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Oscar Cullmann - Imortalidade ou Ressurreição dos Mortos
Tipologia: Notas de estudo
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Compartilhado em 10/03/2015
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PREFÁCIO DO AUTOR
Este trabalho é a tradução de um estudo já publicado na Suíça, do qual um resumo apareceu em vários jornais franceses.
Nenhuma outra publicação minha provocou tanto entusiasmo ou uma hostilidade tão violenta. Os editores dos periódicos em questão foram bondosos o bastante em me enviarem algumas das cartas de protesto que receberam de seus leitores. Numa das cartas, o escritor foi induzido pelo meu artigo a expressar a amarga reflexão de que “ao povo francês, já morrendo por falta do Pão da Vida, foi oferecido em vez de pão, pedras, senão serpentes”. Outro escritor colocou-me como uma espécie de monstro que se deleita em causar aflição espiritual. “Será que o Sr. Cullmann tem uma pedra, em vez de um coração?”, escreveu ele. Para um terceiro, meu estudo foi “motivo de espanto, tristeza e profunda aflição”. Amigos que acompanharam meus trabalhos anteriores com interesse e aprovação deram-me indícios da dor que este estudo lhes causou. Em outros, percebi um mal-estar que eles tentaram esconder mantendo um silêncio eloqüente.
Meus críticos pertencem aos mais variados campos. O contraste, que devido ao interesse pela verdade, eu achei necessário estabelecer entre a destemida e alegre esperança cristã primitiva da ressurreição dos mortos e a serena expectativa filosófica da sobrevivência da alma imortal, desagradou não só muitos cristãos sinceros em todas as comunhões e de todas as perspectivas teológicas, como também aqueles cujas convicções, ainda que não exteriormente alienadas do cristianismo, são mais fortemente moldadas por considerações filosóficas. Até agora, nenhum crítico de qualquer tipo tentou refutar-me pela exegese, que é a base de nosso estudo.
A notável concordância nessa oposição parece mostrar-me quão generalizado é o erro de atribuir ao cristianismo primitivo a crença grega na imortalidade da alma. Além disso, pessoas com tão diferentes posturas, como essas que mencionei, estão também unidas numa incapacidade comum de ouvir com completa
O fato de que mais tarde o cristianismo fez uma conexão entre as duas crenças e que hoje o cristão comum simplesmente as confunde, não me convenceu a ficar em silêncio sobre o que eu, assim como muitos exegetas, consideramos como verdadeiro; assim como tudo o mais, já que a ligação estabelecida entre a expectativa da “ressurreição dos mortos” e a crença na “imortalidade da alma” não é realmente uma conexão pura e simples, e sim a renúncia a uma das crenças em favor da outra. O conteúdo de 1 Coríntios 15 foi sacrificado em favor do Fédon. Não serve a qualquer bom propósito esconder esse fato, como muitas vezes se faz hoje, quando coisas que são realmente incompatíveis são combinadas em nome do seguinte tipo de raciocínio extremamente simplista: que qualquer coisa no ensino cristão primitivo que nos pareça incompatível com a imortalidade da alma, ou seja, a ressurreição do corpo, não é uma afirmação essencial para os primitivos cristãos, e sim apenas uma acomodação às expressões mitológicas do pensamento da época deles, e que o centro da questão é a imortalidade da alma. Pelo contrário, devemos reconhecer lealmente que essas coisas, que são as que precisamente distinguem o ensino cristão da crença grega estão no âmago do cristianismo primitivo. Ainda que o intérprete não possa aceitá-las como fundamentais, ele não tem qualquer direito de concluir que elas não eram fundamentais para os autores que ele estuda.
Tendo em vista as reações negativas e a “aflição” provocada pela publicação de minha tese em vários periódicos, será que eu deveria então ter cessado o debate em prol do amor cristão, em vez de publicar este folheto? Minha decisão foi determinada pela convicção de que “pedras de tropeço” são às vezes salutares, tanto do ponto de vista erudito como do ponto de vista cristão. Peço apenas aos meus leitores que tenham a bondade de se dar ao trabalho de lê-lo até o fim.
A questão é levantada aqui em seu aspecto exegético, e nos voltamos para o aspecto cristão. Aventuro-me a lembrar meus críticos que quando eles a colocam na linha da frente, fazendo isso duma maneira que evidencia que eles desejam a sobrevivência para si mesmos e para seus entes queridos, involuntariamente estão dando
razão aos opositores do cristianismo, os quais repetem constantemente que a fé dos cristãos nada mais é que a projeção de seus desejos.
Na realidade, será que não enaltece nossa fé cristã, assim como fiz o meu melhor para expô-la, que evitemos partir de nossos desejos pessoais, e sim coloquemos nossa ressurreição no âmbito de uma redenção cósmica e de uma nova criação do universo? Não subestimo de modo algum a dificuldade que existe em compartilhar esta fé, e admito francamente a dificuldade de falar sobre este assunto de forma desapaixonada. Um túmulo aberto lembra-nos imediatamente que não estamos preocupados apenas com uma questão de cunho acadêmico. Não haverá, então, todas as razões adicionais para buscarmos a verdade e a clareza neste ponto? A melhor maneira de fazer isso não é começando com o que é ambíguo, e sim explicando de maneira simples e tão fielmente quanto possível, com todos os meios à nossa disposição, a esperança dos autores do Novo Testamento, mostrando assim a verdadeira essência desta esperança e – por mais difícil que possa parecer para nós – apresentando o que é que a distingue de outras crenças que nos são tão preciosas. Se, em primeiro lugar, examinarmos objetivamente a esperança dos primitivos cristãos naqueles aspectos que parecem chocantes para nossos conceitos comumente aceitos, não teremos senão uma oportunidade de, não só entender melhor essa expectativa, como também verificar que não é tão impossível assim aceitá-la como imaginamos.
Tenho impressão de que alguns dos meus leitores não se preocuparam em ler minha exposição na íntegra. A comparação da morte de Sócrates com a de Jesus parece tê-los escandalizado e irritado tanto, que eles não prosseguiram na leitura e não viram o que eu disse sobre a fé do Novo Testamento na vitória de Cristo sobre a morte.
Para muitos dos que me atacaram, a causa da ‘tristeza e aflição’ não foi só a distinção que estabelecemos entre a ressurreição dos mortos e a imortalidade da alma, mas acima de tudo o lugar que eu, assim como todos no cristianismo primitivo, creio que deveria ser dado ao
ressurreição do corpo: Et resurrexit tertia die ... Expecto resurrectionem mortuorum et vitam venturi saeculi .∗^ E Handel, na última parte do Messias , dá-nos alguma indicação do que Paulo entendia pelo sono daqueles que descansam em Cristo, e também, no cântico de vitória, da esperança que Paulo tinha na ressurreição final, quando ‘a última trombeta soará e nós seremos transformados’.
Quer compartilhemos dessa esperança, quer não, pelo menos temos de admitir que neste caso os artistas têm mostrado ser os melhores expositores da Bíblia.
Chamonix, 15 de setembro de 1956
∗ (^) “ Ao terceiro dia, ele ressuscitou... Espero a ressurreição dos mortos
e a vida do mundo que há de vir .”
INTRODUÇÃO
Se perguntássemos hoje a um cristão comum (quer um bem versado protestante ou católico, quer não) sobre o que ele pensa ser o ensino do Novo Testamento a respeito do destino do homem após a morte, com poucas exceções receberíamos a resposta: ‘A imortalidade da alma.’^1 No entanto, essa idéia amplamente aceita é um dos maiores equívocos do cristianismo. Não há qualquer razão para tentar esconder esse fato, ou camuflá-lo, reinterpretando a fé cristã. Isso é algo que deve ser discutido com toda a franqueza.
Mas, será mesmo verdade que a fé dos primitivos cristãos na ressurreição é incompatível com o conceito grego da imortalidade da alma? Não ensina o Novo Testamento, sobretudo o Evangelho de João, que nós já temos a vida eterna? Será que a morte no Novo Testamento é sempre concebida como “o último inimigo” duma maneira diametralmente oposta à do pensamento grego, que vê na morte um amigo? Não escreve Paulo: “Ó morte, onde está o teu aguilhão?” Veremos no final que existe pelo menos uma analogia, mas primeiro devemos salientar as diferenças fundamentais entre os dois conceitos.
O mal-entendido generalizado de que o Novo Testamento ensina a imortalidade da alma foi realmente encorajado pela forte convicção dos primeiros discípulos no período posterior à Páscoa de que a ressurreição corporal de Cristo tinha despojado a morte de todo o
(^1) Nota do Editor: Isto era assim na época em que Cullmann
escreveu o livro. Contudo, nas últimas décadas, esta idéia vem sendo atacada por um crescente número de eruditos bíblicos. Embora ainda seja verdade que o número de seguidores de religiões organizadas que crêem na imortalidade da alma é esmagadoramente maior do que os que não crêem nisso, essa disparidade numérica em meio à comunidade erudita , ou entre os que realmente estudaram o que a Bíblia diz sobre esta questão já não é tão grande e tende a decrescer.
desde o início, mas ao passo que as idéias gregas estão subordinadas ao conceito total da História da Salvação , não se pode falar de “helenização”, propriamente. A verdadeira helenização ocorre pela primeira vez em uma data posterior.
1
O ÚLTIMO INIMIGO
Sócrates e Jesus
Nada mostra mais claramente do que o contraste entre a morte de Sócrates e a de Jesus (um contraste que foi citado muitas vezes pelos opositores do cristianismo, embora com outros objetivos), que a visão bíblica da morte é focada desde o princípio na História da Salvação e assim se afasta completamente da concepção grega.
Na descrição impressionante que Platão faz da morte de Sócrates, no Fédon, surge talvez a doutrina mais elevada e mais sublime que já se apresentou sobre a imortalidade da alma. O que dá ao argumento dele o seu valor insuperável é sua cautela científica, seu despojamento de qualquer prova que tenha validade matemática. Conhecemos os argumentos que ele apresenta para a imortalidade da alma. Nosso corpo é só uma peça de vestuário exterior que, enquanto estamos vivos, impede nossa alma de se mover livremente e de viver de acordo com sua própria essência eterna. O corpo impõe à alma uma lei que não lhe é adequada. A alma, confinada dentro do corpo, pertence ao mundo eterno. Enquanto vivemos, nossa alma se encontra numa prisão, ou seja, num corpo essencialmente alheio a ela. A morte é, na verdade, a grande libertadora. Ela libera as cadeias, uma vez que conduz a alma que está presa no corpo de volta ao seu lar eterno. Uma vez que o corpo e a alma são radicalmente diferentes um do outro e pertencem a mundos diferentes, a destruição do corpo não pode significar a destruição da alma, assim como uma composição musical não pode ser destruída quando o instrumento musical é destruído. Embora as provas da imortalidade da alma não tenham para o próprio Sócrates o mesmo valor das provas de um teorema matemático, elas não deixam de atingir, dentro do seu campo, o mais alto grau possível de validade, e fazem a imortalidade tão provável que ela chega a ser a uma ‘chance’ para o homem. E quando o grande Sócrates esboçou os argumentos para a
que lhe foi dada: sofrer a morte, e ele já havia falado as seguintes palavras: “Mas tenho que passar por um batismo, e como estou angustiado até que ele se realize!” (Lucas 12:50). Agora, quando o inimigo de Deus está diante dele, ele clama a Deus, cuja onipotência ele conhece: “Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice.” (Mar. 14:36). E quando ele conclui: “contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres”, isso não significa que no final ele considera, como Sócrates, a morte como a amiga, a libertadora. Não, o que ele quer dizer é apenas isto: ‘Se este maior de todos os terrores, a morte, deve cair sobre mim, segundo a Tua vontade, então, submeto-me a este horror.’ Jesus sabe disso com certeza, porque a morte é o inimigo de Deus; morrer significa ser totalmente abandonado. Por isso, ele clama a Deus; diante desse inimigo de Deus, ele não quer ficar sozinho. Jesus quer permanecer estreitamente ligado a Deus como esteve ligado a Ele durante toda a sua vida terrestre. Pois qualquer um que esteja nas mãos da morte não está mais nas mãos de Deus, e sim nas mãos do inimigo de Deus. Neste momento, Jesus busca a assistência, não apenas de Deus, mas até mesmo de seus discípulos. Vez após vez ele interrompe sua oração e vai aos seus discípulos mais íntimos, que estão tentando lutar contra o sono, para estarem acordados quando os homens vierem para prender seu Mestre. Eles tentam, mas não conseguem, e Jesus tem de acordá-los vez após vez. Por que Jesus deseja que eles se mantenham acordados? Porque ele não quer ficar sozinho. Quando o terrível inimigo, a morte, se aproxima, ele não quer ser abandonado nem mesmo por seus discípulos, cuja fraqueza humana ele conhece. “‘Simão’, disse ele a Pedro, ‘você está dormindo? Não pôde vigiar nem por uma hora?’” (Marcos 14:37).
Poderia haver um contraste maior do que entre Sócrates e Jesus? Assim como Jesus, Sócrates tem seus discípulos próximos a ele no dia de sua morte, mas ele palestra serenamente com eles sobre a imortalidade. Poucas horas antes de sua morte, Jesus treme e pede aos discípulos que não o deixem sozinho. O autor da Carta aos Hebreus, o qual, mais do que qualquer outro autor do Novo Testamento, enfatiza a divindade (1:10) e também a natureza humana de Jesus, vai ainda mais longe do que os relatos dos evangelistas sinóticos, em sua descrição do medo que Jesus tem da morte. Em Hebreus 5:7 ele diz que “Jesus ofereceu orações e
súplicas, em alta voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte.” Assim, de acordo com a Carta aos Hebreus, Jesus chorou e clamou fortemente diante da morte. Enquanto Sócrates fala da imortalidade da alma com calma e tranqüilidade, vemos aqui Jesus, chorando e clamando.
Daí vem a cena da morte em si. Com sublime calma Sócrates bebe a cicuta, mas Jesus (assim diz o evangelista em Marcos 15:34 – não ousamos omitir a frase) brada em voz alta: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” E com outro alto brado ele morre (Marcos 15:37). Esta não é ‘a morte como uma amiga’. Trata-se da morte em todo o seu horror atemorizante. Este é realmente “o último inimigo” de Deus, o nome que Paulo dá a ela em 1 Coríntios 15:26, onde o total contraste entre o pensamento grego e o cristianismo é descortinado. Usando palavras diferentes, o autor do Apocalipse de João também considera a morte como o último inimigo, quando ele descreve como a morte será finalmente lançada no “lago de fogo” (20:14). Pois ela é inimiga de Deus, é a que nos separa de Deus, que é a Vida e o Criador de toda a vida. É precisamente por esta razão que Jesus, que está tão intimamente ligado a Deus como nenhum outro homem jamais esteve, deve ter experimentado a morte mais terrivelmente do que qualquer outro homem. Estar nas mãos do grande inimigo de Deus significa ser abandonado por Deus. De uma forma bem diferente dos outros, Jesus sofreu esse abandono, essa separação de Deus, a única condição realmente a ser temida. Foi por isso que ele clamou a Deus: “Por que me abandonaste?” Ele estaria realmente nas mãos do grande inimigo de Deus.
Devemos ser gratos aos evangelistas por não terem omitido nada sobre aquele momento. Mais tarde (logo no início do segundo século, e provavelmente até um pouco antes) algumas pessoas – de ascendência grega – ficaram ofendidas com isso. Na história dos primitivos cristãos, eles são conhecidos como “gnósticos”.
Eu coloquei a morte de Sócrates e a morte de Jesus lado a lado. Pois nada mostra de uma maneira melhor a diferença radical entre a doutrina grega da imortalidade da alma e a doutrina cristã da ressurreição. Visto que Jesus sofreu a morte em todo o seu horror,
exultação da celebração na comunidade cristã primitiva e entender que o pensamento de todo o Novo Testamento é governado pela crença na ressurreição. A crença na imortalidade da alma não é a crença num evento revolucionário. Imortalidade é, na verdade, só uma afirmação negativa: a alma não morre, mas simplesmente continua viva. Ressurreição é uma afirmação positiva: todo homem, que morreu de fato, é chamado de volta à vida por um novo ato criativo de Deus. Algo aconteceu – um milagre de criação! Pois algo também tinha ocorrido anteriormente, algo temível: a vida criada por Deus havia sido destruída.
A morte em si não é bela, nem mesmo a morte de Jesus. A morte antes da Páscoa é realmente a cabeça da Morte, rodeada pelo odor da decomposição. E a morte de Jesus é tão repulsiva como foi descrita pelo grande pintor Grünewald na Renascença. Mas, precisamente por este motivo, o mesmo pintor deliberou pintar, junto com ela, de uma maneira incomparável, a grande vitória, a Ressurreição de Cristo: Cristo no novo corpo, o corpo da ressurreição. Quem quer que pinte uma bela morte não pode pintar alguma ressurreição. Quem não entendeu o horror da morte não pode juntar-se a Paulo no hino da vitória: “A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1 Coríntios 15:54).
2
O SALÁRIO DO PECADO: A MORTE
O Corpo e a Alma – A Carne e o Espírito
Todavia, o contraste entre a idéia grega da imortalidade da alma e a crença cristã da ressurreição é ainda mais profundo. A crença na ressurreição pressupõe a conexão judaica entre a morte e o pecado. A morte não é algo natural e desejado por Deus, como entendem os filósofos gregos, e sim algo desnatural, anormal, contrário ao propósito de Deus. A narrativa do Gênesis nos ensina que ela entrou no mundo apenas como decorrência do pecado do homem. A morte é uma maldição, e toda a criação foi envolvida nessa maldição. O pecado do homem ocasionou toda a série de eventos que a Bíblia registra, aos quais chamamos de história da redenção. A morte só pode ser conquistada na medida em que o pecado seja removido. Pois ‘o salário do pecado é a morte’. Não é apenas a narrativa de Gênesis que diz isso. Paulo diz a mesma coisa (Romanos 6:23), e este é o conceito de morte mantido por todos no primitivo cristianismo. Assim como o pecado é algo oposto a Deus, assim é sua conseqüência, a morte. Na verdade, Deus pode fazer uso da morte ( Coríntios 15:35 em diante; João 12:24), como Ele pode fazer uso de Satanás em favor do homem.
Porém, a morte como tal é o inimigo de Deus. Pois Deus é Vida e o Criador da vida. Não é pela vontade de Deus que existe a degradação e a decadência, a mortalidade e a doença, os subprodutos da morte agindo em nossa vida. Todas estas coisas, segundo o entendimento cristão e judaico – decorrem do pecado humano. Portanto, toda a cura que Jesus realiza não envolve apenas trazer de volta da morte, mas também a invasão do domínio do pecado, e foi por isso que, em todas as ocasiões, Jesus disse: ‘Seus pecados estão perdoados.’ Não é que exista um pecado correspondente para cada doença específica, mas, em vez disso, assim como a presença da morte, o fato de a doença acometer a todos é uma conseqüência da condição