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Por meio de uma abordagem fundamentalmente feita pela leitura do panorama nessas cidades como método de investigação, procurou- se compreender esse contexto a partir do conjunto de interações em espaços públicos de convivência, a partir da própria hipótese concreta de que as transformações correlatas à expansão urbana trazem no seu contexto, como um efeito inevitável à arte de rua, o muralismo, ou mesmo através de jardins verticais, uma nova perspectiva de enfrentar a paisagem urbana.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Marianne Medeiros Gomes 1
Resumo: O conjunto entrelaçado de ferros plantados no solo de grandes centros urbanos, destinados a servir de suporte às paredes que dividem espaços públicos, funcionam inevit avelmente nos tempos modernos como elementos de construção que também germinam raízes para dar vida a um novo conceito de paisagem. A ideia que emerge não é apenas uma mudança de percepção, mas também um novo olhar para a paisagem urbana. Os espaços públicos cercados por muros de concreto, marcam no horizonte uma nova concepção de apropriação da cidade e seu próprio desenho urbano. Tais fatos culminam na criação de zonas espaciais criadas pela percepção do usuário e que são determinantes para o uso dos espa ços públicos contemporâneos. Por meio de uma abordagem fundamentalmente feita pela leitura do panorama nessas cidades como mé todo de investigação, procurou -se compreender esse contexto a partir do conjunto de interações em espaços públicos de convivência, a partir da própria hipótese concreta de que as transformações correlatas à expansão urbana trazem no seu contexto, como um efeito inevitável à arte de rua, o muralismo, ou mesmo através de jardins verticais, uma nova perspectiva de enfrentar a paisagem ur bana.
Palavras-chave: Paisagem Urbana. Muro. Paisagem Contemporânea.
(^1) Marianne Medeiros Gomes, Mestra pela Kingston University, validação pela UFRJ em Paisagismo. Especialista pela PUC-PR em Paisagismo. Graduada pela Universidade do Vale do Itajaí em Arquitetura e Urbanismo.
PAISAGEM URBANA
Cadernos NAUI Vol. 6 , n. 10, jan-jun 2017
1. Uma nova paisagem De acordo com Mossop (2006), o estudo sobre paisagem urbana começou com base na preocupação sobre infraestrutura, desenvolvimento de cidades e criação de espaços púb licos. A relação entre paisagismo, estratégias urbanas e engenharia ainda está transformando a ideia de paisagem, uma vez que este termo tem sido utilizado como uma metáfora para cenários de locais intocados pela ocupação humana. Essa ação bloqueia a inte rpretação de toda a cidade como paisagem. Este trabalho consiste em um ensaio baseado na teoria da apreensão da paisagem urbana apresentada por Nelson Brissac Peixoto. Através de um estudo em cidades como São Paulo, o autor afirma que centros urbanos são a s paisagens contemporâneas e chama atenção para os muros das cidades como detentores do olhar, uma vez que estão presentes na paisagem como elementos de separação e segurança. Portanto, as paredes que enclausuram o espaço público merecem ser observadas com o objetos de contemplação, assim como um local de movimento, trabalho e moradia. Esta afirmação auxilia na transição de compreensão do paisagismo urbano em todas as suas formas e locais, não apenas como natureza intocada. Uma expressão usada para esta muda nça de pontos de vista é apresentada como "remover o peso", o que significa transformar o mundo inteiro em paisagem. Consequentemente, a linha do horizonte nesta nova paisagem é banida. O horizonte é agora a linha de encontro entre parede e o chão, ou a própria superfície da parede. A conexão das superfícies substitui a perspectiva, a gradiente de cores substitui o contraste de sombra e luz, e a massa construída se transforma em relação entre figura e fundo. Para Peixoto (1996), os muros e paredes da cidade são os elementos mais importantes. "A paisagem é o muro" (Peixoto, 1996, p. 13). Devido à necessidade de divisão de propriedades, os espaços públicos acabam sendo designados como uma paisagem confinada, onde a visão é sempre direcionada a um elemento prin cipal. Na maioria dos casos, este elemento principal é uma parede, que divide os lotes privados e a rua.
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agências públicas e execrar as paredes usadas para o isolamento privado/público; ou tentar evitar a criação de espaços públicos totalmente fechados, lutando com o desenvolvimento de edifícios contemporâneos, mas também abraçando o fato de que os muros da cidade permanecerão como elementos significativos em nossas cidades po r décadas, séculos, como sempre foram. Por isso é necessário transformá -los como objetos agradáveis e convidativos para o usuário em espaços abertos. Cullen (1961) afirma que quando uma parede urbana é preparada para atrair o olhar, é natural que qualquer intervenção seja admirada. Se os muros forem apreendidos como uma obra de arte, eles se tornam uma obra de arte de forma geral, podendo ser abstratas, porém nunca vazias ou triviais. Com tal situação, o medo do espaço vazio, apresentado por Peixoto (1996), como se um limite livre pudesse criar uma ameaça, não se sustenta. A ideia de que quanto mais longo for o caminho até o ponto final, conhecido como a parede identificada como linha do horizonte, mais insegura a pessoa no caminho se sentirá, não funciona quando o mesmo é visto como elemento cria interesse ou curiosidade. Em 1980, Sitte já apontava o movimento de desaparecimento das características locais das cidades, deixando, então, um espaço público carente de particularidades, atratores de possíveis usuá rios. As paredes vazias do meio urbano podem e devem então preencher este nicho desocupado da cidade, milhões de metros quadrados de superfície esperando para se tornarem particularidades na cidade. Na cidade de São Paulo, há um exemplo de mudança de jogo que se replica nas grandes cidades com problemas similares. O que antes criou divisão e segregações entre as espacialidades é agora a identidade de seus habitantes. Uma simples caminhada pela área urbana de São Paulo deixa claro que as paredes não são mais uma barreira; são uma tela em branco para serem cobertas com arte de rua, graffiti ou muralismo. Esta apropriação transformou a cidade na "capital da arte de rua", abrindo olhos e espaços não
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apenas para graffiti, mas também para outros tipos de expressõe s artísticas, como a fotografia, apresentações de música e dança, e uso esportivo.
Imagem 01: Apropriação de espaços públicos enclausurados, Beco do Batman, São Paulo.
Fonte: Sobreviva em São Paulo, 2017
A localidade conhecida como “Beco do Batman” , vista na imagem 01, talvez seja um dos exemplos mais forte de apropriação urbana através do muralismo. O que antes era problema e elemento segregador do espaço urbano, tornou -se um polo atrator tanto de artistas, como de turistas, pessoas que começaram a enx ergar as paredes como obras de arte. O movimento que foi iniciado por um desenho específico em um muro, acabou atraindo outros artistas e criou esse espaço, o qual é apropriado pela população de diversas maneiras: estúdio fotográfico, galeria de arte, pont o de encontro ou como circuito preferencial de caminhadas. A utilização dessas vias grafitadas trouxe não somente o público, mas também pequenos comércios que enxergaram nos arredores uma oportunidade de lucro. Então, o que era uma agressão à urbe, através do grafite, se transformou em algo bom, modificando o espaço e seu uso a partir de uma centelha deixada por um artista. As pinturas retratam principalmente os problemas sociais identificad os por artistas, mas geralmente incluem também elementos da cultur a pop, cheio de cores e significado. Isso permite que cada observador projete sua própria
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Marx e finalizado em 1994. Suas curvas e diferenças de níveis criam desenhos variados de acordo com a posição do observador e chamam a atenção na paisagem aberta em que se encontra. Com a movimentação contínua do pedestre, uma vez que este dificilmente permanece sempre estático, é possível criar o contato visual com uma paisagem dinâmica e também físico com a escultura vertical do prédio.
Olh ar um o bj eto é merg ulh ar nel e. O s ob je to s cir cu n dant es t orna m - se hor iz ont e, a vi são é um ato de d oi s lad os. O u sej a: ver u m obj eto é ir h ab itá - lo e d a li ob se r var t oda s as c oi s as. ( P EI X OTO, 1996 , p. 1 77)
Imagem 02: Painel escultórico, Teatro Sesi, São Paulo.
Fonte: Sesi-SP, 2017.
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2. Os espaços gerados pelo usuário Seguindo a teoria de Heidegger, apresentada na Conferência "Construir, Habitar, Pensar" em 1951, compara -se o movimento de apropriação dos muros na cidade de São Paulo a uma ponte , que é mais do que um elemento de conexão; define as margens como lugares. Assim, é possível afirmar que o lugar é criado por causa da ponte. O espaço gerado além d ela é mais importante do que o material de forma do objeto chamado ponte. Embora a arte disposta nas paredes da urbe seja completamente necessári a como forma de expressão, não é o foco principal para estudos urbanos. O foco deve ser o que gera, neste caso, a mudança de percepção dos espaços públicos. Em outras palavras, esses movimentos criam o que pode ser chamado de "entre mundo", um espaço entre o definido, organizado, planejado (privado) e a emancipação (exterior). Quanto ao novo título de espaços público s criado por paredes, Peixoto (1996) acrescenta mais detalhes sobre a percepção do usuário. Sua teoria mostra que é natural que o ser humano crie diferentes zonas imaginárias em cada ambiente e ponto exato em que permanece. Esse comportamento é responsável pela sensação insegura em um longo caminho enclausurado. Quanto mais longo for o caminho, maior será o número de zonas que nossa mente irá criar. Um exemplo desta teoria pode ser analisado na Imagem 0 3, a qual apresenta um estudo de espacialidades, a part ir da movimentação do observador, em Nova Iorque.
Imagem 03: Estudo de espacialidades, Forrest Street, Nova Iorque.
Fonte: A autora, 2013.
Como mencionado, a linha do horizonte é substituída pelas paredes da cidade, e o usuário os entende como mais do q ue linhas de divisão física. A mente humana automaticamente cria várias zonas, espacialidades, que
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3. Considerações finais Com essa renovada percepção das paredes nos espaços públicos, os recintos não são mais uma ameaça. Eles trazem uma mudança para a vida urbana, sua paisagem e uma nova espacialidade: o conceito de "entre". Este novo conceito, introduzido por Guatelli (2012), expõe as espacialidades criadas pelas muralhas da cidade como espaços sem sign ificado ou sentido determinados, aguardando apenas ressignificações, nunca completamente formados, mas capazes de registrar temporariamente marcas externas e multiplicidade de impressões e, ao mesmo tempo, capaz de retornar à situação anterior, a qual, portanto, estaria sempre se transformando. No espaço urbano entre muros, o horizonte é fechado e é justamente essa falta de transparência que permite a facilidade de visão das “paredes não vazias”. Christopher Alexander (1977) ao chamar usos para a área públi ca dos muros das residências, afirma que, quando apropriadas, as paredes transformam o espaço público em algo como teatros de rua, atraindo pessoas para observarem, caminharem ou simplesmente perderem tempo na rua. Assim, o espaço público se transforma num espaço suplementar não só da cidade, mas também para as propriedades privadas, e expande seu caráter previamente determinado. No entanto, no momento seguinte, retorna à sua forma tradicional, embora sempre à espera de outros registros, ações e eventos. Estas ausências de uso são capazes de produzir presenças. Estes "entre espaços" não mostram caminhos, direções, ou definem usos, mas possibilitam novos caminhos, usos e ações imprevisíveis, permitindo ao usuário criar um patchwork urbano.
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Referências
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