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PDE 2013 ESCOLA ATIVA - Orientações pedagógicas para formação de educadoras e educadores
Tipologia: Notas de estudo
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Unidade I 1
2 Programa Escola Ativa • Orientações Pedagógicas
E Q U I P E E D I T O R I A L Armênio Bello Schmidt Bernard Herman Hess Eliete Ávila Wolff Graciete Maria Nascimento Barros Sara de Oliveira Silva Lima Sisley Cintia Lopes Rocha Viviane Costa Moreira A S S E S S O R I A P E D A G Ó G I C A Cacilda R. Cavalcante Clélia Adriana Matos dos Santos Débora Amorim Gomes da Costa Maciel Elaine Maria Augusto de Azevedo Eliane Alves de Melo Glauciane Pinheiro Andrade Couto Gildete Dutra Emerick Ivanilde Oliveira de Castro José Edson de Oliveira Lima José Roberto Rodrigues de Oliveira Lenira Silveira Barbosa Maria de Fátima da Costa Saraiva Marize Souza Carvalho Olgalice dos Santos Suzarte de Jesus Oscar Ferreira Barros Maria Izabel Brunacci Ferreira dos Santos Ana Paula Lima Figueiredo P R O J E T O G R Á F I C O E I L U S T R A Ç Ã O André Carvalho — Iluminura Design R E V I S Ã O Bernard Herman Hess BRASÍLIA, Outubro de 2008
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Programa Escola Ativa - Orientações Pedagógicas para a formação de educadoras e educadores. — Brasília : SECAD/MEC, 2009. 80 p. : il.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO E DIVERSIDADE Coordenação Geral de Educação do Campo – CGEC/SECAD/MEC SGAS Quadra 607, Lote 50, sala 104 CEP: 70.200-670 – Brasília - DF (61) 2104- coordenacaoeducampo@mec.gov.br
4 Programa Escola Ativa • Orientações Pedagógicas
E Q U I P E E D I T O R I A L Armênio Bello Schmidt Bernard Herman Hess Eliete Ávila Wolff Graciete Maria Nascimento Barros Sara de Oliveira Silva Lima Sisley Cintia Lopes Rocha Viviane Costa Moreira A S S E S S O R I A P E D A G Ó G I C A Cacilda R. Cavalcante Clélia Adriana Matos dos Santos Débora Amorim Gomes da Costa Maciel Elaine Maria Augusto de Azevedo Eliane Alves de Melo Glauciane Pinheiro Andrade Couto Gildete Dutra Emerick Ivanilde Oliveira de Castro José Edson de Oliveira Lima José Roberto Rodrigues de Oliveira Lenira Silveira Barbosa Maria de Fátima da Costa Saraiva Marize Souza Carvalho Olgalice dos Santos Suzarte de Jesus Oscar Ferreira Barros Maria Izabel Brunacci Ferreira dos Santos Ana Paula Lima Figueiredo P R O J E T O G R Á F I C O E I L U S T R A Ç Ã O André Carvalho — Iluminura Design R E V I S Ã O Bernard Herman Hess BRASÍLIA, Outubro de 2008
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Programa Escola Ativa - Orientações Pedagógicas para a formação de educadoras e educadores. — Brasília : SECAD/MEC, 2009. 80 p. : il.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, ALFABETIZAÇÃO E DIVERSIDADE Coordenação Geral de Educação do Campo – CGEC/SECAD/MEC SGAS Quadra 607, Lote 50, sala 104 CEP: 70.200-670 – Brasília - DF (61) 2104- coordenacaoeducampo@mec.gov.br
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o Ministério da Educação, por meio da Coordenação Geral de Educação do Campo/ secad, apresenta o Caderno de Orientações Pedagógicas para a formação de educadoras(es) que atuam em classes multisseriadas por meio do Programa Escola Ativa. O objetivo desse material é fornecer subsídios teóricos e metodológicos para a organização do trabalho pedagógico nas classes multisseriadas, preparando educadoras(es) e gestores para atuar na realidade da Educação do Campo. Esse caderno é constituído pelos seguintes módulos: Fundamentos da Educação do Campo; Escola Ativa: um programa para classes multisseriadas; Metodologia do Programa Escola Ativa; Organização do trabalho pedagógico em turmas multisseriadas que adotam o Programa Escola Ativa; Gestão democrática; Relação escola-comunidade; Cantinhos de aprendizagem: espaços interdisciplinares de pesquisa; Metodologia dos cadernos de ensino e aprendizagem; A importância do ato de planejar; A prática da avaliação da aprendizagem escolar. Cada Módulo é composto de atividades, princípios político-pedagógicos e orientações metodológicas destinadas a estimular os debates e as reflexões em grupo e/ou individualmente, para a consolidação de uma política pública de educação para as classes multisseriadas. A presente versão do Caderno de Ensino e Aprendizagem é resultado do processo de revisão, realizado após 10 anos contínuos de experiência. A partir desta, a reformulação foi concebida com a finalidade de atualizar os conteúdos e de aperfeiçoar a metodologia utilizada pelos educadores que atuam em classes multisseriadas presentes, em sua maioria, nas escolas do campo brasileiro. Para conhecer essa experiência foi solicitada uma pesquisa, com educadores e técnicos dos estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, realizada pela Universidade Federal do Pará. Ao inserir-se na Educação do Campo, esse Programa também foi repensado e suas concepções reformuladas, atendendo às orientações das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo - Resolução cne / ceb n º 1 de 03 de abril de 2002 e as Diretrizes complementares, normas e princípios para o desenvolvimento de políticas públicas de atendimento da Educação Básica do Campo, Resolução n º 2, de 28 de abril de 2008
Ministério da Educação Coordenação-Geral de Educação do Campo
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Apresentação 5
Acerca das temáticas de estudo deste caderno 8
U N I D A D E 1
Fundamentos da educação do campo 13
Escola Ativa: um programa para classes multisseriadas 23
U N I D A D E 2
Metodologia do Programa Escola Ativa 37
Organização do trabalho pedagógico em turmas multisseriadas que adotam o Programa Escola Ativa 40
Gestão Democrática 42
Relação Escola-Comunidade 50
Cantinhos de Aprendizagem: Espaços Interdisciplinares de Pesquisa 54
Metodologia dos Cadernos de Ensino e Aprendizagem 57
A Importância do Ato de Planejar 61
A Prática da Avaliação da Aprendizagem Escolar 66
Referências bibliográficas 73
8 Programa Escola Ativa • Orientações Pedagógicas
Educador(a), é bom tê-lo(a) conosco no Programa Escola Ativa! Estamos numa nova fase de atuação com as escolas do campo, organizadas em classes multisseriadas. Vivemos o momento de pensar essa escola vinculada à construção de um projeto de educação do campo para o Brasil, assumindo-a como um espaço de vida e de fortalecimento das identidades sociais. A escola do campo, incluída cada vez mais na agenda das políticas públicas, tem como desafio oferecer educação de qualidade social para todos os povos que vivem nesse e desse espaço. Se a escola do campo mudou é porque o próprio campo está em movimento e é do campo que resultam as reivindicações históricas mais acentuadas pela garantia do direito à vida com dignidade e valorização humana. O Programa Escola Ativa procura acompanhar o avanço desse direito junto às classes multisseriadas. Isso significa tratar a educação escolar como instrumento pedagógico para construir um projeto de desenvolvimento que garanta a igualdade de direitos, a justiça social e a solidariedade entre os sujeitos do campo. Por outro lado, este Caderno Pedagógico oferece uma metodologia de formação baseada na inter-relação entre ensino, estudo e pesquisa pedagógica, no âmbito da realidade da escola com classes multisseriadas e da própria realidade
10 Programa Escola Ativa • Orientações Pedagógicas
A Atividade Prática consiste na consolidação e ampliação do conteúdo, incluindo a pesquisa em acervos bibliográficos, documentais, oficiais, jornalísticos, buscando a relação com as ciências sociais, naturais e humanas, para que se possa levantar um conjunto de conhecimentos científicos e tecnológicos que possibilitem maior compreensão do objeto em estudo. O objetivo dessa seção é oferecer à(ao) educadora(or) e ao(à) educando(a) o estímulo para explorar, analisar, expor, discutir, rever e ampliar suas idéias, compartilhando diferentes pontos de vista; contextualizar e problematizar sua vida, fazer previsões que superem as limitações detectadas no debate, possibilitando o desenvolvimento de novas aprendizagens. Durante o estudo e o debate das temáticas, os diferentes saberes podem ser registrados constantemente para que se possa construir um memorial pedagógico. O diálogo pode acontecer auxiliado por um processo de sistematização desses diferentes saberes, levantando temáticas de pesquisa que poderão servir como indicadores de análise e de investigação da sua realidade. Essa atividade pode ser feita por meio de análises, observações, reflexões e interações com outros docentes, discentes e com a comunidade. O passo seguinte é realizar a Atividade de Aplicação e Compromisso Social. Essa atividade é fundamental para o desenvolvimento de ações políticas, didáticas e operativas voltadas para a realidade da educação do campo e para o processo de ensino-aprendizagem na escola multisseriada. Tendo como base as atividades anteriores, a Atividade de Aplicação e Compromisso Social possibilita ao(à) educando(a) a aplicação do conhecimento adquirido, concretizada em uma situação real seja na escola, na família ou na comunidade. Ela tem por objetivo construir condições de mudanças pedagógicas, curriculares e metodológicas na escola do campo, instigar tanto o docente quanto o discente a reafirmar na prática escolar o conhecimento, aproximando-se ainda mais da realidade que se pretende mudar. Nessa atividade, deve-se elaborar e concretizar projetos, espaços de aprendizagem, ações sociais e um conjunto de atividades que tratem das necessidades de educadoras(es), educandos(as), já problematizadas e dialogadas, valorizando o trabalho pedagógico e sua relação com os saberes e com os conhecimentos apropriados, reelaborados e assimilados anteriormente. Este é um importante momento de consolidação da aprendizagem. Neste momento de concretização de propostas e ações pedagógicas da escola, a Atividade de Aplicação e Compromisso Social conclui o percurso de formação pedagógica do Programa Escola Ativa, conduzindo os(as) educandos(as) para uma
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nova jornada de estudos. Então, uma nova fase de estudos possibilita a introdução de um novo conteúdo. Essa metodologia conduz a novas aprendizagens por meio do processo de análise, reelaboração, apropriação e ressignficação de novos conhecimentos, pois cada etapa do estudo leva a realização de um trabalho de síntese (investigação, diálogo e aplicação) do conhecimento anterior. Assim, educadora(or), faça deste Programa um alicerce para as suas práticas educativas e atue no sentido de mudar a realidade educacional do campo, e a sua formação teórica e metodológica para atuar com as escolas do campo. Mas não esqueça que esse caderno pedagógico é apenas um dos instrumentos da sua formação, a qual deve ser acrescida de outros estudos e pesquisas.
Programa Escola Ativa
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1 Descreva sua experiência com a educação do campo em seu município. 2 O que você compreende sobre Educação do Campo? 3 Agora, leia e reflita sobre o texto a seguir:
I contexto histórico - político da educação do campo Movimentos e articulações em defesa de um projeto educativo adequado às características do meio rural vêm se desenvolvendo desde a década de 1930, no contexto dos debates sobre a universalização da escola pública. No entanto, foi a partir da Primeira Conferência Nacional Por uma Educação Básica do Campo , realizada em Luziânia (go), em 1998, que esse movimento incorporou o conceito de Educação do Campo. Esse encontro defendeu o direito dos povos do campo às políticas públicas de educação com respeito às especificidades, em contraposição às políticas compensatórias da educação rural. Essa Conferência foi o resultado de um longo processo de luta dos povos organizados do campo e trouxe a especificidade da Educação do Campo associada à produção da vida, do conhecimento e da cultura do campo, apontando ações para a escola e para a formação de educadores. A Educação do Campo, defendida pela Conferência, tratou da luta popular pela ampliação do acesso, permanência e direito à escola pública de qualidade no campo
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vivem (dos agricultores, extrativistas, ribeirinhos, caiçaras, quilombolas, pescadores, seringueiros etc.), incorporando distintos processos educativos no seu Projeto Político Pedagógico. Essa concepção de Educação do Campo foi incorporada ao documento das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo^1 , oriundas dos debates acumulados historicamente pelos movimentos sociais, pelas universidades, pelo governo e pelas ong, entre outros grupos organizados que formaram a Articulação Nacional Por uma Educação do Campo.
Nas Diretrizes, a identidade das escolas do campo é definida:
(...) pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país. (art. 2º, parágrafo único cne / ceb, 2002).
Na II Conferência Nacional Por uma Educação do Campo , ocorrida em agosto de 2004, em Luziânia/go, definiu-se a ampliação de novos campos de luta para a Educação do Campo, sinalizando a consolidação de um projeto histórico de educação, conduzido e organizado pelos sujeitos sociais do campo. Recolocou-se o campo e a educação na agenda política do país, impulsionada pela luta pela democratização do acesso à terra e à educação escolar, como direito de todos e dever do Estado. Com isso, firma-se uma nova agenda política definida na Carta de Luziânia:
(^1) CNE. Resolução CNE/CEB 1/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de abril de
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tratadas de forma desigual. A concepção de educação que historicamente pautou as iniciativas educacionais para o meio rural fundamenta-se, principalmente, na categorização urbano/rural, na qual o espaço rural é definido, de acordo com critérios do ibge, pela sua localização geográfica e a baixa densidade populacional; por um projeto de desenvolvimento centrado nas atividades urbano-industriais, segundo o qual o campo tenderia ao desaparecimento, não sendo pertinente, portanto, o investimento em políticas estruturantes nesse espaço; pela concepção de rural enquanto espaço tipicamente de atividades agrícolas, priorizando o latifúndio. Desse projeto social, resulta um modelo educacional pautado na oferta de educação mínima, restrita às primeiras séries do Ensino Fundamental; escolas em condições precárias; educadores com pouca formação e baixos salários; incorporação de conceitos urbanos que desconsideram a realidade e a vida camponesa, que alimentam a competitividade, o individualismo e desprezam as diferenças. Por sua vez, a Educação do Campo é compreendida, ao mesmo tempo, como conceito em movimento, enquanto unidade político-epistemológica, que se estrutura e ganha conteúdo no contexto histórico, que se forma e se firma no conjunto das lutas de movimentos sociais camponeses; que se manifesta e transforma nas relações sociais, reivindicando e abrindo espaço para a efetivação do direito à educação, dentro e fora do Estado. Nessa perspectiva, a Educação do Campo se diferencia da educação rural, pois é construída por e para os diferentes sujeitos, territórios, práticas sociais e identidades culturais que compõem a diversidade do campo. Ela se apresenta como uma garantia de ampliação das possibilidades de homens e mulheres camponeses criarem e recriarem as condições de existência no campo. Portanto, a educação é uma estratégia importante para a transformação da realidade dos homens e das mulheres do campo, em todas as suas dimensões. O campo, compreendido a partir do conceito de territorialidade^3 , é o lugar marcado pela diversidade econômica, cultural e étnico-racial. É espaço emancipatório quando associado à construção da democracia e de solidariedade de lutas pelo direito à terra, à educação, à saúde, à organização da produção e pela preservação da vida. Mais do que um perímetro não-urbano, o campo possibilita a relação dos seres humanos com sua própria produção, com os resultados de seu trabalho, com a natureza de onde tira o seu sustento. Se comprometida com a diversidade do trabalho e sua cultura, a educação terá também especificidades que precisam ser incorporadas nos projetos político-pedagógicos. Entendemos, no entanto, que o campo e a cidade são dois pólos de um continuum, duas partes de um todo, que não podem se isolar, mas, antes de tudo, articulam-se, completam-se e se alimentam mutuamente.
(^3) A Secretaria de Desenvolvimento Territorial/MDA define território como “um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, compreendendo a cidade e o campo, caracterizado por critérios multidimensionais – tais como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as instituições – e uma população com grupos sociais relativamente distintos, que se relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesão social, cultural e territorial ”(SDT/MDA. Territórios Rurais. www.mda.gov.br ).
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A Educação do Campo, então, se afirma na defesa de um país soberano e independente, vinculado à construção de um projeto de desenvolvimento, no qual a educação é uma das dimensões necessárias para a transformação da sociedade, que se opõe ao modelo de educação rural vigente. Nessa perspectiva, a escola torna-se um espaço de análise crítica para que se levantem as bases para a elaboração de uma outra proposta de educação e de desenvolvimento. Nesse sentido, busca-se desenvolver uma proposta de educação voltada para as necessidades das populações do campo e para a garantia de escolarização de qualidade, tornando-se o centro aglutinador e divulgador da cultura da comunidade e da humanidade. Para Caldart (2002), a associação da Educação do Campo com lutas por políticas públicas e por reforma agrária é o fundamento educativo desse novo Projeto Político de Desenvolvimento. Não se educa verdadeiramente o sujeito do campo sem transformar as condições de desumanização. A conquista da humanização se dá na própria luta contra a desumanização. Caldart compreende que o desafio para as escolas do campo é a formação para recuperar as condições humanas dos povos do campo. Por isso é tão central a definição do tipo de escola que se quer e do projeto educativo que ali se desenvolve. Para tanto se resgata a experiência histórica da educação popular e das práticas educativas que supriram o histórico vazio deixado pelo poder público nas regiões rurais. Cada povo do campo tem sua forma de viver. Ribeirinhos, caiçaras, quilombolas, seringueiros, agricultores familiares, indígenas se diferenciam entre si devido ao trabalho que realizam e à cultura gerada por suas formas de trabalho. Do mesmo modo se assemelham entre si, pois possuem as mesmas carências, as mesmas limitações econômicas, materiais, humanas e de acesso à cultura. A conquista do acesso universal a todo o conhecimento produzido pela humanidade e a garantia de uma formação que busque novas estratégias educativas e promova o desenvolvimento humano integral é outro dos desafios da Educação do Campo.
III princípios filosóficos e pedagógicos da educação do campo Ao resgatar a dimensão sócio-política da Educação do Campo se exige dos sujeitos educativos distintas formas de organização do trabalho pedagógico e do trato com o conhecimento, apontando tanto para a busca de processos participativos de ensino e aprendizagem, quanto de ação social para a transformação. Dessa maneira a Educação do Campo evidenciará o respeito à diversidade cultural e às realidades que fazem parte das comunidades. A Educação do Campo advoga princípios filosóficos^4 que dialogam com concepções de sociedade, de desenvolvimento e de educação:
a ) Educação para a transformação social — Na Educação do Campo o processo
(^4) Os princípios defendidos nesse texto se fundamentam, em grande parte, nos princípios contidos nas Referências para uma Política Nacional de Educação do Campo.
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referência as suas especificidades para incluí-los na sociedade como sujeitos de transformação.
f ) A diversidade de espaços e tempos educativos — A Educação do Campo ocorre tanto em espaços escolares quanto fora deles. Envolve saberes, métodos, tempos e espaços físicos diferenciados, pois são frutos da produção, da família, da convivência social, da organização comunitária, da cultura e do lazer. A sala de aula, por sua vez, é um espaço específico de sistematização, de análise e de síntese das aprendizagens se constituindo, assim, num local de encontro das diferenças, pois é nelas que se produzem novas formas de ver, estar e se relacionar com o mundo.
g ) Educação como estratégia para o desenvolvimento sustentável — O desenvolvimento sustentável pode ser pensado a partir do estudo da relação do ser humano com a natureza, da situação histórica particular de cada comunidade, e da análise dos recursos disponíveis, das expectativas, dos anseios e das necessidades dos que vivem no campo. O currículo do Programa Escola Ativa procura estimular a criação de novas relações entre pessoas e natureza, entre os seres humanos e os demais seres dos ecossistemas, valorizando a vida, a saúde e a sustentabilidade.
h ) Vivência de processos democráticos e participativos — A Escola do Campo deve permitir a educadoras(es), gestores e à família a vivência de processos democráticos em estruturas participativas. Esses processos devem contribuir para o desenvolvimento da capacidade de agir por iniciativa própria, respeitar as decisões tomadas no coletivo, buscar a solução de problemas, exercitar a crítica e a autocrítica, ter compromisso pessoal com as ações coletivas e o compromisso coletivo com as ações individuais. Esses princípios, por sua vez, subsidiam o trabalho pedagógico, o jeito de fazer e de pensar a educação e a escola do campo, tal como é possível observar nos princípios organizativos abaixo:
a ) Na abordagem do conhecimento 1 A aprendizagem ocorre por meio da ação humana e mediante a apropriação (ativa e criativa) de conceitos que possibilitam o desenvolvimento de estágios mais elevados de raciocínio e, conseqüentemente, novas formas de atuação e compreensão de mundo;
2 O conhecimento e os saberes são instrumentos de mediação
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disponíveis para que a(o) educadora(or) promova aprendizagens, devendo ser traduzido e adequado às possibilidades sócio-cognitivas dos(as) educandos(as).
3 Uma das mais importantes tarefas do educador(a) é aprofundar seu conhecimento sobre as teorias pedagógicas que possibilitam a compreensão do fenômeno educativo;
4 Os temas mais necessários são aqueles que tratam das grandes problemáticas que afetam a vida dos(as) educandos(as), da comunidade e da escola.
5 A realidade é interdisciplinar. Assim, o Programa Escola Ativa procura integrar-se à realidade considerando como uma de suas metas a interdisciplinaridade. Esta é mais vinculada à postura do educador(a) frente ao objeto do conhecimento do que à estrutura curricular.
6 A qualidade do trabalho docente depende da articulação contínua entre ensino e pesquisa.
b ) Na abordagem metodológica 1 O processo de ensino e aprendizagem articula a organização do trabalho pedagógico, a forma de tratar o conhecimento e a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico da escola;
2 Os objetivos, os conteúdos e os processos avaliativos são articulados no planejamento e envolvem a participação dos diversos segmentos da comunidade escolar, materializando-se em situações concretas de aprendizagem em sala de aula;
3 O processo de ensino e aprendizagem é potencializado pela metodologia problematizadora, que localiza a(o) educadora(o) como condutor(a) do estudo da realidade, percorrendo as seguintes etapas: I) Levantamento de elementos da realidade; II) Problematização em sala de aula da realidade apresentada e dos conteúdos trabalhados; III) Teorização (estudos que possibilitem auxiliar a busca de repostas junto ao conhecimento científico); IV) Definição de hipóteses para solução das problemáticas estudadas; V) Proposições de ações de intervenção junto à comunidade;