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Guias e Dicas
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o cavaleiro preso em sua armadura, Manuais, Projetos, Pesquisas de Filosofia

um livro sobre um cavaleiro preso na sua armadura

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2019

Compartilhado em 13/08/2019

engenharia-b
engenharia-b 🇧🇷

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O CAVALEIRO PRESO NA ARMADURA

Uma fábula para quem busca a Trilha da Verdade ROBERT FISHER

 - O Cavaleiro preso na Armadura | Página 2 de 
  • Capítulo Um Sumário
    • O Dilema do Cavaleiro
  • Capítulo Dois
    • Na floresta de Merlin
  • Capítulo Três
    • O Caminho da Verdade
  • Capítulo Quatro
    • O Castelo do Silêncio
  • Capítulo Cinco
    • O Castelo do Conhecimento
  • Capítulo Seis...................................................................................
    • O Castelo da Vontade e da Ousadia
  • Capítulo Sete
    • O Vértice da Verdade

O Cavaleiro preso na Armadura | Página 4 de 62

Juliet e Christopher pouco viam o cavaleiro, pois quando não estava

no campo de batalha, matando dragões ou resgatando donzelas, estava

ocupado experimentando a armadura e admirando o lustre dela. Com o

passar do tempo, o cavaleiro tornou-se tão enamorado de sua armadura,

que começou a usá-la para jantar e muitas vezes para dormir. Algum

tempo depois, ele nem mais se importava em tirá-la. Pouco a pouco, sua

família se esqueceu de sua aparência sem a armadura.

Às vezes, Christopher perguntava a sua mãe como era seu pai. En-

tão, Juliet levava o menino até a lareira e apontava para um retrato do

cavaleiro, acima dela.

Olhe o seu pai ela suspirava.

Uma tarde, enquanto contemplava o retrato, Christopher disse à

sua mãe:

Queria poder ver o papai em pessoa. Você não pode ter tudo exclamou Juliet.

Sua impaciência aumentava por ter apenas uma foto para lembrar o

rosto de seu marido, e ela estava cansada de ter seu sono perturbado

pelo ranger da armadura.

Quando estava em casa e não totalmente envolvido com a arma-

dura, o cavaleiro costumava proferir monólogos sobre seus atos de hero-

ísmo. Raramente Juliet e Christopher conseguiam lhe dirigir a palavra.

Quando o faziam, ele os interrompia, fechando a viseira ou indo abrup-

tamente para a cama.

Um dia, Juliet desafiou o marido:

Penso que você ama essa armadura mais do que a mim. Isso não é verdade respondeu o cavaleiro. Será que não a amo o bastante? Eu a resgatei daquele dragão e a coloquei neste elegante castelo com pedras de parede a parede! O que você amou disse Juliet, mirando através da viseira para poder ver os olhos do cavaleiro foi a idéia de me res- gatar. Você não me amava de verdade naquela ocasião e não me ama de verdade agora.

Página 5 de 62 | Robert Fischer

Eu amo você de verdade insistiu o cavaleiro, abraçando-a desajeitadamente em sua armadura fria e dura, e quase quebrando as costelas dela. Então tire essa armadura para que eu possa ver quem você realmente é! ela exigiu. Não posso tirá-la. Tenho de estar pronto para montar em meu cavalo e sair em qualquer direção explicou o cavalei- ro. Se você não tirar essa armadura, vou pegar o Christopher, montar no meu cavalo e sair de sua vida.

Bem, isso foi um verdadeiro golpe para o cavaleiro. Ele não queria

que Juliet fosse embora. Ele amava sua esposa, seu filho e seu elegante

castelo, mas também amava sua armadura, porque ela revelava a todos

quem ele era — um cavaleiro bondoso, gentil e amoroso. Por que Juliet

não compreendia que ele era todas essas coisas?

O cavaleiro estava confuso. Finalmente, ele chegou a uma conclu-

são. Não valia a pena continuar usando a armadura e perder Juliet e

Christopher.

Relutante, o cavaleiro tentou remover o elmo, mas este não se

moveu! Ele puxou com mais força. O elmo permaneceu imóvel. Pertur-

bado, tentou levantar a viseira mas, que chateação, ela também estava

emperrada. Embora pelejasse com a viseira insistentemente, nada acon-

tecia.

O cavaleiro andou de um lado para o outro, muito agitado. Como

isso pôde acontecer? Talvez não fosse tanta surpresa encontrar a arma-

dura emperrada, já que ele não a retirava há anos, mas a viseira era dife-

rente. Ele a abria regularmente para comer e beber. Ora, ele a levantara

naquela mesma manhã para um desjejum de ovos mexidos e carne de

porco.

De repente o cavaleiro teve uma idéia. Sem dizer para onde ia, cor-

reu à oficina do ferreiro, que ficava no pátio do castelo. Quando lá che-

gou, o ferreiro estava modelando uma ferradura com as próprias mãos.

Seu ferreiro disse o cavaleiro , estou com um problema.

Página 7 de 62 | Robert Fischer

O cavaleiro nada sentiu. Somente quando o molho começou a pin-

gar diante das aberturas para os olhos na viseira foi que se deu conta de

que tinha sido golpeado na cabeça. Ele também, à tarde, mal sentira a

martelada do ferreiro. Ao pensar sobre isso, percebeu que a armadura

realmente o impedia mesmo de sentir muita coisa, e ele a usava há tanto

tempo que tinha esquecido como era a vida sem ela.

O cavaleiro estava chateado porque Juliet não acreditava que ele

estava tentando retirar a armadura. Ele e o ferreiro haviam tentado, e

continuaram empenhados nisso vários dias seguidos sem obter sucesso.

A cada dia, o cavaleiro ficava mais desanimado e Juliet mais distante.

Finalmente, ele teve de admitir que os esforços do ferreiro eram

em vão.

O homem mais forte do reino, realmente! Não consegue nem dar conta desta sucata de aço! o cavaleiro gritou frustra- do.

Quando o cavaleiro voltou a casa, Juliet desentendeu-se com ele:

Seu filho não tem mais do que um retrato como pai, e eu es- tou cansada de falar com uma viseira fechada. Nunca mais vou lhe dar comida pelos buracos dessa coisa nojenta. Esse foi o último naco de carneiro que amassei! Não é culpa minha, se fiquei preso nesta armadura. Eu tinha de usá-la, pois só assim estaria sempre pronto para a luta. De que outro jeito poderia conseguir bons castelos e cavalos pa- ra você e Christopher? Você não fez isso por nossa causa argumentou Juliet. Você fez isso para você mesmo.

O cavaleiro sentia o coração partido, porque sua mulher parecia

não amá-lo mais. Ele também temia que, se não tirasse logo a armadura,

Juliet e Christopher fossem embora de verdade. Ele tinha de tirar a ar-

madura, mas não sabia como fazê-lo.

Ele descartava uma idéia após a outra, achando que não iriam fun-

cionar. Alguns desses planos eram sem dúvida perigosos. Sabia que

qualquer cavaleiro que pensasse em retirar sua armadura derretendo-a

com uma tocha, congelando-a pulando no fosso enregelado que circun-

O Cavaleiro preso na Armadura | Página 8 de 62

dava o castelo ou explodindo-a com um canhão precisava muito de aju-

da. "Em algum lugar, deve haver alguém que possa me ajudar a retirar

esta armadura", ele pensou.

É claro que iria sentir falta de Juliet, de Christopher e de seu ele-

gante castelo. Ele também receava que, na sua ausência, Juliet pudesse

se enamorar de outro cavaleiro, algum disposto a retirar a armadura na

hora de dormir e a cumprir seu papel de pai para Christopher. Todavia, o

cavaleiro tinha de partir. Então, certa manhã bem cedo, montou no seu

cavalo e saiu cavalgando. Não ousou olhar para trás, com medo de que

pudesse mudar de idéia.

No caminho de saída da província, o cavaleiro parou para se despe-

dir do rei, que era muito bom para ele. O rei vivia num imenso castelo

situado no topo de uma colina, numa região afortunada. Ao atravessar a

ponte levadiça e entrar no pátio, viu o bobo da corte sentado de pernas

cruzadas, tocando uma flauta de bambu.

O bobo era chamado de Bolsalegre, porque trazia nos ombros uma

linda bolsa com as cores do arco-íris, repleta com toda espécie de objetos

que faziam as pessoas sorrir ou sentir alegria. Havia cartas estranhas que

ele usava para prever o futuro, contas de cores brilhantes que ele fazia

aparecer e desaparecer e algumas marionetes pequenas e engraçadas

que manipulava para jocosamente insultar suas plateias.

Oi, Bolsalegre disse o cavaleiro. Vim me despedir do rei.

O bobo olhou para cima.

O rei saiu pelo mundo afora. Não há nada que ele possa lhe dizer agora. Para onde ele foi? perguntou o cavaleiro. De uma nova cruzada, foi cuidar. Se esperar por ele, irá se atrasar.

O cavaleiro ficou desapontado por não encontrar o rei e chateado

por não poder unir-se a ele na cruzada.

Oh ele suspirou , posso morrer de fome dentro desta armadura, se o rei demorar a voltar. Talvez eu nunca o veja novamente.

O Cavaleiro preso na Armadura | Página 10 de 62

Isso é verdade, mas ele está vivo e bem. A morada do sábio fica nas florestas além. Mas são tão vastas essas florestas disse o cavaleiro. Como o encontrarei por lá?

Bolsalegre sorriu.

Dias, semanas ou anos, nunca se sabe ao certo. Quando o discípulo estiver pronto, o mestre estará por perto. Não posso esperar que Merlin apareça. Vou sair no encalço dele disse o cavaleiro.

Agradecido, ele esticou o braço e apertou a mão de Bolsalegre,

quase esmagando os dedos do bobo com sua manopla. Bolsalegre soltou

um grito. O cavaleiro rapidamente largou a mão do bobo.

Desculpe disse o cavaleiro, enquanto Bolsalegre esfregava seus dedos doloridos. Quando da armadura você se livrar, a dor dos outros também sentirá. Já fui! disse o cavaleiro. Ele girou o cavalo e, com espe- rança renovada no coração, saiu a galope em busca de Mer- lin.

Página 11 de 62 | Robert Fischer

Capítulo Dois

NA FLORESTA DE MERLIN

Não era uma tarefa fácil encontrar o esperto feiticeiro. Havia mui-

tas florestas onde procurar, mas apenas um Merlin. Então, o pobre cava-

leiro cavalgou e cavalgou, dia após dia, noite após noite, tornando-se

cada vez mais fraco.

Enquanto cavalgava através das florestas sozinho, percebeu que

desconhecia tantas coisas... Ele sempre se imaginara muito sabido, mas

não se sentia nem um pouco sabido tentando sobreviver na floresta.

Relutante, admitiu para si mesmo que sequer sabia diferenciar os

frutos venenosos dos comestíveis. Por isso, comer era um jogo de role-

ta-russa. Beber não era menos arriscado. O cavaleiro tentou enfiar a ca-

beça dentro de um córrego, mas seu elmo se encheu de água. Por duas

vezes, quase se afobou. Como se isso já não fosse ruim o bastante, ele

estava perdido desde que entrara na floresta. O cavaleiro não sabia dis-

tinguir norte de sul ou leste de oeste. Felizmente, seu cavalo sabia.

Depois de meses buscando em vão, sentia-se totalmente desani-

mado. Embora tivesse percorrido muitas léguas, o cavaleiro ainda não

havia encontrado Merlin. O que o fazia sentir-se pior era o fato de nem

ao menos saber que distância uma légua representava.

Certa manhã, acordou sentindo-se mais fraco do que de costume e

com uma sensação estranha. Foi nessa manhã que encontrou Merlin. O

cavaleiro reconheceu o mago imediatamente. Ele estava sentado debaixo

de uma árvore, trajando um longo manto branco. Animais da floresta

estavam reunidos à volta dele, e havia pássaros empoleirados sobre seus

ombros e braços.

Página 13 de 62 | Robert Fischer

mas estava sem forças. Merlin lhe ofereceu um cálice prateado que con-

tinha um líquido de cor estranha.

Beba isso ele ordenou. O que é isso? perguntou o cavaleiro, olhando para o cálice com suspeita. Você é tão medroso disse Merlin. É claro, é por isso que veste essa armadura.

Como estava com muita sede, o cavaleiro preferiu não contrariar o

mago.

Está bem, eu bebo. Despeje através da viseira. Isso não disse Merlin. Esse líquido é precioso demais para ser desperdiçado. Ele então arrancou um bambu, colocou uma ponta dentro do cálice e enfiou a outra por um dos orifí- cios da viseira do cavaleiro. Que grande idéia! disse o cavaleiro. Chamo isso de canudo replicou Merlin. Por quê? Por que não?

O cavaleiro encolheu os ombros e sorveu a bebida com o canudo.

Os primeiros goles pareciam amargos, os seguintes mais agradáveis e os

últimos absolutamente deliciosos. Agradecido, o cavaleiro devolveu o

cálice a Merlin.

Você deveria colocar esse produto à venda. Poderia vender jarros dele.

Merlin apenas sorriu.

O que é essa bebida? perguntou o Cavaleiro. Vida respondeu Merlin. Vida? Sim disse o sábio mago. Não parecia amargo no início, e depois, enquanto você provava mais, não ia se tornando agradável? O cavaleiro concordou: Sim, e os últimos goles eram absolutamente deliciosos. Foi quando você começou a aceitar o que eslava bebendo. Você quer dizer que a vida é boa quando a aceitamos? perguntou o cavaleiro.

O Cavaleiro preso na Armadura | Página 14 de 62

E não é? replicou Merlin, levantando uma sobrancelha em sinal de divertimento. Você espera que eu aceite toda esta pesada armadura? Ah disse Merlin , você não nasceu com ela. Foi você quem a vestiu. Será que alguma vez já se perguntou por quê? Por que não? retorquiu o cavaleiro, irritado. Nessa altura, sua cabeça começava a doer. Ele não estava acostumado a pensar dessa maneira. Você terá condições de pensar melhor quando recuperar suas forças disse Merlin.

Com isso, o mago bateu as mãos, e os esquilos, carregando nozes

em suas pequenas bocas, enfileiraram-se diante do cavaleiro. Um de cada

vez, os esquilos subiram até o ombro dele e, após quebrarem e masca-

rem as nozes, enfiaram os pedaços pela viseira do cavaleiro. Os coelhos

fizeram a mesma coisa com cenouras, e o veado esmagou raízes e frutos

para o cavaleiro comer. Claro que esse método de alimentação nunca

seria aprovado pelo departamento de saúde de nenhum reino; o que

mais, porém, um cavaleiro preso em sua armadura e no meio da floresta

poderia fazer?

Os animais alimentavam o cavaleiro regularmente, e Merlin lhe dava

largas taças de Vida para beber através do canudo. Lentamente, o cava-

leiro foi i imperando as forças e suas esperanças começaram a se reno-

var.

Todos os dias, ele fazia a mesma pergunta a Merlin:

"Quando vou sair desta armadura?"

Todos os dias, Merlin respondia: "Paciência! Faz muito tempo que

você a usa. Não dá para se livrar dela da noite- para o dia."

Certa noite, os animais e o cavaleiro ouviam o mago tocar no seu

alaúde os últimos sucessos dos trovadores. Após aguardar que Merlin

terminasse de tocar "Ouça Essa dos Tempos de Antigamente, quando os

Cavaleiros Eram Corajosos e as Donzelas Insensíveis", o cavaleiro fez uma

pergunta que ha muito latejava em sua mente:

Você foi realmente o mestre do Rei Arthur?

O Cavaleiro preso na Armadura | Página 16 de 62

Por que você sempre responde com outra pergunta? E por que você sempre busca nos outros as respostas às suas perguntas?

O cavaleiro saiu pisando o chão com força, furioso, xingando Merlin

com voz abafada.

Esse Merlin! ele resmungou. Algumas vezes ele real- mente entra debaixo da minha armadura!

Com um baque, o cavaleiro jogou seu pesado corpo sob uma árvo-

re, para refletir sobre as perguntas do mago.

"O que ele pensava? Será", disse ele em voz alta para nin- guém em particular, "que eu não sou bondoso, gentil e amo- roso?" Pode ser disse uma voz tênue. Caso contrário, por que estaria sentado na minha cauda? O quê?

O cavaleiro olhou para o chão ao seu lado e percebeu um pequeno

esquilo sentado ao lado dele. Isto é, ele podia ver a maior parte do corpo

do esquilo. A cauda estava escondida.

Oh, desculpe! disse o cavaleiro, movendo rapidamente a perna para que o esquilo pudesse reaver a cauda. Espero não o ter machucado. Não consigo enxergar muito bem com esta viseira na minha frente. Não tenho dúvida disso replicou o esquilo, sem qualquer ressentimento na voz. É por isso que você tem de ficar pe- dindo desculpas às pessoas depois de machucá-las. O que me irrita mais que um mago atrevido é um esquilo atrevido resmungou o cavaleiro. - eu não tenho de ficar aqui e falar com você. Ele começou a peleja contra o peso da armadura para tentar colocar-se em pé. Subitamente, espantado, ele deixou esca- par: Ei... você e eu estamos conversando! Um tributo à minha boa natureza reputou o esquilo , considerando que você sentou na minha cauda. Mas os animais não falam disse o cavaleiro.

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Oh, com certeza falamos disse o esquilo. - As pessoas é que não escutam. O cavaleiro balançou a cabeça desnorteado. - Você já falou comigo antes? Certamente, toda vez que eu quebrava uma noz, e a enfiava através da sua viseira. Como é possível que eu esteja ouvindo você agora, se antes não ouvia? Admiro uma mente inquisitiva comentou o esquilo , mas será que você nunca aceita as coisas como elas são... sim- plesmente porque é assim? Você está respondendo às minhas perguntas com outras perguntas disse o cavaleiro. É tempo demais que você tem passado junto de Merlin. E você não tem estado junto dele tempo suficiente! O esquilo chicoteou de leve o cavaleiro com a cauda, e subiu ligeiro por uma árvore. Espere! Qual o seu nome? o cavaleiro perguntou ao esqui- lo. Esquilo ele respondeu muito simplesmente, e desapareceu em meio aos galhos mais altos.

Surpreso, o cavaleiro balançou a cabeça. Será que tudo não passara

de imaginação? Nesse momento, ele viu Merlin se aproximando.

Merlin, tenho de ir embora daqui. Estou começando a falar com esquilos, Esplêndido replicou o mago.

O cavaleiro parecia preocupado:

O que você quer dizer com esplêndido? Apenas isso. Você está se tornando sensível o bastante para sentir as vibrações dos outros.

O cavaleiro estava obviamente confuso; então Merlin continuou a

explicar: - Você não falou com o esquilo em palavras, mas sentiu as vi-

brações dele e as transformou em palavras. Mal posso esperar o dia em

que você começará a falar com as flores.

Nesse dia você as plantará sobre a minha sepultura. Preciso sair fora desta floresta!

Página 19 de 62 | Robert Fischer

Ela não sabe onde eu moro. E apenas um pássaro idiota. Posso diferenciar norte de sul e leste de oeste emendou Re- becca , que é mais do que posso dizer de você.

O cavaleiro prontamente se desculpou. Ele estava completamente

abalado. Não apenas tinha falado com um pombo e um esquilo, como os

tinha deixado zangados com ele, tudo no mesmo dia.

Por ser um pássaro com um coração generoso, Rebecca aceitou as

desculpas do cavaleiro e alçou voo, levando no bico o bilhete que ele

apressadamente escrevera para Christopher.

Não arrulhe para pombos desconhecidos, ou você deixará o bilhete cair o cavaleiro gritou para ela.

Rebecca ignorou essa insensata observação, compreendendo que o

cavaleiro tinha muito que aprender.

Uma semana se passou, e Rebecca ainda não havia retornado.

O cavaleiro estava ficando cada vez mais ansioso, temeroso de que

ela tivesse se tornado presa de um dos falcões caçadores que ele e outros

cavaleiros haviam treinado. Um tremor percorreu seu corpo, ao pensar

como podia ter participado de esporte tão maldoso.

Quando Merlin terminou de tocar alaúde e cantar "Se Você Tem

um Coração Pequeno e Frio, Seu Inverno Será Longo e Frio", o cavaleiro

expressou sua preocupação com Rebecca.

Merlin tranquilizou o cavaleiro, criando um curto e alegre verso:

"Um pombo tão esperto e que voa tão bem não acabará cozido na panela

de alguém."

Subitamente, um intenso palavreado brotou de entre os animais.

Como eles todos estavam olhando para o céu, Merlin e o cavaleiro olha-

ram também. Bem acima deles, circulando em busca de um lugar para

pousar, eles viram Rebecca.

O cavaleiro pelejou para ficar em pé, justo quando Rebecca arre-

meteu até o ombro de Merlin. Tirando o bilhete de seu bico, o mago

olhou-o de relance e disse solenemente ao cavaleiro que era da parte de

Christopher.

O Cavaleiro preso na Armadura | Página 20 de 62

Deixe-me ver! disse o cavaleiro, pegando ansiosamente o papel. Seu queixo caiu com um rangido, enquanto ele olhava o bilhete sem acreditar no que via. - Está em branco ele exclamou. O que significa isso? Significa disse Merlin, suavemente que seu filho não sabe bastante a seu respeito para lhe dar uma resposta.

O cavaleiro ficou ali parado um tempo, atordoado. Depois soltou

um gemido e caiu lentamente ao solo. Tentou conter as lágrimas, pois

cavaleiros com armaduras brilhantes simplesmente não choravam. No

entanto, sua tristeza logo o subjugou. Exausto e meio afogado pelas lá-

grimas dentro do seu elmo, o cavaleiro então adormeceu.