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Guias e Dicas
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Miranda Azevedo e a Recepção do Darwinismo no Brasil: Estudo Inicial do Médico, Notas de aula de Evolução

Uma análise da recepção do darwinismo no brasil, focando na figura de miranda azevedo, um dos primeiros divulgadores da teoria da evolução biológica de darwin no país. O texto explora as primeiras publicações de azevedo sobre a teoria da evolução, incluindo sua tese de doutoramento e seu primeiro discurso sobre o assunto, e discute as implicações históricas e sociais dessas obras. Além disso, o documento contextualiza a recepção do darwinismo no brasil em relação às recepções na alemanha e na inglaterra, e explora as referências teóricas que não se limitam estritamente à teoria da evolução biológica de darwin em alguns aspectos de suas propostas de ação política e social.

O que você vai aprender

  • Quais foram as primeiras expressões públicas de Miranda Azevedo sobre a teoria da evolução biológica de Darwin?
  • Qual foi a importância de Miranda Azevedo na disseminação do darwinismo no Brasil?
  • Como a recepção do darwinismo no Brasil se compara às recepções na Alemanha e na Inglaterra?
  • Como as obras de Miranda Azevedo contribuíram para a compreensão da teoria da evolução biológica de Darwin no Brasil?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

PorDoSol
PorDoSol 🇧🇷

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Casa de Oswaldo Cruz – FIOCRUZ
Pós-Graduação em História das Ciências da Saúde
Maria Rosa Lopez Cid
O aperfeiçoamento do homem por meio da seleção:
Miranda Azevedo e a divulgação do darwinismo, no Brasil,
na década de 1870.
Rio de Janeiro
2004
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Casa de Oswaldo Cruz – FIOCRUZ

Pós-Graduação em História das Ciências da Saúde

Maria Rosa Lopez Cid

O aperfeiçoamento do homem por meio da seleção:

Miranda Azevedo e a divulgação do darwinismo, no Brasil,

na década de 1870.

Rio de Janeiro

Maria Rosa Lopez Cid

O aperfeiçoamento do homem por meio da seleção:

Miranda Azevedo e a divulgação do darwinismo, no Brasil,

na década de 1870

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em História das Ciências da Saúde, da Casa deOswaldo Cruz/Fiocruz, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: História das Ciências

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Francisco Waizbort

Rio de Janeiro 2004

Agradecimentos

Os dois anos que passei no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz enriqueceram-me com conhecimentos, amizades, incentivos e críticas. Devo a realização deste trabalho a muitas pessoas que me apoiaram de variadas formas. Aos funcionários secretaria do Programa e da Biblioteca da Casa de Oswaldo Cruz, sempre solícitos e pacientes. Aos professores e pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz, abertos à discussão e ao esclarecimento de dúvidas, além de incentivarem meu crescimento com dados, sugestões e críticas valiosas. Às sugestões da banca de qualificação, formada pelos professores Marcos Chor Maio e Magali Romero Sá, por me ajudarem a definir os melhores caminhos a seguir e o escopo do trabalho. À Fundação Oswaldo Cruz, pelo financiamento que me permitiu concluir a pesquisa Aos funcionários das instituições que me proporcionaram informações e acesso às fontes utilizadas nesta dissertação, principalmente os do Acervo Histórico da Assembléia Legislativa de São Paulo, do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, das Faculdades de Direito, de Filosofia Letras e Ciências Humanas e do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Biblioteca Nacional. Aos meus colegas de curso, em especial aqueles com quem pude constantemente discutir pontos de vista e esclarecer dúvidas, além de receber constante estímulo e

incentivo. Entre eles estão Arlene, Maria Cláudia, Márcio, Silvio, Rosana, Gustavo e André. Ao coordenador do Programa, Luiz Otávio Ferreira, que sempre me incentivou, esclareceu dúvidas, sugeriu e compartilhou bibliografia, e caminhos a serem explorados, sempre com paciência e simpatia. Em especial, ao meu orientador, Ricardo Waizbort, que com sua leitura criteriosa e exaustiva, comentários, sugestões valiosas, contribuiu de maneira decisiva para a realização deste trabalho. A confiança que depositou em mim desde o primeiro contato que tivemos foi fundamental para que eu concluísse esta dissertação. Sinceramente, espero ter correspondido às suas expectativas. A meus queridos amigos, Marcelo e Rebeca, os quais insistentemente me incentivaram a retomar os estudos. O apoio que me deram, sempre ouvindo, sugerindo e discutindo, não pode ser mensurado.

Abstract

Countless authors are unanimous in considering that the 1870’s were a remarkable moment in Brazilian history regarding the introduction of a great deal of theories that spread liberalist, positivist and evolutionist ideas. One of the theories, which reached the country at that time, was the Darwinism. The historiography has reported that many individuals and social groups approach the Darwin theory of biological evolution in many different ways, in different places and periods. In Brazil, among those who regarded this theory as the core of their campaigns, there was Augusto César de Miranda Azevedo, a physician from São Paulo who lived in Rio de Janeiro throughout the 1870’s. This person became known as the one who spread out the Darwinism in the country. Two texts published by Miranda Azevedo in 1875 and 1876, among other documents, reveal the doctor’s very particular approach to Darwinism. This approach has in its core, the concept that certain changes can be guided in individuals in order to accomplish population’s wished profiles. When relating the Miranda Azevedo’s Darwinist discourse to his activities and to the moment of crisis, which Brazil was going through, we can realize certain aspects that influenced the doctor’s approach to the Darwin’s theory of biological evolution. The importance of environmental stimulus in producing and developing characteristics of the individuals within the population, and the consequent transmission of such characteristics to descendants can be sufficiently adequate for individuals or groups concerned about attempting to produce citizens capable of bringing improvements to the nation.

Sumário

Agradecimentos

Resumo

Abstract

Introdução

Muitos lugares, muitos darwinismos 13 Duas entidades históricas 17 O método do espécime-tipo 20

Capítulo I – Construindo Identidades

A identidade social do espécime-tipo 27 Uma nova identidade para o Brasil 36

Capítulo II – As teorias de Darwin

O programa darwinista 42 Evolucionistas brasileiros: o núcleo do programa e sua aplicabilidade 55

Capítulo III – Miranda Azevedo na “geração de 70”

Memória e identidade de Miranda Azevedo 62 A “sciencia positiva” de Miranda Azevedo 73

Capítulo IV – O darwinismo de Miranda Azevedo

A “theoria da selecção morphologica” e suas “leis geraes” 87 “Instrucção popular”: a “grandeza das nações” 102 Mais selecionistas no Brasil Darwinismo no Museu Nacional 110 A continuidade do selecionismo 114

Para minha mãe que considera o aprendizado uma das coisas mais importantes da vida.

“Como Newton, bem que eclypsado perante sua sabedoria, e sem o querer compar-me com aquelle grande sabio, eu vos darei como elle aos que elogiavão suas obras: ‘Só apresento o resultado do estudo, sou como as crianças; nada mais fiz do que, ao pé de um oceano admirável, immenso, apanhar pequenas conchas; as mais preciosas, as mais custosas gemmas essas lá estão no fundo desse oceano.’ Vinde, representantes da sciencia, vinde colher essas gemmas preciosas!” (Miranda Azevedo, 1876)

Muitos lugares, muitos darwinismos

O médico paulista Augusto César de Miranda Azevedo nasceu em 1851, oito anos antes da publicação do livro de Charles Darwin (1809 – 1882), Origem das espécies (1859)^1 , no qual o naturalista inglês tornava públicas suas idéias sobre a evolução biológica por seleção natural. Em 1874, quando Azevedo se formou pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, o médico demonstrava o conhecimento que havia adquirido sobre a teoria, assim como intenso fervor em sua defesa. De maneira geral, a historiografia brasileira (e a historiografia das ciências em particular) tem considerado a década de 1870 como marco da recepção do darwinismo no país. Os diferentes formatos da recepção que a teoria da evolução biológica de Darwin assumiu para diversos grupos sociais ao longo dos anos, a partir de sua introdução no Brasil, têm sido assinalados em diversos trabalhos (Domingues et al. , 2003; Gualtieri, 2003; Alonso, 2002; Dantes, 1996; Schwarcz, 1993; Collichio, 1988). Tais fenômenos, obviamente, não ocorreram exclusivamente no Brasil. A bibliografia sobre o darwinismo revela que em diversos países e períodos a teoria de Darwin foi lida e interpretada de muitas formas diferentes. Pruna e Gonzáles^2 defendem a hipótese de que o darwinismo se difundiu em vários lugares como parte de um movimento cultural evolucionista mundial (Pruna et al. ,1989:16). Segundo os autores, os pontos de vista evolucionistas chegaram a prevalecer no meio científico inglês entre os anos de 1870

(^1) O título original do livro é On the origin of species by means of natural selection, or the preservation of favored races in the struggle for life (^2) Todas as obras em língua estrangeira foram traduzidas livremente por mim..

e 1872^3 , o que é um dado importante pois sustentam, seguindo Michael Ruse no livro The Darwinian Revolution (1979), que a aceitação das concepções de Darwin entre os cientistas ingleses determinou, em grande medida, sua introdução nos meios científicos de outros países (Pruna et al. ,1989: 16-17). Lucille Ritvo considera a Alemanha como o primeiro país da Europa a acolher o darwinismo, embora nos dois primeiros anos após a publicação da Origem das espécies não tenham ocorrido manifestações explícitas por parte dos cientistas alemães em relação à teoria. As manifestações em favor do darwinismo na Alemanha teriam começado a se propagar abertamente em 1862 (Ritvo, 1992: 28), pela atividade incansável do “mais bombástico e prolífico admirador alemão de Charles Darwin, o zoólogo denominado o ‘Darwin alemão’, Ernst Haeckel” (Desmond et al. , 2000: 555). De fato, Ritvo cita Carus Sterne (pseudônimo de Ernst Krause [1839 – 1903]) cientista alemão contemporâneo de Haeckel (1834 – 1919), afirmando que a defesa encarniçada do jovem darwinista atraiu para ele todas as críticas e injúrias por parte de certos grupos, “enquanto Darwin era apontado como o ideal da prudência e moderação” (Sterne apud Ritvo, 1992: 29). Pruna e Gonzales ainda acrescentam que a Alemanha talvez tenha sido o país onde o movimento cultural evolucionista apresentou a tradição mais enraizada. No entanto, isto se deveu a uma longa trajetória filosófica de conotações evolucionistas com os escritos de Goethe (1794 – 1832), Oken (1779 – 1851), Schelling (1775 – 1854) , Hegel (1770 – 1831), Liebniz (1646 – 1716), entre outros, os quais apresentavam cunho explicitamente teleológico. A esta tradição filosófica uniu-se a corrente materialista da Biologia, que teve em Haeckel um de seus maiores expoentes, na época de Darwin.

(^3) Os autores baseiam essa afirmação no livro de Alvar Ellegård, Darwin and the General Reader , de 1958. Utilizo nesta dissertação a edição revisada do mesmo trabalho, de 1990.

muitos positivistas, a metafísica deveria ser completamente banida da ciência positiva. Além disso, as tendências socialistas e anarquistas da tradutora da obra de Darwin para o francês, Clemence Royer (1830 – 1902), incluindo um prefácio com sua própria interpretação, não teriam favorecido a recepção da teoria naquele país. Darwin contou com poucos adeptos na França onde o evolucionismo lamarckista ressurgiria com força, em pouco tempo (Pruna et al. , 1989:19-20). No Brasil, Pruna e Gonzales afirmam que o positivismo comteano impregnou fortemente a ciência, desembocando num cientificismo o qual abriu espaço para o evolucionismo spenceriano e haeckeliano. As influências de Comte, Spencer, Haeckel e Darwin entre os grupos letrados no Brasil da década de 1870 também são relatadas pela historiografia brasileira (Domingues et al. , 2003; Gualtieri, 2003; Alonso, 2002; Dantes, 1996; Collichio, 1988;). A associação de idéias de Darwin com outras concepções evolucionistas produziram, aqui, diferentes interpretações dos fenômenos evolutivos no mundo orgânico e social. Meu objetivo neste trabalho é tratar de um caso particular de interpretação de teorias científicas: a interpretação de teorias evolucionistas, feita pelo médico paulista Augusto César de Miranda Azevedo (1851-1907), no período em que sua figura surge divulgando o darwinismo no Rio de Janeiro (entre 1874 e 1876). A escolha do tema se deve primeiramente a algumas questões surgidas durante a leitura do trabalho de Terezinha Collichio, Miranda Azevedo e o Darwinismo no Brasil (1988) , em que a autora aponta o médico como um dos primeiros divulgadores da teoria da evolução biológica de Darwin no Brasil e o primeiro no Rio de Janeiro e em São Paulo. A biografia do médico feita pela autora traz inúmeras informações sobre a ampla gama de atividades realizadas pelo personagem, sempre orientado por um “darwinismo haeckeliano”. Outros estudos sobre o

darwinismo no Brasil identificam Miranda Azevedo da mesma maneira (Domingues et al. , 2003; Gualtieri, 2003). A princípio, a denominação darwinismo haeckeliano abriga, pelo menos, duas visões de evolucionismo contrastantes, pois Darwin é reconhecido por eliminar a teleologia dos processos evolucionários enquanto Haeckel é claramente teleológico (Mayr, 1998; Bowler, 1989; Pruna, 1989). Gualtieri ainda nos lembra que Heackel, já no início do século XX, por valorizar a herança dos caracteres adquiridos tanto quanto a seleção natural nas mudanças orgânicas, passa a ser reconhecido como neo- lamarckista (Gualtieri, 2001: 14). Dentro desse quadro, quando examinamos os textos produzidos por Miranda Azevedo no início de sua carreira, surgem perguntas como: que elementos da teoria da evolução biológica de Darwin eram importantes para o médico? Que elementos de outras teorias estavam presentes no darwinismo de Miranda Azevedo? Em que medida os elementos de teorias evolucionistas selecionados e articulados por Miranda Azevedo poderiam dar conta dos problemas que tentava resolver? Qual era a configuração do darwinismo defendido e divulgado por ele?

Duas entidades históricas

A História das Ciências^4 , traz à luz muitas versões sobre os acontecimentos que se passaram durante o trabalho dos cientistas e as mudanças nas teorias científicas estabelecidas. Para além disso, nos revela também, que as próprias teorias são objetos de constante interpretação, revisão, reinterpretação. O termo teoria, aqui, é utilizado com o

(^4) Refiro-me especificamente às Ciências chamadas de Naturais pela relação que apresentam com a prática médica e política de Miranda Azevedo.

biológicas de uma certa espécie podem ser distribuídas universalmente nas populações, embora estas sejam passíveis de variar no tempo e no espaço. Assim também, as hipóteses, idéias ou conceitos compartilhados por comunidades científicas podem, e geralmente são, modificados ou substituídos por outros com o passar do tempo (Hull, 1985: 776). Para Hull, as teorias que constituem os programas de pesquisa são sistemas conceituais nos quais não existem essências. E como estão em constante evolução, como as espécies, podem conter idéias contraditórias em momentos diferentes de sua história. O que pode ser relativamente bem definido nas teorias ou programas de pesquisa é a sua origem. Assim, programas de pesquisa podem ser definidos como linhagens de idéias com uma origem identificável na história (Hull, 1985: 778). As idéias ou conceitos não têm existência no vazio. Elas dependem de indivíduos que as propaguem. Logo, as teorias necessitam das comunidades científicas. Hull, então, considera as comunidades científicas também como entidades históricas, embora de natureza distinta dos sistemas conceituais. Essa diferença é igualmente assinalada por Elliot Sober em sua distinção entre “proposições científicas” e as “posições pessoais” dos sujeitos humanos, os atores históricos (Sober, 1993: 28). Assim, as comunidades científicas (tratadas por Hull como grupos sociais, pois são constituídas por pessoas que mantêm relações sociais unindo-as em empreendimentos cooperativos) aglutinadas em torno de um sistema conceitual, também evoluem. Portanto, sistemas conceituais e grupos sociais são entidades históricas que mantêm coesão interna à medida que se desenvolvem indefinida e continuamente através do tempo (Hull, 1985: 781). Por essa razão, o autor afirma que tanto os sistemas conceituais como as comunidades científicas são criaturas históricas (Hull, 1985: 779). Tanto os sistemas conceituais como os grupos sociais formados em torno deles possuem uma existência ao longo do tempo.

O método do espécime-tipo

De acordo com David Hull, a única maneira de fornecer sentido aos processos evolucionários, como é o caso dos sistemas conceituais e seus respectivos grupos sociais, é olhar a evolução dos fenômenos históricos como espécies. E propõe, que para estudar um programa de pesquisa qualquer, se utilize o “método do espécime-tipo” aplicado aos conceitos ou indivíduos dentro do programa. Para a concepção essencialista do mundo orgânico, o espécime-tipo era um indivíduo exemplar selecionado para receber o nome de certa espécie. No começo do desenvolvimento da ciência da taxonomia, o espécime-tipo era escolhido cuidadosamente entre aqueles que pareciam apresentar todas as características essenciais da espécie. Isso porque se acreditava que cada espécie possuía uma essência imutável. Embora houvesse a constatação de variações em indivíduos da mesma espécie, estas eram interpretadas como acidentais. O espécime-tipo deveria ser o membro exemplar da espécie, com todas as suas características típicas. No entanto, quando a abordagem evolucionista no estudo dos seres vivos tornou-se prevalente, os taxonomistas perceberam que o espécime-tipo poderia ser qualquer membro da espécie porque o importante é o “nexo genealógico” que une os indivíduos (Hull, 1985: 781). Uma vez que as espécies estão em processo evolutivo, não é possível procurar essências entre seus membros, porque os indivíduos variam. Conseqüentemente, qualquer indivíduo pode ser escolhido como espécime-tipo. Se uma linhagem dá origem a duas novas, novos espécimes-tipo podem ser escolhidos para estas. O mesmo se dá quando duas linhagens se fundem em uma única e nova (Hull, 1985: 782). Então, para se pesquisar um programa de pesquisa podemos escolher um conceito ou um indivíduo integrante do grupo social e seguir suas relações conceituais e sociais,