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Guias e Dicas
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Tese sobre Justino Martir, Teses (TCC) de História

Tese sobre Justino de Martir um ícone da historia da igreja antiga.

Tipologia: Teses (TCC)

2020

Compartilhado em 10/03/2020

fernando-marinho-alves-8
fernando-marinho-alves-8 🇧🇷

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL DAS RELAÇÕES
POLÍTICAS
JUAN PABLO SENA PERA
O ANTIJUDAÍSMO DE JUSTINO MÁRTIR NO DIÁLOGO
COM TRIFÃO
VITÓRIA
2009
JUAN PABLO SENA PERA
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Baixe Tese sobre Justino Martir e outras Teses (TCC) em PDF para História, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL DAS RELAÇÕES

POLÍTICAS

JUAN PABLO SENA PERA

O ANTIJUDAÍSMO DE JUSTINO MÁRTIR NO DIÁLOGO

COM TRIFÃO

VITÓRIA

JUAN PABLO SENA PERA

Livros Grátis

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(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)

S474^ Sena Pera, Juan Pablo, 1978- a Pablo Sena Pera. – 2009.^ O anti-judaísmo de Justino Mártir no diálogo com Trifão / Juan 138 f.

Orientador: Gilvan Ventura da Silva. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Humanas e Naturais. Identidade. 5. Estigmatização. I. Silva, Gilvan Ventura da. II.^ 1. Justino, Mártir, Santo. 2. Cristianismo. 3. Judaísmo. 4. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de CiênciasHumanas e Naturais. III. Título. CDU: 93/

JUAN PABLO SENA PERA

O ANTIJUDAÍSMO DE JUSTINO MÁRTIR NO DIÁLOGO

COM TRIFÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas,da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em História Social das Relações Políticas.

Aprovada em ------- de ---------- de 2009

COMISSÃO EXAMINADORA

__________________________________________

**Prof. Dr. Gilvan Ventura da Silva Universidade Federal do Espírito Santo Orientador


Prof. Dr. Ivan Esperança Rocha Universidade Estadual Paulista,- SP** campus de Assis

**__________________________________________ Prof. Dr. Marcos Antônio Farias de Azevedo Faculdade Unida de Vitória


Prof. Dr. Sergio Alberto Feldman Universidade Federal do Espírito Santo**

Tecer agradecimentos quando da conclusão de um trabalho de pesquisa é uma tarefa ingrata. Não há como escapar do constrangimento de esquecer de mencionar alguém que nos tenha ajudado a concluir o percurso. Entretanto, convém mencionar aqui nossa sincera gratidão às seguintes pessoas:

ao Prof. Dr. Gilvan Ventura da Silva, que muito gentilmente se dispôs a orientar um aspirante a mestrando que “caiu de pára-quedas” na História, e nos ensinou um pouco do ofício de historiador, o que o fez com grande sapiência e paciência;

ao Prof. Dr. Marcos Antonio Farias de Azevedo, nosso pastor e amigo, que nos franqueou amplo acesso à sua respeitável biblioteca particular, sem a qual a pesquisa teria se revelado muito mais árdua;

ao nosso amigo Elimário Jussim Júnior, acadêmico do Curso de Letras desta instituição, pelas noites passadas em claro debatendo as conclusões à medida que a pesquisa progredia, além de revisar a parte textual;

ao nosso pai, Carlo Pera, pelo total e irrestrito apoio em todos os momentos; à nossa irmã Carla Francesca Sena Pera e seu companheiro, o Prof. Lucio “Manga” pelo incentivo a buscar o Mestrado em História;

a Bárbara, pela compreensão pelo tempo que lhe foi tirado; ao Deus de Abraão, Moisés, Jesus, Paulo e Justino, fonte de toda vida e inspiração.

RESUMO

Esta dissertação objetiva identificar as linhas mestras que se opõem ao judaísmo no corpo da obra Diálogo com Trifão , de Justino Mártir, a partir da metodologia engendrada por Norbert Elias, em Os Estabelecidos e os Outsiders. Em conseqüência, pretende retificar o estatuto da obra do filósofo cristão, pretendido por muitos estudiosos como proselitista, tomando-a documento formativo da identidade cristã e de sua dissociação do judaísmo. Para isso, o presente texto investiga e revista o aspecto sócio-cultural e político que deu origem ao cristianismo, o período do judaísmo do Segundo Templo, considerando as ponderações e dicotomias daí resultantes como propiciadoras, no seio da comunidade judaica, à ruptura manifesta na ascensão e disseminação do cristianismo na Roma do século II.

Palavras-chaves: cristianismo; judaísmo; identidade; Justino Mártir; estigmatização.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

1 O CONFLITO JUDAICO-CRISTÃO EM PAULO E JUSTINO 17

O JUDAÍSMO E SUAS MÚLTIPLAS CORRENTES NO SÉCULO I D.C. 22

O MINISTÉRIO DE JESUS 26

PAULO DE TARSO E A CONVERSÃO DOS GENTIOS 30

OS PRIMEIROS CONFLITOS JUDAICO-CRISTÃOS E O CONCÍLIO DE

JERUSALÉM

VIDA E OBRA DE JUSTINO MÁRTIR

O CONTEXTO HISTÓRICO DO DIÁLOGO E SEUS DESTINATÁRIOS

JUSTINO E A MANIPULAÇÃO DA BÍBLIA HEBRAICA

2 A APOCALÍPTICA BÍBLICA E A NOMIA CRISTÃ 60

A APOCALÍPTICA, NOMIA JUDAICA E O MOVIMENTO DE JESUS 60

A APOCALÍPTICA E SUAS FUNÇÕES NUMA SOCIEDADE EM CRISE 66

O MESSIANISMO COMO FUNDAMENTO DA NOMIA CRISTÃ 69

A LEI EM JUSTINO, FATOR DE IDENTIDADE CRISTÃ 73

3 ABRAÃO E O VERUS ISRAEL ENTRE PAULO A JUSTINO

PAULO E A LINHAGEM DE ABRAÃO

ABRAÃO COMO O PAI DA FÉ PARA OS CRISTÃOS 102

JUSTINO E A IMAGEM DO VERUS ISRAEL 108

CONCLUSÃO 121

REFERÊNCIAS 127

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa de mestrado se propôs a analisar a relação entre o judaísmo e o cristianismo no século II. Os pilares sobre os quais construímos nosso trabalho foram os processos de estigmatização e diferenciação entre as duas religiões citadas, com destaque para a representação dos judeus nos meios cristãos que proporcionaram a criação de uma identidade religiosa cristã a partir da negação da validade do judaísmo, conforme se depreende da análise da obra Diálogo com Trifão do filósofo e apologista cristão Justino Mártir. O presente estudo se faz relevante dada a virtual inexistência de obras na historiografia nacional dedicadas a estudar a contribuição de Justino para a criação de uma identidade religiosa e eclesial cristã por meio de sua obra Diálogo com Trifão. Apenas na produção acadêmica estrangeira encontramos estudos que enfocam, de modo restrito, o presente tema. A fim de analisar historicamente o papel pretendido por Justino com seu Diálogo , buscamos contextualizar a obra dentro do cristianismo normativo. Para obter tal enquadramento histórico, sentimos a necessidade de relatar e analisar as condições históricas que possibilitaram o surgimento do movimento de Jesus e da fé cristã. Entretanto, isso nos remeteu ao desenvolvimento do judaísmo do Segundo Templo, ao qual pertence o grupo de Jesus. A seguir, narramos criticamente o surgimento das primeiras comunidades cristãs e sua divisão nos dois blocos identitários preponderantes, a saber, o judeu-cristianismo e o cristianismo gentílico. Dando prosseguimento à nossa investigação, identificamos os pontos de atrito que geraram intolerância mútua e posterior separação entre o judaísmo e o cristianismo. A seguir, apresentamos Justino Mártir inserido em seu devido contexto, dentro do cristianismo gentílico; a saber, os

mundo e seus valores sociais. Para tanto, foi necessário identificar e localizar os pontos de atrito entre os grupos (Chartier, 1988, p. 17). O instrumental teórico se justifica, uma vez que, pelos parâmetros da Nova História Cultural, também chamada História Cultural do Social, o primeiro passo para a construção da identidade de um determinado grupo social é a representação de si mesmo, pela diferenciação em relação aos demais. A diferenciação é necessária para destacar e valorizar as características comuns de um dado agrupamento humano (Tadeu da Silva, 2000, p. 76). Segundo Simon Harrison (1999, p. 239), os grupos étnicos e religiosos fazem essa diferenciação, essencial à sua identidade, muitas vezes devido a semelhanças mútuas, consideradas inaceitáveis a ambos. Exemplo disso é a disputa pela filiação abraâmica e pelo cumprimento das profecias vétero-testamentárias entre judeus e cristãos. O processo de formação da identidade social prossegue com a estigmatização, que se dá pela imputação de rótulos lisonjeiros ou depreciativos. Por meio de tais estereótipos, os agrupamentos sociais se representam como os possuidores da norma moral a ser seguida, ao mesmo tempo em que discriminam os demais como socialmente inferiores. A rotulação é uma poderosa ferramenta simbólica, pois desempenha grande eficácia prática, tanto para afirmar a hegemonia de um grupo, quanto para enfraquecer a resistência dos discriminados (Elias, 2000, p. 20-27). Por tudo o que foi verificado, há uma relação entre os conceitos de representação e identidade, já que se entende o conceito de identidade como a forma que os grupos sociais interpretam e representam a realidade que os circundam. Perante uma realidade social em constante mutação, faz-se necessário enfrentar o aparente caos, fornecendo às comunidades uma linha-mestra tanto para o presente quanto para o futuro. Portanto, são criadas novas identidades por meio da

reinterpretação das tradições, para se produzir não a imagem do que o grupo já é, mas daquilo que se deseja que seja (Silva, 2005, p. 18). Isto se deve ao fato de que, por mais que se pretenda atrelar as identidades a um passado remoto, estas não passam de criações referentes a um tempo e um espaço específicos. É, pois, dever dos historiadores delimitar as circunstâncias que possibilitam a enunciação de um discurso desta natureza, conforme proposto pelos adeptos da compreensão não essencialista da identidade (Woodward in Tadeu da Silva, 2000, p. 12). Na pesquisa também foram utilizados os conceitos de nomia e anomia, criados Emile Durkheim e desenvolvidos por Norbert Elias e John L. Scotson. Em suas obras, Durkheim ensina que o homem não pode viver a não ser em harmonia com seu meio, sendo que é a sociedade quem impõe os limites de convivência ao exercer um poder moderador das condutas. A anomia é, pois, a crise, o desregramento das condutas individuais em relação à norma social geral (Durkheim, 2002, p. 7). Elias e Scotson, por sua vez, pregam que grupos sociais antigos e coesos tendem a desenvolver seus próprios valores e regras de conduta, ao se estabelecerem como a “boa sociedade”, e ao reivindicarem a sujeição dos seus membros ao comportamento oficialmente aprovado. A obediência a esse conjunto de normas sociais caracteriza a nomia. Por outro lado, os grupos sociais de constituição mais recente costumam não apresentar o grau de coesão interna necessário para criação de um corpo de valores e normas sociais aceitos pelo grupo; e por não se submeterem às suas normas, também não se inserem no grupo antigo. Essa falta de conformidade com as normas socialmente aceitas possibilita a estigmatização dos indivíduos não- conformistas e dos grupos mais recentes pelos grupos mais antigos, uma vez que estes consideram aqueles anômicos (Elias, 2000, p. 25).

documental comumente aceita pelas comunidades cristãs eram apenas as Escrituras hebraicas. O diferencial entre os outsiders da cidade de Winston Parva descritos na obra de Elias e Scotson, e aqueles do judeu-cristianismo do século II está no fato de, ao contrário dos habitantes do loteamento no estudo de Elias, os cristãos do tempo de Justino já terem iniciado um processo de desenvolvimento progressivo de sua própria coesão interna, na qual os cristãos de origem gentílica, isto é, não-judaica, se tornaram proeminentes nas congregações ao assumir os cargos de liderança eclesiástica. Assim, a partir de determinado momento, as comunidades cristãs iniciaram o desenvolvimento de uma hierarquia formal e coesa, com o objetivo de organizar as congregações cristãs, diferenciá-las e separá-las do judaísmo. A fim de concretizar esse propósito, a hierarquia cristã e seus teólogos estigmatizaram e expulsaram de suas congregações os judeu-cristãos e os demais grupos discordantes. Neste estágio, os cristãos passaram a contra-estigmatizar os judeus que não aceitavam a messianidade de Cristo. Para explicitarmos corretamente o discurso ideológico cristão embutido nas páginas do Diálogo , procedemos à análise das palavras-chave contidas na obra estudada, categorizando-as dentro dos conceitos de nomia e anomia. Além disso, a inserção de tais palavras no discurso foi mediada pela compreensão do contexto de sua produção nos textos sagrados judaicos, e o uso feito por Justino em seu Diálogo. Em seguida, esboçamos, com base na análise realizada, as relações de poder implícitas no texto que circunscrevem o paradigma tido como nômico, e que implicam, aos judeus, a condição de anômicos. Tais tensões, refletidas na caracterização do judeu médio feita por Justino , foram analisadas a fim de se determinar a importância do Diálogo com Trifão na consolidação da identidade cristã.

A presente dissertação se encontra dividida nas seguintes seções: Introdução , três capítulos ; uma conclusão geral; um apêndice e as referências bibliográficas consultadas. Os três capítulos se encontram estruturados da seguinte forma: o primeiro deles, chamado O conflito judaico-cristão em Paulo e Justino , discorre sobre a situação histórica na qual se encontrava o judaísmo do Segundo Templo no século I da Era Cristã; o ministério de Jesus, o que podemos considerar como conhecimento histórico concreto das narrativas bíblicas a seu respeito e o conceito de universalismo religioso. E seguida, apresentamos ao leitor a figura de Paulo de Tarso e sua peculiar compreensão da mensagem cristã, assim como os atritos que ela gerou no seio judaico-cristão. Discorremos ainda sobre uma tentativa de conciliação das visões conflitantes no assim chamado Concílio de Jerusalém descrito em Atos 15_._ No capítulo seguinte, nomeado A apocalíptica bíblica e a nomia cristã , discutimos a audiência pretendida por Justino para seu Diálogo por meio da explanação das inconsistências textuais e sociais das hipóteses contrárias à nossa. Mas o foco do capítulo foi o relevante papel da literatura apocalíptica na manutenção da nomia sócio- religiosa judaica em tempos de grave desagregação da identidade étnica. Analisamos ainda o papel do messianismo dentro da cosmovisão particular aos apocalipsistas, e como esse messianismo se tornou o próprio esteio da pregação e identidade cristãs. Em seguida, analisamos a maneira como Justino se apropriou das tradições apocalípticas inscritas na Bíblia para, por meio delas, reivindicar o status de nômica à prática cristã de rechaçar a parte ritual da Lei mosaica. No terceiro capítulo, interpretamos a teologia de Paulo sobre como inserir os gentios incircuncisos, porém crentes em Jesus, nas promessas divinas feitas a Abraão por meio do selo da circuncisão. Tal investigação do pensamento paulino se fez

1 O CONFLITO JUDAICO-CRISTÃO EM PAULO E JUSTINO

A fim de alcançar a exata dimensão da importância do filósofo e apologista cristão Justino Mártir no processo de separação entre o judaísmo e o cristianismo, em curso no século II d.C., faz-se necessário, primeiro, traçar em linhas gerais a organização sócio-religiosa do judaísmo no período do Segundo Templo (538 a.C – d.C.) com suas principais correntes religiosas. Ao se fazer isso, será possível compreender historicamente o ambiente político e cultural que propiciou o surgimento do movimento de Jesus de Nazaré, a constituição das primeiras comunidades cristãs, sua divisão em diferentes vertentes, e, por fim, o surgimento de Justino Mártir e qual o papel desempenhado por ele na construção do cristianismo como uma religião apartada do judaísmo, de onde a fé cristã surgiu. O acontecimento que serve de marco inicial para a série de eventos que resultaram no judaísmo rabínico e cristianismo gentílico, isto é, não judaico, enquanto duas religiões apartadas e independentes, é o retorno dos judeus do exílio imposto pelo Império Babilônico em (586 a.C.) após a conquista deste pelos persas. Em 538 a.C., Ciro, o persa, emite um decreto permitindo o retorno a sua terra aos judeus que assim desejassem (Scardelai, 2008, p. 82). O Império Persa também permitiu aos povos por ele subjugados, que retomassem suas práticas religiosas tradicionais. Assim, o Templo de Jerusalém, que havia sido destruído pelos babilônios, foi reconstruído sob a direção do comissário civil Zorobabel e do sumo sacerdote Josué entre 520-515 a.C. (Gottwald, 1988, p. 404). A situação dos judeus mantém-se estável até a conquista pelo Império Macedônico de Alexandre Magno, cuja vitória definitiva sobre os persas se deu na batalha de Gaugamela, na Mesopotâmia setentrional, em 331 a.C. Não muito tempo

depois (323 a.C.), Alexandre morre prematuramente sem deixar herdeiros. Seguem-se cerca de vinte anos de lutas entre os principais generais de Alexandre, com o conseqüente esfacelamento do Império Macedônico. Nesses embates, a província de Judá é conquistada por Ptolomeu, que já havia se apoderado do Egito. Em 198 a.C., Judá passa para o controle de Antíoco III, da dinastia selêucida, que confirma a Lei de Moisés como o estatuto jurídico e religioso dos judeus. Seu sucessor, Antíoco IV, a fim de arrecadar fundos para o Império Selêucida, leiloou o cargo de sumo-sacerdote judeu, que foi arrematado por judeus partidários de reformas religiosas com base no helenismo. Contando com o apoio militar de Antíoco, os sumo-sacerdotes tentaram implementar um programa de helenização da população judaica. Para alcançar esse objetivo, adotaram, entre outras medidas, a proibição da circuncisão, a principal marca etnoreligiosa hebraica; sincretizaram Javé com Zeus, para quem foi rededicado o altar do Templo, transformaram Jerusalém numa polis ao estilo grego, com seus habitantes designados “antioquenos de Jerusalém” e construíram um ginásio a fim de propagar a cultura helenista na cidade (Gottwald, 1988, p. 416). Tais medidas, implementadas pela aristocracia sacerdotal judaica com o apoio de Antíoco, foram abominadas pela massa da população. Não tardou para que se iniciasse uma guerra de guerrilha visando a combater a helenização forçada_._ A rebelião se iniciou na zona rural, sob a liderança do sacerdote Matatias e seus filhos João, Simão, Judas, Eleazar e Jonâtas. Matatias morreu em combate e foi sucedido por Judas, que se tornou o mais famoso e influente líder guerrilheiro, cognominado Macabeu (o martelador). Após a morte em combate de Judas, a revolta passou a ser liderada por seus irmãos, que também se tornaram conhecidos como Macabeus. Antíoco IV Epífanes morreu durante o decurso da guerra. Pressões internas e disputas sucessórias forçaram os Selêucidas a recuarem em seu projeto de helenizar a Judéia. Em 164 a.C., os Selêucidas finalmente