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O CAVALEIRO PRESO NA ARMADURA
Uma fábula para quem busca a Trilha da Verdade ROBERT FISHER
- O Cavaleiro preso na Armadura | Página 2 de
- Capítulo Um Sumário
- Capítulo Dois
- Capítulo Três
- Capítulo Quatro
- Capítulo Cinco
- O Castelo do Conhecimento
- Capítulo Seis...................................................................................
- O Castelo da Vontade e da Ousadia
- Capítulo Sete
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Juliet e Christopher pouco viam o cavaleiro, pois quando não estava
no campo de batalha, matando dragões ou resgatando donzelas, estava
ocupado experimentando a armadura e admirando o lustre dela. Com o
passar do tempo, o cavaleiro tornou-se tão enamorado de sua armadura,
que começou a usá-la para jantar e muitas vezes para dormir. Algum
tempo depois, ele nem mais se importava em tirá-la. Pouco a pouco, sua
família se esqueceu de sua aparência sem a armadura.
Às vezes, Christopher perguntava a sua mãe como era seu pai. En-
tão, Juliet levava o menino até a lareira e apontava para um retrato do
cavaleiro, acima dela.
Olhe o seu pai — ela suspirava.
Uma tarde, enquanto contemplava o retrato, Christopher disse à
sua mãe:
Queria poder ver o papai em pessoa. Você não pode ter tudo — exclamou Juliet.
Sua impaciência aumentava por ter apenas uma foto para lembrar o
rosto de seu marido, e ela estava cansada de ter seu sono perturbado
pelo ranger da armadura.
Quando estava em casa e não totalmente envolvido com a arma-
dura, o cavaleiro costumava proferir monólogos sobre seus atos de hero-
ísmo. Raramente Juliet e Christopher conseguiam lhe dirigir a palavra.
Quando o faziam, ele os interrompia, fechando a viseira ou indo abrup-
tamente para a cama.
Um dia, Juliet desafiou o marido:
Penso que você ama essa armadura mais do que a mim. Isso não é verdade — respondeu o cavaleiro. — Será que não a amo o bastante? Eu a resgatei daquele dragão e a coloquei neste elegante castelo com pedras de parede a parede! O que você amou — disse Juliet, mirando através da viseira para poder ver os olhos do cavaleiro — foi a idéia de me res- gatar. Você não me amava de verdade naquela ocasião e não me ama de verdade agora.
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Eu amo você de verdade — insistiu o cavaleiro, abraçando-a desajeitadamente em sua armadura fria e dura, e quase quebrando as costelas dela. Então tire essa armadura para que eu possa ver quem você realmente é! — ela exigiu. Não posso tirá-la. Tenho de estar pronto para montar em meu cavalo e sair em qualquer direção — explicou o cavalei- ro. Se você não tirar essa armadura, vou pegar o Christopher, montar no meu cavalo e sair de sua vida.
Bem, isso foi um verdadeiro golpe para o cavaleiro. Ele não queria
que Juliet fosse embora. Ele amava sua esposa, seu filho e seu elegante
castelo, mas também amava sua armadura, porque ela revelava a todos
quem ele era — um cavaleiro bondoso, gentil e amoroso. Por que Juliet
não compreendia que ele era todas essas coisas?
O cavaleiro estava confuso. Finalmente, ele chegou a uma conclu-
são. Não valia a pena continuar usando a armadura e perder Juliet e
Christopher.
Relutante, o cavaleiro tentou remover o elmo, mas este não se
moveu! Ele puxou com mais força. O elmo permaneceu imóvel. Pertur-
bado, tentou levantar a viseira mas, que chateação, ela também estava
emperrada. Embora pelejasse com a viseira insistentemente, nada acon-
tecia.
O cavaleiro andou de um lado para o outro, muito agitado. Como
isso pôde acontecer? Talvez não fosse tanta surpresa encontrar a arma-
dura emperrada, já que ele não a retirava há anos, mas a viseira era dife-
rente. Ele a abria regularmente para comer e beber. Ora, ele a levantara
naquela mesma manhã para um desjejum de ovos mexidos e carne de
porco.
De repente o cavaleiro teve uma idéia. Sem dizer para onde ia, cor-
reu à oficina do ferreiro, que ficava no pátio do castelo. Quando lá che-
gou, o ferreiro estava modelando uma ferradura com as próprias mãos.
Seu ferreiro — disse o cavaleiro — , estou com um problema.
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O cavaleiro nada sentiu. Somente quando o molho começou a pin-
gar diante das aberturas para os olhos na viseira foi que se deu conta de
que tinha sido golpeado na cabeça. Ele também, à tarde, mal sentira a
martelada do ferreiro. Ao pensar sobre isso, percebeu que a armadura
realmente o impedia mesmo de sentir muita coisa, e ele a usava há tanto
tempo que tinha esquecido como era a vida sem ela.
O cavaleiro estava chateado porque Juliet não acreditava que ele
estava tentando retirar a armadura. Ele e o ferreiro haviam tentado, e
continuaram empenhados nisso vários dias seguidos sem obter sucesso.
A cada dia, o cavaleiro ficava mais desanimado e Juliet mais distante.
Finalmente, ele teve de admitir que os esforços do ferreiro eram
em vão.
O homem mais forte do reino, realmente! Não consegue nem dar conta desta sucata de aço! — o cavaleiro gritou frustra- do.
Quando o cavaleiro voltou a casa, Juliet desentendeu-se com ele:
Seu filho não tem mais do que um retrato como pai, e eu es- tou cansada de falar com uma viseira fechada. Nunca mais vou lhe dar comida pelos buracos dessa coisa nojenta. Esse foi o último naco de carneiro que amassei! Não é culpa minha, se fiquei preso nesta armadura. Eu tinha de usá-la, pois só assim estaria sempre pronto para a luta. De que outro jeito poderia conseguir bons castelos e cavalos pa- ra você e Christopher? Você não fez isso por nossa causa — argumentou Juliet. — Você fez isso para você mesmo.
O cavaleiro sentia o coração partido, porque sua mulher parecia
não amá-lo mais. Ele também temia que, se não tirasse logo a armadura,
Juliet e Christopher fossem embora de verdade. Ele tinha de tirar a ar-
madura, mas não sabia como fazê-lo.
Ele descartava uma idéia após a outra, achando que não iriam fun-
cionar. Alguns desses planos eram sem dúvida perigosos. Sabia que
qualquer cavaleiro que pensasse em retirar sua armadura derretendo-a
com uma tocha, congelando-a pulando no fosso enregelado que circun-
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dava o castelo ou explodindo-a com um canhão precisava muito de aju-
da. "Em algum lugar, deve haver alguém que possa me ajudar a retirar
esta armadura", ele pensou.
É claro que iria sentir falta de Juliet, de Christopher e de seu ele-
gante castelo. Ele também receava que, na sua ausência, Juliet pudesse
se enamorar de outro cavaleiro, algum disposto a retirar a armadura na
hora de dormir e a cumprir seu papel de pai para Christopher. Todavia, o
cavaleiro tinha de partir. Então, certa manhã bem cedo, montou no seu
cavalo e saiu cavalgando. Não ousou olhar para trás, com medo de que
pudesse mudar de idéia.
No caminho de saída da província, o cavaleiro parou para se despe-
dir do rei, que era muito bom para ele. O rei vivia num imenso castelo
situado no topo de uma colina, numa região afortunada. Ao atravessar a
ponte levadiça e entrar no pátio, viu o bobo da corte sentado de pernas
cruzadas, tocando uma flauta de bambu.
O bobo era chamado de Bolsalegre, porque trazia nos ombros uma
linda bolsa com as cores do arco-íris, repleta com toda espécie de objetos
que faziam as pessoas sorrir ou sentir alegria. Havia cartas estranhas que
ele usava para prever o futuro, contas de cores brilhantes que ele fazia
aparecer e desaparecer e algumas marionetes pequenas e engraçadas
que manipulava para jocosamente insultar suas plateias.
Oi, Bolsalegre — disse o cavaleiro. — Vim me despedir do rei.
O bobo olhou para cima.
O rei saiu pelo mundo afora. Não há nada que ele possa lhe dizer agora. Para onde ele foi? — perguntou o cavaleiro. De uma nova cruzada, foi cuidar. Se esperar por ele, irá se atrasar.
O cavaleiro ficou desapontado por não encontrar o rei e chateado
por não poder unir-se a ele na cruzada.
Oh — ele suspirou — , posso morrer de fome dentro desta armadura, se o rei demorar a voltar. Talvez eu nunca o veja novamente.
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Isso é verdade, mas ele está vivo e bem. A morada do sábio fica nas florestas além. Mas são tão vastas essas florestas — disse o cavaleiro. — Como o encontrarei por lá?
Bolsalegre sorriu.
Dias, semanas ou anos, nunca se sabe ao certo. Quando o discípulo estiver pronto, o mestre estará por perto. Não posso esperar que Merlin apareça. Vou sair no encalço dele — disse o cavaleiro.
Agradecido, ele esticou o braço e apertou a mão de Bolsalegre,
quase esmagando os dedos do bobo com sua manopla. Bolsalegre soltou
um grito. O cavaleiro rapidamente largou a mão do bobo.
Desculpe — disse o cavaleiro, enquanto Bolsalegre esfregava seus dedos doloridos. Quando da armadura você se livrar, a dor dos outros também sentirá. Já fui! — disse o cavaleiro. Ele girou o cavalo e, com espe- rança renovada no coração, saiu a galope em busca de Mer- lin.
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Capítulo Dois
NA FLORESTA DE MERLIN
Não era uma tarefa fácil encontrar o esperto feiticeiro. Havia mui-
tas florestas onde procurar, mas apenas um Merlin. Então, o pobre cava-
leiro cavalgou e cavalgou, dia após dia, noite após noite, tornando-se
cada vez mais fraco.
Enquanto cavalgava através das florestas sozinho, percebeu que
desconhecia tantas coisas... Ele sempre se imaginara muito sabido, mas
não se sentia nem um pouco sabido tentando sobreviver na floresta.
Relutante, admitiu para si mesmo que sequer sabia diferenciar os
frutos venenosos dos comestíveis. Por isso, comer era um jogo de role-
ta-russa. Beber não era menos arriscado. O cavaleiro tentou enfiar a ca-
beça dentro de um córrego, mas seu elmo se encheu de água. Por duas
vezes, quase se afobou. Como se isso já não fosse ruim o bastante, ele
estava perdido desde que entrara na floresta. O cavaleiro não sabia dis-
tinguir norte de sul ou leste de oeste. Felizmente, seu cavalo sabia.
Depois de meses buscando em vão, sentia-se totalmente desani-
mado. Embora tivesse percorrido muitas léguas, o cavaleiro ainda não
havia encontrado Merlin. O que o fazia sentir-se pior era o fato de nem
ao menos saber que distância uma légua representava.
Certa manhã, acordou sentindo-se mais fraco do que de costume e
com uma sensação estranha. Foi nessa manhã que encontrou Merlin. O
cavaleiro reconheceu o mago imediatamente. Ele estava sentado debaixo
de uma árvore, trajando um longo manto branco. Animais da floresta
estavam reunidos à volta dele, e havia pássaros empoleirados sobre seus
ombros e braços.
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mas estava sem forças. Merlin lhe ofereceu um cálice prateado que con-
tinha um líquido de cor estranha.
Beba isso — ele ordenou. O que é isso? — perguntou o cavaleiro, olhando para o cálice com suspeita. Você é tão medroso — disse Merlin. — É claro, é por isso que veste essa armadura.
Como estava com muita sede, o cavaleiro preferiu não contrariar o
mago.
Está bem, eu bebo. Despeje através da viseira. Isso não — disse Merlin. Esse líquido é precioso demais para ser desperdiçado. — Ele então arrancou um bambu, colocou uma ponta dentro do cálice e enfiou a outra por um dos orifí- cios da viseira do cavaleiro. Que grande idéia! — disse o cavaleiro. Chamo isso de canudo — replicou Merlin. Por quê? Por que não?
O cavaleiro encolheu os ombros e sorveu a bebida com o canudo.
Os primeiros goles pareciam amargos, os seguintes mais agradáveis e os
últimos absolutamente deliciosos. Agradecido, o cavaleiro devolveu o
cálice a Merlin.
Você deveria colocar esse produto à venda. Poderia vender jarros dele.
Merlin apenas sorriu.
O que é essa bebida? — perguntou o Cavaleiro. Vida — respondeu Merlin. Vida? Sim — disse o sábio mago. — Não parecia amargo no início, e depois, enquanto você provava mais, não ia se tornando agradável? O cavaleiro concordou: Sim, e os últimos goles eram absolutamente deliciosos. Foi quando você começou a aceitar o que eslava bebendo. Você quer dizer que a vida é boa quando a aceitamos? — perguntou o cavaleiro.
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E não é? — replicou Merlin, levantando uma sobrancelha em sinal de divertimento. Você espera que eu aceite toda esta pesada armadura? Ah — disse Merlin — , você não nasceu com ela. Foi você quem a vestiu. Será que alguma vez já se perguntou por quê? Por que não? — retorquiu o cavaleiro, irritado. Nessa altura, sua cabeça começava a doer. Ele não estava acostumado a pensar dessa maneira. Você terá condições de pensar melhor quando recuperar suas forças — disse Merlin.
Com isso, o mago bateu as mãos, e os esquilos, carregando nozes
em suas pequenas bocas, enfileiraram-se diante do cavaleiro. Um de cada
vez, os esquilos subiram até o ombro dele e, após quebrarem e masca-
rem as nozes, enfiaram os pedaços pela viseira do cavaleiro. Os coelhos
fizeram a mesma coisa com cenouras, e o veado esmagou raízes e frutos
para o cavaleiro comer. Claro que esse método de alimentação nunca
seria aprovado pelo departamento de saúde de nenhum reino; o que
mais, porém, um cavaleiro preso em sua armadura e no meio da floresta
poderia fazer?
Os animais alimentavam o cavaleiro regularmente, e Merlin lhe dava
largas taças de Vida para beber através do canudo. Lentamente, o cava-
leiro foi i imperando as forças e suas esperanças começaram a se reno-
var.
Todos os dias, ele fazia a mesma pergunta a Merlin:
"Quando vou sair desta armadura?"
Todos os dias, Merlin respondia: "Paciência! Faz muito tempo que
você a usa. Não dá para se livrar dela da noite- para o dia."
Certa noite, os animais e o cavaleiro ouviam o mago tocar no seu
alaúde os últimos sucessos dos trovadores. Após aguardar que Merlin
terminasse de tocar "Ouça Essa dos Tempos de Antigamente, quando os
Cavaleiros Eram Corajosos e as Donzelas Insensíveis", o cavaleiro fez uma
pergunta que ha muito latejava em sua mente:
Você foi realmente o mestre do Rei Arthur?
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Por que você sempre responde com outra pergunta? E por que você sempre busca nos outros as respostas às suas perguntas?
O cavaleiro saiu pisando o chão com força, furioso, xingando Merlin
com voz abafada.
Esse Merlin! — ele resmungou. — Algumas vezes ele real- mente entra debaixo da minha armadura!
Com um baque, o cavaleiro jogou seu pesado corpo sob uma árvo-
re, para refletir sobre as perguntas do mago.
"O que ele pensava? Será", disse ele em voz alta para nin- guém em particular, "que eu não sou bondoso, gentil e amo- roso?" Pode ser — disse uma voz tênue. — Caso contrário, por que estaria sentado na minha cauda? O quê?
O cavaleiro olhou para o chão ao seu lado e percebeu um pequeno
esquilo sentado ao lado dele. Isto é, ele podia ver a maior parte do corpo
do esquilo. A cauda estava escondida.
Oh, desculpe! — disse o cavaleiro, movendo rapidamente a perna para que o esquilo pudesse reaver a cauda. — Espero não o ter machucado. Não consigo enxergar muito bem com esta viseira na minha frente. Não tenho dúvida disso — replicou o esquilo, sem qualquer ressentimento na voz. — É por isso que você tem de ficar pe- dindo desculpas às pessoas depois de machucá-las. O que me irrita mais que um mago atrevido é um esquilo atrevido — resmungou o cavaleiro. - eu não tenho de ficar aqui e falar com você. Ele começou a peleja contra o peso da armadura para tentar colocar-se em pé. Subitamente, espantado, ele deixou esca- par: Ei... você e eu estamos conversando! Um tributo à minha boa natureza — reputou o esquilo — , considerando que você sentou na minha cauda. Mas os animais não falam — disse o cavaleiro.
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Oh, com certeza falamos — disse o esquilo. - As pessoas é que não escutam. O cavaleiro balançou a cabeça desnorteado. - Você já falou comigo antes? Certamente, toda vez que eu quebrava uma noz, e a enfiava através da sua viseira. Como é possível que eu esteja ouvindo você agora, se antes não ouvia? Admiro uma mente inquisitiva — comentou o esquilo — , mas será que você nunca aceita as coisas como elas são... sim- plesmente porque é assim? Você está respondendo às minhas perguntas com outras perguntas — disse o cavaleiro. — É tempo demais que você tem passado junto de Merlin. E você não tem estado junto dele tempo suficiente! O esquilo chicoteou de leve o cavaleiro com a cauda, e subiu ligeiro por uma árvore. Espere! Qual o seu nome? — o cavaleiro perguntou ao esqui- lo. Esquilo — ele respondeu muito simplesmente, e desapareceu em meio aos galhos mais altos.
Surpreso, o cavaleiro balançou a cabeça. Será que tudo não passara
de imaginação? Nesse momento, ele viu Merlin se aproximando.
Merlin, tenho de ir embora daqui. Estou começando a falar com esquilos, Esplêndido — replicou o mago.
O cavaleiro parecia preocupado:
O que você quer dizer com esplêndido? Apenas isso. Você está se tornando sensível o bastante para sentir as vibrações dos outros.
O cavaleiro estava obviamente confuso; então Merlin continuou a
explicar: - Você não falou com o esquilo em palavras, mas sentiu as vi-
brações dele e as transformou em palavras. Mal posso esperar o dia em
que você começará a falar com as flores.
Nesse dia você as plantará sobre a minha sepultura. Preciso sair fora desta floresta!
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Ela não sabe onde eu moro. E apenas um pássaro idiota. Posso diferenciar norte de sul e leste de oeste — emendou Re- becca — , que é mais do que posso dizer de você.
O cavaleiro prontamente se desculpou. Ele estava completamente
abalado. Não apenas tinha falado com um pombo e um esquilo, como os
tinha deixado zangados com ele, tudo no mesmo dia.
Por ser um pássaro com um coração generoso, Rebecca aceitou as
desculpas do cavaleiro e alçou voo, levando no bico o bilhete que ele
apressadamente escrevera para Christopher.
Não arrulhe para pombos desconhecidos, ou você deixará o bilhete cair — o cavaleiro gritou para ela.
Rebecca ignorou essa insensata observação, compreendendo que o
cavaleiro tinha muito que aprender.
Uma semana se passou, e Rebecca ainda não havia retornado.
O cavaleiro estava ficando cada vez mais ansioso, temeroso de que
ela tivesse se tornado presa de um dos falcões caçadores que ele e outros
cavaleiros haviam treinado. Um tremor percorreu seu corpo, ao pensar
como podia ter participado de esporte tão maldoso.
Quando Merlin terminou de tocar alaúde e cantar "Se Você Tem
um Coração Pequeno e Frio, Seu Inverno Será Longo e Frio", o cavaleiro
expressou sua preocupação com Rebecca.
Merlin tranquilizou o cavaleiro, criando um curto e alegre verso:
"Um pombo tão esperto e que voa tão bem não acabará cozido na panela
de alguém."
Subitamente, um intenso palavreado brotou de entre os animais.
Como eles todos estavam olhando para o céu, Merlin e o cavaleiro olha-
ram também. Bem acima deles, circulando em busca de um lugar para
pousar, eles viram Rebecca.
O cavaleiro pelejou para ficar em pé, justo quando Rebecca arre-
meteu até o ombro de Merlin. Tirando o bilhete de seu bico, o mago
olhou-o de relance e disse solenemente ao cavaleiro que era da parte de
Christopher.
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Deixe-me ver! — disse o cavaleiro, pegando ansiosamente o papel. Seu queixo caiu com um rangido, enquanto ele olhava o bilhete sem acreditar no que via. - Está em branco — ele exclamou. — O que significa isso? Significa — disse Merlin, suavemente — que seu filho não sabe bastante a seu respeito para lhe dar uma resposta.
O cavaleiro ficou ali parado um tempo, atordoado. Depois soltou
um gemido e caiu lentamente ao solo. Tentou conter as lágrimas, pois
cavaleiros com armaduras brilhantes simplesmente não choravam. No
entanto, sua tristeza logo o subjugou. Exausto e meio afogado pelas lá-
grimas dentro do seu elmo, o cavaleiro então adormeceu.