenda de café e depois foi destruída. E, em parte, uma floresta arti- ficial. Se perguntar o que realmente tem ali, ninguém saberá responder. Tem que se fazer um estudo sério na Floresta da Tijuca. Um le- vantamento metódico e sis- temático da região. Cadernos - A destruição de parte dos ecossistemas éfeita por necessidade de produção do País. E pre- ciso abrir espaço para produzir café, soja etc. Como conciliar isso, à produção e à não destrui- ção? Graziela - E uma questão de bom senso. Em vez de se devastar uma área enorme, tem que se raciocinar sobre que realmente vai demandar a cultura e mantê-la sob o JEGE - Diretoria de Cepeiências 3º AM assim. Ainda falta educação, consciência, tanto ao povo como também à classe cien- tífica para determinadas questões botânicas. Tem gen- te que acha que esse negócio de nome de plantas é boba- gem. Cadernos - À estratégia conservacionista de cria- ção de unidades de con- servação, reservas extras tivistas, áreas de prote- ção, atende totalmente esta idéia de preserva: ção? Graziela - Não totalmen- te, mas a idéia de criação e preservação vem conscienti- zando a comunidade científi- ca; Esses lugares são vistos mais como áreas de turismo e poco de aprendizado. Em Linhares, no Espírito Santo está se fazendo um trabalho muito sério no sentido de criação e preservação da flo- ra e. da fauna brasileira, Em Hatiaiae na Serra dos Orgá- ug, no Rio de Janeiro, tam- bém tem se feito um bom tra: balho. Podia ser melhor. Em termos de estudos e pesqui- sas a Reserva Ecológica do . IBGE, em Brasília, é muito boa. Cadernos - Falando em reserva ecológica, à se- nhora ajudou o IBGE em relação à criação do her- bário da Reserva? Graziela - Sim. Sou sus- peita para falar. O herbário da Reserva do IBGE é relati- vamente novo e um dos mais representativos para a flora, isso em comparação com O Cerrado. Até hoje, desde a sua criação, eu ajudo a iden- tificar material para o her: bário: Não posso deixar de colaborar com um dos maio- res botânicos do País — Pro- fessor Tarciso-S. Filgueiras -— que tambéri aúxiliou na | criação do Herbário, Cadernos - Nesses anos todos de atividade, a se- nhora já descobriu mui- tas espécies novas? Graziela « Já descobri e redescobri muito material. Eu estudei e trabalhei no Jardim Botânico durante quarenta anos, classificando gêneros novos, como por, exempla o grupo de Legumi: nosas, Mirtáceas e Compos: tas. O importante não é des- cobrir espécies novas, mas sim redescobrir espécies que estavam dadas como desapa- recidas, extintas, Cadernos - A senhora teve muitas surpresas nesse período de ativida: de botânica? Graziela - Todo diasetem Surpresas, seja na vida pes: soai ou no trabalho. Como agora, num material no qual Aidéia da criação de unidades de conservação, reservas i extrativistas e áreas de proteção ambiental não pode ser distorcida, Esses lugares são vistos mais como “áreas de turismo e muito pouco de » aprendizado, Essa “ imagem prejudica a estratégia conservacionista: estou trabalhando e que veio da Bahia, Existe muita coisa interessante e surpreenden- te; Deus me deu a capacidade de trabalho e de cuidar prin: cipalmente das Mirtáceas. O estudo delas me fascina, mê dá uma alegria interior mui- to grande. Cadernos - Como funcio- não trabalho de pesquisa entre pesquisadores de fora do Rio de Janeiro, e a senhora? Graziela - Eu não estou mais viajando. Ássimo pes- quisador vai ao local de eole- ta e manda todo o material para mim. São caixas e mais caixas de material, princi- palmente quando é uma ex- cursão de estudos, para esta giários. Cadernos - É importante toda pesquisador ser pro- fessor e todo professor ser pesquisador? Como vê essa relação? Graziela - Essa relação, esse binômio pesquisa- dor/professor é importante: Se o professor não é pesqui- sador, ele não é completo e vice-versa, O pesquisador que dá aulas está sempre atualizado. Um complemen- tao outro. Acredito que deye- ria ser obrigatório o profes- sor ser também pesquisador, Cadernos - Dê uma men- Sagem para aqueles que estão começando em Bo- tâniea. Graziela - Não se pode deixar impressionar pelas dificuldades. Acho que quan- to mais dificil é. o trabalho, mais proveitoso e dignifican- te ele é, e eu considero o tra- balho de Botânica, Zoologia ete, muito importante ape- sar do menosprezo já relata- do, Mas tudo isso só pode ser feito e superado com amor.. muito amor, Quando. se transforma um trabalho em profissão de fé, você sente or. gulho dele, sente a necessi- dade que ele traz... preenche a sua vida, À vida é dificil, tenho 82 anos e já passei por muitas situações. Sempre tive o coração aberto e encon- trei no trabalho a fonte de inspiração para viver. Só gos- tango do que se faz-é que se faz hem feito. S6 envelhece quem. não está interessado em aprender alguma coisa. Estamos sempre aprenden- do. A alegria de viver com- pensa tudo; não é só acumu- lar. conhecimento, é poder transmitir para outros a sua experiência. EFEITOS DE VULCOES NO CLIMA Luiz Carlos Baidicero Molion* RESUMO Fes uma revisão dos efeitos que os aerossóis vulcânicos têm sobre 0 clima. Esses aerossóis presentes na estratosfera impõem efeitos climáticos na escala decadal como na anual, Grande atividade vulcânica causa o resfriamento do planeta, como ocorreu na maior parte do século passado. Por outro lado, períodos em que a estratosfera está relativamente mais limpa, a temperatura do ar aumenta, conforme verificado entre 1920-1950. Já na escala interanual, os aerossóis vulcânicos, presentes nas baixas latitudes da estratosfera, parecem estar associados a eventos ENOS (El Ntfo-Oscilação Sul), enquanto sua presença em latitudes acima de 30º possivelmente provoquem eventos Anti-ENOS, Propõe-se, também, a hipótese que à presença de aerossóis nas baixas latitudes aumente a frequência de bloqueios sobre a América do Sul e intensifique a ZCAS (Zona de Convergência da América do Sul), causando estiagem na Amazônia e Nordeste e excesso de chuvas nos regiões Sul e Sudeste. Mostra-se, ainda, que as grandes erupções vulcânicas têm o impacto notável no camada de ozônio e sugere-se que elas devam ser consideradas como um parâmetro adicional para a previsão climática e de eventos ENOS. ABSTRACT he presence of volcanic aerosols in the stratosphere induces climatic changes of different time scales, particularly in the decadal and interannual scales. Frequent and intense volcanic activity leads to global cooling as it may have happened in the last half of the past century. On the other hand, periods that the stratosphere is relatively clean, the air temperature increases, as it occurred during 1920-50. In the interannual scale, the presence of stratospheric aerosol over tropical latitudes appears to be associated with ENSO events whereas outside the tropics the aerosols may possibly force La Nihia events. It is proposed that the existence of aerosois over low latitudes of South American continent increases the frequency of atmospheric blocking and enhances the SACZ, causing droughts in Amazonia and Northeast Brazil and excess of rainfall in the Southern regions. The suggestion, thus, is to consider volcanic aerosols as an additional parameter for climate and ENSO forecasting. Also, it is argued that large volcanic eruptions have severe impact on the ozone layer and it is one of the main causes of ozone concentration interannual variability. solar durante o verão de 1783, a qual atribui à INTRODUÇà 0 UÇÃO erupção do Vulcão Laki, na Islândia. À hipótese À preocupação de cientistas com relação aos efeitos de vulcões no clima já existe há muito tempo. Pelo que consta, Benjamin Franklin foi o primeiro atratar do assunto em uma palestra feita na Sociedade de Filosofia de Manchester, Inglaterra, em dezembro de 1784, quando rela- tou suas observações de redução da radiação *Prof. do Departamento de Meteorologia, CCEN/UFAL. Cod. Geo, Rio de Janeiro, n.12:13-23, out. des. 1994. de Franklin foi que havia se formado “uma névoa seca” em latitude, devido às cinzas ejeta- das pelo vulcão, que teria sido responsável pelo inverno de 1783-84 ocorrido no leste dos Esta- dos Unidos e oeste da Europa. Desde então, muitos trabalhos têm sido escritos e mais re- centemente podem citar-se Bryson e Goodman Cadernos de Geociências 15 (eU?) po — 8%0 E 1980 Figura 2 - Profundidade óptica média anual de aerossóis baseada em 42 estações entre 20ºN-65ºN (curva superior) e número de erupções anuais de grande magnitude, - Fonte: Bryson e Goodman, 1980. série da média anual da temperatura do ar, desde 1790, para a estação climatológica do Monte Hohenpeissemberg, a 1000 metros de altitude, nos Alpes da Bavária. Foi usada uma média móvel de 30 anos para suavizar a curva. Embora seja apenas um ponto de observação no globo, essas são medidas contínuas em uma região que, segundo 0 autor, praticamente não mudou nada nestes dois últimos séculos. Nota- se que a temperatura do ar caiu cerca de 1,5º€ desde o início do registro até aproximadamente 1880, voltando a aumentar até quase atingir os mesmos valores iniciais no final dos anos 50 e apresentou uma leve tendência de queda a par- tir daí. O autor também chama a atenção para a curva (b), que é a temperatura do ar média global adaptada de Jones et al. (1988), e sugere que a presente discussão sobre a variação do aquecimento global, causado pela intensifica- ção do Efeito Estufa devido às atividades huma- nas de queima de combustíveis fósseis e flores- tas tropicais, seria muito diferente caso a série de Jones et al. (1988) tivesse começado alguns anos antes. O comportamento da curva (a) cor- responde, com um pequeno atraso de fase, aos PVVs da Figura 1, Do início do século até 1880, período de grande atividade vulcânica, a tem- peratura decresceu; alguns anos após a explo- ta “Cc 6.8 6.4 su 5.6 | Apt J , ' ' ar L 2 1 N 1800 1820 140 1860 1600 tada 1920 AMO 1960 1980 | Figura 3 - Comparação da temperatura média do ar em Hohenpeissenherg (curva superior, escala à esquerda) e a variação da temperatura média global (eurva inferior, escala à direita), extraído de Roth (199). Jó JBGE - Diretoria de Ceociências são do Krakatoa (60S;1EV=6), em 1883, com a redução da atividade vulcânica, a estratosfera começou a se limpar e a temperatura aumen- tou, voltando a cair ligeiramente com o retorno daquela dos anos 60 em diante. À maior parte do propalado aquecimento global (0,49€, equi- valente a 80%) aconteceu antes de 1950 (Bal- ling e Idso, 1990) quando a queima de petróleo e florestas tropicais era muito abaixo dos níveis atuais e a concentração de CO, era inferior a 315 ppm. Adiminuição dos aerossóis vulcânicos na estratosfera explica as observações. A Figura 4, extraída de Bradley et al. (1987), mostra os índices de precipitação pluvial para os continentes do Hemisfério Norte (HN) que, embora cubra apenas parte do período da série de temperatura, fisicamente concorda com esta. A precipitação pluviométrica (a) saiu de seuminimum minimorum, registrado em 1857- 58, cresceu até meados de 1870, quando atingiu os valores máximos da série e decresceu até 1920; depois aumentou até o início dos anos 60, entrando em declínio posteriormente. O perío- do 1949-1964 foi o mais úmido dos últimos 130 anos (Bradley et al. 1987). A faixa 35ºN-709N, com exceção de um pequeno pico um pouco antes de 1880, apresentou-se mais seca que 0 presente até por volta de 1950 quando se tornou aso 0.50 040 1940 1960 35º-70ºN 5º-35ºN 1860 1900 1940 1980 Figura 4 - Índice de precipitação anual para as regiões continentais do Hemisfério Norte (a) e para as faixas Iatitudinais de 35ºN.70ºN (b), 5“N-85ºN fc) e 0º-5ºN, (d) desde a metade do século passado. A ordenada é dada em percentis da distribuição de probabilidade gama da precipitação. Fonte: Bradiey et al. 1987. 18 IBGE - Diretoria de Geociências julho 1982 DenusnaNAa T no» Nu A [e] LATITUDE st out-nov 1982 sk a sb 2L Po» o PR 1726/7774 DANNI 3 LH maio 1983 Figura 5 - Concentração dos aerossóis do EL Chichón em função da latitude para três épocas após a erupção, extraída de McCormick et al. (1984). a convecção sobre os continentes diminua. À pressão atmosférica ao nível do mar (PNM) fica acima da normal sobre os continentes e o gra- diente de pressão atmosférica entre continente -oceano reduz-se. Como consequência, a trans- ferência de massa continente- oceano é diminuída. Ou seja, as altas subtropicais do HN tornam- se menos intensas, os alísios en- fraquecem e as Zonas de Conver- gência Intertropical (ZCITs) têm sua incursão latitudinal reduzida. Segundo Handler (1986), oresfria- mento (menos radiação solar ab- sorvida) das massas continentais, relativamente aos oceanos, parti- cularmente do sul da Eurásia, é equivalente à fase negativa da Os- cilação Sul (OS). Baseado na argu- mentação acima, esse autor defen- de a hipótese de que os El Nifios sejam iniciados, e mantidos, pela presença de aerossóis vulcânicos em fase com o cielo anual. Handler (1989) mostrou 12 casos, acontecidos entre 1882 e 1988, em que há essa coincidência (Fi- gura 6). O nível de significância encontrado, usando o método de Monte Carlo, foi de 0,02 a 0,05%, ou seja, na ordem de 2 a 5 chances por 10.000 que seja mero acaso, o surgimento de anomalias de temperatura de superfície do mar (ATSMS) positivas no Pacífico, até três meses Os aerossóis resfriam os continentes, particularmente o sul da Eurásia, intensificando a subsidênciae o gradiente de pressão atmosférica continente-oceâno. após a data da erupção, e a presença de aeros- sóis em latitudes baixas. Analogamente, de- monstrou que o Índice de Oscilação Sul (108) é positivo de 12 meses até um mês depois da data da erupção e nagativo até 16 meses depois dela. Portanto, aerossóis presentes em baixas latitudes da estratosfera do HN, provocam eventos ENOS que, uma vez estabelecidos, afe- tam o clima do globo inteiro. Se- gundo Handler (1989), os aeros- sóis no HS também provocam eventos ENOS, porém com inten- sidade menor e de mais curta du- ração, conforme mostrado com a erupção do Monte Agung (89S;1EV=4) na Figura 6. Por outro lado, a presença de aerossóis nas latitudes maiores que 30º no HN, provenientes de erupções locais, e sua ausência em latitudes baixas, induziriam ATSMs negativas no Pacífico Les- te e IOS positivos, ou seja, um evento La Nina (Handler, 1986; Parker, 1988). Os aerossóis resfriam os continentes, particu- larmente o sul da Eurásia, intensificam a sub- sidência e o gradiente de pressão atmosférica continente-oceano, aumentando a transferên- cia de massas de ar para as altas subtropicais. Estas, e os alísios associados, se intensificam, aumentando a ressurgência no Pacífico Leste, Cadernos de Geociências 19 4 TT ay! 1 1 uy ar Auguatine 1 q ] . E pt 1 Lo- | | 4 Peléc/Soufriêro trata Lisias — | OT D ERA 802 1883 1802 1803 auiA “A Em “ua “UA A “TETO RR E RS ab I dose 1 al ! Sokuro-Jimo 1] a[! Quizopu ! 1 ' 1 ) : 1 “ph 1 l ( q L, ' b AE em mic, o A o | ) ul vo Sm e EN SN O sh do sh s N ' ] al To ' 1 ) v=” |Bagana ; q “2h cuego, ' 7] “2h ÀLomington | E 1 Hg op ) 1 7 “3H ambym t H ri dis PRP as E TT O O PR Juss Pulslas veis ais g31 1032 1833 1934 asso qasi 1052 8: Em Fr EPA LE DS SOU SO RR nus Tm | ú Sheveluch 1] í ) vd A Pera TS dá ] AR NA, q sb N k 7 1 “ Agung ] q ) 1 pa iss tas 1 1983 1084 “anos sala, A “SA TT SI TT 3H | St. Helons Usp ! ! Usp ! 2 | Bszymionny | Maid 4 ab ; | af! augustina + I . | , í j , ] q 'h 1 ! l gh y dok 4 1 r) DER O 276%a% o AM z Lo) + ES o : à o > ; ' "e. , , r Sb ab / A É ' ro. att I To, d | ps chichár TAÁCET Na q 1 Sierro Negra 1] “2h ' ernandino 1) 3H, Mevado gel *Buiá ú -3H Soufriere ' HF -3h Nyomurogia! 1 -3sh y ! q = fia pt aa qua a ps atua pulsa) 4 palito, 1a 1064 +81 1882 1983 1984 k sua E A Em dus Em SA EA Duo AS 987 veto Figura 6 - ATSMs (hachuradas) para o Oceano Pacífico Tropical Leste (0108; 90W-150ºW) e JOS Tahiti-Darwin (pontilhadas) pera 12 erupções vulcânicas de latitudes tropicais. A ordenada é dada em desvios padrões em que uma unidade é iguala 0,8ºC. As setas indicamas datas das erupções e os nomes abaixo da ordenada zero são dos vulcões de latitudes tropicais enquanto os acima são dos vulcões de latitudes extratropicais. - Fonte: Handler, 1989. o que resulta em ATSMs negativas e maiores incursões das ZCITs. A Figura 6 msotra que a erupção do Monte Katmai (580N; IEV=4), no Alaska, foi seguida por ATSMs negativas du- rante 12 meses. Os aerossóis no HS têm o mesmo efeito, porém com meses de atraso, con- forme sugere a Figura 6 com a erupção do Vulcão Quizapu (35)S;1EV=6), no Chile. Esses resultados foram obtidos com uma composição de 20 casos de aerossóis, 16 entre 300N;60º e 4 entre 35º8 e 4508, cujos testes estatísticos apre- sentaram uma significância de 95% (Handler, 1989). Para a América do Sul, como a maior parte de sua massa continental está nos trópicos, a fase mais apropriada para os aerossóis se "encaixa- rem” no ciclo anual parece ser setembro-feve- reiro. Assim, se acontecerem erupções vulcâni- cas nesse período em baixas latitudes do HS, ou se os aerossóis forem provenientes de erupções Cadernos de Geociências 21 em reações fotoquímicas nas quais há absorção de radiação ultravioleta (UV), altamente este- rilizante e maortal para o tipo de vida existente no planeta, cuja maior parte é filtrada nesse processo e não chega à superfície. Nos últimos anos, surgiu uma teoria, logo transformada em dogma, de que a camada estaria sendo destruí- da à razão de 2,7+1,4% por década devido à liberação de compostos de clorofiuorcarbono (CFC) pelas atividades humanas. Os CFCs são gases, antropogênicos usados em sistemas de refrigeração freons. Segundo essa teoria, as mo- léculas de CFCs são muito estáveis e não rea- gem quimicamente na troposfera mas, ao serem transportadas para a camada de ozônio, sofre- riam fotólise e os átomos dos halogênios libera- dos (cloro, flúor e bromo), destruiriam as molé- culas de ozônio. As observações, feitas com aero- naves especiais voando na camada de ozônio, confirmaram a presença do elemento cloro, na forma de CIO, naquela região da estratosfera. Porém, os CFCs não são a única fonte de cloro para a estratosfera. Na realidade, as quantida- des de CFCs, liberadas pelas atividades huma- nas, são ínfimas quando comparadas com as fontes naturais, A produção anual de CFCs no mundo nos dias de hoje é 1,1 milhão de toneladas (Mt) contendo 750 mil toneladas de cloro, Desse total, calcula- se que cerca de 1%, ou seja, 7,5 mil toneladas, escapem para a baixa troposfera e, eventual- mente, seriam carregadas acima de 30 km de altitude ande destruiriam o ozônio. Entre as maisimportantes fontes naturais estão os ocea- nos que, estima-se, liberam cerca de 600 Mt de cloro por ano na baixa troposfera, e os vulcões. A quantidade anual de cloro, na forma de clore- to de hidrogênio (HC]), injetado na baixa atmos- fera por vulcões difusivos é estimada em 36 Mt, enquanto vulcões explosivos podem lançar, de uma só vez, alguns Mt de cloro diretamente na estratosfera. Porém, há argumentos resultan- tes de modelos como o de Tabazadeh e Turco (1993), que defendem que apenas cerca de 1% da quantidade de cloro ejetada pelos vulcões explosivos chega à estratosfera. Estima-se que omonte Pinatubo tenha lançado 4,5 Mt de HCI; admitindo aquele pequeno percentual ter-se- iam 45 mil toneladas introduzidas na estratos- fera somente com essa erupção. Ou seja: 6 vezes mais a quantidade de CFCs liberada anual- mente. Embora alguns resistam em aceitar que o Pinatubo tenha sido a responsável, em 1992 foram observadas reduções da concentração de ozônio entre 9 e 14% em algumas regiões, com uma média global diária de 2 a 3% (3 a 4 desvios padrões) abaixo da mínima observada por saté- lites nos últimos 13 anos (Gleason et al. 1993). Passado seu efeito, a camada de ozônio já se encontra em fase de recuperação. Como no pas- sado a atividade vulcânica foi muito mais inten- sa, muito cloro deve ter sido injetado direta- mente na estratosfera. Se a fotoquímica da estratosfera funcionasse de maneira tão sim- plista como querem alguns modeladores teóri- cos, certamente uma erupção como a do Tambo- ra (TEV=7), em 1815, que foi algumas centenas de vezes maior que a do Pinatubo, já teria acabado com a camada de ozônio muito antes dos CFCs existirem. Na verdade, não há evi- dências de diminuição da camada de ozônio quando séries mais longas de dados de sua concentração são usadas. O que existe é uma variação natural de sua concentração que de- pende, entre outros, da atividade solar e das quantidades de halogênios injetados direta- mente na estratosfera pelos vulcões. Convém relembrar que o período 1935-1955 foi caracte- rizado por atividade solar crescente e atividade vulcânica muito baixa, o que deve ter propicia- do um aumento de radiação UV e da concentra- ção concentração de ozônio. E foi no final da década de 50 que se começou a monitorar a camada de ozônio, a partir da superfície. Daí para diante, a atividade solar começou a dimi- nuir e a atividade vulcânica aumentou. Coinei- dentemente, a concentração de ozônio também diminuiu, Outro fenômeno muito comentado atualmen- te é o buraco de ozônio na Antártica, que tam- bém seria causado pelos CFCs, embora a teoria originalmente não o tivesse previsto. Já em 1960, muito antes do amplo emprego dos CFCs, Sir George Dobson demonstrou que 6 buraco existia e que era devido às condições meteoro- lógicas especiais da Antártica. No inverno, de- senvolve-se o vórtice circumpolar-ventos em torno do continente, com velocidades superiores a 200 km hr1 que isola a atmosfera antártica da global e impede que o ozônio, que é essencial- mente produzido nos trópicos, seja transporta- do para dentro dela. Na ausência de luz solar e com temperaturas inferiores a -800C, o ozônio é paulatinamente destruído tendo o cloro e as nuvens estratosféricas, como catalizadores da reação, mas volta aos níveis normais quando o vórtice circumpolar se quebra no início da pri- mavera austral. Os vulcões certamente contri- buem para a destruição do ozônio. Na Antártica existem 12 vulcões ativos. Um deles, o Monte Erebus, um vulcão difusivo-explosivo, tem cer- ca de 4 mil metros de altura, quando a base da estratosfera no inverno antártico está a 5 mil metros, e ejeta, em média, 1.230 toneladas de cloro e 480 de flúor por dia (Kyle et al. 1990). Ouseja, o Monte Erebus sozinho lança 60 vezes mais cloro na atmosfera antártica por ano que todo cloro contido nos CFCs liberados pelo ho- mem. CONSIDERAÇÕES FINAIS Não existem dúvidas que os vulcões afetam o clima e a camada de ozônio em escalas de tempo interanual e decadal, (ls modelos de previsão de El Nião falharam para o evento de 1993, a hipótese de Handler não. À presença dos aeros- sóis do Pinatubo nas latitudes baixas provocou um novo El Nifio com secas na Amazônia é no Nordeste e excesso de chuvas no Sudeste e Sul do país. Coincidentemente, no período 1869- 1930, quando a atividade vulcânica foi mais intensa, o número de eventos ENOS fortes e moderados foi igual a 20, em média, e 1 ENOS 2 IBGE - Diretoria de Geociências a cada 3 anos, enquanto no de 1931-1992 foi igual a 13, em média 1 ENOS a cada 4,8 anos, segunda classificação de Quinn e Neal (1987). A hipótese do aumento da fregiiência de hlo- queios atmosféricos e intensificação da ZCAS também foi verificada, pois o nível do Rio Negro, no porto de Manaus, atingiu a marca de 28,76 metros acima do nível do mar emjunho de 1993, sendo considerada a 13º cheia em 91 anos de registros, muito embora o ano precedente tenha sido um ano de ENOS. Convém ressaltar que, antes da erupção do Pinatubo, já existiam ae- rossóis nas latitudes baixas (Halpert e Rope- lewski, 1992) possivelmente decorrentes de erupções como a do Monte Redoubts, no Alaska em dezembro de 1989, e a do Monte Unzen, no Japão em novembro de 1990, e que podem ter contribuído para as ATSMs terem se tornado levemente positivas e os IOSs negativos, antes da erupção do Pinatubo , como já acontecera anteriormente. Alguns pesquisadores descarta- ram a hipótese de que o vulcão El Chichón tivesse contribuído para iniciar o evento ENOS de 1982/88, argumentando que 0 evento já es- tava em progresso quando a erupção ocorreu. O Vulção Nyamuragira (África Equatorial), po- rém, tinha explodido em dezembro de 1981, pouco antes dos índices apontarem um novo ENOS. À hipótese de Handler, portanto, deve ser considerada como mais um subsídio na pre- visão dos eventos ENOS e das catástrofes cli- máticas brasileiras, pois ela permite fazer a previsão qualitativa da estação chuvosa para 0 Nordeste principalmente, com 9 a 12 meses, ou mais, de antecedência, dependendo da fase dos aerossóis no ciclo anual e de sua posição geográ- fica. Ganhar-se-ia mais tempo se fosse possível prever a erupção de grandes vulcões, particu- larmente os da faixa tropical entre 20ºN e 1098. Há a hipótese de que as erupções vulcânicas sejam causadas por marés lunares e solares, que são previsíveis. O sol tem um ciclo de apro- ximadamente 11 anos em que o número de manchas solares e a atividade solar, aumen- tam, Apresenta, também, um ciclo de 22 anos, correspondente à inversão de seu campo mag- nético, e um ciclo de cerca de 90 anos, Ciclo de Gleissberg, que é a envoltória dos máximos de manchas solares, cujo número tem variado en- tre 40 e 200 manchas, aproximadamente. Du- rante o último mínimo do ciclo de Gleissberg, que ocorreu entre 1897 e 1920, a atividade solar foi muito reduzida e as atividades vulcânica e sísmica foram intensas. Coincidentemente, ocorreram grandes distúrbios climáticos no glo- bo e as secas nordestinas de 1898, 1900, 1903/04, 1907/08, 1915 e 1919. Também merece mais atenção o planeta Júpiter, com massa 320 vezes maior que a Terra, cujo período de trans- lação em torno do sol é de 11,9 anos. É sabido UM GRITO DE SOCORRO ECOA EM TODO TERRITÓRIO BRASILEIRO. 303 ESPÉCIES DE ANIMAIS ESTÃO AMEAÇADAS DE EXTERMÍNIO São 303 espécies/subespécies que correm risco de desaparecimento por causa da grande atividade industrial e intensa especulação imobiliária. A maior parte desses animais — aves e mamíferos — está concentrada principalmente no Sudeste, na região da Mata Atlântica. Estas espécies/subespécies estão representadas no mapa. FAUNA AMEAÇADA DE EXTERMÍNIO Que você encontra na Livraria do IBGE: Av. Franklin Roosevelt, 146 - loja - Castelo - Rio de Janeiro Tel.:(021) 220-9147