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titulo do documento artigo, Resumos de Física

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Tipologia: Resumos

2025

Compartilhado em 11/07/2025

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Evolução Histórica dos Conceitos da Física Prof. Cássio C. Laranjeiras
1
A Crítica Medieval à Dimica Aristotélica
tima Regina Rodrigues Évora
(Centro de Lógica, epistemologia e História da Ciência da Unicamp)
Num primeiro momento os eruditos medievais dedicaram-se à reconstrução
do pensamento dos antigos. A interpretação e a crítica, com algumas
excessões,
só vieram anos mais tarde com os escolásticos. Entre estas exces-
sões destaca-se a
crítica à dinâmica de Aristóteles feita, no início da Idade
Média, pelo cristão
neoplatônico Philoponus de Alexandria (século VI)
1
.
Philoponus parece ter sido o primeiro medieval a sustentar que a causa
do
movimento violento (tal como o movimento de projéteis) não pode ser
o meio,
como é previsto pela dinâmica aristotélica, segundo a qual todo movimento local,
natural ou vio lento, é regido por uma mesma lei, de acordo
com a qual, a
velocidade (v) de um corpo que se move em uma dada distân
cia é proporcional à
razão entre a força motriz (F) em contato direto com o
corpo móvel, e a resistência
ou densidade do meio ( R) ou, numa notação
moderna:
1
Devemos notar que algumas panes da dinâmica de Aristóteles haviam sido criticadas na
Grécia antiga, por exemplo, por Hipparchos (séc. II A. C.) e Plutarchos
(50-125).
Hipparchos,
segundo Simplicius, opôs-se à visão aristotélica do movimento de
projéteis, declarando que no
caso dos projéteis "arremessados para cima é a força pró-
jetora que é a causa do movimento para
cima, já que a força projetora domina a ten
dência para baixo dos projéteis, e que na medida em
que esta força projetora predomi
na, o objeto move-se mais rapidamente para cima; então
quando a força diminui: 1) o
movimento para cima continua, mas não na mesma proporção, 2) o
corpo move-se
para baixo sob a influência de seu impulso interno, embora a forca original subsista
em alguma medida, e 3) como esta força continua a diminuir o objeto move-se para baixo mais
rapidamente, e mais rapidamente quando esta força estiver inteiramente perdida"
(SIMPLICIUS.
Commentary on Aristotle's De Caelo 264.20-267.6 (Heiberg) apud
COHEN, M. R. &,
DRABKIN, I.E./4 SourceBook in Greek . .. p. 209).
Uma teoria similar é utilizada por Hipparchos para explicar o movimento dos
corpos que caem
"diz que [continua Simplicius] a força que os segura permanece com eles até certo ponto, e este é
o fator restringente que responde peio movimento
mais lento junto ao início da queda"
{SIMPLICIUS, apud COHEN, M.R. &.
DRABKIN, l.E.A Source Book.. . p. 209).
Simplicius, como vemos, parece indicar que em Hipparchos já existia a ideia de
que alguma coisa
se mantém no objeto, ao longo de seu movimento, que é responsável
por este movimento.
Sobre Plutarchos ver: EMILE MEYERSON. Identité et Réalité. 5
ª
éditbn. Paris,
J. Vrin, 1951,
pp. 114-119 e pp. 526-529.
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A Crítica Medieval à Dinâmica Aristotélica

Fátima Regina Rodrigues Évora

(Centro de Lógica, epistemologia e História da Ciência da Unicamp)

Num primeiro momento os eruditos medievais dedicaram-se à reconstrução

do pensamento dos antigos. A interpretação e a crítica, com algumas excessões,

só vieram anos mais tarde com os escolásticos. Entre estas exces-sões destaca-se a

crítica à dinâmica de Aristóteles feita, no início da Idade Média, pelo cristão

neoplatônico Philoponus de Alexandria (século VI)

1 .

Philoponus parece ter sido o primeiro medieval a sustentar que a causa do

movimento violento (tal como o movimento de projéteis) não pode ser o meio,

como é previsto pela dinâmica aristotélica, segundo a qual todo movimento local,

natural ou vio lento, é regido por uma mesma lei, de acordo com a qual, a

velocidade (v) de um corpo que se move em uma dada distância é proporcional à

razão entre a força motriz (F) em contato direto com o corpo móvel, e a resistência

ou densidade do meio ( R ) ou, numa notação moderna:

1 Devemos notar que algumas panes da dinâmica de Aristóteles já haviam sido criticadas na Grécia antiga, por exemplo, por Hipparchos (séc. II A. C.) e Plutarchos (50-125). Hipparchos, segundo Simplicius, opôs-se à visão aristotélica do movimento de projéteis, declarando que no caso dos projéteis "arremessados para cima é a força pró-jetora que é a causa do movimento para cima, já que a força projetora domina a tendência para baixo dos projéteis, e que na medida em que esta força projetora predomina, o objeto move-se mais rapidamente para cima; então quando a força diminui: 1) o movimento para cima continua, mas não na mesma proporção, 2) o corpo move-se para baixo sob a influência de seu impulso interno, embora a forca original subsista em alguma medida, e 3) como esta força continua a diminuir o objeto move-se para baixo mais rapidamente, e mais rapidamente quando esta força estiver inteiramente perdida" (SIMPLICIUS. Commentary on Aristotle's De Caelo 264.20-267.6 (Heiberg) apud COHEN, M. R. &, DRABKIN, I.E./4 SourceBook in Greek. .. p. 209).

Uma teoria similar é utilizada por Hipparchos para explicar o movimento dos corpos que caem

"diz que [continua Simplicius] a força que os segura permanece com eles até certo ponto, e este é

o fator restringente que responde peio movimento mais lento junto ao início da queda"

{SIMPLICIUS, apud COHEN, M.R. &. DRABKIN, l.E.A Source Book... p. 209).

Simplicius, como vemos, parece indicar que em Hipparchos já existia a ideia de que alguma coisa

se mantém no objeto, ao longo de seu movimento, que é responsável por este movimento.

Sobre Plutarchos ver: EMILE MEYERSON. Identité et Réalité. 5

ª éditbn. Paris, J. Vrin, 1951,

pp. 114-119 e pp. 526-529.

F

v R

A força motriz é, para a dinâmica aristotélica, a causa de todos os

movimentos. Cessada a ação que ela exerce sobre o corpo em movimento, cessa o

movimento, já que "tudo que é movido deve ser movido (segundo Aristóteles) por

algo" (AR IST., Physica, 24 1

b

  1. : cessante causa cessat effectus.

"... Todas as coisas [afirma Aristóteles] cujo movimento é violento

e não - natural são movidas por algo, e algo diferente delas próprias,

e todas as coisas cujo movimento é natural são movidos por algo —

tanto aquelas que são movidas por si [por exemplo os animais] como

aquelas que não são movidas por si (por exemplo as coisas leves e

pesadas, que são movidas ou por aquilo que produziu a coisa como

tal e a fez leve ou pesada, ou por aquib que liberta o que estava

impedindo ou prendendo)"

Assim, no caso do movimento natural dos objetos inanimados terres-

tres (movimento de queda livre) a força motriz é identificada com o peso (que

mede a tendência interna de um corpo pesado a mover-se para o centro do

Universo). Quanto ao movimento violento (tal como o lançamento de uma flecha

ou pedra horizontalmente ou verticalmente para cima), no início a força projetora

é identificada a F. Depois que os projéteis não estão mais em contato direto com

o motor que os lançou, para que seu movimento se mantenha, é necessário uma

força contínua em contato com eles. Aristóteles postula que

"o motor em tais casos move algo mais ao mesmo tempo, que os

que lança.. ., isto é, move também o ar, e que este ao ser movido é

também um motor"

3 .

O movimento violento é também discutido por Aristóteles no livro IV da

Physica onde ele afirma que: os projéteis são movidos adiante mesmo depois que

aquilo que deu a eles seu impulso não esteja mais os tocando, ou 1) pela razão da

2 Aristóteles. Physica, livro VII, 255b, 30-35. 3 Aristóteles. Physica, 266b, 30.

traseira e toma o lugar da flecha ou pedra, e estando então atrás ele

empurra-a adiante, o processo continua até o impetus do projétil se

exaurir, ou, 2) não é o ar empurrado à frente, mas o ar dos lados que

toma o lugar do projétil.

"Deixe-nos supor [continua Philoponus) que antiperistasis ocorre

de acordo com o primeiro método indicado acima... Sobre esta

suposição seria difícil dizer o que é (uma vez que parece na~b

haver forca contrária) que faz o ar, uma vez empurrado adiante,

mover-se de votta, isto é, ao tango dos lados da flecha, e depois

alcançar a traseira da flecha, voltando uma vez mais e

empurrando a flecha adiante. Pois, nesta teoria, o ar em questão

deve realizar três movimentos distintos: ele deve ser empurrado

para frente pela flecha, então mover-se para atrás, e finalmente

voltar e continuar para freme uma vez mais. Todavia o ar é

facilmente movido, e uma vez colocado em movimento atravessa

uma distância considerável. Como então, pode o ar, empurrado

pela flecha, deixar de mover-se na direcão do impulso impresso,

mas em lugar disso, virar, como por algum comando, e retracar

seu curso? Além disso, como pode este ar, ao virar, evitar de ser

disperso no espaço, mas colidir precisamente sobre o entalhe

final da flecha e novamente empurrar a flecha adiante e presa a

ele? Tal visão é inteiramente inacreditável e chega a ser

fantástica"

5 .

Além da explicação pela antiperistasis, Aristóteles, como vimos, apresenta

uma outra explicação para o movimento de projéteis, de acordo com a qual o ar

tendo sido empurrado, por exemplo, junto com a flecha lançada, empurra-a

adiante com um movimento mais rápido do que o movimento natural da flecha

para o seu lugar natural.

"Esta explicação [argumenta Philoponus] embora aparentemente

mais plausível, realmente não é diferente da primeira explicação

pela antiperistasis, e a seguinte refutação aplicar-se-á também à

explicação pela antiperistasis"

6 .

5 PHILOPONUS, I. Commentary on Aristotele's Physics. pp. 639.3-642.9 (Vitelli). Apud

COHEN, M.R. & DRABKIN, I.E. A Sowce Book in Greek Science. pp. 221-222.

6 PHILOPONUS, l. Commentary on Arístotele's Physics. pp. 639.3-642.9 (Vitelli). Apud

COHEN, M.R. & DRABKIN, E.A SourceBook. .. p. 222.

Esta refutação de Philoponus está baseada no fato de que se uma flecha

lançada pela força move-se, em uma direcão contrária à sua direcão natural,

empurrada pelo ar que ela tem atrás de si, então:

"seria possível sem o contato [da pedra com a mão, ou da corda do

arco com a flecha] colocar a flecha no topo de uma vara, como ela

está sobre uma linha fina, e colocar a pedra em uma situação

similar, e então, com inúmeras máquinas, pôr uma grande

quantidade de ar em movimento atrás destes corpos. Agora é

evidente que quanto maior for a quantidade de ar movido e

quanto maior for a força com que ele é movido, mais este ar

empurraria a flecha ou pedra, e mais longe ele as atiraria. Mas o

fato é que, ainda que você coloque a flecha ou pedra sobre uma

linha ou ponto completamente destituído de espessura e ponha

em movimento todo o ar detrás dos projéteis com toda força

possível, o projétil não se moveria a uma distância de um único

côvado"

7 .

Uma vez que Philoponus nega a ideia aristotélica de que o meio produz

tanto a força motriz quanto a resistência do movimento violento, fez-se

necessário encontrar outra explicação para o movimento de pro-jéteis.

Philoponus fez isso postulando uma força motriz (ou impressora) incorpórea:

"... é necessário supor que alguma força motriz incorpórea seja cedida

peb propulsor ao projétil, e que o ar, se estiver presente no

movimento, ou não contribui de forma alguma ou então muito pouco

para este movimento de projétil”

8 .

Essa força motriz incorpórea, segundo Philoponus, não é uma coisa de

natureza permanente, mas desaparece gradualmente, até mesmo no vácuo.

Esta diminuição se dá devido a uma dupla resistência: uma primeira devido ao

meio, e outra devido à tendência do corpo pesado para o seu lugar natural.

7 PHILOPONUS, l. Commentary on Aristotele's Physics. apud COHEN, M.R., & DRABKIN,

E.A Source Book... p. 223.

8 Idem, p. 217.

no vácuo são advogadas, no século XII, pelo árabe espanhol Avempace (1106-

"Philoponus e Avempace seguiram Platão ao procurarem as n ature

zás e causas reais dos fenômenos não na experiência imediata, mas

em f ato r es abstraídos pela razão a partir da experiência"

10 .

Os principais pontos em questão entre a teoria do movimento de

Aristóteles e a teoria neoplatônica defendida por Philoponus e Avempace, como

nota Crombie, foram levantados por Averrões ( 1126 - 1198), ao determinar as

principais linhas do debate presente no início do século XIII na Europa Ocidental.

Averrões se opõe à teoria do movimento de Avempace e a toda a concepção de

"natureza" na qual ela está baseada.

Contudo, a visão de Avempace foi defendida por vários escolásticos, sendo

Santo Tomás de Aquino (1225-1274) o primeiro e mais importante

11 , seguido de

Roger Bacon e Peter Olivi (a esse respeito ver: Crombie, A. C Augustine to Gatileo

II. p. 71-72).

A partir do final do século XIII e do começo do século XIV, vários

comentaristas unem-se a Aristóteles e Averrões contra Tomás de Aquino e

Avempace; iniciando-se aquele que foi um dos debates mais importantes neste

período, a saber: a discussão em torno do movimento.

"A teoria de Philoponus [afirma Crombie] foi apontada por alguns

eruditos, notadamente porOuhem, como a origem de certas concepções

medievais que foram admitidas, por sua vez, como tendo dado origem à

10 CROMBIE, A.C. Augustineto to Galileo. vol. II, p. 68.

Uma vez que a concepção de movimento no vácuo tornou-se plausível, "começou-se a pensar em

termos ideais, mais em movimentos hipoteticamente desobstruídos (embora não observáveis) do

que em movimentos diretameme observáveis, porém complicados, retardados e obstruídos pelo

meio" URITAN, R.A. Medieval Sdence, the Copemican revolulion and physics teaching.

American Journal of Physics. 42(10): 812, oct., 1974.

11 É importante notar que Tomás de Aquino aceitava os princípios essenciais da física de Aristóteles e

sua cosmologia. O principal ponto de oposição de Aquino a Aristóteles é o determinismo absoluto

deste último.

moderna concepção de inércia, que foi a base da revolução na

dinâmica do século X V I I ”

12

Porém existe certa controvérsia sobre a influência da "teoria da força

motriz incorpórea" de Philoponus sobre a "teoria da força motriz", que se

tornou amplamente aceita no século X I V e que foi posteriormente elaborada

por Jean Buridan (13007-1358) sob o nome de "teoria do impetus". Isso porque

os escritos de Philoponus sobre este tema só se tornaram conhecidos em 1535,

numa versão grega, e em 1542. Em latim — embora em 1217, Michel Scot

tenha apresentado no seu Liber Astroiiomiae uma tradução abreviada da

teoria de Avicena, que contém sua teoria da "força motriz".

"Diante da evidência disponível, Dr. Maier conclui [afirma

Crombie] que a 'teoria da força motriz' e a do impetus que a

sucedeu no século XIV, foram desenvolvidas

independentemente petas escolásticos, principalmente através

de suas discussões da causalidade instrumental na reprodução e

nos sacramentos"

13 .

Seja como for, as teses de Philoponus sobre a possibilidade do vácuo,

sobre o movimento no vácuo, e sua oposição à máxima aristotélica de que o ar

12 CROMBIE, A.C. Augustine to Galileo, vol. II, p. 66. Para uma discussão detalhada da influência da teoria de Philoponus e Avempace no futuro desenvolvimento da visão inércia l de Galiteo, que se opõe à visão anti-inercial de Aristóteles, e de algumas das ideias deste item, particularmente aquelas presentes no debate Aristóteles e Averrffes contra T. de Aquino e Avempace ver, além dos textos de Crombie e Uritan já citados: ALAIN FRANKLIN, The Principie of Inertia in the Middle Age. (Colorado: Colorado Associated University Press, 1976); ERNEST, A. Moody. Galileo and Avempace, Journal of lhe History of Ideas. 12 (1951). pp. 163-193; e EDWARD GRANT. Motion in the Void and The Principie of Inertia in the Middle Ages, his, 55 (1964) pp. 265-292.

13 CROMBIE, A.C. Augustine to Galileo, vol. II, p. 74.

Esta visão é compartilhada por M. Clavelin, que afirma: "É quase certo que Buridan não

estava familiarizado com os argumentos de Philoponus. Contudo no começo do século XIV. ..

Francisco de Marchie põe em evidência uma tese que embora não se opusesse,

completamente, à de Aristóteles, era um pressagio da de Buridan". CLAVELIN, M. The

Natural Philosophy of Galileo. Trans. A. J. Pomerans (Cambridge: The M. T. l. Press, 1974) p.

que não há um motor mas muitos. Portanto ele conclui, também, que

o movimento não é continuo mas consiste de sucessivas ou contíguas

entidades"

14

Buridan considera este método e opinião tão impossível quanto o método da

antiperistasis. Isto porque este método também não explica as experiências que

Buridan apresenta como falseadores do método da antiperistasis.

"Assim [conclui Buridan] nós podemos e devemos dizer que em uma

pedra ou em outro projétil há algo impresso que é a força motriz

(virtus motiva) daquele projétil. E isto é evidentemente melhor do que

recorrer à afirmação que o ar continua a mover aquele projétil. Pois o

ar parece mais resistir. Portanto, parece-me que deve ser dito que o

motor, ao mover um corpo móvel, imprime um certo ímpeto (impetus)

ou uma certa forca motriz (vis motiva) ao corpo móvel no qual age o

impetus] na direção para a qual o motor estava movendo o corpo

móvel, para cima ou para baixo ou lateralmente o u circularmente.

Quanto mais rapidamente o motor mover aquele corpo móvel, mais

forte será o impetus que ele lhe imprimirá. Ë por esse impetus que a

pedra é movida depois que o atirador para de movê-la. Porém esse

impetus é continuamente reduzido pela resistência do ar e pela

gravidade da pedra, que a inclina em umadireção contrária àquela à

qual o impetus estava naturalmente predisposto a movê-la. Assim o

movimento da pedra torna-se continuamente mais lento, e finalmente

esse impetus diminui tanto que a gravidade da pedra o vence e move a

pedra para baixo, para seu lugar natural “

15 .

Não fosse a ação da resistência do meio e da gravidade o impetus de Buridan

seria

"uma coisa da natureza permanente (rés nature permanentis) distinta

do movimento local no qual o projétil é movido"

16 .

14 BURIDAN, J. Questiones super Octo Physicarum Libras Aristoteus. livro VIII, questão 12,

parágrafo 2 e 3, trad. M. Clagett, The Science of Mechanics in lhe Mtidle Age (Madison, Wis.:

Unrversity of Wisconsin Press, 1959), p. 534, apud GRANT, E., ed. A Sowce Book in Medieval

Science (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1974), p. 276. 15 BURIDAN, J. Questiones super Octo Physicorum Libras Aristotelis. livro VIII, questão 12,

parágrafo 4,trad. M. Clagett, apud GRANT, E. ed.^ Source Book in Medieval Science, p. 276.

16 BURIDAN, J. Questiones super Octo Physicorum Libros Aristotelis. livro VIII, questão 12, parágrafo 9, trad. M. Clagett, The Science... p. 537, apud GRANT, E. A Source Book in Medieval ... p. 278.

Buridan caracteriza o impetus como sendo diretamente proporcional à

velocidade inicial do projétil e à quantidade de matéria contida nele, o que

aproxima sua noção do conceito newtoniano de quantidade de movimeto.

A teoria do impetus terá um papel fundamental na futura revolução

cosmológica dos séculos XVI e XVII, porque foi uma tentativa de unir os

movimentos terrestres e celestes sob o mesmo conjunto de leis. Buridan usa o

impetus para explicar tanto os movimentos terrestres como os celestes:

"Assim se poderia imaginar que é desnecessário postular inteligências

como motores dos corpos celestes uma vez que as Sagradas Escrituras

não nos informam que inteligências devem ser postuladas. Pois se

poderia dizer que quando Deus criou as esferas celestes. Ele começou

a mover cada uma delas como quis, e elas são movidas até agora pelo

impetus que Ele lhes deu pois, náb havendo resistência, o impetus nem

corrompe nem diminui"

É bem verdade que não se pode afirmar, unicamente a partir da definição

de Buridan do impetus celeste, que ele próprio pretendesse formular uma única

mecânica para todo o Universo. Porém o uso do impetus para explicar tanto o

movimento celeste como o terrestre, representa, certamente, um primeiro passo

para o rompimento da dicotomia aristotélica entre dinâmica celeste e mecânica

terrestre.

Além disso, embora a ênfase dos argumentos escolásticos em favor da

possibilidade do movimento diário da Terra fosse sobre a relatividade do

movimento, é a teoria do impetus que possibilita, a Oresme, por exemplo, supor

que a Terra em movimento seja capaz de dotar de uma propulsão interna os corpos

que a abandonam, na medida em que eles fazem parte do sistema mecânico da

rotação da Terra. Esta propulsão torna possível que tais corpos sigam o movimento

da Terra

18 .

17 BURIDAN, J. Questiones super Octo Physicorum Libros Aristotelis. livro II, questão 12,

parágrafo 7, trad. M. Clagett, apud GRANT, E. ed.,4 Source Booke m Medieval ... p. 282.

O impetus celeste é, também, discutido por Buridan no parágrafo 6, questão 12, do livro VIII.

Clagett ao comentar o impetus celeste afirma que: "A característica de permanência que Buridan

determina para o seu Impetus torna plausível para ele explicar o movimento eterno do céu pela

imposição do impetus por Deus no momento da criação do mundo ... O uso do impetus para

explicar o movimento contínuo do céu é o mais próximo que Buridan chegou da ideia inércia l da

mecânica de Newton. Dificilmente se pode duvidar que o impetus é análogo à inércia posterior,

apesar das diferenças ontológicas" (CLAGETT, M. The Sáence ofMechanics... p. 524-525).

18 Devemos notar que Buridan usa a teoria do impetus contra a possibilidade da rotação diária da

Terra. Ao discutir o problema de como uma flecha lançada verticalmente para cima cai no mesmo

retorna ao lugar a partir do qual ela foi lançada.. ." [Atrajetória real da

flecha] "será uma composição ou uma mistura de movimentos (compo-

sition ou mixtion de mouvemens) retilíneoe circular"

20 .

Marshall Clagett, comentando as análises de Buridan e Oresme com respeito

à compatibilidade de rotação diurna da Terra com os fenómenos astronômicos e a

física terrestre, afirma que:

"talvez Oresme, mais tarde, tenha compreendido que não é o ar

que causa o movimento da flecha, mas o fato de que ela é parte

do sistema mecânico da rotação da Terra, tal qual um homem que

move sua mão verticalmente para cima e para baixo em um mastro

é parte do sistema mecânico do navio"

21 .

Quanto ao fato do movimento composto da flecha não ser observado,

Oresme responde, tendo em mente suas ideias sobre a relatividade óptica do

movimento:

"Se uma pessoa estivesse sobre um navio movendo-se para Leste

muito rapidamente sem estar ciente do movimento, e se ele levasse

sua mão para baixo descrevendo uma linha reta contra o mastro do

navio, parecer-lhe-ia W lui sembleroit) para ela que sua mão está se

movendo somente com movimento retilíneo. De acordo com esta

opinião parece-nos do mesmo modo que a flecha desce e sobe em

linha reta... Em defesa desta opinião, considerem o seguinte: se um

20 A este respeito ver: ORESME, N. Lê Livre d u ciei... (1377), livro II, cap. 25.

Reprodução de P. Duhem no seu Lê systèmedu monde, vol. IX, pp. 320-333;ou trad. A. D.

Menut, editada por A. D. Menut&A. Denomy, C. S. B., (Madison, Wis: Universi-ty of

Wisconsin Press, 1968) pp. 519-539.

Oresme divide o Universo em duas partes: "uma é o Céu com a esfera do fogo e a região

superior do ar. Toda esta parte, de acordo com Aristóteles, no livro l do Me-teors [

provavelmente Meteorologica, I, 3, 340b, 10-12] move-se em um círculo ou gira a cada dia. A

outra parte do Universo está toda em repouso – que é a metade inferior da região do ar, a

água, a terra e os corpos misturados – e de acordo com Aristóteles, toda esta parte está

imóvel e não tem nenhum movimento diário” (ORESME, N. Le Livre du ciel... ed. Menut, A.

D. E Denomy, A.J., pp. 521-23). Embora Oresme aceite a divisão que imputa a Aristóteles.

Ele nega qye se possa sentir ou perceber qual das duas partes do Universo está em repouso

e qual está em movimento. Grant, analisando esta passagem particular do Livre du... afirma

que “há uma controvérsia sobre se Aristóteles, na passagem [do Meteorogica citada por

Oresme], pretendia realmente dividir o Universo tal qual Oresme apresenta”. (GRANT, E. A

Source Book...p. 504).

21 CLAGETT, M. The Science of Mechanics... p. 599, apud GRANT, E., A Source Book in Medieval Sdence. p. 503.

homem naquele navio está indo para Oeste menos rapidamente que

o navio está indo para Leste, parecer-ihe-á que está se

aproximando de Oeste, quando realmente estaria movendo-se para

Leste. Do mesmo modo, no caso apresentado acima, todo

movimento pareceria ser como se a Terra estivesse em repouso...

Eu concluo então que não se pode por toda e qualquer experiência

demonstrar que o Céu e não a Terra é movida com o movimento

diário"

22 .

Além dos argumentos observacionais contra o movimento da Terra

existem os desenvolvidos a partir da razão que derivam principalmente da

máxima aristotélica, segundo a qual, cada um dos corpos elementares só pode

ter um único movimento. No caso das coisas terrestres, este é "naturalmente"

retilíneo e para baixo, tal como é observado. Conseqüentemen-te, o

movimento de rotação axial da Terra teria que ser não-natural e, portanto, a

Terra, a fim de manter este movimento contrário à sua natureza, necessitaria,

continuamente, de um agente externo (motor) que permanecesse em contato

direto com ela. Mas, segundo Aristóteles, é impossível para uma magnitude

finita ter uma força infinita, bem como é impossível uma coisa movida por uma

magnitude finita durar um tempo infinito (a este respeito ver: ARIST., Physica.

267b, 20-25). Portanto, cessada a acão do motor, cessaria o movimento da

Terra, logo seu movimento não poderia ser eterno, dessa forma a ordem do

mundo não poderia ser eterna como é (outros detalhes ver cap 3, parte l deste

livro).

Em oposição a esta tese Oresme afirma que:

22 ORESME, N. Lê Livre du ciei et du monde. (1377). Jivro II, cap. 25, apud reprodução feita

por DUHEM, P. Lê Système du monde. vol. IX, p. 332, ou trad. A. D. Menut no: Menut,

A.&Denomy. A. J., ed. Lê Livre du ciei... p. 525.

O argumento de Oresme está baseado na sua suposição de que "o movimento local não pode ser

percebido sensivelmente a não ser tanto quanto se percebe que um corpo esteja (em

movimento) olhando-se para outro corpo" (ORESME, N. Lê Livre d u ciei... apud DUHEM, P.

Lê Système du monde. vol. IX, p. 331). Oresme, ao desenvolver este argumento, cita o livro IV

do Perspective de Witelo (71250-1275) segundo o qual só os movimentos relativos podem ser

percebidos (ver: VïteHonis Thuringopolomi Opticae libridecem, livro IV, parágrafo 110). Segundo

Grant, Witelo teria desenvolvido esta visão a partir da Óptica de Alhazen (7965-1039) (livro II,

parágrafo 49).

"à primeira vista, parece tanto contrária á razão natural como a todos

ou muitos artigos de nossa fé (contre raison naturèle comme sont

lês articles de notreFoy ou tous, ou plusieun)"

24 .

Também Buridan, depois de formular diversos argumentos em favor da

possibilidade da rotação diurna da Terra, acaba por negá-la — é bem verdade que

por razões inteiramente diferentes daquelas apontadas por seu discípulo

Oresme (ver nota 29, item 7.2).

Apesar disso, os argumentos de Buridan e de Oresme sobre a relati-

vidade do movimento utilizados a favor da possibilidade do movimento da

Terra, são bastante semelhantes àqueles que serão utilizados, em 1530, por

Copérnico. Isto pode ser evidenciado nos seguintes textos de Buridan e

Copérnico respectivamente:

"Se alguém está se movendo em um navio e imagina que está em

repouso, então, se observar outro navio, que na realidade está

em repouso, parecer-lhe-á que o outro navio se move (...). E

assim nós também pressupomos que a esfera do Sol está sempre

em repouso e a Terra carregando-nos estaria girando. Como, no

entanto, nós imaginamos que estamos em repouso, tal como o

homem localizado no navio que está se movendo rapidamente

não percebe seu próprio movimento nem o movimento do navio,

então é claro que o Sol pareceria para nós levantar-se e por-se tal

como o faz quando ele se move e nós permanecemos em repou-

so"

25 .

Copérnico no seu De Revolutionibus faz uma analogia muito parecida:

"E porque não havemos de admitir que a rotação diurna é

aparente no Céu mas real na Terra? E é assim que as coias se

passam na realidade (.. .). Na verdade, quando um navio navega

com bonança, tudo o que está fora dele parece aos navegantes

24 ORESME, N. Lê Livre du ciei et du monde, livro 11, cap. 25, apud reprodução feita por

DUHEM, P. Lê Système du monde. vol. IX, p. 341; ver também a edição de A. Menut&A.

Denomy, C. S. B., p. 538.

25 BURIDAN, J. Quaestiones super l&ris quattuor De Cacto et mundo, livro II, questão 22, p. 227. Ver também a tradução M. Clagett in Grant, E., ed.A Source Book Medieval... p. 501.

mover-se pelo reflexo daquele movimento e, por outro lado,

pensam que estão imóveis com todos os objetos junto deles".

"Naturalmente, a mesma coisa acontece com o movimento da

Terra, de maneira que todo o Universo parece rodar"

26 .

7.4 Cosmologia Medieval

Outras duas discussões faziam parte do Universo escolástico, e agiram

como pano de fundo para a revolução copernicana: o problema de grandezas

infinitas e o da existência de vários mundos.

Estas duas questões estão intimamente ligadas, uma vez que da tese

aristotélica sobre a unicidade da Terra e unicidade desse nosso Mundo,

decorre a negação da possibilidade de um espaço infinito além da esfera

celeste.

O argumento de Aristóteles é o seguinte: dado que nem há agora, nem

nunca houve, nem pode vir a haver, qualquer corpo fora do Céu, então nem há

agora, nem nunca houve, nem poderá ser formado mais de um Céu, mas este nosso

Céu é um, único e completo

27 .

"É portanto (conclui Aristóteles] evidente que também não há

lugar, nem vazio, nem tempo fora do Céu. Pois em todo lugar pode

estar presente unrucorpo, e o vazio é aquilo em que a presença de

26 COPÉRNICO, N. De Revolutionibus Orbium Coelestium. cap. VI II ,Livro Primeiro. 27 A tese aristotélica sobre a unicidade do nosso Mundo e da Terra está baseada na premissa

de que, estes vários Mundos, se existissem, "seriam similares, em natureza, ao nosso, deviam

todos ser compostos dos mesmos corpos que o nosso. Além disso cada um dos corpos, fogo,

terra e seus intermediários deviam ter o mesmo poder como em nosso Mundo... Claramente

então, um destes corpos se moverá naturalmente para longe do centro e outro para o centro, já

que o fogo deve ser idêntico ao fogo, terra com terra, e assim por diante,... Então, a

partícula de terra em outro mundo move-se naturalmente também para o nosso centro e o

fogo para a nossa circunferência. Isto, contudo é impossível, já que, se fosse verdade, a terra

devia, em seu próprio mundo, mover-se para cima, e o fogo para o centro; do mesmo modo a

terra do nosso Mundo devia mover-se naturalmente para longe do centro, quando ela move-se

para o centro de outro Universo. Isto resulta a suposta justaposição dos Mundos. Pois, ou nós

devemos nos negar a admitir a natureza idêntica dos corpos simples em vários Universos, ou

admitindo isto, devemos fazer o centro e a extremidade como sugerido, e sendo assim,

segue que não pode haver mais do que um Mundo" (ARIST. De Caelo. l, cap. 8, 276

a , 25 - 30 e

276

b , 1-20).

mundo, se existir, tendam para o centro deste (nosso) mundo, porque em

seus mundos elas formariam uma massa única, possuindo um único lugar,

e se arranjariam na ordem em cima e em baixo, como nós indicamos, tal

qual a massa dos corpos pesados deste (nosso) mundo. E estes dois

corpos ou massas sendo de um mesmo tipo, seus lugares seriam formal-

mente idênticos e semelhantes nos dois mundos"

30 .

A tendência do movimento natural, para cima ou para baixo, destes corpos,

uma vez dentro de um determinado mundo, seria governada pela natureza da

substância que os compõe.

Dessa forma, mesmo havendo 'várias Terras' (ou mundos similares à Terra)

elas não tenderiam a unir-se numa só, no centro do Universo, como previa

Aristóteles.

Quanto à discussão medieval em torno da existência de um espaço vazio

infinito além da esfera celeste, ela está presente, entre outros, nos trabalhos de

Richard de Middleton (século XIV), Thomas Bradwardine (1290-1349), Johannes

de Ripa (século XIV), Willian Ockhan (1280-1349), Oresme, Nicolau de Cusa

31 e

nos comentários jesuítas junto ao colégio de Coimbra (segunda metade do século

XVI).

Segundo Oresme

"de acordo com a fé não há espaço fora do Céu, mas podemos

conceber que fora do Céu pode haver um vácuo porque Deus pode criar

um corpo ou um lugar lá. Portanto, se é perguntado o que é que é

30 ORESME, N. Lê Livre du ciei... livro l, cap. 24. Reprodução DUHEM, P. Lê Système... vol.

IX, p. 405-406 ou trad. A. Menut, editado por A. D. Menut e A. Denomy, C. S. B., p. 175. 31 Segundo Koyré, Nicolau de Cusa (1401- ?) foi o primeiro medieval a afirmar a infinitude do

Universo, porém, segundo o próprio Koyré, "suas concepções foram desdenhadas por seus

contemporâneos, e mesmo por seus sucessores, durante mais de cem anos. Ninguém, nem mesmo

Lefèvre d'Etaples, que publicou suas obras, parece ter dado muita atenção a elas". Também Copérnico

— que conhecia petos menos o tratado sobre a quadratura do círculo — parece não ter sido

influenciado por ele. De acordo com a ousada concepção cosmológica de Cusa "embora o mundo

não seja infinito, não pode porém ser concebido como finito, uma vez que não possui limites entre os

quais se confine. A Terra, por conseguinte, que não pode ser o centro, não pode carecer de todo

movimento; mas é necessário que se mova de tal modo que pudesse ser movida infinitamente

menos. Da mesma forma que a Terra não é o centro do mundo, também a esfera das estrelas

fixas não é sua circunferência" (CUSA, Nicolau. De docta ignarantia. livro II, p. 100. apud KOYRÉ,

A. From lhe closed world to the infiniie Uni-verse,, cap. l, nota 14).

vácuo fora do Céu, poder-se-ia reponder que é nada mas o próprio

Deus, o qual é Sua própria imensidade indivisível e Sua própria

eternidade como um todo e todos em um”

32 .

Copérnico, por sua vez, embora náo entrando na polémica sobre a fi-nitude

ou infinitude do Universo, afirma que o mais poderoso argumento em favor da

ideia de que o mundo é finito é o movimento, porque:

"segundo aquele axioma da Física — o infinito não pode ser

percorrido nem movido de forma alguma — o Céu (se infinito) teria

que permanecer imóvel”

33 .

Portanto, a partir do momento em que se defende a imobilidade do Céu, a

infinitude deste torna-se possível.

Copérnico continua seu raciocínio afirmando que:

"... eles diziam que fora do Céu não há corpo nem espaço vazio ou

lugar — nada, numa palavra — e assim não existe nenhuma parte para

onde o Céu possa desviar-se. Neste caso é certamente espantoso que

alguma coisa possa ser limitada pelo nada. Mas se o Céu é infinito e

apenas finito na sua cavidade interior, talvez se possa demonstrar

melhor que nada existe fora do Céu, uma vez que todas as coisas

estão dentro dele, seja qual for o espaço que ocupem, mas o Céu

permanecerá imóvel"

34 .

Tanto a discussão em torno da existência de mundos plurais, como a-quela

da existência de um espaço vazio infinito além da esfera celeste, exercerão um

importante papel dentro da revolução científica dos séculos XVI e XVII, uma vez

que elas estão ligadas a uma terceira questão que é fundamental, a saber: a lei da

inércia, já que o conceito de espaço infinito é esen-cial quando se pensa num

movimento inercial no vácuo.

32 ORESME, N. Questiones super De Caelo, apud GRANT, E. Medieval and Seventeenth Centurv Conceptions of an Infinitive Void Space Bevond the Cosmo, Isis. 60 (1969). p. 48.

33 COPÉRNICO, N. De Revolutionibus Orbium Coelestium. cap. V I I I , Livro Primeiro. 34 COPÉRNICO, N. idem.