Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Steven Pinker - O instinto da linguagem [completo], Notas de estudo de Psicologia

Versão completa em pdf, incluindo páginas 384, 385, 498 e 499.

Tipologia: Notas de estudo

2015

Compartilhado em 26/11/2015

danilo-freire-soncin-1
danilo-freire-soncin-1 🇧🇷

4.8

(37)

1 documento

1 / 611

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a
pf4b
pf4c
pf4d
pf4e
pf4f
pf50
pf51
pf52
pf53
pf54
pf55
pf56
pf57
pf58
pf59
pf5a
pf5b
pf5c
pf5d
pf5e
pf5f
pf60
pf61
pf62
pf63
pf64

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Steven Pinker - O instinto da linguagem [completo] e outras Notas de estudo em PDF para Psicologia, somente na Docsity!

STEVEN PINKER O instinto da linguagem Como a mente cria a linguagem TRADUÇÃO CLAUDIA BERLINER Revisão TÉCNICA CyntrA LEVART ZOCEA Martins Fontes São Paulo 2004 Eva er foi publicada origimalmente em ig THE LANGUAGE INSTINCT. Copyrighr O [94 br Steven Pinker Copyright 6 2002, Livraria Morris Fontes Edo faia, São Paulo, para a presene edição s com o título E edição cbrit de 2002 tiragem Junho ele 2004 Tradução CLAUDIA BEERLINER Revisto técnica Coml Levart Zacca Revista gráfica dit Sentino Mario Luca Fraver Produção gráfica Geraldo alves Puginação!Fotolitos Studio 3 Desemalvimento Editariat Tradas Tnternaciemis de Catato (Câmara Bras ão na Publicação (CEP) do Livre, SP, Brasi) Pinkes, Sueven, 1954- O instinto da lingungom Stovon Pink; tr cota a mente cria a Ti fução Claudia Berliner Loca Zeca, — São Paulo : Martins Fom revisão céenica Cymubia 2002. “Títuta original: Tl Jangunpe instine, Eibliograli. ISBN 85-396.1549:3 | Riotingtstica 2, Linguagem 3, Lingifstica E Título, q2-1528 cDD-4to ndices para catálogo sistemáticas 1 Linguagem 406 Todos os direitos desta edição para o Brasil reservados à Livraria Martins Fontes Editora Ltda. Rua Conselheiro Ramalho, 330:340 (11325-000 São Pauto SP tgrasil Tel. (11) 3241.3577 Fax (11) 3105.6867 e-mail: infoimartinsfontes.com.br. frp:stmnmartinsfontes.com br ÍNDICE Prefácio + 1 1. Um instinto para adquirir uma arte + 5 2. Tagarelas «19 3, Mentalês + 59 4, Como a linguagem funciona + 95 5. Palavras, palavras, palavras « 151 6. Os sons do silêncio + 195 7. Cabeças falantes + 241 8. A Torre de Babel + 293 9, Bebê nasce falando — Descreve céu » 333 10. Órgãos da linguagem e genes da gramática + 379 II. O Big Bang + 425 12. Os craques da língua « 477 13. O design da mente « 523 Notas + 559 Referências bibliográficas « 577 Glossário » 605 Índice remissivo « 617 PREFÁCIO Nunca conheci alguém que não se interessasse por linguagem. Escrevi este livro para tentar satisfazer essa curiosidade. A lingua- gem começou a ser submetida ao único tipo de compreensão sa- Lisfatório, aquela que chamamos de ciência, mas essa notícia foi mantida em segredo. Ao amante da linguagem, espero conseguir mostrar que existe um mundo preciso c rico na fala cotidiana que vai muito além das curiosidades locai; sutis de uso. de etimologias, palavras incomuns e exemplos Ao leitor leigo interessado em ciência, espero conseguir expli- car o que está por trás das recentes descobertas (ou, em muitos casos, não-descobertas) noticiadas pela imprensa: estruturas pro- fundas universais, bebês inteligentes, genes da gramática, compu- tadores com inteligência artificial, redes neurais, chimpanzés que se expressam por sinais, homens de Neanderthal que falam, sá- bios idiotas, crianças selvagens, lesões cerebrais paradoxais, gêmeos idênticos separados ao nascer, imagens colotidas do cérebro pen- sando e a busca da mãe de todas as línguas. Também espero poder responder à muitas das perguntas que surgem naturalmente quan- do se pensa em línguas: por que existem tantas, por que os adtl- tos têm tanta dificuldade para aprendê-las e por que parece que ninguém sabe o plural de Hilkman. LO instinto da linguagem | Aos estudantes que desconhecem a ciência da linguagem e da mente, ou pio, que estão sobrecarregados com a memorização dos efeitos da frequência de palavras sobre o tempo de resposta das decisões lexicais ou as questões sutis do Princípio das Cate- gorias Vazias, espero poder transmitir a intensa agitação intelec- tual que o moderno estudo da linguagem desencadeou várias dé- cadas atrás. Aos meus cole s de profissão, dispersos entre tantas disci- plinas e estudando tantos tópicos aparentemente desconexos, es- pero poder oferecer algo que se assemelhe a uma integração des- se vasto território. Embora eu seja um pesquisador obsessivo que não gosta de acordos insípidos que embaralham as questões, mui- tas das controvérsias acadêmicas me lembram cegos apalpando um elefante. Se minha síntese pessoal parece abraçar os dois lados de debates como “formalismo versus funcionalismo” ou “sinta- xe versus semântica versus pragmática”, talvez seja porque, para começo de conversa, essas questões nunca existiram. Ao público leitor de não-ficção, interessado em linguagem e seres humanos no mais amplo sentido dos termos, espero poder oferecer algo diferente dos chavões afetados — Linguagem Light — que caracterizam as discussões sobre linguagem no campo das ciências humanas (geralmente propostas por pessoas que nunca estudaram o assunto). Seja como for, só posso escrever de uma única manei- ra, com paixão por idéias possantes e explicativas, e uma torrente de detalhes relevantes. Dado este meu hábito, tenho sorte de estar expondo um tema cujos princípios subjazem aos jogos de pala- vtas, à poesia, retórica, espirituosidade e à escrita refinada. Não he- sitei em exibir meus exemplos favoritos de linguagem em ação ex- traídos da cultura pop. de crianças e adultos comuns, dos estudio- sos mais bombásricos do meu campo e de alguns dos melhores es- critores de língua inglesa, Este livro destina se, portanto, a todos os que utilizam a lin- q guagem, ou seja, a todos! DO instinto da linguagem | Virginia Valian e Heather Van der Lely. Um último obrigado para Aka Levenson do Colégio Bialik por sua ajuda com o latim. Não posso deixar de reconhecer com alegria a especial atenção de John Brockman, meu agente, Ravi Mirchandani, meu editor na Penguin Books, e Maria Guamaschelli, minha editora na William Morrow; os sábios e detalhados conselhos de Maria melhoraram muito a versão final do manuscrito. Katarina Rice revisou meus dois primeiros livros, e fiquei muito feliz quando ela aceitou meu pedido de trabalhar comigo neste, sobretudo no que se refere a al- gumas coisas que digo no Capítulo I2. Minha pesquisa sobre linguagem foi financiada pelos Natio- nal Institutes of [Health (protocolo HD 18387), pela National Science Foundation (protocolo BNS 91-09766) e pelo Centro MeDonnell.Pew de Neurociências Cognitivas no MIT. Um instinto para adquirir uma arte 1 Ao Jer estas palavras, você estará participando de uma das maravilhas do mundo natural. Porque você e eu pertencemos a uma espécie com uma capacidade notável: podemos moldar eventos nos cérebros uns dos outros com primorosa precisão. Não me tefixo a telepatia, controle da mente ou tantas outras obsessões das ciências alternativas; mesmo quando descritos por aqueles que acreditam nisso, estes são instrumentos grosseiros se compa- tados com uma habilidade incontestavelmente presente em cada um de nós. Essa habilidade é a linguagem. Por meio de simples ruídos produzidos por nossas bocas, podemos fazer com que combinações de idéias novas e precisas surjam na mente do outro. É uma habilidade tão narural que costumamos esquecer que é um milagre. Portanto, permita-me lembrá-lo disso com algumas de- monstrações simples. Basta pedir-lhe que abandone sua imagina- ção às minhas palavras por alguns instantes, para fazer com que você pense em idéias muito específicas: Quando um polvo macho localiza ima fêmea, seu corpo normal- mente cinzento torna-se subitamente listrado. Ele nada por cima da fêmea e começa a acariciá-la com sete de seus braços. Se ela aceita essa cavícia, ele rapidamente se aproxima dela e enfia seu oitavo bra- [Um instinto para adquirir uma arte | Mas uma raça de Robinson Crusoés não impressionaria muito um observador extraterrestre. O que realmente comove quando se trata de nossa espécie fica mais claro na história da Torre de Ba- bel, em que os homens, falando uma única língua, chegaram tão perto de alcançar o céu que Deus sentiu-se ameaçado. Uma língua comum une os membros de uma comunidade numa rede de troca de informações extremamente poderosa. Todos podem beneficiar se das sacadas dos gênios, dos acidentes da fortuna e da sabedoria oriunda de tentativ: s e erros acumulados por qualeuer um, no presente ou no passado. E as pessoas podem trabalhar em equipe, coordenando seus esforços por meio de acordos negociados. Con- segiientemente, o Homo sapiens é uma espécie, como a alga verde e a minhoca, que operou profundas mudanças no planeta. Arqueó- logos descobriram ossos de dez mil cavalos selvagens na base de um penhasco na França, restos de manadas atiradas do alto do pe- nhasco por grupos de caçadores paleolíticos dezessete mil anos atrás. Esses fósseis de uma antiga cooperação e de uma engenho- sidade compartilhada talvez possam esclatecer por que tigres de dente-de-sabre, mastodontes, gigantescos rinocerontes peludos e dezenas de outros grandes mamiferos foram extintos mais ou me- nos na mesma época em que os humanos chegaram aos seus hábi- tacs. Aparentemente, nossos ancestrais os mataram. A linguagem está tão intimamente entrelaçada com a experiên- cia humana que é quase impossível imaginar vida sem ela. É muito provável que, se você encontrar duas ou mais pessoas juntas em. qualquer parte da Terra, elas logo estarão trocando palavras. Quan- do as pes oas não têm ninguém com quem conversar, falam sozi- nhas, com seus cães, até mesmo com suas plantas. Nas nossas rela- ções sociais, o que ganha não é a força fisica mas o verbo — o ora- dor elogiente, o sedutor de língua de prata, a criança persuasiva que impõe sua vontade contra um pai mais musculoso, A afasia, que é a perda da linguagem em consequência de uma lesão cere- bral, é devastadora, e, em casos graves, os membros da família che- gam a sentir que é a própria pessoa que foi perdida para sempre. LO instinto da linguagem | Este livro trata da linguagem humana. Diferentemente de vá- rios Jivros que levam “língua” ou “linguagem” no título, ele não vai repreendê-lo sobre o uso apropriado da lingua, procurar as ori- gens das expressões idiomáticas e da gíria, ou diverti-lo com pa- lindromos, anagramas, epônimos ou aqueles adoráveis nomes para coletivos de animais como “exaltação de cotovias”!. Pois não es- crevo sobre o tdioma inglês ou qualquer outro idioma, mas sobre algo bem mats básico: o instinto para aprender, falar e compreen- der a linguagem. Pela primeira vez na história temos o que escre- ver a esse respeito. Há uns trinta e cinco anos nasceu uma nova ciência, agora denominada “ciência cognitiva”, que reúne ferra- mentas da psicologia, da ciência da computação, da lingistica, fi- losofia é neurobiologia para explicar o funcionamento da inteli- gência humana. Desde então, assistiu-se a espetaculares avanços da ciência da linguagem, em particular. Há muitos fenômenos da linguagem que estamos começando a compreender tão bem como compreendemos o funcionamento de uma máquina fotográfica ou para que serve o baço, Espero conseguir transmitir essas fasci- nantes descobertas, algumas delas tão simples e precisas como qualquer outra coisa na ciência moderna, mas tenho também um segundo objetivo. A recente elucidação das faculdades lingúist ções revolucionárias para nossa compreensão da linguagem e seu papel nos assuntos humanos, e para nossa própria concepção da s tem implica- humanidade, Muitas pessoas cultas já têm opiniões sobre a lin- guagem, Sabem que é a invenção cultural mais importante do ho- mem, o exemplo quintessencial de sua capacidade de usar simbo- los, e um acontecimento sem precedentes em termos biológicos, que o separa definitivamente dos outros animais. Sabem que a lin- guagem impregna o pensamento, e que as diferentes línguas levam 1. Referência ao lioro de James Liptom, An Exaltati ef Larks Fbe Ulbimane Elision, cel Penmgain, que é uma coletânea de coletivos de animais. (N. da 1) LO instinto da linguagem | mo “instinto”, Ele transmite a idéia de que as pessoas sabem falar mais ou menos da mesma maneira que as aranhas sabem tecer teias. À capacidade de tecer teias não foi inventada por alguma aranha genial não reconhecida e não depende de receber a educação ade- quada ou de ter aptidão para arquitetura ou negócios imobiliá- rios. Às atanhas tecem teias porque têm cérebro de aranha, o que as impele a tecer e lhes dá competência para fazê-lo com sucesso. Embora haja diferenças entre teias e palavras, proponho que você veja a linguagem dessa maneira, porque isso ajuda a entender os fenômenos que vamos explorar. Pensar a linguagem como um instinto inverte a sabedoria po- pular, especialmente da forma como foi aceita nos cânones das ciências'bumanas c sociais, À Jinguagem não é uma invenção cul- tural, assim como tampouco a postura ereta o é. Não é uma ma- nifestação da capacidade geral de usar simbolos: como veremos, uma criança de três anos é um gênio gramatical, mas é bastante incompetente em termos de artes visuais, iconografia religiosa, si- nais de trânsito e outros itens básicos do currículo de semiótica. Embora a linguagem seja uma habilidade magnífica exclusiva do Homo sapiens entre as espécies vivas, isso não implica que o estudo dos seres humanos deva ser retirado do campo da biologia, pois existem outras habilidades magníficas exclusivas de uma espécie viva em particular no reino animal, Alguns tipos de motcegos cap- turam insetos voadores usando um sonar Doppler. Alguns tipos de aves migratórias viajam milhares de quilômetros comparando as posições das constelações com as horas do dia e épocas do ano. No show de talentos da natureza, somos apenas uma espécie de primatas com nosso próprio espetáculo, um jeito todo especial de comunicar informação sobre quem fez o que para quem modu- lando os sons que produzimos quando expiramos. A partir do momento em que você começa a considerar a lin- guagem não como a inefável essência da singularidade humana, mas como uma adaptação biológica para transmitir informação, 1 Um instinto para adquirir uma arte | deixa de ser tentador ver a linguagem como um insídioso forma- dor de pensamentos, e, como veremos, ela não é isso. Além disso, o fato de ver a linguagem como uma das maravilhas da engenharia da natureza — um órgão com “aguela perfeição de estrutura e de co-adaptação que, com razão, desperta nossa admiração”, nas pa- lavras de Darwin — inspira em nós um novo respeito pelo José de cada esquina e pela tão difamada língua inglesa (ou qualquer ou- tra língua). Do ponto de vista do cientista, a complexidade da lin- guagem é parte de nossa herança biológica inata; não é algo que os pais ensinam aos filhos ou algo que tenha de ser elaborado na escola — como disse Oscar Wilde: “Educação é algo admirável, mas é bom lembrar de vez em quando que nada que vale a pena saber pode ser ensinado” O conhecimento tácito de gramática de uma criança em idade pré-escolar é mais sofisticado que o mais volumoso mantial de estilo ou o mais moderno sistema de lingua- gem de computador, e o mesmo se aplica a qualquer ser humano saudável, até mesmo o atleta profissional conhecido por seus er- ros de linguagem e o, sabe, tipo, skatista adolescente inarticulado. Por fim, como a linguagem é produto de um instinto biológico bem planejado, veremos que ela não é o ridículo grupo de maca- cos sugerido pelos colunistas de espetáculos de variedades. Tenta- rei devolver alguma dignidade ao vernáculo inglês, e terei inclusi- ve algumas belas coisas a dizer sobre seu sistema de ortografia. A idéia da linguagem como um tipo de instinto foi concebida pela primeira vez em 1871 pelo próprio Darwin. Em The Descent of Man ele teve de enfrentar a linguagem, pois o fato de ela se restrin- gir aos seres humanos parecia desafiar sua teoria. Como sempre, suas observações são estranhamente modernas: Como... am dos fundadores da nobre ciência da filologia observou, '; Das a escrita teria a linguagem é uma arte, como fermentar ou a sido uma comparação melhor. Ela decerto não é um verdadeiro ins- tinto, pois toda língua tem de ser aprendida. Contudo, difere muito MH | Ua instinto para adquirir uma arte | revestida dessa forma perfeita, feita para ser amada por todo o sem- pre de modo tão palpável e evidente!” E é isso, provavelmente, que todo animal sente em relação a cer tas cois s que ele tende a fazer em presença de certos objetos... Para o leão, é a leoa que foi feita para ser amada; para o urso, a ursa. É muito provável que a galinha choca considerasse monstruosa a idéia de que baja alguma criatura no mundo para quem um ninho cheio de ovos não fosse o objeto mais fascinante, mais precioso de todos c so- bre o qual nunca-é-demais-sentar-em-cima, como é para ela, Podemos portanto estar certos de que, por mais misteriosos que alguns dos instintos animais nos pareçam, nossos instintos decerto não parecem menos misteriosos para eles. E podemos concluir que, para o animal que a ele obedece, cada impulso e cada etapa de cada instinto brilha com sua própria luz, e a cada momento parece ser a única coisa eternamente correra e apropriada a fazer. Que sensação voluptuosa não deve percorrer a mosca quando ela por fim descobre aquela folha particular, ou carniça, ou porção de esterco, que entre todas no mundo estimula seu ovipositor a eliminar os ovos? Nesse momento, essa eliminação não deve lhe parecer a única coisa a ser feita? E será que ela precisa se preocupar ou saber algo a respeito da futura Jara e seu alimento? Não consigo pensar numa melhor exposição de meu principal objetivo, O funcionamento da linguagem está tão distante de nos- sa consciência quanto os fundamentos lógicos da postura de ovos para a mosca, Nossos pensamentos saem de nossa boca com tan- ta naturalidade que muitas vezes nos constrangem, quando elu- dem nossos censores mentais. Quando compreendemos as frases, o fluxo de palavras é transparente; entendemos o sentido de mo- do tão automático que podemos esquecer que um filme é falado numa língua estrangeira e está legendado. Acreditamos que as crianças aprendem a língua materna imitando a mãe, mas quando uma criança diz E se sentei! ou Fu não cabo aí dentro certamente não é uma imitação, Quero transmitit-lhe conhecimentos que perver- LO instinto da linguagem | tam sua mente ao ponto de esses dons naturais parecerem estra- nhos, para que você se pergunte os “porquês” e “comos” dessas ca- pacidades aparentemente familiares. Observe um imigrante lutan- do para dominar uma segunda língua ou um paciente que sofreu uma lesão cerebral lutando com sua língua materna, ou descons- trua um fragmento de fala infantil, ou tente programar um com- putador para compreender inglês, e a fala corrente começará a ser ráter vista de outra maneira. À naturalidade, a transparência, o c automático são ilusões, que escondem um sistema de grande ri- queza e beleza. No século 20, a tese mais famosa de gue a linguagem é como um instinto foi elaborada por Noam Chomsky, o primeiro lin- gúista a' revelar a complexidade do sistema e talvez o maior tes- ponsável pela moderna revolução na ciência cognitiva e na ciência da linguagem. Na década de S0, as ciências sociais eram domina- das pelo behaviorismo, a escola de pensamento divulgada por John Watson e B, [+ Skinner. Termos mentais como “saber” e “pensar” eram rotulados de nã científicos; “mente” e “inato” eram palavrões. O comportamento cra explicado por algumas poucas leis de apren- dizagem por estímulo-resposta que podiam ser estudadas por meio de ratos que apertavam barras e cães que salivavam ao som de campainhas. Mas Chomsky chamou a atenção para dois fatos fun- damentais sobre a linguagem. Em primeiro lugar, cada frase que uma pessoa enuncia ou compreende é virtualmente uma nova combinação de palavras, que aparece pela primeira vez na história do universo, Por isso, uma língua não pode ser um repertório de respostas; o cérebro deve conter uma receita ou programa que consegue construir um conjunto ilimitado de frases a partir de uma lista finita de palavras. Esse programa pode ser denominado gramática mental (que não deve ser confundida com “gramáti- cas” pedagógicas ou estilísticas, que são apenas guias para a ele- gância da prosa escrita). O segundo fato fundamental é que as crianças desenvolvem essas gramáticas complexas rapidamente e