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resumo sobre a psicanalise de acordo co Freud e Melanie Klein
Tipologia: Resumos
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organização cerebral humana e a dos répteis. A partir daí Freud, recorrendo à teoria de Charles Darwin sobre a evolução das espécies, inicia o esboço de seu questionamento da supremacia do homem sobre outros animais. Ao se apaixonar por Martha Bernays, desejando se casar com ela, seus escassos recursos monetários o levam a deixar o Laboratório e a trabalhar como médico interno no Hospital Geral de Viena, onde conhece Josef Breuer, especializado em moléstias nervosas, que lhe narra a história de uma paciente, Bertha Pappenheim - no prontuário médico “Fraulein Anna O.” – , que era considerada depressiva e hipocondríaca, distúrbios emocionais que naquele período eram conhecidos como ‘histeria’. Sob hipnose, ela revela a Breuer lembranças de sua infância, o que lhe provoca uma melhora emocional significativa após o transe. Este caso influencia intensamente as pesquisas de Freud, embora mais tarde ele abandone a hipnose ao descobrir o método da livre associação. Mas fica como herança para o pesquisador a ideia da cura pela fala e a reafirmação de sua crença nas motivações sexuais reprimidas, que provocariam os sintomas da histeria, embora Breuer não compartilhasse com Freud desta teoria de ordem sexual. Após algumas tentativas de trabalhar com a cocaína para obter os efeitos terapêuticos desejados, Freud se decepciona e vai para a França, depois de obter uma licença do Hospital, e lá toma contato com Charcot, psiquiatra francês que trabalhava no Hospital Psiquiátrico de Saltpêtriére. Ele também estudava a histeria. Assim, o criador da psicanálise retorna para Viena mais animado e passa a atender pacientes portadoras deste quadro histérico, em grande parte senhoras judias ainda jovens. Este tratamento consistia de massagem, repouso e hipnose. Suas teorias e técnicas foram sempre muito controversas na Viena desta época e Freud foi marginalizado por seus colegas durante muito tempo. Seu único parceiro neste período é Wilhelm Fliess. O psicanalista inicia então uma pesquisa sobre os sonhos, que servem de base para seu livro “A Interpretação dos Sonhos”. Com o foco centrado em si mesmo, ele cria o conceito de Complexo de Édipo, recorrendo à mitologia e à própria experiência com a mãe, por quem supostamente ele seria apaixonado quando era criança, desenvolvendo assim pela figura paterna uma certa agressividade. Este ponto se torna o centro de sua teoria sobre as causas da neurose. A princípio suas publicações não têm grande repercussão, mas logo vários médicos tornam-se seus discípulos, entre eles Carl Jung, que mais tarde romperia com seu mestre. Freud deixou para a Humanidade um grande legado, que engloba a revolução provocada pela descoberta do inconsciente, que ao lado das revelações de Copérnico e de
Darwin – primeiro, o Homem descobre que a Terra não é o centro do Universo, depois toma ciência de que tem um ancestral comum com os macacos, portanto não é o centro da Natureza – , retira das mãos do indivíduo seu último trunfo, o Ego não reina mais soberano na mente, pois há um vasto território nela que ele desconhece, e sobre o qual não tem o controle absoluto. Ou seja, grande parte das ações humanas são coordenadas pelo inconsciente, uma esfera que o homem mal conhece. Além de Breuer, Freud foi também influenciado por Platão e por Schopenhauer. Eles foram determinantes na criação da Psicanálise, teoria explicativa dos mecanismos que regem a mente do homem. Ela tem por objetivo explorar esse espaço tão pouco conhecido e assim tentar curar doenças de origem psíquica, sem causas orgânicas. Freud criou um método que tem por finalidade resgatar os traumas e choques sofridos em algum momento da vida, reprimidos no inconsciente. Através da verbalização, é possível trazer essas experiências à luz da consciência, possibilitando assim a cura. Freud mapeia a mente humana, criando as categorias de id, ego e superego. Freud teve seis filhos, entre eles Anna Freud, que também se tornaria uma famosa psicanalista. Durante o Nazismo, Freud, por ser de origem judia, teve que fugir para a Inglaterra, mas quatro de suas irmãs não tiveram a mesma sorte e acabaram mortas em um campo de concentração. Freud morre no dia 23 de setembro de 1939, vítima de câncer na mandíbula, depois de ser submetido a trinta e três cirurgias. Há a possibilidade de ter morrido de uma overdose de morfina, supostamente aplicada pelo seu médico, a seu pedido, pois sentia dores excessivas.
Percorremos os textos freudianos que trabalham a formalização do complexo de Édipo. A razão para isso reside no fato de que abordaremos as acepções de família, na teoria psicanalítica, pelo viés do complexo de Édipo. Portanto, necessitamos de uma compreensão clara deste conceito para, posteriormente, correlacionando-o à família, pontuar aí as relações entre o Édipo e o grupo familiar. Freud introduz, na teoria, a noção de complexo de Édipo através de uma releitura do mito de Sófocles. Destacamos como o complexo de Édipo freudiano vem a ser estruturante da família, realçando a importância da acepção da família na teoria psicanalítica.
clínica. Freud se utiliza do personagem Hamlet, de Shakespeare, para representar o sujeito culpado de seu inconsciente. Dessa forma, somando-o a Édipo, acrescenta-se ao complexo um neurótico paralisado por escrúpulos e remorsos. Esse fato aproxima Édipo dos fenômenos clínicos. Do ponto de vista do descentramento da subjetividade, inventada por Freud para pensar a família edipiana, a tragédia de Hamlet completa magnificamente a do rei de Tebas. Frente à decadência da vida familiar burguesa, Freud lança mão do complexo de Édipo para restaurar a família enquanto instituição, agora simbólica e inconsciente. A Lei do pai (simbólica) remete a um sujeito culpado de seu desejo (inconsciente). Completando a criação de seu complexo, Freud adiciona a Édipo (inconsciente) e Hamlet (culpa do desejo) os irmãos Karamazov (o assassinato do pai real) (Roudinesco, 2002).
Fonte:psicologiauni.blogspot.com.br
Questionando a morte do pai, Freud nos remete ao pai totêmico, primevo, devorador e criminoso, em sua grande obra Totem e Tabu (Freud, 1912-13/1980). Nela o autor torna o complexo de Édipo universal, por ligá-lo aos dois interditos fundamentais da cultura: a proibição de matar o pai e a proibição do incesto. Consequentemente, o poder na sociedade pode ser centrado em três imperativos: um ato fundador (morte do pai), necessidade da lei (punição) e renúncia ao despotismo do pai tirano da horda selvagem. Na evolução do indivíduo, esses três imperativos têm como consequência, três estágios: no período animista, onipotência e narcisismo infantil; na fase religiosa, poder divino e paterno e, finalmente, na época científica, o logos (Roudinesco 2002).
A família freudiana, tendo por base a culpa e a lei moral, fundamenta o desejo entre condições conflitantes de autoridade, rebeldia, crime e castigo. Essa nova concepção de família, do início do século XX, será capaz de lidar não só com o declínio da autoridade paterna, mas também com a emancipação da subjetividade, o que ela apresenta como seu cerne o amor, o desejo e a sexualidade, o que implica no reconhecimento do inconsciente e da própria subjetividade. O complexo de Édipo funda uma estrutura psíquica de parentesco que tem como centro a lei da aliança e da filiação. Amor e trabalho, Eros e Ananké fundam a cultura. Por submeter o sujeito à lei simbólica de um pai interiorizado e desvinculado da tirania patriarcal, a família leva o filho a entrar em conflito com ela mesma (Roudinesco, 2002). De acordo com Roudinesco (2002), admitindo a universalidade de uma estrutura edipiana de parentesco, Freud nos permite dar conta da natureza inconsciente das relações de ódio e de amor entre homens e mulheres, pais e filhos, ao rearranjar a ordem patriarcal em torno da questão do desejo. Dessa forma, transfere a antiga soberania patriárquica para uma nova ordem simbólica. E apesar de a psicanálise ter como esteio a crença de que o desejo é, ao mesmo tempo culpado e necessário ao homem e de que necessariamente é preciso sublimar para criar a civilização, Freud não desfez o vínculo entre desejo sexual e procriação e, dessa forma, não reconheceu a força de ruptura de sua teoria. Por outro lado, ele teoriza a passagem do filho-objeto para o filho-sujeito, permitindo a progressiva separação entre sexo e procriação, uma vez que o filho, enquanto sujeito, é desejante e, portanto, se guiará pela ética do desejo (Freud, 1929-30/1980).
Fonte:psicologiauni.blogspot.com.br
é a capacidade e tendência do indivíduo, de em determinadas linhas específicas de desenvolvimento, reagir de maneira específica a certos estímulos. No Complexo de Édipo, reparamos no sujeito a presença dessa herança. As reações da criança durante o Édipo não se apoiam apenas no que experimentaram, mas no modelo de um acontecimento filogenético que traz elementos arcaicos vinculados a experiências de gerações anteriores. Por isso, podemos isolar um tema central: os traços de memória de gerações anteriores. Para ingressar na herança arcaica como recordação, o acontecimento deve ser de grande importância, frequentemente repetido ou, ambas as hipóteses: um acontecimento de grande importância e frequentemente repetido. Contudo, o importante é despertar os traços de memória por uma repetição real. Tal reativação, levada a termo pelo Complexo de Édipo, aponta para a passagem do sensório ao intelectual, passo decisivo que indica também a passagem da natureza (sentidos) para a cultura (inteligência). No Complexo de Édipo, vivido na família, reedita-se a renúncia pulsional sob a pressão da autoridade paterna e, posteriormente, da instância que substitui e prolonga o pai: o supereu. Portanto, após a instalação da nova ordem (fraterna), inicia-se um desenvolvimento que tem como característica o retorno do recalcado. Os precipitados psíquicos (herança arcaica) do período primevo passam a ser propriedade herdada, o que em cada nova geração não exige a aquisição, mas apenas um despertar. Na criança, a ambivalência, que se constitui como parte essencial da relação com o pai, sustenta a hostilidade presente e desperta o crime primordial do pai totêmico, no sentido de apontar para as mesmas estruturas edipianas também presentes nas proibições de tabus totêmicos. Configurando, assim, a família totêmica como primórdio da família edípica, examinaremos agora a questão do tabu. O significado de tabu diverge em dois sentidos ambíguos: por um lado, significa sagrado, “consagrado” e, por outro, “misterioso”, “perigoso”, “proibido”. Como código de leis não-escrito mais antigo da humanidade, o tabu traz em si um sentido de algo inabordável, expresso em proibições e restrições. Frente a ele, os homens reagem ambiguamente: desejam violá-lo, mas temem fazê-lo. Portanto, a base do tabu é uma ação proibida para cuja realização existe forte inclinação inconsciente. Prevalece no tabu a ambivalência emocional entre desejo e proibição, o amor e a hostilidade. Logo, podemos afirmar que a consciência tabu é a forma mais remota do fenômeno da consciência. Freud (1912-1913/1980) afirma, sem qualquer distinção dos sentidos dos termos, que falar de uma consciência tabu ou, após um tabu ter sido violado, de um senso
de culpa ou consciência de culpa tabu. “A consciência tabu é provavelmente a forma mais remota em que o fenômeno da consciência é encontrado” (Freud, 1912-1913/1980, p.89). No tabu podemos observar a questão da consciência de culpa tanto na condição interna quanto em um ato pelo qual realizamos um determinado desejo. O senso de culpa não é menor se a violação ocorrer sem o conhecimento do sujeito ou mesmo contra sua intuição. Portanto, a proibição incide não apenas no ato, mas, muito mais, no desejo subjacente que, sendo inconsciente, obedece às leis de funcionamento do mesmo, entre elas a atemporalidade e a indestrutibilidade. Podemos notar como Freud, já nesses textos em que trabalha a família primeva, introduz dois conceitos fundamentais para o posterior desenvolvimento da teoria do Complexo de Édipo: o desejo e o inconsciente É importante ressaltar que em seu texto “Totem e Tabu” Freud, (1912-1913/1980) diferencia o sistema totêmico do familiar. O laço totêmico é mais forte que o da família, no sentido moderno. Os dois não coincidem, já que o totem é, via de regra, herdado pela linhagem feminina. E, o mais importante, as restrições do tabu proíbem os membros do mesmo clã de casar-se ou ter relações sexuais uns com os outros. Logo, inicialmente, as proibições incidiram sobre as relações incestuosas fraternais e com a mãe, e só posteriormente regulariam as relações dos filhos com o pai. O tabu do incesto é, portanto, uma proibição aos homens de fazer aquilo a que suas pulsões os inclinam, pois, já aquilo que a natureza proíbe, é supérfluo que a lei o faça. Logo, a proibição do incesto não deve ser entendida como uma medida de higiene e eugenia, mas como uma proibição que incide sobre o desejo. A fim de relacionar a família totêmica com a família atual, Freud (1912-1913/1980) nos remete à fobia de crianças, em que aparecem, em inversão, algumas características do totemismo, a identificação total do pai com o animal totêmico (fóbico) e a vivência emocional e ambivalente para com esse ancestral comum. O papel do totem é desempenhado pelo pai no complexo de castração e no complexo de Édipo (1924/1980), papel de um inimigo temível aos interesses sexuais da infância. As principais leis do totemismo – não matar o totem e não ter relações sexuais na mesma casa totêmica - coincidem com os dois crimes de Édipo, matar o pai e casar com a mãe. Portanto, o sistema totêmico é produto das mesmas condições presentes no complexo de Édipo. Ele possibilitará um pacto entre o pai, que se comprometia a proteger e cuidar da prole, e os filhos, que prometiam o respeito à vida do pai. Além disso, a proibição do incesto é o que permitiria, por intermédio da renúncia pulsional, o acesso à civilização.
Fonte:www5.usp.br
4 O COMPLEXO DE ÉDIPO
Em suas cartas a Fliees, Freud já menciona a questão do Complexo de Édipo. Na carta 57 (Freud, 1987-1980), Freud comunica a Fliees o lugar do pai no “romance familiar” da histérica: (...) nos pacientes histéricos, reconheço o pai por trás de seus elevados padrões referentes ao amor, de sua humildade para com o amante, ou da sua incapacidade de casar, porque seus ideais não são satisfeitos. Naturalmente, o fundamento disso é a altura a partir da qual um pai olha com superioridade para o filho (p. 333).
Inicialmente relacionado apenas à paranoia, o conceito de romance familiar é estendido aos neuróticos em geral, principalmente em seu artigo, Romances Familiares (Freud, 1909/ 1980). Mas encontramos, na carta 71 (Freud 1897/1980), uma descrição mais cuidadosa das relações entre a criança e seus pais. Freud afirma considerar um evento universal, do início da infância, a paixão pela mãe e o ciúme do pai como vivência mais precoce no caso das crianças que desenvolveram a neurose histérica. Menciona, pela primeira vez, o mito grego de Édipo: “Sendo assim, podemos entender a força avassaladora de Oedipus-Rex, apesar de todos as objeções levantados pela razão contra pressuposição do destino” (Freud, 1897/1980, p.365).
Freud acentua a universalidade do mito grego ao afirmar que a compulsão captada por Édipo é reconhecida por toda pessoa, porque sente sua presença dentro de si, temendo a realização do sonho edípico e, portanto, repetimos a citação de Freud: Cada pessoa da plateia foi um dia, em germe ou na fantasia, exatamente um Édipo como esse, e cada qual recua, horrorizada, diante da realização de sonho aqui transposta para a realidade com toda a carga de recalcamento que separa seu estado infantil de seu estado atual (Freud, 1897/1980, p. 112).
Freud adiciona, então, o herói shakespeariano, Hamlet, mostrando que na base dessa trama se encontra a história de Édipo. Justifica a impossibilidade de Hamlet vingar o pai assassinado pelo seu tio, devido ao tormento de que padece com a lembrança de que ele próprio planejou matar o pai, por causa da paixão pela mãe. Porém, para entender como Freud desenvolveu o conceito de complexo de Édipo, e, concomitantemente, a acepção de família, é necessário acompanhar sua progressiva construção da teoria da sexualidade. No texto, Moral Sexual Civilizada e Doença Nervosa Moderna (Freud, 1908/1980), encontramos a relação da sexualidade com a civilização, mais especificamente com a repressão nociva da vida sexual e com a moral sexual civilizada que a rege. Podemos, portanto, considerar já, desde aí, o fator sexual como causa das neuroses, sejam as neuroses propriamente ditas ou psiconeuroses. Nossa civilização se sustenta sobre a supressão das pulsões, sendo as sexuais as mais vigorosamente desenvolvidas, como também as mais constantes, e as que colocam à disposição da cultura uma extraordinária quantidade de energia. Além disso, essas pulsões apresentam grande capacidade de sublimação, ou seja, de trocar seu objeto sexual original por outro, não mais sexual, mas psiquicamente relacionado ao primeiro, o que libera grande possibilidade de deslocamento de energia sexual para fins culturais. Logo, para Freud, a civilização é construída à custa da sexualidade (Freud, 1908/1980). Considerando a evolução da pulsão sexual, do autoerotismo ao genital, passando pelo objetal, Freud destaca, em sua época, a existência de três estádios que dizem respeito à sexualidade: um primeiro, no qual a pulsão sexual pode manifestar-se livremente; um segundo, no qual a pulsão sexual é suprimida, exceto quando serve à procriação; e o terceiro, que corresponderia à moral sexual civilizada atual, com exceção do primeiro estádio o da pulsão sexual liberada, o indivíduo, devido a sua organização, encontra dificuldades maiores ou menores para responder à exigência de recalque da pulsão sexual. No terceiro estádio, o da moral sexual civilizada atual, em que observamos a exigência de abstenção sexual até o casamento, é possível afirmar que a maioria dos
É claro que temos de levar em conta que as pressões da educação e a variável intensidade da pulsão sexual produzem grandes mudanças individuais no comportamento sexual da criança e, sobretudo, influenciam a época do reaparecimento do interesse sexual da mesma. Mas, sem dúvida, tal interesse sofre um incremento com a experiência próxima do nascimento de um bebê. Como para a criança suas lembranças mais antigas já incluem um pai e uma mãe, ela aceita a existência destes como uma realidade indiscutível; mas, com a entrada de um irmãozinho, a perda, realmente experimentada ou temida, dos carinhos dos pais, e o pressentimento de que, de agora em diante, terá sempre que compartilhar seus bens, atenção e carinho com o recém-chegado despertam suas emoções e aguçam sua capacidade de pensamento (Freud, 1908-1980). O centro dessa primeira preocupação, que leva a criança a refletir sobre a vida, é a pergunta: ‘De onde vêm os bebês’? – indagação cuja forma original certamente era De onde vem esse bebê intrometido?’ (Freud, 1908/1980, pág. 216). Para responder essa pergunta, que para a criança é uma questão de vida, ela utiliza não só a observação do comportamento e a fala dos adultos, como de seu corpo e de suas emoções para formular uma resposta. A conclusão só poderia ser uma: que os bebês crescem no interior do corpo da mãe. O novo enigma com o qual a criança se defronta é Como vão os bebês parar dentro do corpo da mãe? A criança percebe que o pai tem algo a ver com esse fato, mas sua própria sexualidade indica também que o pênis está presente nessa questão, pois na constituição sexual da criança, o pênis é a principal zona erógena e o mais importante objeto sexual auto erótico. Desse fato advêm as mais variadas teorias sexuais, desde a mutilação fálica das mulheres, até o ato sexual dos pais, que é encarado como uma agressão do pai para com a mãe. Se não existe órgão sexual feminino, a mãe tanto incorpora o pênis pela boca ou ânus, quanto pare a criança pelo ânus (Freud, 1908-1980). Outra questão, indiretamente, associada com o insolúvel problema da origem dos bebês também requer das crianças teorias que lhes respondam à questão da natureza e do conteúdo do casamento. A maioria das ideias infantis veem no casamento uma promessa de prazer obtido pela ausência de pudor nas relações sexuais do casal. Finalmente, Freud nos indica que os conhecimentos que as crianças adquirem dessa forma são na maior parte corretos, porém as revelações que trocam entre si são frequentemente mescladas com ideias falsas e resíduos de teorias sexuais infantis anteriores (Freud, 1908/1980, p. 109).
A essas fantasias imaginárias acerca da sexualidade soma-se, concomitantemente, o que Freud chamou de romance familiar. Nos primeiros anos da vida familiar, a criança tem como principal desejo igualar-se aos pais, que são idealizados por ela. Com o crescimento e o desenvolvimento intelectual, passa a desmitificar tal ideal e opor-se a ela. Esse resultado de oposição tem a contribuição dos impulsos mais intensos da rivalidade sexual, que aparece em fantasias de adoção, sentimentos referentes a uma suposta negligência, ciúmes fraterno. Porém, nesse momento, evidencia-se a influência do sexo, pois, no menino existe maior tendência a sentir impulsos hostis contra o pai, com maior desejo de libertar-se dele (Freud, 1908-1980). Esse momento de afastamento dos pais pode ser descrito no romance familiar do neurótico, raramente lembrado conscientemente, contudo, presente no mundo fantasmático dos indivíduos. Essa atividade imaginativa emerge no brincar da criança e, posteriormente, no período da puberdade, nos devaneios que constituem uma realização de desejo, como também uma retificação da vida real. São dois os objetivos principais desses devaneios: um erótico e um ambicioso. Para alcançá-los, a criança precisa substituir seus pais, não- idealizados, por outros, em geral de elevada posição social. Normalmente, isso ocorre em uma época em que a criança ainda ignora os determinantes sexuais da procriação. Numa segunda fase do Édipo, quando é entendido o ato sexual, o romance familiar passa a ter uma curiosa restrição. Contenta-se em exaltar o pai. Nesse estádio sexual do romance familiar, a criança tende a se imaginar em relações e situações eróticas, respondendo a um desejo de colocar a mãe em situações de infidelidade, somando esse novo desejo ao de vingança e retaliação presentes no estádio anterior. Se estiverem presentes outros interesses, como, por exemplo, o desejo por uma irmã, estes podem determinar o curso do romance familiar, já que sua multiplicidade de formas permite-lhe satisfazer toda uma série de requisitos. Entretanto, sob esses sentimentos hostis de infidelidade e ingratidão, a criança conserva a antiga afeição por seus pais. Examinando o mais comum desses romances, o de substituição dos pais por indivíduos de melhor situação, ver-se-á que a criança atribui a esses novos e aristocráticos pais qualidades que se originam de recordações reais de seus pais mais humildes e verdadeiros. A criança traz do passado o pai nobre e forte, e a mãe mais linda e amável. Portanto, ela dá as costas ao pai real do presente para voltar-se ao pai dos seus primeiros anos. Importante notar que assim como para o complexo de Édipo, também nas teorias sexuais infantis e no romance familiar, Freud sempre estabelece o contraponto da realidade como
Parece que já era meu destino preocupar-me tão somente com abutres; pois guardo como uma das minhas primeiras recordações que, estando em meu berço, um abutre desceu sobre mim, abriu-me a boca com sua cauda e com ela, fustigou-me repetidas vezes os lábios. (Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua infância apud Freud, (11910/1980, pág. 97, Den Dulk et al). Através dessa recordação de Leonardo, Freud analisa as lembranças inteligíveis da infância e as fantasias que delas resultam, concluindo: O nosso objetivo, ao analisar uma fantasia da infância, é separar o elemento mnemônico real, que ela contém, dos motivos posteriores que o modificam e o distorcem (Freud, 1910/1980, p. 84). Aqui, encontramos- nos em um ponto conclusivo, no caminho percorrido por Freud, para a construção do conceito de complexo de Édipo. Passamos pelas teorias sexuais infantis, que têm como contribuição as ideias das crianças sobre a sexualidade e o casamento, somamos a elas as fantasias sobre a família, contidas nos romances familiares e, por fim, adicionamos a valiosa contribuição das lembranças advindas das recordações da infância, para entendermos como a realidade familiar é expressa através da realidade psíquica. Acompanhamos, anteriormente, a construção por Freud, da teoria da sexualidade, visando, assim, à teorização do complexo de Édipo e, portanto, da família. Agora, percorreremos os textos que versam sobre a escolha de objeto sexual e a genitalidade infantil. Ressaltaremos as diferentes maneiras de vivência do complexo de Édipo. Daremos continuidade ao nosso trabalho de pontuação das relações entre os conceitos estudados (complexo de Édipo) e o conceito de família. É no texto: “Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens (contribuições à Psicologia do amor I) que Freud (1910 / 1980) utiliza, pela primeira vez, o nome Complexo de Édipo. Nele, Freud demonstra que a escolha de objeto de amor tem como origem o complexo de Édipo e as relações familiares da criança com o pai e a mãe: (...) Ele começa a desejar a mãe para si mesmo, no sentido com o qual, há pouco, acabou de se inteirar, e odiar, de nova forma, o pai como um rival que impede esse desejo; passa, como dizemos, ao controle do “Complexo de Édipo” (Freud, 1910/1980, p. 154). Exatamente para falar sobre esse “desejo” da criança, Freud (1910/1980) discute tipos de escolhas de objetos de amor que se caracterizam por serem desconcertantes em suas precondições. A primeira dessas pré-condições é a de que deva existir uma terceira pessoa prejudicada, ou seja, o marido da mulher amada. A outra pré-condição aparece, geralmente, em conjunção com a primeira: a mulher deve ter reputação moral duvidosa ou ser prostituta.
Ambas fornecem, respectivamente, oportunidade para a rivalidade e o ciúme, e também trazem, em sua estrutura de funcionamento, a situação triangular já vivida pelo indivíduo em sua infância. Em exemplos muito claros, o amante não aparenta qualquer desejo de exclusividade e sente-se, perfeitamente, à vontade na situação triangular. As características deste tipo de escolha de objeto são sua natureza compulsiva, que tem, como resultado, a formação de uma extensa série desses relacionamentos e a ânsia de salvar a mulher amada (Freud, 1910 / 1980). Essa estranha escolha de objeto, essa maneira tão diferente de se comportar no amor, também os amores ditos normais, têm sua origem no complexo de Édipo, advêm do protótipo de objeto infantil, a mãe, que detém a libido a ela ligada, imprimindo, no objeto de amor do indivíduo, caracteres ternos, transformando-os em substitutos reconhecíveis da mãe (Freud, 1910 /1980). Freud (1910 / 1980) nos indica que, na primeira pré-condição, isto é, quando uma terceira pessoa é prejudicada, no funcionamento triangular da escolha do objeto, emerge a vivência amorosa com a mãe. A criança cresce no círculo familiar, em que o pai e a mãe são únicos e insubstituíveis, o que traz, como consequência a supervalorização da pessoa amada e leva o indivíduo a considerá-la única, fazendo, desses objetos amorosos, uma série infindável. É, simplesmente, porque o objeto amoroso sendo substituto não satisfaz, por não conseguir produzir a satisfação procurada pela substituição da mãe, primeiro objeto-alvo do desejo. Mezan (1991), em Freud: A Trama dos Conceitos, fala da importância deste texto freudiano (Um Tipo Especial de Escolha de Objeto Feita Pelos Homens): A temática recebe um novo impulso com o artigo de 1910, sobre um tipo especial de escolha de objeto no homem (Mezan, 1991, p. 191.). E, comentando sobre a importância do texto na construção teórica do complexo de Édipo, Mezan (1991) acrescenta:
Este texto introduz o termo “complexo de Édipo” e o relaciona explicitamente com a puberdade. Freud escreve que as revelações sexuais, que situamos nos anos imediatamente anteriores à puberdade, despertam no menino as recordações de suas impressões e desejos infantis mais precoces, reanimando consequentemente determinados impulsos psíquicos (Mezan, 1991, p. 192).
Assim, como ressaltamos, a sistematização do conceito de complexo de Édipo por Freud passa pelos romances familiares, como também pelas teorias sexuais infantis, fantasias e lembranças da infância. Mezan também comenta: Assim, vemos como elementos