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Milton Friedman e a Escola de Chicago - I, Notas de estudo de Economia

Grandes Economistas

Tipologia: Notas de estudo

2012

Compartilhado em 31/03/2012

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ESPECIAL: Milton Friedman e a Escola de Chicago I
Contribuição de Luiz Alberto Machado
20 de November de 2006
Poucos economistas foram tão combatidos nas últimas décadas quanto Milton Friedman. Sua intransigente defesa da
economia de mercado e do monetarismo em plena vigência do chamado grande consenso keynesiano fez com que
fosse visto por muita gente como um economista ultrapassado, incapaz de perceber que o mundo do seu tempo não era
o mesmo do final do século XVIII e início do século XIX, no qual Adam Smith defendera com grande vigor a teoria do
livre mercado. "O Prêmio Nobel recebido em 1976 e o refortalecimento das idéias e políticas econômicas de cunho
liberal a partir da década de 1980, contribuíram para que o nome de Milton Friedman retornasse às discussões da teoria
econômica, ainda que muitos ainda o façam cercados de grandes ressalvas", aponta o economista Luiz Alberto Machado.
Com sua morte, aos 94 anos, trazemos uma série de artigos especiais sobre a teoria de Friedman. 
Milton Friedman nasceu no bairro do Brooklin, em Nova York, no dia 31 de julho de 1912, sendo originário de uma
família muito pobre, cujos pais emigraram da Rússia. Defensor dos princípios do liberalismo, permaneceu na
Universidade de Chicago de 1946 a 1977, sendo seu professor de 1948 a 1977. A partir de 1977 desenvolveu seu
trabalho na Hoover Institution. Foi agraciado com o Prêmio Nobel em 1976, por suas realizações nos campos de análise
de consumo, história e teoria monetária e por sua demonstração da complexidade da política de estabilização.
"Existe uma relação íntima entre economia e política;
somente determinadas combinações de organizações
econômicas e políticas são possíveis; e, em particular, uma
sociedade socialista não pode também ser democrática,
no sentido de garantir a liberdade individual." (FRIEDMAN: 1912-2006) 
Considerações iniciais 
Poucos economistas foram tão combatidos nas últimas décadas quanto Milton Friedman. Sua intransigente defesa da
economia de mercado e do monetarismo em plena vigência do chamado grande consenso keynesiano fez com que
fosse visto por muita gente como um economista ultrapassado, incapaz de perceber que o mundo do seu tempo não era
o mesmo do final do século XVIII e início do século XIX, no qual Adam Smith defendera com grande vigor a teoria do
livre mercado. Friedrich Hayek, idealizador da Mont Pelerin Society (entidade criada em 1948 que congrega, até hoje,
liberais de todos os matizes), da qual Friedman é atualmente o decano, foi talvez o único outro economista dessa
época capaz de se contrapor, sempre em tom alto e forte, aos pilares básicos do consenso keynesiano, sintetizados
da seguinte forma por Eduardo Giannetti da Fonseca: 
1º) Defesa da economia mista, com forte participação de empresas estatais na oferta de bens e serviços e a crescente
regulamentação das atividades do setor privado por meio da intervenção governamental nos diversos mercados
particulares da economia;
2º) Montagem e ampliação do Estado do Bem-Estar (Welfare State), garantindo transferências de renda extramercado
para grupos específicos da sociedade (idosos, inválidos, crianças, pobres, desempregados etc.) e buscando promover
alguma espécie de justiça distributiva;
3º) Política macroeconômica ativa de manipulação da demanda agregada, inspirada na teoria keynesiana e voltada, acima
de tudo, para a manutenção do pleno emprego no curto prazo, mesmo que ao custo de alguma inflação. 
O Prêmio Nobel recebido em 1976 e o refortalecimento das idéias e políticas econômicas de cunho liberal a partir da
década de 1980, contribuíram para que o nome de Milton Friedman retornasse às discussões da teoria econômica, ainda
que muitos ainda o façam cercados de grandes ressalvas. 
Conselho Federal de Economia
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ESPECIAL: Milton Friedman e a Escola de Chicago I

Contribuição de Luiz Alberto Machado 20 de November de 2006

Poucos economistas foram tão combatidos nas últimas décadas quanto Milton Friedman. Sua intransigente defesa da economia de mercado e do monetarismo em plena vigência do chamado grande consenso keynesiano fez com que fosse visto por muita gente como um economista ultrapassado, incapaz de perceber que o mundo do seu tempo não era o mesmo do final do século XVIII e início do século XIX, no qual Adam Smith defendera com grande vigor a teoria do livre mercado. "O Prêmio Nobel recebido em 1976 e o refortalecimento das idéias e políticas econômicas de cunho liberal a partir da década de 1980, contribuíram para que o nome de Milton Friedman retornasse às discussões da teoria econômica, ainda que muitos ainda o façam cercados de grandes ressalvas", aponta o economista Luiz Alberto Machado. Com sua morte, aos 94 anos, trazemos uma série de artigos especiais sobre a teoria de Friedman.

Milton Friedman nasceu no bairro do Brooklin, em Nova York, no dia 31 de julho de 1912, sendo originário de uma família muito pobre, cujos pais emigraram da Rússia. Defensor dos princípios do liberalismo, permaneceu na Universidade de Chicago de 1946 a 1977, sendo seu professor de 1948 a 1977. A partir de 1977 desenvolveu seu trabalho na Hoover Institution. Foi agraciado com o Prêmio Nobel em 1976, por suas realizações nos campos de análise de consumo, história e teoria monetária e por sua demonstração da complexidade da política de estabilização.

"Existe uma relação íntima entre economia e política;

somente determinadas combinações de organizações

econômicas e políticas são possíveis; e, em particular, uma

sociedade socialista não pode também ser democrática,

no sentido de garantir a liberdade individual." (FRIEDMAN: 1912-2006)

Considerações iniciais

Poucos economistas foram tão combatidos nas últimas décadas quanto Milton Friedman. Sua intransigente defesa da economia de mercado e do monetarismo em plena vigência do chamado grande consenso keynesiano fez com que fosse visto por muita gente como um economista ultrapassado, incapaz de perceber que o mundo do seu tempo não era o mesmo do final do século XVIII e início do século XIX, no qual Adam Smith defendera com grande vigor a teoria do livre mercado. Friedrich Hayek, idealizador da Mont Pelerin Society (entidade criada em 1948 que congrega, até hoje, liberais de todos os matizes), da qual Friedman é atualmente o decano, foi talvez o único outro economista dessa época capaz de se contrapor, sempre em tom alto e forte, aos pilares básicos do consenso keynesiano, sintetizados da seguinte forma por Eduardo Giannetti da Fonseca:

1º) Defesa da economia mista, com forte participação de empresas estatais na oferta de bens e serviços e a crescente regulamentação das atividades do setor privado por meio da intervenção governamental nos diversos mercados particulares da economia;

2º) Montagem e ampliação do Estado do Bem-Estar (Welfare State), garantindo transferências de renda extramercado para grupos específicos da sociedade (idosos, inválidos, crianças, pobres, desempregados etc.) e buscando promover alguma espécie de justiça distributiva;

3º) Política macroeconômica ativa de manipulação da demanda agregada, inspirada na teoria keynesiana e voltada, acima de tudo, para a manutenção do pleno emprego no curto prazo, mesmo que ao custo de alguma inflação.

O Prêmio Nobel recebido em 1976 e o refortalecimento das idéias e políticas econômicas de cunho liberal a partir da década de 1980, contribuíram para que o nome de Milton Friedman retornasse às discussões da teoria econômica, ainda que muitos ainda o façam cercados de grandes ressalvas.

  1. Um autêntico liberal

É conveniente, inicialmente, definir bem o significado da palavra liberal quando adotada para definir as posições de Milton Friedman. Isto porque os termos liberal e liberalismo passaram a ser utilizados com diferentes significados ultimamente, muitos dos quais distorcidos, intencionalmente ou não.

Uma das distorções a meu ver mais descabidas refere-se à adoção de prefixo neo à frente desses dois termos. A justificativa dos que assim procedem é de que é necessário separar os defensores da economia de mercado e da livre iniciativa do século XX daqueles que defenderam tais princípios nos séculos XVIII ou XIX. Eu, particularmente, oponho-me vigorosamente a isso, como deixei claro em artigos publicados pelo Instituto Liberal de São Paulo e pela Revista de Economia & Relações Internacionais, editada pela Faculdade de Economia da FAAP.

Outro problema concernente ao termo liberal refere-se ao fato de que, nos Estados Unidos, ele assumiu um sentido diferente do originalmente adotado na Inglaterra, como bem observou Sergio Werlang, num livro que contém um belo trabalho de pesquisa sobre as origens do liberalismo, intitulado A descoberta da liberdade. Nele, Werlang assim se refere a essa questão:

A discussão sobre o liberalismo em nosso país tem sido de cunho essencialmente ideológico, mas nem sempre lógico. Antes de mais nada, um esclarecimento faz-se necessário acerca do significado dessa palavra. Em fins da década de 80, a esquerda brasileira rebatizou o liberalismo de neoliberalismo. A primeira vez que esse termo aparece em uma obra de algum impacto internacional é no estudo que foi publicado em inglês em 1991 e traduzido para o português logo a seguir, do brasileiro José Guilherme Merquior (1941 -91), O liberalismo antigo e moderno. Merquior usa essa denominação para indicar o ressurgimento do liberalismo clássico em meados do século passado. A razão básica para a criação do termo neoliberal, que como foi dito tem suas origens no pensamento da esquerda brasileira, provavelmente reside no fato de haver uma grande confusão na língua inglesa no que se refere à palavra "liberal".

Para um inglês, tal conceito mantém seu significado clássico, que é o que se entende aqui também por liberal ou neoliberal: o indivíduo que tem como base de suas crenças a propriedade privada e a economia de mercado, sempre que possível, sendo o tamanho do estado apenas o suficiente para garantir a existência de mercados organizados e a convivência pacífica dos cidadãos. Já nos Estados Unidos a palavra liberal acabou mudando de significado. Para os norte-americanos, "liberal" é exatamente o oposto: o cidadão de esquerda que acredita que uma intervenção estatal forte é necessária para o bem-estar dos indivíduos. Note-se: estado forte para os padrões norte-americanos, o que quer dizer que nem se discute o direito dos proprietários de defenderem suas terras de invasões. É interessante observar que nos Estados Unidos o conceito clássico de liberal corresponde a "libertário". Desse ponto em diante, utiliza-se liberal com o sentido inglês, como sinônimo de neoliberal.

Por se tratar de assunto bastante controvertido, e com o qual o próprio Friedman se preocupava bastante, creio que é válido reproduzir um trecho relativamente extenso a respeito do mesmo, extraído da Introdução de uma de suas obras mais importantes, Capitalismo e liberdade:

É extremamente conveniente dispor de uma legenda para os pontos de vista econômicos e políticos elaborados neste livro. O nome correto e próprio é liberalismo. Infelizmente, "como um supremo, embora involuntário, cumprimento, os inimigos do sistema privado acharam conveniente apropriar-se de tal termo" [como bem observou Joseph A. Schumpeter]. Assim sendo, liberalismo tem, nos Estados Unidos, um significado muito diferente do que tinha no século XIX, ou tem atualmente na maior parte do continente europeu.

Ao desenvolver-se em fins do século XVIII e princípios do século XIX, o movimento intelectual que tomou o nome de liberalismo enfatizava a liberdade como o objetivo último e o indivíduo como a entidade principal da sociedade. O movimento apoiou o laissez-faire internamente como uma forma de reduzir o papel do Estado nos assuntos econômicos ampliando assim o papel do indivíduo; e apoiou o mercado livre no exterior como um modo de unir as nações do mundo pacífica e democraticamente. No terreno político, apoiou o desenvolvimento do governo representativo e das instituições parlamentares, a redução do poder arbitrário do Estado e a proteção das liberdades civis dos indivíduos.

Friedman, evidentemente, se opunha a tudo isso, mantendo-se rigorosamente na defesa da concepção original da expressão liberal:

As respostas de Friedman a essas colocações praticamente completam o seu pensamento, ou seja, em extensão aos conceitos de liberdade e capitalismo, restringe o Estado a objetivos limitados e ao exercício de seu papel tradicional. Para Friedman, o Governo é essencial, mas com a função de determinar as regras do jogo e constituir-se no árbitro para interpretar e fazer vigorar as regras estabelecidas: proteger a liberdade dos indivíduos, preservar a lei e a ordem, reforçar os contratos privados, promover mercados competitivos etc.

Referências e indicações bibliográficas

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GIANNETTI DA FONSECA, Eduardo. Desenvolvimento e transição econômica: a experiência brasileira. Paper preparado para Workshop Universitário promovido pelo Grupo das EBCEs - Empresas Brasileiras de Capital Estrangeiro. Mimeo.

FRIEDMAN, Milton (com a assistência de Rose D. Friedman) Capitalismo e liberdade. Tradução de Luciana Carli. São Paulo: Artenova, 1977. Reeditado com apresentação de Miguel Colasuonno. São Paulo: Abril Cultural, 1984. (Os Economistas).

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______________ Inflação. Suas causas e conseqüências. 2ª ed. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1978.

______________ Minha evolução como economista. Em BREIT, William e SPENCER, Roger W. (editores) A vida de sete Prêmios Nobel de Economia. Tradução de Elcio Cerqueira. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1988, pp. 79 - 94.

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FRIEDMAN, Milton & FRIEDMAN, Rose. Free to choose: a personal statement. New York, London: Harcourt Brace Javanovich, 1980.

KEYNES, John M. Teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro. Apresentação de Adroaldo Moura da Silva; tradução de Mário R. da Cruz. São Paulo: Abril Cultural, 1983, (Os Economistas).

LIMA, Gilberto Tadeu, PAULA, Luiz Fernando de & SICSÚ, João (orgs.) Macroeconomia moderna: Keynes e a economia contemporânea. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

MACHADO, Luiz Alberto. Fragmentos do Pensamento Liberal Contemporâneo. São Paulo: Instituto Liberal, Série Idéias Liberais, Nº 79, Ano IV, 1997.

______________ As mil e uma culpas do neoliberalismo. Revista de Economia & Relações Internacionais, volume 3, número 5, julho de 2004, pp. 95 – 110.

MERQUIOR, José Guilherme. O liberalismo antigo e moderno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.

PERINGER, Alfredo. Monetarismo versus keynesianismo versus estruturalismo: inflação, desemprego e taxas de juros. Rio de Janeiro: Globo, 1985.

SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005.

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre a sua natureza e suas causas, com a introdução de Edwin Cannan. Apresentação de Winston Fritsh. Tradução de Luiz João Baraúna. São Paulo: Abril Cultural, 1983, (Os Economistas).

STIGLER, George. Memórias de um economista de Chicago. Porto Alegre: Editora Ortiz, 1991.

WARSH, David. Milton Friedman s surprising secret. Em Economic principals: masters and mavericks of modern economics. New York, NY: The Free Press, 1992, pp. 77 – 80.

WERLANG, Sérgio Ribeiro da Costa. A descoberta da liberdade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. Livros texto de História do Pensamento Econômico.

BRUE, Stanley L. História do pensamento econômico. Tradução de Luciana Penteado Miquelino. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005, pp. 482 - 494.

BUCHHOLZ, Todd G. A batalha monetarista contra Keynes. Em Novas idéias de economistas mortos. Rio de Janeiro: Record, 2000, pp. 265-286.

FUSFELD, Daniel. A era do economista. Tradução de Fábio D. Waltenberg. São Paulo: Saraiva, 2001, pp. 268 - 271.

Referências e indicações webgráficas

http://www.institutoliberal.org.br/.http://cepa.newschool.edu/het/.http://pt.wikipedia.org/wiki/Milton_Friedman. http://www.economiabr.net/biografia/friedman.html. http://www.nobelpreis.org/portugues/wirtschaft/friedmann.htm.

Este texto foi publicado originalmente em http://www.lucianopires.com.br. A publicação deste artigo foi autorizada pelo autor para o site do COFECON.


*Economista, formado pela Universidade Mackenzie em 1977. É Vice-Diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP, na qual é Professor Titular das disciplinas de História do Pensamento Econômico e História Econômica Geral.