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O que é metodologia científica, Notas de estudo de Cultura

A aventura histórica da construção dos fundamentos do conhecimento científico

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 19/06/2009

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O QUE É METODOLOGIA CIENTÍFICA
CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia
Científica. São Paulo: O Nome da Rosa, 2000, pp. 11--
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A aventura histórica da construção
dos fundamentos do conhecimento científico
Ciência. O que significa esta palavra? Existe apenas um significado para
ela? Se não, quais são os outros? Existem relações entre estes vários
significados? No contexto desse livro -que pretende iniciar o aluno na recepção
e na produção do conhecimento científico -faz-se necessário delimitar o que se
entende por ciência. A palavra ciência surge do latim (scire) e significa
conhecimento ou sabedoria. Em geral, fala-se que uma pessoa tem um certo
conhecimento (ou está ciente) quando detém alguma informação ou saber com
relação a algum aspecto da realidade.
Uma boa cozinheira, por exemplo, possui um conhecimento sobre culinária, assim
como um engenheiro sobre os possíveis modos de construção de uma casa. No sentido
mais geral da palavra ciência, os dois podem e devem ser considerados sábios. No
entanto, não se pode dizer que o conhecimento que os dois apresentam seja do mesmo
tipo. Tanto o modo como cada um deles veio a aprender o que sabe hoje como a natureza
do conhecimento aprendido são diferentes.
Assim, por exemplo, a cozinheira, que aprendeu seu ofício com sua mãe, pode fazer
bolos muito bem, mas dificilmente saberá explicar o motivo pelo qual o fermento faz o bolo
crescer. Já o engenheiro, que freqüentou uma universidade, deverá saber apresentar as
causas relacionadas, por exemplo, à queda de uma casa. Se nem todos os
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O QUE É METODOLOGIA CIENTÍFICA

CARVALHO, Alex et al. Aprendendo Metodologia Científica. São Paulo: O Nome da Rosa, 2000, pp. 11-- 69

A aventura histórica da construção

dos fundamentos do conhecimento científico

Ciência. O que significa esta palavra? Existe apenas um significado para

ela? Se não, quais são os outros? Existem relações entre estes vários

significados? No contexto desse livro -que pretende iniciar o aluno na recepção

e na produção do conhecimento científico -faz-se necessário delimitar o que se

entende por ciência. A palavra ciência surge do latim (scire) e significa

conhecimento ou sabedoria. Em geral, fala-se que uma pessoa tem um certo

conhecimento (ou está ciente) quando detém alguma informação ou saber com

relação a algum aspecto da realidade.

Uma boa cozinheira, por exemplo, possui um conhecimento sobre culinária, assim como um engenheiro sobre os possíveis modos de construção de uma casa. No sentido mais geral da palavra ciência, os dois podem e devem ser considerados sábios. No entanto, não se pode dizer que o conhecimento que os dois apresentam seja do mesmo tipo. Tanto o modo como cada um deles veio a aprender o que sabe hoje como a natureza do conhecimento aprendido são diferentes. Assim, por exemplo, a cozinheira, que aprendeu seu ofício com sua mãe, pode fazer bolos muito bem, mas dificilmente saberá explicar o motivo pelo qual o fermento faz o bolo crescer. Já o engenheiro, que freqüentou uma universidade, deverá saber apresentar as causas relacionadas, por exemplo, à queda de uma casa. Se nem todos os

conhecimentos são iguais em sua natureza, o que os diferencia? E o que caracteriza especificamente o conhecimento científico? Na verdade, pode-se falar, de uma maneira um tanto esquemática, na existência de vários tipos de conhecimento, isto é, de diferentes formas de se abordar a realidade, buscando-se compreendê-la ou explicá-la. Assim, o conhecimento pode ser do tiposenso c m m o u , a t st c , fl s f o r í i o i o ó ic , t o ó i o ou c e t i e l g c i n í c. f o O conhecimento do tipo senso comum, por exemplo, como todo conhecimento, produz informações sobre a realidade. No entanto, tais informações normalmente se prendem aos seus objetivos mais imediatos. Nossa cozinheira assa bolos por causa dos elogios e/ou salários que recebe. Estes motivos, de natureza mais imediata, bastam para mantê-la assando bolos. Ao mesmo tempo, ela sobrevive muito bem sem o conhecimento do motivo pelo qual o fermento faz o bolo crescer. Assim, não precisa se preocupar em saber a propriedade que determina o crescimento do bolo. Ou seja, não busca descrever os elementos específicos que, no fermento, causam tal efeito. Também não precisa se preocupar com ag n r li a e do conhecimento que obtém. Não necessita enquadrar uma e e a d d descoberta sua - sobre um novo jeito de fazer um bolo, por exemplo - em um princípio geral que estabeleça que tal conhecimento é válidosempre que se apresentarem determinadas, condições (por exemplo, o tempo de cozimento do bolo). A cozinheira também não precisa contar para ninguémcomo chegou a descobrir uma nova forma de fazer bolo. Não precisa nem mesmod v l ai u g r seus resultados, ficando, se quiser, com o conhecimento só para si mesma.

AAAA NATUREZA DO CONHECINATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTËNATUREZA DO CONHECINATUREZA DO CONHECIMENTO CIENTËMENTO CIENTËMENTO CIENTËFICOFICOFICOFICO

Já o conhecimento chamado de científico surge basicamente no século XVII, com a constituição histórica da modernidade no ocidente. A separação, tão comum hoje, entre filosofia e ciência não existia antes do advento da modernidade. Aliás, é bom ressaltar que a relação da ciência com a filosofia e com a arte nunca deixou de existir. São todos, na verdade, campos que se interpenetram e que mantêm pelo menos um vínculo em comum: questionar a realidade de forma a estar sempre discutindo as possibilidades da felicidade humana. No entanto, existem algumas características que, de uma maneira geral, delimitam o campo da ciência.

gerais seu modo de funcionamento. Também estava suposta uma ordem na natureza: os eventos se relacionavam uns com os outros de forma regular, assim como todo o dia pode- se observar que, em determinado momento, o sol se põe. No entanto, antes da modernidade, a observação da natureza não era valorizada (ao contrário, muitas vezes era até proibida), pois se partia de umpressuposto diferente: o único conhecimento possível seria dado por Deus ao homem, através de umar v l ç o e e a ã. Assim, pressupostos diferentes determinam procedimentos diferentes para alcançar o conhecimento. Mas exatamente sobre o que se referem tais pressupostos? Ou ainda, são suposições prévias (antes da pesquisa acontecer) a respeito do quê? São basicamente sobre:

  1. o que é ohomem, suas possibilidades de vir a conhecer a realidade e, se existem, quais são elas e como poderão se dar;
  2. as maneiras pelas quais anatureza e asociedade são concebidas e;
  3. o processo de p o u ã r d ç o de c n e io h c m n o e t , isto é, considerando determinada concepção de homem e de natureza e/ou sociedade, resta supor como se originam as idéias ou o saber da ciência, como deverá ser possível produzi-lo.

Assim, umaordem ou regularidade nos eventos da natureza era um pressuposto a partir do qual o cientista moderno passou, com os procedimentos que criava com essa finalidade, a observar relações entre eventos (por exemplo, entre uma determinada temperatura e a passagem da água do estado líquido para o gasoso). No entanto, se o pressuposto fosse radicalmente outro, por exemplo, o de que os fenômenos naturais se transformam o tempo todo, então os procedimentos construídos seriam outros, uma vez que o olhar do pesquisador estaria dirigido por outro tipo de pressuposto. A definição de método acima apresentada faz com que, tanto nas chamadas ciências naturais ou exatas como nas ciências humanas (que só aparecem no século XIX), tenhamos de lidar com uma pluralidade de perspectivas que procuram fundamentar o processo de produção do conhecimento científico. Ou seja, apesar de a ciência possuir critérios que, de uma maneira geral, são aceitos por todos os cientistas como definidores de sua maneira de trabalhar (como a intersubjetividade, por exemplo), nem todos os cientistas partem, para a realização do seu trabalho, de uma mesma concepção do que seja o conhecimento científico. Isto ocorre porque os pressupostos a respeito do que seja o homem, a natureza

e/ou a sociedade e o próprio modo de produzir conhecimento não precisam ser os mesmos para todos os cientistas. Sendo assim, é mais aconselhável se falar em visões de ciência ou emt n ê c a e d n i s m t d l g c se o o ó i a. Tais diferenças no modo de entender e produzir o conhecimento científico já podem ser observadas no momento mesmo do seu surgimento, ou seja, no início da modernidade. No século XVII constituiu-se um ramo da filosofia - ae i t m l g a p s e o o i - que, a partir de então, vem discutindo e formulando diferentes fundamentos para a ciência.

OOOO CONHECIMENTO É UMACONHECIMENTO É UMA RELAÇÃOCONHECIMENTO É UMACONHECIMENTO É UMARELAÇÃORELAÇÃORELAÇÃO

A epistemologia, sobretudo a partir dos trabalhos de I. Kant, utiliza os termoss j t u ei o eo j o para fb et azer referência aos dois pólos envolvidos na produção do conhecimento: o homem (que se propõe a conhecer algo) e o aspecto da realidade a ser conhecido. A discussão do papel do sujeito é central para se compreender a ciência, uma vez que se refere à forma como o cientista (o sujeito) deve secomportar para produzir conhecimento, e, assim, revela pressupostos subjacentes a toda pesquisa. Na história da epistemologia surgiram três perspectivas a este respeito. A primeira - chamada de empirismo - supõe a primazia do objeto em relação ao sujeito, isto é, o conhecimento deve ser produzido a partir da forma como a realidade se apresenta ao cientista. Neste quadro, seu papel épassivo, dado que a fonte principal do conhecimento está no objeto. A segunda perspectiva – chamada deracionalismo – aponta a primazia do sujeito ou de suaatividade em relação ao objeto, uma vez que toma a razão, isto é, a capacidade humana de pensar, avaliar e estabelecer relações entre determinados elementos como fonte principal do conhecimento. Assim, por exemplo, a idéia decausa estaria situada na razão e seria a partir dela que se poderia produzir um conhecimento seguro da realidade. De uma maneira bastante genérica (veremos que existem diferenças importantes entre autores situados nas duas perspectivas acima descritas), pode-se afirmar que o empirismo e o racionalismo possuem um elemento em comum: ambos pressupõem uma separação entre sujeito e objeto, isto é, partem do princípio de que existe uma realidade queindepende do ponto de vista do pesquisador e que deve ser por este alcançada, seja tomando como suavia principal de acesso a percepção ou a razão. Claro que o sujeito (ou

Basicamente a discussão, mais do que nunca atual, refere-se à possibilidade de os fenômenos serem tomados como coisas que se repetem sempre da mesma maneira, o que revelaria uma uniformidade ou uma unidade na natureza ou nos eventos sociais, ou se são considerados como processos, isto é, eventos que são históricos e, como tal, múltiplos, variados, sendo o vir-a-ser seu modo de existir. Certamente a análise que faremos não é destituída de pressupostos. Acreditamos no caráter histórico da ciência. E foi por este motivo que decidimos percorrer as principais tendências metodológicas (no sentido de método, tal como foi explicitado anteriormente), apontando algumas possibilidades e impasses que fazem, ainda hoje, parte do conhecimento científico. O percurso que será realizado com este objetivo começa no início da modernidade (séc. XVII), passa pelo Iluminismo (séc. XVIII) e pelo século do nascimento das ciências humanas (séc. XIX) para, então, chegar ao século XX. É bom lembrar que, neste percurso, procuramos apenas iniciar o aluno ou interessado na discussão dos diferentes fundamentos da ciência. Para um aprofundamento elas questões aqui levantadas, (...) [sugerimos leituras posteriores]. De todo modo, acreditamos que entender e discutir as diferentes bases da ciência hoje, no momento em que ela parece tão valorizada e até mesmo mistificada pela opinião pública em geral, é condição para compreender suas reais possibilidades e limites. Como, de forma trágica, já nos mostrou Goya, o sono da razão produz monstros. Assim, fazer ciência sem saber ou pensar no que isto significa ou implica pode seguramente ser monstruoso. Bom divertimento.

OOOO SURGIMENTO HISTÏRICSURGIMENTO HISTÏRICO DA MODERNIDADE E ASURGIMENTO HISTÏRICSURGIMENTO HISTÏRICO DA MODERNIDADE E AO DA MODERNIDADE E AO DA MODERNIDADE E A CONSTITUIÇÃO DOSCONSTITUIÇÃO DOSCONSTITUIÇÃO DOSCONSTITUIÇÃO DOS PRIMEIROS FUNDAMENTOPRIMEIROS FUNDAMENTOS PARA PRIMEIROS FUNDAMENTOPRIMEIROS FUNDAMENTOS PARAS PARAS PARA O CONHECIMENTO CIENTO CONHECIMENTO CIENTO CONHECIMENTO CIENTO CONHECIMENTO CIENTËËËËFICOFICOFICOFICO

No século XVII o ocidente f r e e v. O mundo não tem mais centro, nem no plano celestial (Galileu proclama, pela boca de Brecht:aboliu-se o céu!) nem no religioso. O modo de produção característico do feudalismo vai sucumbindo, e, de formas distintas em cada região da Europa, vai emergindo o modo de produção capitalista. As relações de servidão vão sendo substituídas pela valorização ontológica e jurídica do trabalhador livre. Momentos decrise se instauram, portanto, em todas as esferas: na religiosa (com o surgimento de infinitas seitas, do misticismo, da magia); na política e

social (com a já mencionada destruição do feudalismo); na da consciência (com a destruição da síntese aristotélica-tomista e a conseqüente perda docentro transcendente de referência para a existência) e na teórica (com o surgimento doceticismo, isto é, com a declaração, feita, por exemplo, por Montaigne, da impossibilidade do conhecimento, dada a verificação do erro, da não-verdade). Mas essacrise também gerou o seu contrário: das cinzas, diz o ditado, serenasce. O Renascimento, antes do século XVII, já propunha a valorização da capacidade humana de conhecer e transformar a realidade. O homem se coloca como capaz de, por si só, descobrir o modo de funcionamento da natureza, assim como já vinha descobrindo outros povos, outros continentes,outras terrase t a g i a s r n e r s (dado o referencial europeu de análise). Submeter-se à natureza aparece como o primeiro passo do projeto moderno de produção de conhecimento. O segundo passo, relacionado visceralmente ao primeiro, refere-se ao domínio e controle da natureza em benefício do próprio homem. O homem se coloca comodono do mundo. A crise, nas suas diversas colorações, recoloca a busca da verdade no plano da procura de uma maneira maissegura de se obter conhecimento, e, como vimos, é de ordem existencial, uma vez que a procura da ordem correta das idéias, do como se produzir conhecimento, que marca o surgimento da ciência moderna, é feita para apaziguar o medo do novo, da desordem, do desconhecido. É bom lembrar que essa busca não se deu sem conflitos: como vimos, Montaigne, entre outros, não proclamava um otimismo epistemológico, isto é, não julgava ser possível um conhecimento puro, destituído das vicissitudes ou caprichos humanos. De todo modo, a busca do f n u d m n o a e t s g r ,e u o dado pela capacidade humana de conhecer-se a si mesma, de forma autônoma, vai ser hegemônica na modernidade. A constituição da ciência moderna, que ocorre no âmbito da aventura das descobertas marítimas, reflete e atiça a curiosidade pelos fatos. Navegar é preciso. Lançar-se no desconhecido significa apostar na busca do novo. Mas também requer um exercício de autodomínio: construir caravelas, usar o telescópio, verificar a posição dos astros para não se perder demasiadamente; enfrentar o mar, controlando-o para não ser por ele devorado. Enfim, deve-se usar a razão. É preciso navegar, mas com método, com ordem e medida, sabendo quais passos dar para atingir um determinado fim. Não se deve se deixar levar por nenhuma influência de cunho pessoal, passional ou cultural.

do homem e de sua transformação? Esta será uma questão que vai percorrer nossa análise do processo de constituição do conhecimento científico.

O racionalismo de DescartesO racionalismo de Descartes O racionalismo de DescartesO racionalismo de Descartes

De uma maneira geral, no século XVII duas respostas à questão dos fundamentos do conhecimento científico são elaboradas: o racionalismo (de R. Descartes e de G.W. Leibniz, entre outros) e oe m i spri m o (relacionado, por exemplo, aos nomes de F. Bacon, J. Locke e T. Hobbes). O racionalismo do "pai" da filosofia moderna, isto é, de Descartes, busca fundamentar, de forma dedutiva, a existência doc g o o it , isto é, da razão humana. Descartes parte do princípio de que ter conhecimento é ter idéias e de que as idéias são diferentes das coisas tomadas em si mesmas. Em outras palavras, a palavra bola não é uma bola, mas ar p e e t. Assim, a questão que se coloca é: como posso ter certeza de e r s n a que a bola, como representação, se refere, de fato, às propriedades reais da coisa-bola? (Lembrem-se de que a ln u g m carrega i g a e preconceitos e, portanto, posso estar me iludindo quando imagino que as palavras representam fielmente as coisas.) Vamos considerar mais de perto este singelo exemplo da bola: existemidéias, que Descartes inclui na classe da s b t n i u s â c a p n a te s n e ou do pensamento, pura e simplesmente, no caso a idéia de bola; existem as coisas em si mesmas ou ae t n ãx e s o (matéria) como a coisa-bola ou nossos próprios corpos. A questão é: como conhecer as coisassem erro? Descartes faz o seguinte raciocínio: devo duvidar de tudo, posto que a linguagem, a imaginação, meus órgãos dos sentidos e assim por diante meiludem. Mas, ao recorrer à dúvida como método (duvido de tudo sistematicamente), chego, de forma dedutiva, a umacerteza: não posso duvidar do fato de que estoupensando. Assim,p n o e s , l g o o e i t , ou sej x s o a, minha certeza de existência decorre do fato de queeu estou pensando. Esta é uma idéia clara e distinta, dirá Descartes, uma vez que dela não posso duvidar. Todas as idéias claras e distintas que descrevem as propriedades definidoras de um objeto (como a nossa bola) são tomadas como verdadeiras e correspondem às coisas em si mesmas. Fecha-se, assim, o circuito da dúvida metódica: existe uma correspondência entre a matéria e a idéia. Mas o que ou quem garante a capacidade de pensar clara e distintamente (como na matemática, saber abstrato e modelo da proposta cartesiana e da ciência moderna)? Aqui, Descartes, também de forma dedutiva, elabora a noção des b t n i u s â c a i f i a ou divina. A n in t

idéia de Deus é amedida da garantia do conhecimento. Senão vejamos, ainda que de forma muito rápida: a alma finita pensa (substância pensante) e tem a idéia de Deus (infinito) da qualn o pode ser causa; sendo Deus uma idéia colocada em nós por Ele ã mesmo, é verdadeira, uma vez que o intelecto divino age sobre o nosso por meio de idéias verdadeiras; se Deus é perfeito nos torna capazes de idéias claras e distintas, o que significa que Ele se nos revela assim como nosso corpo e todas as coisas que constituem o mundo extenso. Pronto: Deus nos capacita a ter idéias corretas, que são, inclusive, inatas, desprovidas de erros, desde quemetodicamente produzidas, isto é, elaboradas segundo critérios claros (como, por exemplo, ao classificarmos uma bola numa classe segundo certas propriedades definidoras) e distintos. Assim, o conhecimento é obra da razão, é ela que garante a correção das descobertas e a relação real entre idéias e extensão. E é, sobretudo, de natureza matemática, saber, por definição, puramente dedutivo. Nessa perspectiva, o sujeito produtor de conhecimento se apresenta como um eu que valoriza a si mesmo, por dedução (todo o raciocínio feito para garantir a correspondência entre idéia e realidade mostra tal operação do intelecto humano). Nesse processo, esseeu se requer purificado das influências históricas, pessoais, culturais, enfim, humanas, de forma a alcançar a verdade imutável das coisas. Pode-se afirmar, então, que a elaboração de tal sujeito purificado implica uma valorização da permanência ou de uma ordem inerente ao modo de funcionamento da natureza. Assim, o processo da dúvida metódica, em Descartes, resultou numa garantia para a produção de verdades no campo da ciência. Esta garantia é de naturezam t fsi a (do grego e a í c meta ta p h sy ik , que signif a ica além da física), uma vez que a certeza do conhecimento verdadeiro passa pelo pressuposto da ação divina no intelecto humano. Cabe lembrar aqui que a concepção cartesiana de produção do conhecimento pressupõe, desde o princípio, uma clara divisão entre corpo (substância extensa) e mente (substância pensante), divisão esta que vai marcar o modo de ser e pensar do homem ocidental.

O empirismoO empirismoO empirismoO empirismo

Já o empirismo, formulado inicialmente por Bacon, parte de outro pressuposto para garantir a produção correta do conhecimento. “Conhecer" é tomado também como "ter

No caso do empirismo, nem todos os autores radicalizam esta conseqüência. Locke, por exemplo, ainda acredita numa realidade substancial, independente do sujeito, que deveria ser por este descrita. Nesse sentido, boa parte dos empiristas ainda separa sujeito (que deve se expurgar de preconceitos como os dados pela linguagem, pela experiência pessoal, enfim, ao que Bacon chamou deí o o ) e obj d l s eto (aspectos da realidade sempre tomados como ordenados e possíveis de serem descritos pelo cientista). No entanto, Hume, no século XVIII, como veremos, vai tirar todas as conseqüências do empirismo e lançar sérias dúvidas sobre a possibilidade de o sujeito humano elaborar um conhecimento que independa de suas condições humanas e históricas de produção.

A fA f A fA fíííísica new tonianasica new tonianasica new tonianasica new toniana

O período entre os séculos XVII e XVIII conheceu uma figura luminar que, pela sua atividade científica, vai permitir que o projeto da ciência moderna se estabeleça definitivamente: I. New ton. Suas contribuições se estendem às mais diferentes áreas do conhecimento: na matemática, criou o cálculo diferencial;na astronomia, formulou a lei da gravitação universal;na ótica, formulou a teoria corpuscular da luz;na mecânica, as leis dos movimentos cios corpos; e, na química, o atomismo. Com certeza, ele não foi vítima da maçã! Ela não caiu sobre sua cabeça, como pretendem alguns. Mas reza a lenda que, observando a queda desta fruta, ele intuiu a explicação da gravitação e formulou a lei relativa a esse fenômeno. O método matemático elaborado por New ton permitia converter os princípios físicos (verificáveis pela observação) em resultados quantitativos, e chegar igualmente aos princípios físicos pela observação. Assim, New ton combinou de maneira apropriada as duas tendências até então antagônicas: o empirismo e o racionalismo. Afirmava ele que tanto os experimentos sem interpretação sistemática (empirismo) como a dedução sem a evidência experimental (racionalismo) não levam a uma teoria confiável. Para New ton, tudo o que não é deduzido dos fenômenos constitui mera hipótese, e, na sua filosofia empírica, esta não tinha lugar, porque as proposições particulares são inferidas dos fenômenos e depois tornadas gerais por indução. Com as leis dos movimentos e gravitação universais, New ton não admitia ter chegado à causa dos fenômenos, mas apenas conseguido explicá-los. E isso, para ele, já era suficiente. Era suficiente a existência da gravidade, que fosse constante e que funcionasse de acordo

com as leis descobertas. A natureza era, assim, entendida como uma máquina quef n i n u c o a perfeitamente. Não dispondo em sua época de instrumental técnico e teórico para ter acesso às causas dos fenômenos, New ton não tem dificuldade em aceitar e postular a existência de um Deus que cria um mundo de acordo com a mecânica que os cientistas vão desvendando. Assim, Deus cabe na explicação científica do mundo e esta pode ser aceita, então, pela cultura ocidental cristã;coisa que Galileu, por exemplo, quase um século antes, não havia conseguido. O êxito da mecânica new toniana na astronomia permitiu sua extrapolação para outras áreas da física (o estudo do movimento contínuo dos fluidos e dos corpos elásticos). A física, por sua vez, torna-se base para a configuração de todas as outras ciências, também das ciências humanas que vão surgir na segunda metade do século XIX (A. Comte, por exemplo, vai falar em física social, e a psicologia científica vai procurar explicar a dinâmica das subjetividades empregando terminologia emprestada da física).

C n i e a õ s p rC n i e a õ s p r^ C n i e a õ s p rC n i e a õ s p ro s d r ç eo s d r ç eo s d r ç eo s d r ç e a a os p ia a os p ia a os p ia a os p i^ r m i or m i or m i or m i o e r s f n ae r s f n ae r s f n ae r s f n a u d m n ou d m n ou d m n ou d m n o^ e t s e t b l c d se t s e t b l c d se t s e t b l c d se t s e t b l c d s s a e e i os a e e i os a e e i os a e e i o para o c n e ipara o c n e ipara o c n e ipara o c n e i o h c m n o c e t f oo h c m n o c e t f oo h c m n o c e t f oo h c m n o c e t f o e te te te t i n íici n íici n íici n íic

A ciência moderna nasce sob o signo da diversidade, tanto no que se refere às suas condições de nascimento (ver as diferentes crises mencionadas no início do texto) como nas diversas propostas (algumas das quais foram anteriormente assinaladas) sobre seus fundamentos. De todo modo, vai se constituindo ao longo da modernidade e, de certa forma, até hoje, como um campo seguro, provedor de certezas e de formas específicas de se estabelecer no mundo, provendo sentidos para a existência. No entanto, para não transformá-la num conhecimento dogmático, que ela mesma buscou criticar ferozmente, devemos lembrar sua natureza essencialmente histórica. A ciência, para além das pretensões de racionalistas e empiristas, constitui-se como contingência, isto é, é determinada por fatores de natureza social, política, religiosa, cultural. Assim, o projeto da ciência moderna não é neutro, destituído de valores. A pretensão de conhecer para prever e dominar a natureza já revela uma disposição típica do modo de produção capitalista. A valorização doeu autônomo e da liberdade individual é um correlato da valorização burguesa do indivíduo, invenção da modernidade. A observação e a experimentação, como procedimentos de pesquisa, não são desprovidas desses recortes que, se, de um lado, revolucionam a forma de produzir

O futuro da humanidade está, novamente, em jogo, e a razão iluminista se apresenta como luta contra as trevas, contra o obscuro que caracterizou os séculos anteriores. Obscuro, nesse caso, representai n r n i , incapacidade de fg o â c a azer da razão humana fonte e critério da existência. A razão deve, pois, se desdobrar sobre si mesma para se posicionar como critério a partir do qual o homem deve construir seu destino. "Destino eu faço, não peço", disse uma vez Caetano Veloso. De certa forma esta afirmação nos ajuda a entender o espírito do Iluminismo: oeu se afirma como ponto de partida racional da batalha contra as trevas, se posicionando como evidência autofundante de certezas e garantindo, assim, a produção do conhecimento. É claro que Descartes e Bacon, no século anterior, já anunciavam a luta contra o princípio da autoridade e tomavam a razão humana, no sentido racionalista ou empirista, como base da produção de verdades. Mas o Iluminismo vai além dos racionalismos e empirismos do século XVII no sentido de prescindir cada vez mais de uma mediação divina e, assim, apontar não só as possibilidades da razão como seus limites. No quadro do Iluminismo, três pensadores são fundamentais para nosso estudo da questão do conhecimento: D. Hume, I. Kant e G.F. Hegel.

O empirismo radical de D. Hume e suasO empirismo radical de D. Hume e suasO empirismo radical de D. Hume e suasO empirismo radical de D. Hume e suas conseqüências no campo daconseqüências no campo daconseqüências no campo daconseqüências no campo da f nf nf nf n u d m n a ãu d m n a ãu d m n a ãu d m n a ã aaaa eeee tttt ç o do cç o do cç o do cç o do c oooo nnnn h c m n o c eh c m n o c eh c m n o c eh c m n o c ee ie ie ie i eeee tttt i n íici n íici n íici n íic t f ot f ot f ot f o

D. Hume, como já afirmado anteriormente, radicaliza a proposta empirista de fundamentação da ciência moderna. Sua análise do processo de constituição do conhecimento científico esteve visceralmente relacionada ao seu projeto de constituição de uma ciência da natureza humana. Por que estudar anatureza humana? Porque, para Hume, o fundamento do conhecimento não se encontra em alguma mediação divina - por exemplo, as idéias inatas colocadas por Deus em nós, como queria Descartes - mas no próprio homem. Desencantado, ou seja, impedido de apelar para algo além de si mesmo, já que se colocou como centro (antropocentrismo), esse homem deve descobrir em si as condições puramente psicológicas que possibilitam a produção de conhecimento. São estas condições que serão elaboradas por Hume. Como empirista, Hume defende o critério da experiência sensível como condição de garantia de, pelo menos, alguma correção do conhecimento produzido pela ciência. Mas quais são os pressupostos a partir dos quais chega a tal critério? São dois. No primeiro, Hume parte do princípio de que

tudo o que é d f r n e é s p r d , isto é, dois eventos - por exemplo, água e f i e e t e a a o ogo - não apresentam, de antemão, nenhuma relação de necessidade entre eles. Só se pode saber que a água ferve e muda de estado (do líquido para o gasoso) ao contato com o fogo depois de se observar um evento (fogo) ser seguido de outro (mudança de estado da água). O mais importante aqui é que Hume não parte da suposição de que existam relações necessárias a priori (antes da experiência) entre eventos da natureza. Ao contrário, antes da experiência sensível não é possível afirmar qualquer espécie de ordem subjacente à natureza (como fez, por exemplo, Descartes, com a idéia des b t n i u s â c a e t n a. É importante notar que, desta f x e s ) orma, Hume rompe com a idéia, tão comum no início da modernidade, de regularidade inerente aos fenômenos da natureza, assim como com a idéia de causalidade t l o ó i ae e l g c (o pressuposto relacionado à finalidade intrínseca das relações entre eventos). No segundo pressuposto relacionado à sua escolha da experiência sensível como fonte principal do conhecimento, Hume assume que, de fato, a modificação na natureza é pensável e é possível, o que reforça sobremaneira sua ausência de compromisso com a valorização ontológica da permanência, da eterna regularidade dos fenômenos. Se a realidade pode se transformar, está, desde o princípio, descartada, na perspectiva de Hume, a possibilidade de um conhecimento absoluto, de verdades ou representações (idéias) que correspondam à essência das coisas. Não só não podemos alcançar, com base no critério da experiência sensível, tal essência, como essa mesma experiência, com base na possibilidade da mudança na realidade, tal como ela se nos apresenta, pode ser outra. É por isso que Hume é considerado um cético. Para ele, nada se pode afirmar da realidade em si mesma, em termos da permanência absoluta de um fenômeno, a não ser como um devaneio ou um delírio da imaginação. Mas o ceticismo de Hume não é avesso ao conhecimento produzido pela ciência. Apenas busca fundamentá-lo noutras bases, isto é, no campo das condições psicológicas do sujeito humano. O que, pois, neste campo, garante a produção adequada do conhecimento científico? Para Hume, uma operação psicológica do sujeito ou da natureza humana: oh b t á i o ou costume. Este se constitui como uma tendência, presente em todos nós, de associar determinados eventos depois de observarmos ocorrerem juntos, numa certa ordem temporal, várias vezes. Observo, por exemplo, quesempre que coloco água próxima ao fogo ela tende, depois de certo tempo, a mudar de estado. Por associação, estabeleço, então, que o fogo é acausa doe ei o mudança de estado da água. f t

pode fazer é assumir o caráter bastante humano deste tipo de conhecimento, esperando ou contando com a repetição de eventos no futuro, com um grau um pouco maior de certeza dado pelos cálculos - cujos resultados podem se modificar - de probabilidades.

As possibilidades e os limites da razão. I. KantAs possibilidades e os limites da razão. I. Kant As possibilidades e os limites da razão. I. KantAs possibilidades e os limites da razão. I. Kant

O debate entre empirismo e racionalismo, assim como a física new toniana, constitui o contexto a partir do qual Kant elabora sua obra. Vamos analisar aqui o modo como Kant pretende superar a dicotomia racionalismo-empirismo, ou seja, como o autor vai buscar resolver o processo de produção de conhecimento, considerando a ciência de sua época. É naC íi a da r z o p r r t c a ã u a que Kant, inspirado por D. Hume, elabora uma síntese sobre a questão do conhecimento. O horizonte daC íi a r t c , como não poderia deixar de ser, é a razão humana, liberta de tudo o que é exterior a si mesma. Assim, Kant considera, como Descartes, que a ciência produz um conhecimentouniversal ecorreto (do qual não se pode duvidar). Sendo universal, ultrapassa o plano da pura experiência sensível e contingente. É a razão humana, nas suas possibilidades e limites, que garante, perante o tribunal kantiano, a produção de verdades universais pela ciência. Senão vejamos: para Kant, não conhecemos as coisas em si mesmas (onoumenon) mas como elas aparecem para nós (comof n m n s. Assim, nossa razãoe ô e o ) fl ri t a a realidade no sentido de que só temos acesso ao que ela permite. Quando, por exemplo, vemos uma rosa, a situamos no tempo e no espaço (esta rosa,n s e m m n o ee t o e t n s e l g re t u a ), buscamos suas características definidoras como sendo uma rosa (e não uma bola, por exemplo) e assim por diante. O tempo e o espaço são, para Kant, categorias a priori (antes da experiência) a partir das quais situamos nossa própria experiência. Do mesmo modo, a categoria de substância (o que define a rosa no nosso exemplo), assim como a de causalidade (entre outras), é anterior à experiência. As primeiras (tempo e espaço) são categorias desensibilidade humana; as outras (substância e causalidade, entre outras) do entendimento. Ambas constituem as formasa priori do conhecimento, ou seja, as fôrmas (ou os filtros) que possuímos na razão e que possibilitam, mas também limitam (vimos que nosso conhecimento só se atém aos fenômenos) a ciência. É claro, dirá Kant em sua busca de superação do empirismo e do racionalismo, que a experiência sensível também conta na elaboração do conhecimento científico. O material empírico ou a matéria são necessários na medida em que f r o m s a sem matéria não

fornecem conhecimento da realidade. Por outro lado, a organização das impressões captadas pelos sentidos é dada pelas categoriasa priori, ou seja, pela estrutura da razão pura, que é comum à espécie humana - o que garante a universalidade do conhecimento produzido. Por ser universal, tal estrutura é tida por Kant comotranscendental, isto é, independente da experiência particular de cada ser humano, sendo própria, como foi dito, de todos os homens. É claro que, no contexto do Iluminismo, transcendental, para Kant, não significa além do homem, mas sim aquilo que demarca a experiência racional humana. Assim, pode-se dizer que a questão do conhecimento, no pensamento kantiano, se apresenta como uma formulação radicalmente moderna, no sentido histórico, uma vez que atrelada à idéia de racionalidade como luz, como fundamento do conhecer. A superação do empirismo e do racionalismo tentada por Kant buscaelucidar o papel da razão nos assuntos humanos e fazer com que, como diz o próprio Kant, o homem saia da menoridade (ignorância) para chegar à maioridade (tomar a direção de sua existência em suas próprias mãos). No entanto, apesar de tomar a matéria como necessária à produção de conhecimento, Kant acaba considerando a pura razão como fonte principal da ciência. Por esse motivo é denominado, na linha de Descartes (embora de forma diferente deste último), como idealista gnosiológico. A idéia comanda a produção de conhecimento, filtra as informações dadas pelos sentidos e, assim, tem primazia sobre a própria impressão. Nesse sentido, Kant se coloca ao lado dos autores que privilegiam a atividade do sujeito como fonte principal do conhecimento (racionalismo). Ao mesmo tempo, os objetos do conhecimento aparecem como realidades "fixas", suscetíveis de serem compreendidas pelos esquemas, também eles fixos, da razão pura. G.F. Hegel discordará de Kant, justamente nesse ponto: considerará que a razão é histórica.

A r z o é h s ó c : G. H.A r z o é h s ó c : G. H.A r z o é h s ó c : G. H.A r z o é h s ó c : G. H. H g l a ãa ãa ãa ã i t ri ai t ri ai t ri ai t ri a H g lH g lH g le ee ee ee e

A Revolução Francesa, com seus ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, com sua ênfase na razão humana e no desprezo pela ignorância, constituiu, também para Hegel, o contexto histórico a partir do qual sua filosofia foi sendo elaborada. A burguesia chega ao poder político, o modo de produção capitalista vai se tornando hegemônico, as subjetividades vão se privatizando, no sentido da valorização ontológica e, como vimos, epistemológica, do sujeito livre. Para Hegel todo esse movimento se deu no espaço da