Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Nefroesclerose Benigna e Maligna: Caracterização e Diferenças Histológicas, Slides de Diagnóstico

Uma detalhada descrição das nefroescleroses benigna e maligna, incluindo suas principais características histológicas, diferenciações clínicas e palavras-chave relacionadas. A nefroesclerose benigna é caracterizada por lesões hialinas de arteríolas aferentes e artérias interlobulares, fibrose intersticial, atrofia tubular e glomerulopatia hipertensiva ou isquêmica. Já a nefroesclerose maligna apresenta lesões predominantes de arteríolas aferentes e artérias interlobulares, com necrose fibrinóide da parede dos vasos, obliteração da luz, focos de edema, necrose e hemorragia intersticiais e glomerulopatia isquêmica. O documento também discute as alterações observadas em idosos considerados normotensos e o diagnóstico diferencial entre as duas formas de nefroesclerose.

Tipologia: Slides

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Miguel86
Miguel86 🇧🇷

4.8

(40)

221 documentos

1 / 5

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
248 HiperAtivo, Vol 5, No 4, Outubro/Dezembro de 1998
INTRODUÇÃO
Nefroesclerose é o termo mais freqüentemente utilizado
para designar o quadro histológico renal relacionado às fases
benigna e maligna da hipertensão arterial essencial. Apesar
de amplamente difundido, esse termo não é exato pois sugere
um caráter prognóstico benigno às lesões vasculares da hiper-
tensão essencial (nefroesclerose benigna) e implica um as-
pecto de esclerose que não está presente nas fases iniciais da
doença.
Em 1925, Fahr(1) caracterizou a nefroesclerose benigna
como uma vasculopatia intra-renal distinta, a qual diferen-
ciou da outra forma — nefroesclerose maligna. É freqüente o
achado de traços histológicos característicos da nefroesclerose
maligna superpostos a um quadro crônico de nefroesclerose
benigna, correspondendo aos pacientes que tenham desenvol-
vido hipertensão maligna subseqüente à fase benigna da hi-
pertensão essencial. Um quadro clínico de hipertensão arteri-
al acelerada ou maligna, por sua vez, nem sempre resulta num
aspecto histológico de nefroesclerose maligna — as lesões
vasculares renais podem não se desenvolver caso os níveis
pressóricos sanguíneos sejam rapidamente controlados.
Nefroesclerose hipertensiva — visão do patologista
DENISE MARIA AVANCINI COSTA MALHEIROS, LUIS BALTHAZAR SALDANHA
A nefroesclerose benigna tem como principais caracterís-
ticas lesões hialinas de arteríolas aferentes, hipertrofia me-
dial de artéria interlobular, fibrose intersticial, atrofia tubu-
lar e glomerulopatia hipertensiva ou isquêmica. Embora o
quadro completo seja bastante sugestivo de nefroesclerose
benigna, as lesões isoladamente não são patognomônicas e
podem estar presentes também na nefropatia diabética, na
nefrotoxicidade crônica por ciclosporina e em meio às alte-
rações do parênquima renal dos idosos. O exame da amostra
renal à microscopia óptica, imunofluorescência e microsco-
pia eletrônica auxiliam no diagnóstico diferencial.
A nefroesclerose maligna caracteriza-se por lesão pre-
dominante de arteríolas aferentes e artérias interlobula-
res, às vezes estendendo-se aos capilares glomerulares,
com necrose fibrinóide da parede dos vasos, obliteração
da luz, focos de edema, necrose e hemorragia intersticiais
e glomerulopatia isquêmica. O diagnóstico diferencial com
o quadro histológico da síndrome hemolítica-urêmica é
freqüente.
Palavras-chave: rim, nefroesclerose benigna, nefroescle-
rose maligna, rim vascular.
HiperAtivo 1998;4:248-52
Divisão de Anatomia Patológica — HC-FMUSP
Endereço para correspondência:
Rua Pascal, 600 — ap. 22 — CEP 04616-002 — São Paulo — SP
PATOLOGIA
Nefroesclerose benigna
Macroscopia
No início do quadro, os rins podem apresentar volume
normal ou discretamente reduzido, com a superfície finamente
granulada. Com a evolução da doença, há grande redução no
tamanho renal, que pode chegar a menos da metade do volu-
me inicial, constituindo o chamado “rim contraído primário”.
Nessa fase final da doença, a superfície geralmente mostra
um granulado grosseiro, às vezes com cistos corticais.
Microscopia óptica
As alterações mais características da nefroesclerose be-
nigna são a presença de depósitos hialinos e esclerose de
arteríolas aferentes e de artérias interlobulares. Nas lesões mais
discretas, o material fica restrito ao espaço subendotelial, às
vezes com redução da luz, invadindo a túnica média nas le-
sões mais avançadas (Figura 1). Kashgarian(2) propôs que esse
material hialino seria resultado da passagem de
macromoléculas do plasma através do endotélio, cujas célu-
las mantêm-se preservadas. A hialinose pode ser segmentar
— quando a lesão ainda é potencialmente reversível(3) — ou
pf3
pf4
pf5

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Nefroesclerose Benigna e Maligna: Caracterização e Diferenças Histológicas e outras Slides em PDF para Diagnóstico, somente na Docsity!

INTRODUÇÃO

Nefroesclerose é o termo mais freqüentemente utilizado para designar o quadro histológico renal relacionado às fases benigna e maligna da hipertensão arterial essencial. Apesar de amplamente difundido, esse termo não é exato pois sugere um caráter prognóstico benigno às lesões vasculares da hiper- tensão essencial (nefroesclerose benigna) e implica um as- pecto de esclerose que não está presente nas fases iniciais da doença. Em 1925, Fahr(1)^ caracterizou a nefroesclerose benigna como uma vasculopatia intra-renal distinta, a qual diferen- ciou da outra forma — nefroesclerose maligna. É freqüente o achado de traços histológicos característicos da nefroesclerose maligna superpostos a um quadro crônico de nefroesclerose benigna, correspondendo aos pacientes que tenham desenvol- vido hipertensão maligna subseqüente à fase benigna da hi- pertensão essencial. Um quadro clínico de hipertensão arteri- al acelerada ou maligna, por sua vez, nem sempre resulta num aspecto histológico de nefroesclerose maligna — as lesões vasculares renais podem não se desenvolver caso os níveis pressóricos sanguíneos sejam rapidamente controlados.

Nefroesclerose hipertensiva — visão do patologista

DENISE MARIA AVANCINI COSTA MALHEIROS, LUIS BALTHAZAR SALDANHA

A nefroesclerose benigna tem como principais caracterís- ticas lesões hialinas de arteríolas aferentes, hipertrofia me- dial de artéria interlobular, fibrose intersticial, atrofia tubu- lar e glomerulopatia hipertensiva ou isquêmica. Embora o quadro completo seja bastante sugestivo de nefroesclerose benigna, as lesões isoladamente não são patognomônicas e podem estar presentes também na nefropatia diabética, na nefrotoxicidade crônica por ciclosporina e em meio às alte- rações do parênquima renal dos idosos. O exame da amostra renal à microscopia óptica, imunofluorescência e microsco- pia eletrônica auxiliam no diagnóstico diferencial. A nefroesclerose maligna caracteriza-se por lesão pre-

dominante de arteríolas aferentes e artérias interlobula- res, às vezes estendendo-se aos capilares glomerulares, com necrose fibrinóide da parede dos vasos, obliteração da luz, focos de edema, necrose e hemorragia intersticiais e glomerulopatia isquêmica. O diagnóstico diferencial com o quadro histológico da síndrome hemolítica-urêmica é freqüente.

Palavras-chave: rim, nefroesclerose benigna, nefroescle- rose maligna, rim vascular.

HiperAtivo 1998;4:248-

Divisão de Anatomia Patológica — HC-FMUSP

Endereço para correspondência: Rua Pascal, 600 — ap. 22 — CEP 04616-002 — São Paulo — SP

PATOLOGIA

Nefroesclerose benigna Macroscopia No início do quadro, os rins podem apresentar volume normal ou discretamente reduzido, com a superfície finamente granulada. Com a evolução da doença, há grande redução no tamanho renal, que pode chegar a menos da metade do volu- me inicial, constituindo o chamado “rim contraído primário”. Nessa fase final da doença, a superfície geralmente mostra um granulado grosseiro, às vezes com cistos corticais. Microscopia óptica As alterações mais características da nefroesclerose be- nigna são a presença de depósitos hialinos e esclerose de arteríolas aferentes e de artérias interlobulares. Nas lesões mais discretas, o material fica restrito ao espaço subendotelial, às vezes com redução da luz, invadindo a túnica média nas le- sões mais avançadas (Figura 1). Kashgarian(2)^ propôs que esse material hialino seria resultado da passagem de macromoléculas do plasma através do endotélio, cujas célu- las mantêm-se preservadas. A hialinose pode ser segmentar — quando a lesão ainda é potencialmente reversível(3)^ — ou

Nefroesclerose hipertensiva — visão do patologista

estender-se por toda a circunferência do vaso, corando-se for- temente pelo método PAS. Inicialmente, o comprometimento dos vasos é focal, passando, com a evolução da doença, a multifocal e podendo, finalmente, acometer todas as arteríolas e artérias interlobulares. Nas artérias interlobulares, as principais lesões são frag- mentação e duplicação da membrana elástica interna, com alguma fibrose subendotelial e hipertrofia da túnica média (Figura 2). As artérias arqueada e interlobar podem apresen- tar ainda depósitos de lípides com as alterações arterioescleróticas. Dois tipos de lesões relacionadas à nefroesclerose benigna podem comprometer os glomérulos, muitas vezes de forma concomitante: a glomeruloesclerose segmentar e focal ou glomerulopatia hipertensiva e a glomerulopatia isquêmica. Na glomeruloesclerose segmentar e focal, há alargamento da membrana basal, alterações degenerativas dos podócitos e expansão da matriz mesangial com formação de adesões à cápsula de Bowman. Essas lesões geralmente iniciam-se junto ao pólo vascular e evoluem para a hialinização global dos glomérulos. Na glomerulopatia isquêmica, há retração dos tufos glomerulares para junto do pólo vascular, com enrugamento da membrana basal, espessamento da cápsula de Bowman e posterior hialinização global do glomérulo. O compartimento intersticial está expandido por prolife- ração conjuntivo-fibrosa e, de forma relativa, pela redução do volume glomerular e tubular. Há estudos demonstrando cor- relação significativa entre o grau de expansão do interstício e o nível de creatinina sérica (4). Os túbulos apresentam graus variados de atrofia, muitas vezes com formação de cilindros na luz (Figura 3). Nenhuma dessas lesões é patognomônica, mas sua pre- sença em conjunto, na ausência de outras lesões de doença glomerular primária, é bastante sugestiva de nefroesclerose hipertensiva. Exame imuno-histológico O exame por imunofluorescência ou imuno-histoquímica mostra freqüentemente depósitos granulares de IgM, fatores C 3 e C (^) 1q do complemento em arteríolas aferentes e em mesângio. Essas marcações parecem resultar de um depósito inespecífico de proteínas plasmáticas e não de uma ativação imunológica por doença auto-imune (5). Microscopia eletrônica A microscopia eletrônica apenas confirma os achados ob- servados à óptica, sendo mais útil para permitir, quando ne- cessário, o diagnóstico diferencial com a nefropatia diabéti- ca, com outras glomerulonefrites e com doenças túbulo- intersticiais. Diagnóstico diferencial Algumas das alterações histológicas presentes na nefroesclerose benigna podem ser encontradas também na nefropatia diabética, em quadros de nefrotoxicidade crônica

Figura 1. Arterioesclerose hialina (HE — 160 x).

Figura 2. Artéria interlobular com hipertrofia da túnica média (HE — 160 x).

Figura 3. Área com atipia tubular e aproximação dos glomérulos (HE — 64 x).

Nefroesclerose hipertensiva — visão do patologista

Figura 4. Arteríola com intensa proliferação fibrointimal e edema mixóide de íntima (HE — 160 x).

Figura 5. Endarterite obliterante com acentuada diminui- ção da luz arteriolar asteróide (HE — 160 x).

Figura 6. Endarterite obliterante com edema e hemácias no espaço subintimal (HE — 160 x).

hemolítica-urêmica, as lesões glomerulares, com mesangiólise e duplicação da membrana basal capilar, são mais difusas e marcantes, em contraste com as lesões glomerulares mais fo- cais e segmentares de caráter necrotizante, que podem acom- panhar a nefroesclerose maligna. As lesões vasculares presentes nos quadros de rejeição vascular aguda acometem não só as artérias interlobulares mas também as arqueadas, com freqüente infiltrado de histiócitos e linfócitos na túnica íntima, além da presença ocasional de glomerulite. A esclerodermia produz lesões em artérias renais interlobulares e em arteríolas que podem se estender aos glomérulos. Além de serem por si só muito semelhantes às lesões da nefroesclerose maligna, podem ainda ser acrescidas das alterações hipertensivas, sendo o diagnóstico diferencial histológico entre ambas muitas vezes impossível.

Hypertensive disease of kidneys — the pathologist’s approach

DENISE MARIA AVANCINI COSTA MALHEIROS, LUIS BALTHAZAR SALDANHA

The most typical changes in benign nephrosclerosis are arteriolar intimal hyaline deposits, medial hypertrophy of interlobular arteries, interstitial fibrosis, tubular atrophy and hypertensive or ischemic glomerulopathy. Although the constellation of these lesions is very indicative of hypertensive nephrosclerosis, none of them is pathognomonic. Some of them may be present also in diabetic nephropathy, cyclosporin nephrotoxicity and changes induced by age. The use of light microscopy, immunohistology and electron microscopy may be very helpful in differential diagnosis. In malignant nephrosclerosis, the lesions predominate in afferent arterioles and interlobular arteries and frequently extend into the glomerular capillary tuft, with fibrinoid necrosis of the vascular wall, myointimal cells proliferation, interstitial edema, foci of necrosis and hemorrhage and ischemic glomerulopathy. As for differential diagnosis, these changes may be difficult to discern from those observed in hemolytic-uremic syndrome.

Key words: kidney, benign nephrosclerosis, malign nephrosclerosis, vascular kidney.

HiperAtivo 1998;4:248-

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Fahr T. Pathologishe Anatomie des M. Brightii. In: Fahr T, Gruber GB, Koch M, eds. Lubarsch: Handbuch der Speziellen Anatomie und Histologie, Berlin: Springer, 1925;pp.374-472.
  2. Kashgarian M. Pathology of the kidney in hypertension. In: Kaplan NM, Brenner BM, Laragh JH, eds. The Kidney in Hypertension. New York: Raven Press, 1987;pp.77-89.
  3. Tracy RE, Toca VT. Nephrosclerosis and blood pressure: II. Reversibility of proliferative arterosclerosis. Lab Invest 1974;30:30-5.
  4. Fogo A, Breyer JA, Smith MC, et al. Accuracy of diagnosis of hypertensive nephrosclerosis in African Americans: a report from the African American Study of Kidney Disease (AASK) trial. Kidney Int 1997;51:244-52.
  5. Kristensen BO. Aspects of immunology and

immunogenetics in human essential hypertension with special reference to vascular events. J Hypertens 1984;2:571-9.

  1. Mihatsch MJ, Thiel G, Ryffel B. Histopathology of cyclosporin nephrotoxicity. Transplant Proc 1988;20(suppl 3):759-71.
  2. Bignardi L. Histopathological changes in cyclosporin treated renal allograft biopsied at 1 and 12 months. Nephrol Dial Transplant 1987;2:366-70.
  3. Kinkaid-Smith P. Malignant hypertension. J Hypertens 1991;9:893-7.
  4. Ono H, Ono Y. Nephrosclerosis and hypertension. Med Clin N Am 1997;81(6):1273-88.
  5. Helmchen U, Wenzel UO. Benign and malignant nephrosclerosis and renovascular disease. In: Tisher CC, Brenner BM, eds. Renal Pathology. Philadelphia: J.B. Lippincott Company, 1994;pp.1201-36.

Nefroesclerose hipertensiva — visão do patologista