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Esta publicação ocupa-se de um verdadeiro patrimônio capixaba: o Palácio anchieta. Mas este livro é, também e antes de tudo, uma celebração, pois marca a conclusão da primeira obra de restauração da principal sede do governo capixaba, após signifcativas obras de reconstrução e reforma, realiza-das ao longo do século xx, notadamente na sua primeira metade.
Tipologia: Notas de estudo
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Compartilhado em 03/08/2010
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Em oferta
Palácio
anchieta
FotograFia
PAULO HARTUNG governador
RICARDO FERRAÇO Vice-governador
NEIVALDO BRAGATO secretaria dos transportes e obras Públicas
DAYSE MARIA OSLEGHER LEMOS secretaria da cultura
MARIA ANGELA BOTELHO GALVÃO superintendência de comunicação
HILDA CABAS chefe do cerimonial
AUREA LIGIA BERNARDI gerência de Palácios e residências oficiais
CONTEMPORâNEA LTDA coordenação de projeto
M379p Martinuzzo, José antonio. Palácio anchieta – Patrimônio capixaba / José antonio Martinuzzo. – Vitória : governo do estado do espírito santo, 2009. 240 p.: il. 27cm x 31cm edição bilíngue: Português e inglês
catalogação na fonte biblioteca Pública do espírito santo
realização
empreendimento de recuperação e preservação do Palácio anchieta, a casa da governadoria capixaba, é emblemático da reconstrução político-institucional do estado do espírito santo, iniciada em 2003. as obras de restauração do palácio e de reconstrução política do espírito santo integram um mesmo movimento de superação capixaba nesses últimos anos – superação que tem na restauração do Palácio anchieta um sim- bolismo evidente. o restauro termina aqui, celebrado, como dissemos, com o lançamento deste livro. a reconstrução política é uma tarefa que ainda deman- da importantes passos, apesar de já ter avançado e muito. como bem escreveu o filósofo francês Paul Valéry, toda civilização tem a fragilidade de uma vida. ou seja, toda conquista civilizatória – e a política é, por essência, a arte de construção da vida civilizada –, só se preserva e pros- pera com intermitente vigilância e trabalho contínuo por melhorias na oferta da cidadania a todos. a restauração do Palácio anchieta é uma das muitas conquistas ca- pixabas dos últimos anos. uma vitória que simboliza o respeito às instituições políticas e às tradições culturais, ao mesmo tempo em que se constitui como um sinal evidente da reconstrução política e institucional capixaba. restauração e reconstrução. ações de uma mesma história capixaba que tem encontro marcado no Palácio anchieta – a história de um novo espírito santo.
Paulo Hartung – Governador do Estado do Espírito Santo
o Palácio anchieta. Mas este livro é, também e antes de tudo, uma celebração, pois marca a conclusão da primeira obra de restauração da principal sede do governo capixaba, após significativas obras de reconstrução e reforma, realiza- das ao longo do século xx, notadamente na sua primeira metade. ou seja, esta publicação dedica-se a um patrimônio histórico e cul- tural capixaba que acaba de receber um importante investimento, recuperando traços marcantes de toda a sua história de mais de quatrocentos anos e garan- tindo a sua conservação e sua preservação material e simbólica. este livro, como se poderá notar nas páginas subsequentes, traz in- formações essenciais acerca do palácio e das determinantes político-econômicas e culturais que moldaram as suas várias configurações ao longo de séculos de existência. registre-se que ele é um dos raros prédios públicos nacionais a se- diar, ininterruptamente, da colônia à república, a sede de um governo de es- tado, apontam os pesquisadores. o destaque vai para a atual conformação do Palácio anchieta, tendo em vista os novos usos que lhe destinamos após o restauro. além da sede do governo, o prédio passou a abrigar espaços que reúnem exposições históricas e permitem a realização de diversos eventos e atividades culturais, educacionais e sociais, entre outros. o palácio também está preparado para as visitações pú- blicas, iniciadas com o fim da restauração. restauração que é simbólica de um novo tempo vivido nas terras capixabas. nesse sentido, importa ressaltar que o
aPresentação
nas páginas seguintes, temos a descrição de um autêntico “lugar de memória” capixaba. uma construção robusta, inúmeras vezes “re-vestida” com adornos, contornos, cores e expressões diversas. com sua imponência pontuada de vestígios seculares, o Palácio anchieta expressa no simbolismo de sua concretude muito do espírito santo que foi, é e será no seu viés político-cultural e econômico. Para contar essa história de longa duração e muitos tempos, esta publicação se constitui de cinco partes. inicialmente, é feito um panorama político-econômico da trajetória capixaba, tendo em vista a contextualização da história do Palácio anchieta, que sempre esteve no centro das decisões mais importantes do estado. em seguida, inicia-se a série de quatro capítulos dedicados exclusiva- mente à história do palácio, elaborados de acordo com as principais fases/usos da construção, desde 1551, data da inauguração das dependências originárias, até este 2009, ano da conclusão de sua primeira completa restauração em todos os tempos. Dessa forma, no capítulo 2, encontram-se narrados os fatos ligados aos construtores-mores do que se tornaria o atual Palácio anchieta: os jesuítas. o prédio inicia a sua trajetória como residência, colégio e igreja. Para uma me- lhor contextualização, fala-se também da criação e da chegada da companhia de Jesus ao espírito santo, e dos seus empreendedores mais significativos em terras capixabas, os jesuítas afonso brás e José de anchieta. a seção seguinte trata da tomada do prédio pelo poder laico. com a expulsão dos jesuítas do império português, ocorre o confisco de todos os
mento não cessa. o tempo é uma presença. Passa, mas fica – deixa heranças. invisível, pode riscar memórias profundas. intocável, alcança a tudo e a todos. com seu toque, molda paisagens, construções, destruições, experiências. ergue e desmonta. transtorna perspectivas. Marca. Falar de um prédio histórico é falar do tempo – dos vários tempos que o esculpiram. Do tempo que construiu, destruiu, reconstruiu. Do tempo que faz, refaz e refará – intermitentemente. Do tempo que opera pelas mãos dos homens, que orienta pelos anseios e crenças da cultura, que determina pelos interesses da economia e que governa pelos braços da política. Do tempo que se materializa em gerações e que define eras em intervalos de existências. o tempo é puro paradoxo. é ausência e presença. é concreto e simbó- lico. é passado, presente e futuro. Passou, passa, está passando, passará, deixando suas marcas. nessa direção, este livro traz o perfil de um prédio de fundações e paredes quatrocentonas, mas que abriga e expõe marcas de tempos vários, materializados em mais de quatro séculos de experiência histórica. o atual Palácio anchieta acumula entranhas e feições de diversos tempos vividos, numa vocação ou mesmo condição inelutável, realçadas pela restauração iniciada em 2004, sob os auspícios do governo do estado do espírito santo. como se verá nesta publicação, motivada pela conclusão das obras de restauro, o tempo presente não deixou de dar o seu toque, mas foi generoso com os tempos que passaram, descobrindo as marcas dos tempos do antes de hoje.
introDução
PanorâMica
caPixaba
a história espírito-santense pontua realizações marcantes nas pri- meiras décadas do século xx, principalmente após 1908, com a convergência de interesses das lideranças político-econômicas locais. historicamente, Muniz Freire e Jerônimo Monteiro são as expressões mais destacadas desse período. Primeiro presidente eleito do estado, José de Mello carvalho Moniz Freire (Muniz Freire), jornalista e advogado, foi o precursor do republicanismo no estado e vislumbrou, planejou e fez algumas realizações que marcam a história contemporânea do espírito santo, tendo lançado uma agenda que ainda é atual. o presidente Muniz Freire, em dois mandatos, de 1892 a 1896 e de 1900 a 1904, consolidou a ligação do espírito santo com o rio de Janeiro e com Minas gerais. em seus períodos de governo, a estrada de Ferro leopoldi- na tornou-se realidade e iniciou-se a obra da estrada de Ferro Vitória a Minas. Quatrocentos anos depois do descobrimento, enfim, estabeleceram-se ligações concretas entre o espírito santo e o brasil. De 1908 a 1912, Jerônimo Monteiro mudou o visual da capital, im- plantando serviços públicos de iluminação e saneamento, por exemplo. o Palácio anchieta foi totalmente reconstruído. Monteiro investiu em educação, tendo reformado o sistema estadual de ensino. Fez pesados investimentos no interior (instituiu no Vale do rio itapemirim um polo de desenvolvimento econômico, inclusive com usina hidrelétrica). nesse sentido, durante a república Velha, os esforços se deram em torno do adensamento populacional do interior; da oferta de infraestrutura para escoamento da produção; da modernização da economia, com instalação de indústrias; e da urbanização da capital, no intuito de torná-la efetivamente o centro político-administrativo do estado.
Bras ão de Vasco Fernandes Coutinho, primeiro donatário das terras capixabas Coat of Arms of Vasco Fernandes Coutinho, the first grantee of the capixaba territory
Oficialmente fundado em 23 de maio de 1535, o estado do espí- rito santo encontrou-se com a plenitude do seu território e definiu suas vocações somente muito tempo depois. até meados do século xix, o estado percorreu uma trajetória de desencontros com o projeto de se estabelecer com certa autonomia e importância econômica. Funcionando como muralha verde que protegeria as minas gerais, o espírito santo cruzou séculos em rota de esquecimento. conforme relata bueno (1999), Varnhagen, escrevendo em 1854, afirmara: “apesar de tão boas terras, com um porto excelente e rios navegáveis, a capitania ainda permanecia sem desenvolver-se, e reduzida a uma população que não medra e a um solo cujas matas-virgens estão quase todas sem romper-se”. até 1880, anuncia schayder (2002), “não havia ocorrido a efetiva interiorização da colonização do espírito santo”. nossa ocupação “arranhava o litoral”. a república, antecedida, entre outros fatos, pelo fim da escravidão e pelo estabelecimento da política de ocupação por mão de obra imigrante, trouxe uma conjuntura inédita ao estado, iniciando-se uma nova era da história espírito-santen- se. apesar de o regime republicano ter-se instalado sem mobilização popular e estar devotado aos interesses da elite – o outro nome da república Velha (1889/1930) pode ser república dos coronéis –, mudanças existiram. Por exemplo, pela primeira vez, depois de séculos, o espírito santo seria governado por um capixaba. na nascente república brasileira, com projetos de liberdade, igualdade e fraternidade, além de ordem e progresso, o estado pôde avançar pouco, mas os fundamentos do espírito santo moderno têm registro por essa época. De igual maneira, naqueles anos vislumbraram-se projetos e horizontes que hoje são reali- dade ou se mantêm com base para novos voos republicanos nas terras capixabas.
PanorâMica
tura, que, mais adiante, experimentou um grande processo de modernização e diversificação. a vocação para o comércio, com o fortalecimento do espírito santo pelo investimento em infraestrutura e atividades comerciais, vislumbrada e defendida por Muniz Freire, acabou por estabelecer-se na segunda metade do século xx, dando-nos know-how e logística nacionalmente privilegiados em relação à economia mundializada. a caminhada no século xx deu ao espírito santo personalidade eco- nômica, posição de destaque nas relações comerciais nacionais com o mundo, seja no comércio exterior, seja na produção de commodities que fazem girar a indústria mundial, seja na logística disponível. o estado figura entre os maiores produtores e exportadores de celulose, aço e rochas ornamentais. Pelos seus portos sai miné- rio de ferro e pellets para abastecer as maiores economias. Frutas, café, móveis e confecções também enriquecem a pauta econômica. nos últimos anos, o espírito santo se tornou o segundo do País em reserva e produção de petróleo e gás. no quesito político-administrativo, com o processo lento e gradual de abertura política, em 1982 foram retomadas as eleições diretas para governa- dor, sendo eleito gerson camata. tendo feito um governo empreendedor, que levou asfalto aos quatro cantos do estado, camata representava para os eleitores, segundo schayder (2002, p. 121), “a renovação da vida política capixaba: era jovem, peemedebista e primeiro descendente de italianos a governar o estado”. apesar dos avanços ao longo do século e da retomada democrática, o balanço do final dos anos de 1900 é dramático para a política capixaba. houve um completo descompasso entre o espírito santo que “trabalha e confia” e o espírito santo institucional. na virada do milênio, eram atualíssimas as palavras de Muniz Freire, ditas um século antes: “o nosso mal é político e resulta de vícios [...] dos apparelhos institucionaes” (cláuDio, 1981, p. 293). Falta de visão estratégica para introduzir o espírito santo no cenário de desenvolvimento nacional, denúncias de corrupção nas entranhas dos pode- res instituídos, instrumentalização da máquina pública pelo crime organizado e subordinação do interesse coletivo aos desmandos e negócios privados de quem tomava o poder, endividamento irresponsável, desmonte e sucateamento das estruturas governativas... a lista de equívocos e do aviltamento dos princípios e da ética republicanos, com graves prejuízos ao povo capixaba, principalmente
Dos anos 30 até a década de 60, o estado viveu dias de alternância entre privilégio à agricultura e à industrialização. Foi também o período das inter- venções federais patrocinadas pela era Vargas. o interventor João Punaro bley fez importantes investimentos e modernizações, mas o destaque vai para as figuras dos ex-governadores carlos Fernando Monteiro lindenberg e Jones dos santos neves. segundo schayder (2002, p.107), a principal preocupação de lin- denberg (1947 a 1950 e 1959 a 1962) “era incrementar o setor agropecuário”, tendo, inclusive, expandido a fronteira agrícola para o norte do estado. ainda de acordo com o referido autor, Jones dos santos neves (1951 a 1954) fez uma gestão baseada no planejamento, tendo em vista a política desenvolvimentista. “o governo estadual passou a intervir na economia, a fim de criar as condições infraestruturais que propiciassem o arranque industrial do espírito santo”. nos anos 50, reestruturou o Porto de Vitória, construiu hidrelétricas no rio santa Maria e ampliou e asfaltou a malha rodoviária, dentre outras realizações. Depois de viver dias de populismo, o espírito santo, nos anos 60, experimentou uma mudança no eixo da economia estadual. Promoveu-se a er- radicação dos cafezais – 180 milhões de pés foram sacrificados, ou 54% do total plantado. os governadores christiano Dias lopes (1967 a 1971) e arthur carlos gerhardt santos (1971 a 1974) foram os responsáveis pela chamada “‘grande Virada’, em que de uma economia predominantemente agrícola, passamos a uma essencialmente industrial e urbana”, afirma schayder (2002, p. 116). os grandes projetos industriais, localizados essencialmente na grande Vitória, transformaram o perfil socioeconômico do estado. com incentivos fis- cais, os investimentos privados foram potencializados, levando à modernização da indústria e à movimentação do setor de prestação de serviços e comércio. os grandes projetos industriais trouxeram importantes complexos de infraestrutura, especialmente portos, e uma capacidade logística que são hoje fatores decisivos para qualquer estratégia de comércio exterior do brasil. a industrialização do espírito santo foi tardia, mas chegou com o foco estra- tégico certo para o momento histórico mundial da globalização: o comércio exterior em bases competitivas. esse movimento econômico disseminou uma nova cultura de plane- jamento e organização produtiva e comercial que acabou alcançando a agricul-
enfim, com os choques ético e de gestão, fez-se um realinhamento governamental, recuperando-se a capacidade de investimento do estado para realizar obras e prestar serviços essenciais. resultado: o espírito santo saiu de menos de 1% de investimentos com recursos próprios em 2003 para o patamar de 15% nesses últimos anos. com a ampliação da arrecadação, os serviços foram normalizados e abriram-se frentes de obras em todos os municípios capixabas. esse trabalho tem levado melhorias a todos os milhões de capixabas. a efetivação de uma nova realidade político-institucional a partir de 2003 também dinamizou a economia estadual, inaugurando o terceiro ciclo de desenvolvimento capixaba, após a predominância da agricultura e da primeira fase da industrialização voltada para o comércio exterior. o atual movimento se estabelece pela ampliação do comércio exterior, pela dinamização dos arranjos produtivos locais, pela emergência do negócio ligado ao petróleo e gás. o avanço ocorre com novos investimentos dos empreendimentos já instalados e também pela atração de novos negócios, em nível nacional e inter- nacional. Deve-se ressaltar que este terceiro ciclo econômico se estabelece a partir de um novo modelo de desenvolvimento, socialmente inclusivo, ambientalmente responsável e geograficamente desconcentrado. como se pode notar, no ano de 2003, o espírito santo iniciou uma caminhada de travessia, do descontrole administrativo para uma nova fronteira histórica, marcada pela estabilidade político-administrativa, pela normalização, ampliação e qualificação dos serviços públicos e pela inaugu- ração de uma nova era econômica. este está sendo um tempo de superação, de arrumar a casa e estabelecer as bases de um novo futuro. Mas é também um tempo de muitas conquistas, até certo ponto inesperadas em função da gravidade do quadro encontrado há seis anos. os passos dados em mutirão distanciaram definitivamente o estado do passado recente de humilhação e vergonha. o governo do espírito santo voltou a trabalhar para o povo do espírito santo. e, hoje, vivem-se dias de uma nova história capixaba. um tempo de reconstrução e restauração, como a obra do Palácio anchieta, que tão bem simboliza esses novos tempos político- administrativos no estado.
aos mais pobres, que dependem diretamente dos serviços prestados pelo estado, parecia não ter fim. os capixabas entraram no terceiro milênio sob o opróbrio de uma política indigna de ser chamada de política, na sua acepção original – a comunhão de homens de bem em ação pela emancipação do homem, a justiça social, a liberdade, a igualdade e a fraternidade. “a república não foi feita para servir à opressão, ao esbulho e à violência, sim, porém, à liberdade, à paz e ao progresso” (cláuDio, 1981, p. 300). as palavras de Muniz Freire, considerando sobre os primeiros anos do republicanismo, parecem soar óbvias, mas no espírito santo elas foram esqueci- das por um bom período de tempo, principalmente no final do século passado. a decisão de mudança foi sacramentada nas urnas de 2002 e uma nova história começou. a trajetória tem sido desafiante. grande clamor dos cidadãos de bem na virada do milênio, a constituição de um governo estadual a serviço do povo capixaba foi a primeira missão da administração que se iniciou em janeiro de 2003. governar para todos os capixabas significava enfrentar desafios gigan- tescos. a missão era monumental. e, pelo tamanho da herança, ainda continua oferecendo grandes desafios. Mas as vitórias foram muitas – conquistas que per- mitem ao estado avançar sem parar rumo à consolidação de um novo tempo em terras capixabas. em 31 de dezembro de 2002, os restos a pagar, ou seja, dívidas com servidores, fornecedores, prestadores de serviços, entre outros, chegavam a r$ 1,2 bilhão. Para se ter uma ideia do montante, as dívidas equivaliam a quatro arrecadações estaduais. em 2005, todo esse passivo foi zerado. o estado também estava inadimplente com o contrato de renegociação da dívida com a união, que fazia a retenção do fundo de participação do espírito santo. hoje, o estado é citado País afora como exemplo de equilíbrio nas contas públicas. o espírito santo saiu da posição de um dos piores estados da Federação no quesito das contas públicas para a dianteira do ranking do tesouro nacional. eliminaram-se privilégios fiscais e administrativos, iniciou-se um combate sistemático e severo à sonegação, à corrupção e ao crime organizado, e investiu-se na modernização da máquina pública, com realização de vários concursos, introdução do planejamento estratégico, incluindo instrumentos de acompanhamento da sua aplicação, e a redução de gastos, entre outros.
a coMPanhia De
Jesus
A edificação que abriga o Palácio anchieta conta uma história em três tempos. Derenzi (1971, p. 16), que oferece as principais referências à escritura desta obra, resume da seguinte forma a trajetória do conjunto:
[...] Ele se inscreve nos registros de nossa história num continuado de fatos, cujos episódios, perfeitamente conhecidos, se dividem em três fases bem delimitadas: Colégio de Padres Jesuítas, Residência de Governadores da Província, meros funcionários do Império, e, finalmente, Palácio do Governo do Estado, após a República e distinguido, por decreto de 9 de junho de 1945, com o nome de Palácio Anchieta, devota homenagem tributada pelo Dr. Jones dos Santos Neves quando governou, pela primeira vez.
a história do espírito santo inicia-se oficialmente em 23 de maio de 1535, com a chegada de Vasco Fernandes coutinho, que se estabeleceu na região onde fundaria a Vila do espírito santo, atual Vila Velha. um ano antes, em 1534, inácio de loiola funda, na França, a compa- nhia de Jesus, cuja atuação redundaria, aqui no estado, em iniciativas que deram início à história do Palácio anchieta, uma vez que a primeira fase da construção está circunscrita ao período entre a chegada dos jesuítas ao espírito santo e a sua expulsão das colônias portuguesas (1551-1759). a história do Palácio anchieta começa também em 1551, por obra do missionário jesuíta afonso brás, aqui chegado em companhia do irmão leigo simão gonçalves. em vez de se fixar na Vila do espírito santo, os jesuítas se estabeleceram na ilha de santo antônio, propriedade de Duarte lemos, depois chamada de Vila nova, Vila de nossa senhora da Vitória e, atualmente, Vitória. a ilha era abrigo de portugueses em busca de proteção da beligerância indígena no continente.
Marco
resiDência, colégio, igreJa
JesuÍtico
PaDre aFonso
brás
aos 27 anos, padre afonso brás, vindo de Porto seguro (ba), aporta na vila em princípios de 1551 e, em 25 de julho do mesmo ano, já havia inau- gurado a igreja. segundo Derenzi (1971, p.23),
Afonso Brás e Irmão Gonçalves não se demoraram em cogitações. Trataram logo de erguer rancho e capela provisória. [...] Desse pouso de anacoretas deram início à construção do Colégio e Igreja de São Tiago, na assenta do morro, obra continuada paulatinamente, que se tornou definitiva, com o passar dos anos, e representa o atual Palácio Anchieta.
segundo bittencourt e campos (2000, p 71), “o governador-geral tomé de sousa, em viagem para o sul, em companhia do padre Manoel da nóbre- ga, vê uma ‘grande casa e igreja’, ao se referir ao colégio que visitara, em 1552”. Pouco tempo após a visita, por ordem de nóbrega, então superior dos jesuítas no brasil, afonso brás segue, em 1554, para são Paulo. é substituído por padre brás lourenço, que chega acompanhado pelo padre José de anchieta. brás lourenço e seu substituto, padre Manoel de Paiva, envidaram esforços para a ampliação do conjunto, mas o altar e o térreo da primeira igreja foram alcançados por um incêndio em 1559. na década de 1570, missionários náufragos, após acidente na foz do rio Doce, mobilizados pelo padre inácio de tolosa, em retribuição à acolhida, deram início à construção de uma nova sede para a igreja de são tiago, agora em pedra, no mesmo local da anterior, erguida com madeira. era o ano de 1573. em 1584, anchieta assume a liderança dos jesuítas no estado. nesse mesmo ano, Derenzi (1971, p. 26) relata que o conjunto “estava bem acabado com sete cubículos e na cerca há laranjeiras, limeiras, cidreiras, acajá e outros frutos, com todo o gênero de hortaliças de Portugal”. havia enfermaria, refeitório e salas de ensino. em 1587, anchieta conclui a primeira ala do colégio, voltada para a praça (atualmente, Praça João clímaco). em 1707, após 120 anos da construção da primeira ala do colégio, ergue-se a segunda, de frente para a baía de Vitória. a terceira ala foi construída em 1734, fechando o pátio interno, juntamente com a segunda torre da igreja. a quarta ala, contígua à igreja, foi erguida em 1747, formando o quadrilátero imponente do que seria, por muitos anos, a maior construção do estado.
Arca de ferro e pias batismais dos tempos jesuíticos Iron chest and baptismal fonts from Jesuit times
Mapa de Vitória em 1767, com aspectos da cidade a época da expulsão dos jesuítas Map of Vitória in 1767 showing the city as it was at the time of the Jesuits’ expulsion
Melhorias, reconstruções, ampliações... o conjunto jesuítico resultou de obras que atravessaram três séculos. Derenzi (1971, p. 27) afirma que, “pela centúria de 1600, os progressos foram lentos. [...] Porém, a partir de 1700, a evangelização dava frutos abundantes e a construção do colégio tomou impulso animador. [...] em 1747, o conjunto ‘estava terminado com sua majestade e beleza’”. Da precária capela erguida em 1551 por padre afonso brás à constru- ção da última ala do colégio, em 1747, foram 196 anos de obras que estabele- ceram as bases do atual prédio do Palácio anchieta. Quase dois séculos de cons- trução, tocada por religiosos que inscreveram seus nomes na história capixaba. Mas esses mesmos religiosos pouco usufruíram do amplo edifício que construíram. em 1759, decreto do então rei de Portugal, Dom José i, expulsou os jesuítas do reino e de todas as possessões da coroa. chegava ao fim uma era da história do colonialismo português. encerrou-se, por exemplo, a trajetória do colégio dos Jesuítas.
a transForMação eM Palácio Do goVerno assunção laica
Maria. o casal imperial chegou à capital no dia 26 de janeiro, permanecendo no estado até o dia 09 de fevereiro. Foram 15 dias de visitas às vilas e vilarejos mais importantes. era a etapa final da viagem imperial às “províncias do norte” (Pernambuco, bahia, alagoas, sergipe). rocha (2008, p. 49-50), ao relatar a viagem de Dom Pedro ii ao espírito santo, fez uma descrição de Vitória, que, à época, “pouco excedia a cifra de cinco mil habitantes”, e detalhou o mutirão que se teve de costurar, até mesmo entre inimigos políticos, para preparar a recepção e estada do imperador na sede do governo e residência oficial. a corte enviou, como de praxe, recursos para a preparação da estada
Em 1860, Dom Pedro II e a imperatriz Teresa Cristina se hospedaram no palácio In 1860, Dom Pedro II and Empress Teresa Cristina stayed in the palace
todos os bens dos jesuítas foram confiscados. o colégio passou também a abrigar a sede do governo da capitania. com manutenção precá- ria, o conjunto esteve à beira da destruição total com um incêndio ocorrido em 28 de setembro de 1796. a igreja foi a mais afetada, tendo sido perdidas relíquias e imagens. recuperado, em 1798 o já denominado Palácio do governo passou a abrigar o hospital Militar e o batalhão de polícia. Derenzi (1971, p. 36) escreve que, “[...] para uma vila de 1.438 fogos – antigamente o recenseamento se fazia pelo número de casas ou cozinhas – o velho colégio era uma construção colossal, podia absorver todas as instalações de fazenda, saúde e militares”. “o Palácio acomodara-se, definitivamente, no colégio e este apelido se despede da história”, observa Derenzi (1971, p. 39), que também assinala: “[...] no começo do século xix, o edifício, na linguagem popular, ganhou o epí- teto de ‘Vaticano’, em atenção às articulações políticas e repreensivas que ali se articulavam, nos segredos das velhas celas, transformadas em salas de governo”. Derenzi (1971, p. 37) reporta duas referências feitas ao conjunto durante o século xix. segundo o autor, o naturalista francês auguste de saint- hilaire, em passagem pelo estado, em 1818, anotou que, “sem contradição, o mais belo ornato da cidade é o antigo colégio dos Jesuítas”. em 1878, césar augusto Marques, ainda segundo relato de Derenzi, escreveu que:
Numa de suas vastas acomodações reside o Presidente da província, e n’outra funcionam a secretaria da presidência, o Liceu, Tesouraria, Fazenda, a Administração dos Correios, o armazém de artigos bélicos, a Biblioteca Pública, uma escola de primeiras letras e o quartel de pedestres. Esta situação durou quase até o fim da monarquia. Que promiscuidade díspar.
À descrição indignada de Marques, Derenzi (1971, p. 37) acrescenta: “serviços heterogêneos envolvendo classes que abrangiam crianças e soldados, funcionários e autoridades. não havia água encanada nem esgotos”. como bem assinalou Marques, a situação de penúria e aviltamento do conjunto jesuítico transformado em sede de governo “durou até quase o fim da monarquia”. isso porque no ano de 1860 o palácio recebeu suas Majes- tades imperiais o imperador Dom Pedro ii e a imperatriz Dona teresa cristina
Por ocasião da visita imperial, o fotógrafo Victor Frond retratou a capital, evidenciando o destaque do Palácio Anchieta During the Imperial visit, photographer Victor Frond took pictures of the capital highlighting the Anchieta Palace